>>Rafael Fernandes: Motocicletas, violência, subversão.
A série Road Rash tornou-se um enorme sucesso em todos os consoles pelos quais passou
até ser abandonada pela EA, que nunca mais lançou um jogo novo desde 2003.
Por isso, venha relembrar os personagens, as corridas e principalmente as porradas da série clássica de Road Rash.
O primeiro game da série foi lançado em 91 pro Mega Drive, com uma premissa bem inovadora.
O jogador é colocado no controle de uma moto, correndo clandestinamente pelas estradas da Califórnia.
E por clandestino você pode entender como um verdadeiro racha nas ruas, com a opção de socar,
chutar e atropelar seus adversários,
ao mesmo tempo em que você tem que disputar espaço com os outros carros na pista,
e a polícia que tá atrás de você.
Esse conceito já coloca o game à frente dos outros jogos de corrida da época,
porque assim cada corrida é uma coisa completamente diferente,
com carros aparecendo em outros trechos, inimigos te derrubando,
outros obstáculos, enfim, se deixar, o jogo nunca cansa devido ao caos completo de algumas fases.
Pra cada corrida terminada, o jogador acumula uma certa quantia de dinheiro que possibilita comprar uma moto mais rápida,
que vai servir para competir nos níveis seguintes, que têm pistas maiores e, é claro, mais obstáculos ainda.
E essa grana pode ser perdida de duas formas:
uma é caindo perto de um policial durante a corrida,
assim o jogador é obrigado a pagar a fiança para sair da prisão;
ou então quebrando a moto de tanto bater por aí na fase,
obrigando a pagar um mecânico para consertar.
O game over ocorre mesmo quando o jogador não tem dinheiro para pagar nenhum desses dois,
obrigando a começar tudo de novo desde a primeira fase;
o que não é um grande problema para quem anotou direitinho a password, né.
Outro detalhe legal de Road Rash é que cada um dos adversários possui um nome e uma personalidade própria,
como se tivessem uma inteligência artificial única.
Antes de cada corrida, uma mensagem mostrando uma provocação ou dica de um desses rivais aparece na tela,
o que é algo bem legal pois de certa forma cria uma história, uma certa personalidade pro jogo.
Road Rash também inovou com sua engine gráfica:
enquanto que vários jogos de corrida do Mega drive lançados até então só contavam com uma pista de superfície basicamente lisa,
o jogo da EA trouxe morros, lombadas e diversos outros tipos de inclinação,
lançando o jogador longe de acordo com as limitações de física da época, é claro.
Tudo isso apresentando uma taxa de frames bem razoável, apesar de às vezes não muito eficiente.
Isso ajudou com que Road Rash fosse aclamado com essas inovações em relação à perspectiva de escala através de software;
lembrando que o Super Nintendo e o Mode 7 só viriam um pouco depois no ano de 91,
onde os efeitos de escala por hardware possibilitavam com que os carros deslizassem como sabonete a 60 frames por segundo.
Oops, foi mal.
>>Shigeru Miyamoto: Toasty!
>>Rafael Fernandes: As músicas do game foram produzidas por Rob Hubbard, considerado o mago do Commodore 64.
Os arranjos baseados em rock são muito bem feitos e aproveitam bem o chip de som FM do Mega Drive,
e é fácil de sair murmurando por aí os temas para qualquer um que tenha jogado por muito tempo.
Os efeitos sonoros de batidas e vozes são bem razoáveis, e não há nada de especial nisso.
Acredito que tenha sido bastante comum por parte dos jogadores colocar o som no mute
e ouvir uma música mais interessante, o que fica a critério de cada um, né?
Porém, apesar de todas essas qualidades, o jogo tem as suas falhas.
O controle às vezes é um pouco solto demais,
e nos níveis finais é quase impossível de controlar a moto.
A interface dos menus também é um pouco complicada, de forma bastante inexplicável.
A única forma de acessar a loja de motos é apertando C nessa tela aí,
o que dificulta bastante para quem não tem o manual do jogo para saber, né?
Mas, em resumo, a série Road Rash estreou como algo único e divertidíssimo,
graças a sua diversão e jogabilidade afiadíssima,
fazendo com que o jogo se sobressaísse em relação a todos outros semelhantes do mercado na época.
O sucesso do game fez com que a Electronic Arts produzisse conversões para o Amiga, que é excelente, por sinal,
e os consoles de 8-bit como Master System, Game Gear e Game Boy, que são bem razoáveis.
No caso do Game Boy, há a conversão original lançada em 1996,
e depois uma versão aprimorada compatível somente com o Game Boy Color,
lançada em 2000, que trazia gráficos e efeitos de escala bem melhores que anteriormente.
Com a receptividade do game, é claro que a Electronic Arts não podia perder a oportunidade de lançar uma continuação,
o que aconteceu já no ano seguinte com Road Rash II,
que melhora levemente os gráficos em relação ao jogo anterior, e traz um menu um pouco mais navegável.
Além disso, a jogabilidade foi refinada,
trazendo um controle mais firme e físicas de jogo mais divertidas do que nunca.
Dessa vez, o torneio clandestino percorre as estradas dos Estados Unidos, não se limitando mais à Califórnia.
No total, são 25 pistas que representam o Alasca, o Havaí, Vermont, Tennessee e o estado do Arizona.
Outro detalhe legal é que, ao término de cada prova, há uma pequena animação engraçadinha,
que varia de acordo com o seu desempenho na corrida.
O jogo também possui um modo de dois jogadores em tela dividida, com duas opções:
ou eles jogam cooperativamente, onde os dois podem disputar o torneio,
ou mano a mano, com apenas os dois em uma pista só.
