(música suave) (música dinâmica) (trem freando) Eu não sou realmente um artista. Nunca estudei em uma escola de arte. Eu me considero um ouvinte. E eu dediquei muito tempo pensando sobre a política do ouvir. O que é muito diferente da política do falar, onde todos devem ter uma voz. Porque onde e quando essas vozes são ouvidas é muito importante. (música dinâmica continua) Não entender como essa voz é ouvida te faz perder metade da história. Parte do trabalho foi tentar definir onde esses limites estão, os limites do ouvir. (música dinâmica continua) [Política do ouvir] Quando comecei uma investigação acústica em uma prisão que era modelada pelo arquétipo GDR A Mercedez-Benz das prisões na Síria, a que eu investiguei, se chama Saydnaya. O som mais importante são as batidas vindas da parede. Assim que você ouve o som de batidas, você pensa Esse som está se movendo de cela para cela? Ou está só naquele lugar? Se o som começa a se espalhar de uma cela a outra, você sabe que sua hora de ser torturado está chegando. Esses filmes e performances são uma proposta a ouvir as pessoas de uma maneira que acho adequada para o tipo de proposta política que estou fazendo. Essa torre de audição tem... Em um documentário, ou nos noticiários, há convenções muito estritas sobre a forma que nós achamos que devemos ouvir. No espaço do museu, você tem a chance de explorar as formas em que você pode de fato apresentar uma história. (batidas) "Walled Unwalled" é uma série de reflexões após ter conduzido uma investigação sobre o regime penitenciário sírio para a Anistia Internacional em conjunto com a Arquitetura Forense. (multidão gritando) Desde 2011, dezenas de milhares de pessoas desapareceram em uma vasta rede de prisões geridas pelo governo sírio. Muitas foram levadas para Saydnaya. A Anistia Internacional e a Arquitetura Forense viajaram à Turquia para encontrar um gupo de sobreviventes de Saydnaya. Nós usamos modelos arquitetônicos e acústicos para reconstruir a prisão e as suas experiências em detenção. Porque os prisioneiros eram detidos no escuro, suas memórias dependem de uma experiência sonora aguda. Eu fui encarregado de liderar o componente sonoro da investigação, e tentar solicitar o máximo de informação possível sobre o que estava acontecendo ali. Todas as testemunhas insistiram para mim que as paredes das suas celas sacudiam com os espancamentos que ocorriam em partes distantes e não localizáveis da prisão. Mais tarde, eu entendi porque. O formato do prédio, as dimensões dos corredores, indicam que sons vindos das celas são refletidos em uma torre central. O fato de eles recuperarem conhecimento em meio a uma privação sensória foi uma experiência poderosa. (pessoa gritando) A parede os estava contendo completamente. Porém, o vazamento de som pela parede, essa era sua saída para o mundo. A parede era meio porosa. Quarto um série close up, take um. A ideia de "Walled Unwalled" era fazer essa performance em um antigo estúdio de gravação. Tudo o que você vê é gravado através do vidro à prova de som. Foi como uma maneira de falar sobre a prisão. Em um ponto do filme você vê alguém com uma lanterna acesa. Ela estava com a lanterna porque não havia comunicação audível através das paredes. Eram realmente à prova de som. Agora, nenhuma parede no mundo é impermeável. Hoje, temos paredes e nenhuma parede. Ironicamente, quanto mais estamos conectados, mais as paredes se tornam fúteis, quanto mais preocupados ficamos em proteger a fronteira. (música séria) Fronteiras não são linhas. Elas são esses espaços cheios de camadas, ricos em história. [45º Paralelo] Há um guarda de fronteira americano sentado naquele carro. O motor continua ligado e os seus olhos continuam focados na porta. Cada visitante que cruza a rua pelos EUA precisa voltar pelos EUA. Aqueles que vem do lado direito, do Canadá, não podem, de maneira alguma, mesmo que tenham um visto válido, sair da biblioteca pelos EUA. A fronteira não pode ser cruzada por aqui. E aqui dentro, parece que a fronteira nem existe. Tecnicamente, Agatha Christie fica em uma prateleira do lado americano, enquanto a biografia de Iggy Pop está no Canadá. Essa biblioteca e casa de ópera foram construídas na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos. Esse me pareceu um lugar em que pudesse se contar a história das fronteiras, começando pela fita elétrica que corta a biblioteca. Expandindo essa ideia, mostramos todas as maneiras em que as fronteiras existem de forma absurda. E mesmo assim, elas são um tipo de rede de poder executadas, muitas vezes, de forma letal. Quando o assassinato ocorreu, O assassino e o assassinado estavam em jurisdições completamente diferentes. Mesmo que a arma de Mesa fosse erguida dentro do território mexicano, seus pés estavam mais de sete centímetros atrás da fronteira americana. Se o agente Mesa tivesse atravessado a linha, não haveria dúvida de que o México pediria sua extradição por assassinato a um cidadão. (música sombria) Na Suprema Corte, uma hipótese surgiu. Se Mesa fosse processado, alguém assassinado no exterior por um agente americano poderia buscar justiça em um tribunal americano? Não. Foi uma decisão muito acirrada, cinco contra quatro. O fator decisivo foi o reconhecimento de que se condenassem o agente Mesa, eles estariam abrindo caminho para o litígio de cada ataque de drone, porque é a mesma história, certo? Alguém aperta o gatilho no Arizona e outra pessoa morre no Iêmen. (música sombria) Bom, eu