[ANN HAMILTON EM]
[ARTE NO SÉCULO 21]
(barulho metálico)
(máquina de costura)
(Ann) Sempre senti
essa conexão muito forte,
entre o fio da costura,
o fio da linha
e a linha da escrita.
(lápis riscando na tela)
(máquina de costura)
Eu cresci fazendo muitos
trabalhos artesanais com agulhas,
costura, tricô, bordado,
todas essas artes têxteis tradicionais.
Eu acho que o processo muito satisfatório,
e as metáforas que as roupas oferecem
são extraordinariamente bonitas
porque toda roupa que usamos
é feita destes fios individuais,
seja qual for a sua trama,
e cada um destes fios
ainda é algo
que pode ser visto,
e a roupa precisa de cada um desses fios.
E isto é como uma
metáfora social para mim.
É realmente muito bonito.
A primeira peça que fiz na faculdade,
eu usei um terno masculino
cinza tradicional,
e cobri com palitos de dente
e cada pedaço da roupa
ficou escondido.
Parecia um porco-espinho.
(música etérea)
(sussurrando) Encontre o linear
quebrado abaixo de um humano.
Para mim a relação entre a linha escrita
a linha tecida e a desenhada,
é sobre um ato
fundamental do fazer
(sussurros indistintos)
A relação da linha que faz algo
com a que se
transforma em algo
está relacionado a como
fazemos as coisas com a linguagem.
(sussurrando) Certamente.
Acho que estou sempre tentando trabalhar
com palavras como materiais,
da mesma forma que trabalho
com outros tipos de materiais.
O projeto "Lineament" é inspirado
no poema de Wallace Stevens.
Aquele plano bidimensional plano da página
é transformado em um corpo tridimensional
porque cada linha é retirada
do livro como se fosse um fio.
E esse fio de texto passa pelas mãos,
é tátil e então temos uma bola, um novelo,
que é o corpo da página.
Existe esse laço constante
de fio como linha
e linha como linha de escrita.
(Ann) -Sim.
Agora desça por ali. Certo.
(amassando plástico)
(Ann) -Eu
só vou arrumar os tubos
e daí colocamos
o tecido por cima.
Sete, oito, nove
(Ann) Para mim,
trabalhar com instalação
é trabalhar em relação
a um determinado lugar.
Você entra no lugar
e seu corpo sente
as sensações deste espaço
e você não sabe o que
aquele espaço ou situação
vai fazer com você e vice-versa,
o que vai fazer com isso. (risos)
Você tenta ficar neutro
e prestar atenção
ao que vem à tona,
o que isso te faz pensar...
Quais são as coisas
que você sente?
Todas essas maneiras
pelas quais
percebe sua pele é um órgão
e uma membrana
incrivelmente inteligente,
e imediatamente você
ultrapassa qualquer limite
e sente o cheiro.
E você sente
a temperatura e a luz
e todas essas coisas que
têm uma enorme influência
em vivenciar experiências.
(pássaros cantando)
(Gabriel) Este edifício em particular,
já teve 1200 funcionários.
Fica em uma parte
da cidade que
era um como uma
cidade empresarial,
e foi esquecida.
E acabou de sair de mercado
cerca de três meses atrás.
(sussurros indistintos)
(Ann) Eu nunca visitei este prédio
quando estava funcionando,
como uma fábrica
e confecção têxtil,
que agora estava silenciada.
A vacuidade disso,
o vazio disso era muito palpável.
(Voz feminina) Estou toda feliz
hoje com essas cordas.
(conversa indistinta)
-Você pode pegar essa corda?
(Ann) Eu queria ter uma sala
do escritor
e uma sala do leitor.
E eles se tornaram instalações
aéreas fantasmagóricas
de organza de seda
que se sentam lado a lado.
São idênticos na forma.
Têm cerca de
9 metros quadrados
ficam suspensos
dentro da arquitetura.
(tilintar de metal)
(criança falando)
(Ann) Emmitt, você pode
levar isso para lá
com os outros tubos?
(Homem) Querida, ele pode
fazer isso. Não se preocupe.
(Ann) Dentro de cada uma dessas salas,
há uma longa mesa de madeira de 3 metros,
e sobre ela terá um projetor giratório.
(barulhos de metal)
(Gabriel)
O trabalho da Ann não é
de uma artista tradicional
que faz uma peça de pintura
ou uma peça de escultura.
É algo que as pessoas
realmente têm que buscar
e romper com o que eles esperam ver.
(Gabriel)
E está realmente dizendo
para as pessoas que
há mais aqui do que percebemos.
E tem uma pessoa
que consegue ver isso.
(Mulher) Aqui, Emmitt,
você pode ajudar
puxar o projetor.
(Ann) Esta é a seção
que está atrás do vídeo.
Como se os lápis
comessem a linha.
(barulho de sopro)
Parte de fazer o trabalho
é permitir que essas coisas,
que talvez estejam sempre lá,
mas não são visíveis para nós
e tentar torná-las visíveis
de uma forma que sejam experenciáveis.
