É profundamente doloroso
enfrentar o que está a acontecer
no nosso planeta neste momento.
Desde incêndios em florestas,
plástico nos oceanos,
extinção de espécies todos os dias,
migração forçada.
É fácil sentirmo-nos completamente
esmagados.
Talvez um pouco inúteis,
impotentes,
com raiva,
revoltados,
paralisados,
desconectados.
Talvez, tudo isso junto.
Esses sentimentos complicados e confusos
fazem pleno sentido.
Eu gostaria que alguém
me tivesse dito isso 30 anos atrás.
Eu era caloira em estudos ambientais,
o que é, basicamente,
um semestre de péssimas notícias
sobre todas as formas
como os seres humanos
têm destruído profundamente
o nosso belo planeta.
Senti-me como se tivesse sido
largada num túnel escuro,
sem nenhuma ferramenta para sair,
e tendo de seguir
com a minha vida quotidiana,
como se as coisas estivessem normais.
Mas depois de sermos expostos
a este tipo de informações,
as coisas nunca mais são normais.
Eu estava ansiosa, apavorada,
ninguém falava nisso,
e eu quase abandonei a faculdade.
Mas em vez disso, matriculei-me
num estudo de campo, na Califórnia.
Viajámos juntos, de mochila às costas,
num pequeno grupo, durante dois meses,
— eu sei, parece muito tempo.
E foi mesmo, mas descobri
que nós falávamos bastante.
Falávamos sobre como nos sentíamos
quanto ao mundo,
aberta e honestamente,
e em nenhum momento
ninguém me disse para ser mais positiva
nem para ter mais esperança.
Nem uma só vez.
Surpreendentemente, descobri
que estava a sentir-me melhor.
Na verdade, sentia que podia
enfrentar esses problemas,
que pareciam tão impossíveis de superar,
de frente.
E tive uma epifania:
e se, ao nos entendermos a nós mesmos,
e uns aos outros,
pudéssemos encontrar
o caminho para esta crise
de uma forma nova e diferente?
E se a psicologia, de facto,
tivesse uma peça chave
para desbloquear ações
contra os maiores desafios
enfrentados agora pelo planeta?
Então, quando voltei
do estudo de campo,
eu foquei-me na psicologia clínica,
e investiguei as relações
entre traumas, luto e criatividade.
Creio que o paradoxo
no centro de tudo isto
é como estamos presentes
quando algo é realmente doloroso,
Como nos mantemos conectados
face ao que é ameaçador,
angustiante e assustador?
Acontece que a psicologia
sabe muito sobre estas coisas.
Muito, na verdade.
Mas eu não ouvia nada disso
a ser tratado
nas minhas aulas de estudos ambientais,
ou nos encontros de ações ambientais,
a que eu comecei a ir,
ou em conferências internacionais,
onde toda a gente perguntava:
Porque não estamos a agir mais depressa,
e o que é preciso para agir?
Então, essa tornou-se a minha missão:
ou seja, eu agarro em ideias da psicologia
e traduzo-as em recursos e ferramentas
para ajudar quem trabalha
na linha da frente, para mudar tudo isso.
Aliás, isso quer dizer
para qualquer pessoa.
Estamos todos na linha de frente agora.
E eu acredito, depois de anos
a percorrer estes mundos,
entre o meio ambiente,
o clima e a psicologia,
que isso é um ingrediente
que falta no nosso trabalho,
que pode acelerar exponencialmente
a nossa capacidade de sermos criativos,
resilientes, aptos, hábeis e corajosos
e tudo aquilo de que o mundo
precisa de nós, agora.
Gostava de partilhar convosco
três conceitos
que eu acredito poderem
mudar as regras do jogo
e como eu interpreto esse momento
para nós como seres humanos.
O primeiro é algo chamado
a nossa "janela de tolerância".
O Dr. Dan Siegel considera
que nós todos temos uma janela,
a quantidade de "stress"
que conseguimos tolerar
enquanto ficamos conectados
e aquilo a que os clínicos
chamariam "integrados".
Integrados, quando podemos, de facto,
estar ligados aos nossos
pensamentos e sentimentos
e não ficarmos apenas cooptados.