nasci na Jordânia. Mas também cresci em Yorkshire. E fui exposto à cena musical de improviso de Leeds. (música animada) Passei anos abusando dos meus ouvidos tocando em bandas e fazendo muito barulho. Isso me mostrou como a organização em volta do som e da música era um ato político que unia comunidades. Os meus trabalhos são interdisciplinares. Eles demandam ajuda e recursos de outras pessoas que são muito disciplinadas. É sempre um trabalho de equipe. (vozes, batidas e tilintar) [Percussionista] (batidas continuam) [Ensaio para "After SFX"] O começo foi ótimo. - Sim. As chaves... - Você consegue as ouvir? Eu não. Acho que começando com esses detalhes, trabalhando com a batida, e depois indo para o pirulito ali, e depois para isso. Você gosta disso? De abrir assim, ou eu fico longe disso? Não, faça isso, foi muito bom., (rangido) Eu não queria um artista de efeitos sonoros para tocar aquelas portas porque eu sabia que eles saberiam o que fazer com elas. Que eles acabariam caindo em um modo disciplinado em que o que eles fariam com as portas seria parte do seu universo profissional. (batidas rápidas) Eu queria ver o que mais aquelas portas eram capazes de fazer. Fazer barulhos de baleia, depois as bater e trazê-las de volta à forma de portas. Isso era muito importante para a história que eu estava tentando contar, sobre memória acústica. (marretas batendo) Efeitos sonoros são muito específicos na maneira que podem solicitar memória, mas também conectar esses sons às nossas memórias. As portas na prisão Saydnaya tiveram um efeito similar nos sobreviventes. Nenhum som de porta que eu toquei satisfizeram a memória acústica de Samara. Achamos uma que era próxima, mas ele ficou me falando para aumentar o volume. Os sons estavam ficando mais e mais altos, até que eu finalmente toquei o barulho de uma enorme porta de metal batendo com a ressonância da Catedral de Notre Dame. Ao ouvi-lo, Samara ficou surpreso. Ele me parou e disse, esse som estava presente. Esse era o som exato, não da porta, mas o som de fatias de pão sendo derrubadas no chão, fora da minha cela. (batidas) Nós usávamos muitos efeitos sonoros nessas entrevistas de testemunhas auditivas para conseguirmos o som de que estávamos falando. E também localizá-los no espaço. Então eu construí esse inventário de efeitos sonoros. (batidas, toques, estouro) Em todos os casos legais em que trabalhei, o que eu teria usado em um caso no qual precisava recriar um ricochete em uma cerca de fronteira na Palestina? (toques e batida) Eles eram muito importantes no caso de Saydnaya. A porta de metal, de madeira e a do carro, adaptadas para minhas necessidades. E a ideia de que você pode realmente reconstruir uma grande variedade de sons de portas, com apenas esse instrumento. Luvas de goleiro. Os azulejos de granito. Coco verde, gritos. Caminhão de sorvete. Onde está a arma? Caixa de música. (ruído de avião) Durante os últimos quinze, dezesseis anos, jatos israelenses e drones sobrevoando o Líbano criaram um tipo de medo acústico para os moradores. Pressão do Ar começou como uma investigação acústica. (digitação) É um site que busca produzir conhecimento sobre o que estava acontecendo no céu do Líbano. Estou tentando, sabe, usar Shazam no céu. Ouvir um veículo aéreo sem tripulantes, identificá-lo. Ouvir um jato de guerra, identificá-lo. E daí começar a ouvir a diferença entre um F16 e um F35. Nós produzimos o primeiro banco de dados dessas aeronaves militares no céu. E os números eram surpreendentes. Vinte e dois mil, cento e onze deles nos últimos quinze anos. (música séria) Você os vê se interligando e se sobrepondo ao longo do tempo. Não é um mapa de território, mas é uma espécie de cartografia de pressão sendo exercida para baixo. Acaba sendo do formato de Líbano, simplesmente porque as aeronaves cobriram todo o território do país. Esse não é um trabalho sobre a quem pertence o ar sendo violado. O ar não pertence aos libaneses. É um trabalho sobre como é possível tornar o ar violento, e como som é uma maneira muito eficiente de fazê-lo. (aeronave voando) Você pode ver todo tweet e vídeo criados sobre essas aeronaves no céu. Você vê pessoas brincando. Algumas pessoas dizem, "olhem esses aviões, estão tão baixos que vão cortar as linhas do varal". Outras pessoas, você vê que estão assustadas, elas dizem "olhem o que eles têm em seu arsenal, que Deus nos proteja". Outras pessoas simplesmente usam essa hashtag, que significa "guerra na atmosfera". O site circulou bastante porque ninguém havia feito isso antes. Na verdade, o governo libanês me contatou mais tarde, e me falaram que nem eles mesmos haviam feito isso. (aeronave voando) Quando eu estava produzindo Pressão do Ar, que atraiu toda essa atenção internacional, me ocorreu que dez anos haviam passado fazendo esse tipo de investigação, e que ela precisava do seu próprio espaço. Então decidi começar essa agência chamada Earshot. (música intrigante) Somos um time pequeno. Tem crescido a consciência de porque o som importa em investigações abertas. Eu havia aprendido o suficiente nesses projetos para começar a treinar outras pessoas para esse trabalho, e podíamos começar a formar nossa agência de análises acústicas e auditivas. Eu quero construir um conhecimento maior do que uma boa audição pode fazer, e de que história o som pode contar. Ainda há muito o que fazer, e muitas outras maneiras de darmos às pessoas o espaço e tempo de serem ouvidas. (música intrigante) (pessoas falando)