"Aonde o papai vai
com o machado? "
Assim Fearne perguntou a sua mãe
durante o café da manhã.
Sua mãe lhe explica que um porquinho
nasceu muito pequeno
e provavelmente não sobreviverá.
O pai de Fearne pretende sacrificá-lo.
Fearne corre para fora.
"Por favor, não o mate.
É uma injustiça!
Ele não escolheu nascer assim, certo?
Seu eu tivesse nascido muito pequena,
você teria me matado?"
"Certamente não teria. Uma garotinha é bem
diferente de um porco minúsculo."
"Não vejo diferença.
Essa é a pior injustiça
de que já ouvi falar."
Talvez foram essas palavras
da "A Teia de Charlotte"
que mais me impactaram
quando eu era criança.
Assim como a teia de Charlotte foi tecida
e salvou a vida de Wilbur,
eu comecei a pensar em como
todos nós estamos conectados.
Ou talvez a culpa foi da Disney,
em me ajudar a ver e escutar
o medo de Bambi após
sua mãe ser morta por um caçador.
Ou as lágrimas que rolavam
no rosto de Dumbo
quando sua mãe o acariciou com sua tromba
enquanto acorrentada a um carro de circo.
Pode ter sido porque fui criada no Texas
vendo as vacas nos campos
e imaginando: "E se algum deles não
tivesse voltado pra casa
por causa do meu hambúrguer?"
A preocupação, o medo que outros
poderiam experimentar.
Ou talvez foi por causa
da separação dos meus pais.
Não posso afirmar que somente
um motivo me levou a pensar
sobre as famílias de todos os seres,
mas isso é parte de quem eu sou
e me ajuda a fazer escolhas na vida.
A ideia de perder minha mãe
ou alguma das minhas irmãs
era um medo real enquanto eu crescia.
Quando minhas irmãs foram
estudar fora fiquei magoada.
Aquela era a minha família.
Não queria que fossêmos afastados.
Seja qual for o motivo,
eu decidi muito nova
que eu faria escolhas
que minimizassem
o sofrimento de outros seres,
como não comprar botas de couro.
Se você se lembrar de uma coisa
do meu discurso de hoje, que seja isso:
escolhas alimentares desinformadas podem
contribuir com o sofrimento de seres.
Logo, suas escolhas alimentares
podem mudar o mundo.
Quando eu me tornei vegetariana,
eu era ainda jovem.
Minha mãe me disse que o frango que eu
comia era... bem, uma galinha.
Eu lembro de que, na fila do
refeitório da escola,
eu pedia para a cantineira não colocar
carne nas minhas enchiladas de queijo.
Ela me perguntou se eu era vegetariana.
Na minha mente infantil, pensei
por que ela pensou que eu era tão madura
para cuidar de animais doentes.
Eu respondi que não.
Quando adolescente, eu honrava meus
compromissos melhor.
Minha mãe me fazia refeições diferentes,
como enchiladas recheadas com milho.
Quando eu estava no ensino médio,
ela aprendeu a fazer quiche.
E então, eu me tornei vegana.
Ela disse: ''Eu desisto!''
Eu disse que comeria sanduíche
de manteiga de amendoim e geleia todo dia
para honrar o compromisso de ser vegana.
Com o passar do tempo, aprendi mais
sobre a tragédia da separação
desses animais e os laços que existem
quando estão juntos.
E eu ajusto minhas escolhas
para não contribuir com isso.
Vacas, usadas na indústria laticínia,
são separadas de seus filhotes logo
após o nascimento,
porque essas grandiosas mães
irão lutar para estar com seus filhotes.
No sul da Geórgia, eu tive uma
desolante oportunidade
de gravar uma vaca chorando após
ter sido separada de seu filhote.
O bezerrinho mugia e ela respondia.
Eu tive uma reunião
com um pequeno fazendeiro
de Washington que me contou um caso
sobre uma vaca que estava cheia dele
pegando seus filhotinhos.
De acordo com ele, a vaca
tinha dado à luz dois bezerros
e de repente um deles sumiu,
então ele saiu procurando.
Ele acabou descobrindo
que ela tinha escondido um deles.
De acordo com ele, ela estava
tentando proteger o filhote.
Eu descobri que isso é normal.
Mas não somente com as vacas.
Em um ambiente natural,
porcas prenhas
constroem ninhos antes de darem à luz,
coletando ramos e galhos com a boca.
