Para se tornar numa borboleta,
o corpo duma lagarta
dissolve-se quase totalmente
e reconstrói-se a partir dos seus sucos.
Por mais inconveniente e até perigoso
que este processo pareça,
é, na verdade, muito vulgar.
As borboletas são algumas
das 800 000 espécies de insetos
que se transformam de larvas em adultos
através de metamorfoses completas.
São cerca de 85% dos insetos
e 70% de todas as espécies
animais conhecidas.
Mas como é que uma lagarta
se transforma em borboleta?
Quando uma lagarta sai de um ovo,
não tem nenhuma das características
físicas duma borboleta.
Mas, no interior do corpo,
tem grupos de células
chamadas "discos imaginais"
que acabarão por se tornar
nas diversas partes da borboleta.
Por enquanto, essas células
mantêm-se adormecidas.
A hormona juvenil inibe a sua atividade
e impede que a lagarta inicie
a metamorfose cedo demais.
Logo depois de eclodir,
a lagarta começa a alimentar-se,
criando gordura até que a sua pele rígida,
chamada cutícula,
se torne demasiado tensa.
Nessa altura, uma hormona,
chamada ecdisona,
provoca a perda da cutícula
ou mudança de pele.
À medida que a lagarta cresce,
habitualmente muda de pele quatro vezes.
Depois, quando já está gorducha,
os níveis da hormona juvenil
da lagarta diminuem,
o que faz com que ela
deixe de comer e de se mover.
Uma descarga final de ecdisona
faz com que as células da lagarta
comecem a autodestruir-se.
Em breve, os músculos, a gordura,
e outros tecidos
ficam quase totalmente liquefeitos,
embora os discos imaginais
se mantenham intactos
e comecem a crescer.
Simultaneamente, uma segunda
camada de pele,
chamada a cutícula da pupa
forma-se por debaixo da primeira.
Uma outra muda de pele
expõe o exterior rijo da pupa.
Para além dos discos imaginais,
só subsistem alguns tecidos,
que incluem partes
do sistema respiratório,
o coração,
alguns músculos abdominais
e os corpos fungiformes do cérebro.
O suco da lagarta alimenta
o desenvolvimento dos discos imaginais
em olhos,
antenas... pernas,
asas... genitais
e outras partes do corpo.
Depois de criado o novo corpo,
o inseto muda de pele mais uma vez,
perdendo a cutícula da pupa.
A partir daí, há uma nova borboleta
livre para voar.
Mesmo depois de uma transformação
tão drástica
a borboleta retém alguma memória
dos seus dias de lagarta.
Provavelmente, os corpos
fungiformes do cérebro
transmitem importantes conhecimentos
da lagarta para a borboleta adulta.
Como ocorre esse processo
de desenvolvimento tão complexo?
Não sabemos ao certo.
A teoria mais aceite é que a lagarta
é uma versão prolongada
de uma fase da vida que ocorre
dentro do ovo noutros insetos.
Segundo esta hipótese,
ao longo de milhões de anos,
as larvas aperfeiçoaram a capacidade
de comer e viver fora do ovo.
Independentemente de como
se originou a metamorfose completa,
passou a fazer parte dos ciclos de vida
de um número estonteante
de espécies de insetos.
No entanto, muitas espécies
continuam a dar-se muito bem
com um processo de desenvolvimento
mais simples.
Que vantagens para a sobrevivência
proporciona a metamorfose completa
para ocorrer esta trabalheira adicional?
Por um lado, impede
que as larvas e os adultos
entrem em competição
pelo mesmo "habitat" e fontes alimentares.
Embora a pupa pareça vulnerável,
esta fase de imobilidade
pode ser uma boa forma
de passar partes do ano
em que os alimentos são escassos.
Para nós, a metamorfose da borboleta
pode parecer tão fantástica
como uma fénix a renascer das cinzas.
Mas estas transformações
estão sempre a ocorrer à nossa volta.
Desde o escaravelho de Hércules,
à abelha do mel,
à formiga do jardim,
há infindáveis larvas esponjosas
que se dissolvem e emergem
em adultos couraçados,
aerodinâmicos e flexíveis.