Todos temos um limite.
O que ocorre quando
experienciamos "stress"
para além do que podemos tolerar?
Tendemos a chegar aos limites
da nossa janela.
Por um lado,
podemos entrar numa espécie de colapso,
aquilo a que se chama
uma "resposta caótica",
que se parece com a depressão,
com o desespero,
algo como uma interrupção.
Do outro lado dessa janela,
está uma resposta mais rígida:
a negação,
a raiva,
a rigidez.
Então, quando isso acontece,
perdemos a nossa capacidade
de estarmos integrados,
resilientes, adaptáveis,
todas essas coisas que queremos ser.
Isso é completamente normal,
mas está a acontecer no mundo todo
nesse momento, certo?
Estamos todos a vacilar entre esses
diversos sentimentos e emoções.
E com algo como a alteração climática,
com todos os novos relatos científicos,
documentários,
que ligam os pontos
entre o que estamos a fazer
e o impacto que isso tem,
isso pode empurrar-nos coletivamente
para fora da nossa janela de tolerância.
Então, perdemos essa capacidade.
Ao longo dos anos, tenho entrevistado
centenas de pessoas
de todos os meios e filiações políticas,
do Midwest americano à China,
e conversei com pessoas sobre
como nos estamos a sentir
sobre o que está a acontecer.
Não sobre opiniões e crenças.
O que estamos a sentir
quanto ao que está a acontecer
no seu ambiente local,
com a água, o solo, com tudo isso.
O que eu ouvi das pessoas
vou-vos dizer, quase sempre,
é um vínculo.
As pessoas dizem-me
a certa altura da conversa:
"Eu importo-me muito
com o que está a acontecer.
"Estou extremamente apavorado.
"Estou assustado.
"Adoro esta terra, adoro os pássaros,
"o que quer que seja,
"mas sinto que as minhas ações
são insignificantes.
"E não sei por onde começar.
"E eu ..."
Eu ouço nas entrelinhas
do que as pessoas dizem:
"Estou muito assustado para mudar.
"Muito assustado com qualquer mudança...
"Nem posso pensar nisso,
é como se fosse impensável."
E este é o segundo conceito,
uma coisa chamada "vínculo duplo".
Um vínculo duplo
é quando sentimos algo como
"preso por ter cão e preso por não o ter",
estamos presos ali.
É uma experiência humana intolerável.
E faremos qualquer coisas para
nos podermos livrar dela.
Então, todo esse cuidado e preocupação,
está lá, mas fica em segundo plano.
Mas o que acontece
é que parece que as pessoas
não se importam, parece apatia.
E então muitas pessoas que estão
a ver a urgência da situação, dizem:
"Nós temos de vos motivar.
"Temos de vos entusiasmar."
E tornamo-nos motivadores de soluções.
Ou então: "Aqui estão os factos,
isto está a acontecer, acordem!"
Estas coisas não são intrinsecamente más.
porque precisamos de soluções
e precisamos de encarar os factos.
Mas, sem querer,
isso pode sair pela culatra
e levar a mais paralisia e inação,
o que deixa muita gente perplexa.
É como: "Mas o que é
que está a acontecer?"
Então, isso acontece por causa disso,
não se está realmente a tocar
no cerne da questão.
Imaginem que vão a um terapeuta,
e têm um vínculo duplo.
Vocês sentem-se realmente presos,
sabem que têm de mudar
e o terapeuta começa a gritar
com vocês, a dizer:
"Não percebe o que está a acontecer?
"Se você não agir agora,
"vai ter de enfrentar
as terríveis consequências.
"Não se importa?
"Qual é o seu problema?
"Do que é que você precisa?"
Ou veem um terapeuta
e estão a sentir-se tristes
e de luto.
E o terapeuta diz:
"Sabe, não pense muito nisso.
"Aqui estão algumas coisas simples
que você pode fazer.
"Simples e positivas."
E manda-vos seguir o vosso caminho.
Bom, se fosse eu,
eu despediria esse terapeuta na hora,
porque um bom terapeuta
pratica algo chamado sintonia.