As galinhas usam diferentes vocalizações
para proteger os pintinhos de predadores.
Como qualquer outra mãe, elas querem
apenas proteger seus filhotes do perigo.
E, assim como animais humanos,
esses animais sentem dor.
Somos imparciais em relação
aos animais em nossa sociedade,
bem como em relação à forma
como nossa comida é produzida.
Por fim, decidi
focar minha energia
em nossas escolhas alimentares
e em como fazer a diferença.
Nós comemos muitas vezes por dia,
e as escolhas que fazemos
dizem muito sobre nós.
Acredito que nossas escolhas alimentares
e vozes coletivas têm um impacto.
Ao me tornar vegana,
eu estava fazendo minha parte
para não contribuir com o sofrimento
de animais não humanos.
Mas e quanto a minha comida?
E os trabalhadores rurais?
Eu posso até parar de comer animais
como uma forma de não contribuir
para o sofrimento deles.
Mas não é tão simples
com trabalhadores rurais.
Todos precisam de frutas e vegetais.
Nos EUA, milhões de trabalhadores rurais
colhem nossa comida.
Não só a comida de veganos,
mas toda a nossa comida.
Estima-se que aproximadamente 400 mil
desses trabalhadores rurais são crianças.
Na Califórnia, muitos trabalhadores rurais
vivem sob condições precárias de trabalho,
não têm casa e vivem nas margens dos rios.
Eles não têm dinheiro suficiente
para morar sob um teto,
e ainda assim põem comida
em nossos pratos.
Trabalham sob temperaturas extremas,
expostos a agrotóxicos,
muitos não podem comprar ou não têm acesso
aos tipos de frutas e vegetais que colhem.
Estima-se que, na Califórnia,
a expectativa de vida de um colhedor
de morangos é de 49 anos.
Grupos como a "Coalização dos
Trabalhadores de Immokalee"
têm dado passos importantes nessa área,
usando a pressão dos consumidores
para que corporações façam mudanças,
como quando conseguiram que consumidores
pagassem cinco centavos a mais por libra
pelos tomates que colhiam.
Minha organização, "Food Empowerment
Project", tem uma unidade de atendimento
para ajudar com a educação dos filhos
de trabalhadores rurais,
para que eles possam escolher
uma vida mais fácil.
Sempre me pergunto
o que mais posso fazer.
''Quando as pessoas comem chocolate,
estão comendo minha carne.''
Foi isso o que um agricultor escravo disse
a um repórter quando foi indagado
sobre o que ele diria aos ocidentais
que comem chocolate.
Na África Ocidental, 1,8 milhões
de crianças em Gana, na Costa do Marfim,
são vítimas das piores formas
de trabalho infantil.
Hawa colhendo cacau
para a indústria de chocolate.
Aqui elas são forçadas a trabalhar
com equipamentos perigosos
como facões, algumas crianças
com até 7 anos de idade.
Várias crianças têm sido documentadas
com cicatrizes em seus braços e pernas.
Se elas não carregam esses
sacos de cacau rápido o suficiente,
elas apanham.
Muitas crianças ficam presas
durante a noite e, se tentam fugir,
elas apanham ou são mortas.
Nós todos temos famílias,
de sangue ou não.
Então, façamos escolhas
respeitando famílias
e os laços que elas compartilham.
Como podemos fazer isso?
Se você tem acesso a produtos frescos,
torne-se vegano.
Apoie os trabalhadores rurais
através de leis e campanhas corporativas
e pare de comer chocolate.
Tudo bem, tudo bem.
Você não precisa parar
de comer chocolate.
Mas, por favor, somente compre
chocolate que não venha
das piores formas de trabalho infantil
na África Ocidental.
Use nossa lista em foodispower.org.
Eu faço escolhas alimentares
com o máximo de informação possível,
porque eu quero diminuir
o sofrimento de outros seres.
Eu queria tornar esta dor
que eu sentia em poder.
Grande parte disso está
relacionado a perdas,
mas o que eu ganhei foi o sentimento
de que posso fazer a diferença.
Eu espero que você junte-se a mim
e adicione a ética à sua alimentação.
Para mim, essas questões estão
tão conectadas quanto a teia de Charlotte.
Você e suas escolhas alimentares
podem mudar o mundo
e abrandar o sofrimento em todo o mundo.
Obrigada.
(Aplausos)