[pássaros gorjeiam] [Robert Mangold] O que começou a me fascinar na pintura é que ela não lidava com o tempo como outros meios lidam. Você pode pegar uma câmera e fotografar um quadro e tudo vai estar ali. Não dá pra fazer isso com a grande maioria das coisas. Se você for numa galeria de esculturas, você pode andar em volta de uma escultura antes de formar uma opinião. A pintura não te dá esse tempo. Ela se põe na sua frente e diz: "Aqui estou, pá!" Sabe, você chega na frente dela, olha pra ela, você viu. Eu moro aqui no interior e vejo uma luz do sol maravilhosa e formações de nuvens incríveis e todo tipo de coisa, o tempo todo. Campos cobertos com flores amarelas de vez em quando. Mas eu nunca percebi nada disso influenciando minha arte. Nunca. Pode influenciar, mas não de uma maneira direta. Ao invés de vir da natureza, minhas influências vêm da cultura: Cultura que vem da história da arte e a cultura dos nossos tempos. Faço muitos trabalhos em papel construindo a ideia de trabalhar em telas. Eu quero ver como a arte vai ficar. Então se eu vejo nela uma estrutura visual um pouco diferente do que eu já fiz antes, isso desperta a minha curiosidade. É meio como fazer um malabarismo com a ideia. Você faz um, aí você olha e você diz: "Ok. É interessante. Mas e se eu fizer desse jeito ou daquele?" Então isso tudo são experimentos. Em alguns casos, uma ideia segue outra e em alguns casos, não. Quando eu encontro uma que realmente me interessa, tipo essa, ela realmente me interessa e eu penso: "Ok, vou fazer uma versão maior disso aqui." Gosto da maneira que as linhas saem na diagonal. E então eu a reproduzo com cores para sentir, sabe, como.... como fica... Como ficaria se eu fizesse desse jeito. Eu acabei não gostando tanto no fim, porque não gostei dessa curva caída. Quando eu era um jovem artista, era muito conectado com o que acontecia em Nova Iorque. A última parte do Expressionismo Abstrato. Pop Art, que estava apenas começando. Foi uma época de recomeço, de volta aos elementos da pintura. Foi tudo parte do que, mais tarde, se tornou o minimalismo. Era tudo aparentemente simples, uma ideia única exposta de uma maneira crua para que as pessoas a experienciassem. E foi renovador, um livramento de coisas que precisavam ir para que outras recomeçassem. Talvez todas as gerações pensem que estão recomeçando as coisas para si mesmas. Mas esse foi um momento onde isso certamente foi verdade. Eu fui convidado para a exposição do Barnett Newman na Filadélfia. No convite tinha essa peça vertical dele. Quase todo meu trabalho tinha sido horizontal, da esquerda para a direita. De repente, pensei que seria muito interessante trabalhar numa pintura vertical que não possa ser lida dessa maneira. É meu jeito de contrariar o espectador. Eu, o espectador. Você não pode ler um quadro vertical da esquerda para a direita. Então, como você o lê? De cima para baixo, ou, não sei...