Eu adoro este conceito.
Sintonia, sim, a palavra "sintonizar."
Sintonia é quando
nos sentimos em harmonia,
quando nos sentimos compreendidos
e nos sentimos aceites, exatamente
na situação em que estamos.
Sentimos isso quando estamos
numa relação com o mundo
de uma forma que faz sentido,
ninguém está a tentar mudar-nos
ou envergonhar-nos, ou julgar-nos.
Certo?
A sintonia precisa de competência.
Quando os riscos são altos,
é muito difícil querermos sentir-nos
sintonizados com alguma coisa,
quando estamos a enfrentar
ameaças tão urgentes.
Mas o paradoxo
do momento em que estamos
é que, quando estamos mais sintonizados
na nossa janela de tolerância,
somos muito mais capazes
de resolver problemas,
de ser criativos, adaptáveis,
de ser flexíveis,
de sermos incrivelmente nós mesmos.
Então, e se nosso trabalho
ambiental e climático
estivesse ciente destes conceitos
da janela da tolerância,
de um monte de vínculos duplos
e de sintonia?
Isto pode parecer um monte de coisas.
Estão sempre a perguntar-me:
"Ok, Renee, isso parece fantástico
num contexto clínico,
"mas nós não temos tempo para isso."
Isso não é verdade de forma nenhuma.
Porque podemos introduzir sintonia
em qualquer aspeto do nosso
trabalho nesta questão.
Isso começa connosco.
Só consegue sintonia quem estiver
em contacto consigo mesmo,
desculpem-me por dizer isso.
Não há outra forma para isso.
Isso vem cá de dentro.
Começa por se sintonizar em
"como estou a sentir-me?"
E por ter compaixão.
Eu sei que é fácil falar,
mas, de facto, ter compaixão
é como, essas questões são difíceis.
É um momento difícil para um ser humano,
estamos a acordar.
Eu não sou uma pessoa má.
O que está a acontecer
provoca a curiosidade
na nossa experiência,
o que nos permite
sintonizarmo-nos socialmente.
É essa a forma seguinte
de podermos aplicar isso,
é sintonizando, seja em pequenos grupos
ou um a um,
fazendo campanhas, estratégias,
nas salas de aulas,
nos cinemas, nos parques.
Onde pudermos dar uns aos outros
permissão para sermos quem somos,
e, de novo, isso permite-nos mover
para um nível mais alto de funcionamento.
A função executiva,
o córtex pré-frontal,
quando sentimos que o nosso
sistema nervoso pode acalmar
e somos compreendidos pelos outros.
O terceiro caminho é liderar
com sintonia.
Como líderes e influenciadores,
mostrando-nos como seres humanos,
como reais, dizendo:
"Sabes uma coisa?
"Eu estou muito assustado.
"Não sei quais são as respostas."
Conseguem imaginar líderes a dizer isso?
"Eu não sei.
"Mas aqui estamos nós,
e nós somos tudo o que é preciso.
"Estamos nisto juntos.
"E podemos fazer isso."
Esta é uma mensagem diferente
de dizer: "Podemos fazer isso."
É como: "Aqui estamos.
"Estou assustado, mas está a acontecer."
Bom, o facto é que
já há todo este trabalho,
temos as ferramentas
para criar estas condições
que podem permitir-nos aparecer
como sendo verdadeiramente nós mesmos.
Eu sei, com 100% de certeza,
que cada um de nós tem a capacidade
de enfrentar estes desafios
com engenho,
genialidade e coragem que nós,
como seres humanos, temos.
Só precisamos de cultivar
as condições juntos.
Precisamos uns dos outros,
de nos ajudarmos uns aos outros
e permitir a nós mesmos
este encontro de verdade.
Isso é o que precisamos, então...
Vamos respirar fundo,
ter compaixão por nós mesmos
e pelos outros, neste momento da história.
Assim, processamos coletivamente
estas verdades dolorosas,
estas realidades difíceis.
Vamos fazer isso juntos.
O mundo está pronto para fazermos isto.
E podemos fazer isto.
Obrigada.
(Aplausos)