(assoprando)
(grilos)
[Ann Hamilton
representou os EUA]
[na Bienal de Veneza/1999]
(sinos batendo)
(sussurros indistintos)
(pássaros cantando)
Este edifício estilo Neoclássico
Jeffersoniano que herdamos
é um emblema de um ideal
democrático americano.
(mulheres falando
em código fonético)
Eu queria envolver isso no prédio.
Como lidamos com as manchas
da nossa própria história?
Com esses aspectos
da nossa história social,
sendo a escravidão o maior.
Que temos um país
democrático que foi fundado
e baseado na escravidão,
como falar sobre isso?
Pensei que talvez
a única maneira de fazer isso,
era muito abstrata.
Este fluxo fúscia intensamente
aderido e absorvido pelas paredes.
Seria como uma textura de pontos em gesso
fixados na parede,
soletrando um texto em braile.
Um texto inspirado nos poemas
de Charles Resnikoff.
Do canto de cada uma das quatro salas,
tinha uma trilha sonora,
que é o segundo discurso
de posse de Lincoln,
que era realmente de cura.
Foi traduzido letra por letra
no alfabeto fonético.
(Mulheres sussurrando código fonético)
(pássaros cantando)
(porta abrindo)
(porta fechando)
Vamos, Timmy. Vamos.
(coleira de cachorro tilintando)
Eu moro em Ohio e
me mudei depois de ensinar
por cerca de sete anos
em Santa Bárbara.
É uma decisão muito consciente
querer se mudar
e estar mais perto da minha
família que mora aqui.
Foi aqui que eu cresci.
(gansos chamando)
É um verdadeiro conforto
voltar para casa
e trabalhar fora daquele lugar.
E por muito tempo, meus pais
ajudaram muito
com muito do meu trabalho.
Minha mãe às vezes voava
para trabalhar
em um grande projeto
e meu pai ajudou
em projetos também.
Eles me fornecem
esse tipo de apoio
que realmente me permite
para fazer o tipo de viagem
que meu trabalho precisava.
Acho que seria muito
mais difícil para mim
se eu não tivesse tudo isso.
(Mulher) Você quer
ajuda para trocar o filme?
(Ann) Você não pode ser mãe
e ter uma criança
no jardim de infância,
e não ter outra ajuda.
Emmitt, você quer
ver sua foto?
[mouse clicando]
Há um aspecto do meu trabalho,
que é querer dar voz,
mas minha voz não é
necessariamente
a voz que está aqui.
Sinto que minha voz talvez
esteja aqui e aqui.
É como se eu literalmente
ocupasse o lugar
da música também,
e de todas as outras palavras
que saem do corpo
realmente se tornam meu olho.
Eu inventei uma maneira
de fazer câmeras pinhole.
Eu coloco a câmera
na minha boca
e aí eu desbloqueio a abertura
para que quando
eu reabrir meus lábios,
estou expondo o filme,
fazendo fotos.
(sons de gansos ao fundo)
(passos em folhas secas)
Você nunca deveria ter
sua boca aberta em público.
É como se você não visse
as pessoas se manifestando,
(risos)
é uma posição vulnerável.
É um lugar onde você relaxou
e se permitiu ser
aberto e vulnerável.
(risos)
(Mulher) -Desculpe.
Tá pronta?
(Ann murmura que sim)
Tornou-se muito interessante
para registrar este tempo de ficar parado,
cara a cara com outra pessoa,
como alma a alma,
e revelar algo que não é
a superfície que nós
geralmente mostramos
ao mundo.
A forma da boca é muito
parecida com a forma do olho.
E a imagem fica
quase como a pupila.
[campainha tocando]
[cachorro latindo]
Que bom.
Às vezes inverto a localização
para outra parte do corpo.
Esse tipo de deslocamento
ou deslizamento é uma maneira
que nos permite ver algo diferente.
(motor funcionando)
(Mulher) Parece que há fogo
vindo da sua mão.
(Ann) Uau, olha só.
Olha, totalmente mágico.
(Maarten) É uma folha
plana de água
com sabão em ambos os lados.
É a metade da espessura
de um cabelo humano.
E quando as coisas
ficam tão finas,
como manchas
de óleo na água,
tendem a refletir as
cores da luz dependendo
sua espessura.
Pensei se seria interessante
ver se a Ann quer incorporar isso
em algum de seus trabalhos.
Maarten disse:
"Estou fazendo isso"...
e então ele demonstrou isso.
Eu não sei necessariamente como ou quando,
ou aonde eu usaria isso,
mas está ficando cada vez
mais claro para mim
que está relacionado
a tudo que eu já fiz.
É a fluidez do tecido,
da roupa.
como você pode
pegar suas mãos
e pode passar
pela membrana dele.
Eu amo essa bolha saindo assim
e a respiração sendo feita
palpável, visualmente presente.
É lindo. Lindo.
E eu sei quando estou fazendo
um trabalho que
há um ponto em que eu não consigo ver.
Não consigo ver isso na minha cabeça.
E depois há aquele momento
em que você pode ver
e acha que pode ser lindo.
É como se te invadisse
e você busca todos os meios
para tentar ver essa beleza.
(risos) de fato.
E é sempre diferente
ou outra coisa.
(música etérea)
[Transcrição em Português
por Carole]