O mundo está chato, né, gente?
Hoje a gente tem a geração "mimimi".
E o que seria o mimimi?
O mimimi é uma onomatopeia
que imita o som das crianças chorando.
E é isso que eles fazem.
Eles choram, reclamam de tudo.
Mas será que isso é realmente negativo?
Quando eu tinha dez pra onze anos,
eu tive que trocar de escola.
Eu estava na quinta série.
E nessa escola, a maioria
dos meninos me chamavam de "tição".
E eles questionavam também
a minha presença na escola.
Os meses foram passando,
passando, passando...
e isso foi minando até acabar.
Paralelo a isso, lá na minha casa,
fora da escola, eu tinha todo um suporte.
Era a minha mãe,
minhas amigas, algumas professoras
que, de maneira totalmente empática,
sentiam o que eu sentia,
e me fazia levantar todos os dias
e ir para aquela escola.
Eu estudei lá até o terceiro colegial.
E é por isso
que eu acho que, pra muitas coisas,
não existe mimimi.
Porque hoje em dia, as pessoas falam.
Elas não sofrem caladas como eu sofri.
Eu sofria, anteriormente, calada,
e as pessoas pararam de me hostilizar
porque...
elas achavam que não atingiam os objetivos
que eram me fazer sair da escola,
ou me fazer sofrer.
E existem alguns assuntos,
então, que não são mimimi.
O primeiro deles é esse, o racismo.
O racismo segrega. Sempre segregou.
Existem umas pessoas
que têm poder e privilégios;
e as outras, ficam à margem disso.
Eu, por ser negra, por exemplo,
eu não poderia frequentar a mesma escola
das outras crianças, né?
Apesar disso,
eu frequentei, mesmo sendo
negra e a escola sendo privada.
Sobre a margem disso, quem fica à margem,
64% da população brasileira, os negros.
E aí eu te pergunto:
na sua empresa,
64% das pessoas são negras?
Na sua universidade,
os professores e alunos,
64% deles são negros?
Na televisão? Na revista?
A capa de revista, lá,
na banca [de jornal],
na maioria delas,
estão estampadas pessoas negras?
Em contrapartida,
67% das pessoas que estão
presas no Brasil hoje
são negras.
E a cada 23 minutos,
um jovem negro é morto no Brasil.
(Suspiro)
Então são essas as oportunidades, né?
E isso, gente, não é mimimi.
Se eu fosse homem, hoje,
de certo, eu poderia,
então, não estar vivo.
Mas também,
se eu fosse homem, lá na quinta série,
eu poderia não ter sido hostilizada
porque eles poderiam me hostilizar
por causa de uma "fraqueza" feminina, né?
Então, meus amigos,
eu acho que o feminismo
também não é mimimi.
Hoje,
ainda hoje, as empresas
remuneram melhor os homens
do que as mulheres.
A cada sete minutos,
uma mulher é agredida
psicologicamente, moralmente
ou fisicamente, no Brasil.
A cada onze minutos,
uma mulher é violentada no Brasil.
Sem falar da mulher negra,
que é uma carne,
um objeto sexual.
Não é digna de receber amor, muitas vezes.
Não.
O feminismo, definitivamente,
não é mimimi.
E agora é hora de eu ser empática.
E falar em prol de todos, do ser humano,
porque somos todos iguais, todos.
Eu, por ser heterossexual,
não sou pior ou melhor que ninguém
por sua orientação sexual
ou identidade de gênero.
Não sou.
Entretanto, segundo
o "The New York Times",
o Brasil, é o país mais perigoso
para um homossexual viver.
(Suspiro)
Sem falar na discriminação,
sem falar na falta, também,
de oportunidade de trabalho
que eles enfrentam.
Definitivamente, isso não é mimimi.
Então, meninos... todos,
(Suspiro)
sejamos simpáticos e empáticos com todos,
afinal, somos todos semelhantes.
Vamos analisar bem,
cada assunto mais a fundo
e não julgar ele simplesmente
como mimimi.
E, terceiro lugar,
estas três, são uma das minhas lutas.
E ninguém mais
vai me calar.
Muito obrigada.
(Aplausos)