Road Rash pode ser até considerado mais uma adição ao primeiro jogo do que uma verdadeira continuação,
já que, fora a melhora nos controles, um maior balanceamento na dificuldade,
e um modo pra dois jogadores, as outras novidades são mais cosméticas,
e não representam grande coisa em relação ao original.
Ainda assim, o game é tão ou mais divertido do que o primeiro,
como se fosse uma nova experiência de jogo mesmo.
O sucesso garantido da franquia poderia trazer diversas oportunidades para a Electronic Arts arrancar algum dinheiro dos jogadores
e ir lançando diversas continuações como ela sempre fez, certo?
Mas em 1994, a empresa surpreendeu com o lançamento de…
SKITCHIN'!
Skitchin' não é um jogo oficial da série,
mas fica claro que usa o mesmo motor gráfico de Road Rash II – com a mesma taxa de frames por segundo.
A premissa também é quase igual, mas bem mais criativa:
dessa vez a corrida é entre patins, e o jogador deve sempre ficar atento aos veículos que passam na rua.
Assim, ele pode pegar carona nesses carros e seguir a corrida assim,
podendo ficar ali até chegar ao final, ou pegar impulso para ir na frente atrás de outro carro.
Outro detalhe legal é que dá pra subir em rampas e fazer algumas manobras,
e também tem algumas fases bônus, para poder quebrar o gelo entre as pistas.
Vale destacar também o som,
cujas músicas tem sons de guitarra reais reproduzidos por um driver especial que coloca o chip sonoro do Mega no limite,
criando um resultado bastante legal.
E os gráficos, como disse, são praticamente a mesma coisa dos de Road Rash,
mas com algumas melhoras e um cenário mais expansivo.
Comparando também com o jogo de moto, Skitchin' é um jogo bem mais difícil,
já que o jogador tem que ficar atento aos carros que passam,
aos outros corredores na pista, e às rampas e obstáculos que surgem pelo cenário.
Mas ainda assim é um ótimo, digamos, spin-off da série original de corrida,
trazendo uma boa alternativa de diversão, sem fugir muito da fórmula original.
Em 1994, o 3DO estava no mercado como um dos primeiros consoles de 32-bit,
sendo assim a Electronic Arts decidiu atualizar a franquia para o novo hardware da Panasonic.
Lançado primeiro para este console e depois convertido para o Playstation,
Sega Saturno e também para o Windows 95,
Road Rash tirou grande proveito do espaço de armazenamento maior do CD para colocar diversas FMVs com atores reais,
o que pode ser algo bom ou ruim, dependendo do ponto de vista.
Esses filminhos têm a mesma função daquelas animações da versão de Mega, e,
assim como lá, é bem provável que depois de um certo tempo fique um pouco enjoativo assistí-los toda hora.
O jogo mistura sprites digitalizados com um plano de cenário 3D,
o que garante 60 frames por segundo quase durante todo o tempo,
mas enquanto que na época isso parecia algo muito legal,
esse estilo gráfico envelheceu mal, como a gente pode ver pelas imagens.
Ainda assim, é bem jogável, apesar de que aparentemente,
essa união afetou as físicas do jogo de alguma forma, que não são muito eficientes,
como vocês podem ver nessa batida de frente com um carro que não acontece nada,
além de outros tombos meio imbecis como, por exemplo, uma caixa de correio.
Outra inovação de Road Rash é em relação ao som,
inaugurando uma tendência na indústria dos games que se segue até hoje.
A trilha sonora é repleta de músicas licenciadas, ou seja,
composições de bandas reais, como Soundgarden,
Hammerbox, e outros artistas da A&M Records.
O jogo inclusive continha videoclipes de algumas dessas canções,
porém, um grande problema surge daí:
as músicas licenciadas só tocam mesmo durante os menus, ou seja,
o que toca durante o jogo são apenas músicas estilo MIDI,
e que não são tão boas quanto as músicas do Mega Drive, por exemplo.
Provavelmente isso ocorreu devido a uma limitação técnica da época,
já que os cenários eram carregados diretamente do CD e construídos durante a corrida,
o que seria um grande problema se, além disso,
o console também tivesse que ler as faixas sonoras da mídia,
ainda mais com o leitor de CD super lento que a maioria dos videogames tinha na época.
Mas, enfim.
De qualquer forma,
o Road Rash de 32-bit serve como uma espécie de reboot da série para os consoles mais modernos,
e é bem divertido, principalmente devido a essas inovações.
Infelizmente, o jogo não empolga tanto quanto as versões de Mega Drive,
mas é uma boa alternativa para aqueles que não tinham o videogame da Sega.
>>Chris Cornell: …mother says that's the only life
♪ So do it right
♪ Do it right
>>Rafael Fernandes: Ainda assim, o Mega Drive não foi esquecido,
tendo em 1995 o lançamento de Road Rash 3: Tour De Force.
Dessa vez, as corridas percorrem todo o planeta,
tendo inclusive o Brasil como uma das pistas,
com um cenário bem interessante e uma música misturando rock com percussão carnavalesca.
Aliás, a trilha sonora desse jogo, composta por Don Veca,
não possui uma instrumentação tão marcante quanto os jogos anteriores,
mas faz um ótimo trabalho em mesclar supostos sons do país aonde acontece a corrida com arranjos de rock e metal.
Confira só essa versão da Tarantella, que toca na fase da Itália.
Legal, né?
O grande problema mesmo de Road Rash 3 está nos gráficos.
Foram reciclados os sprites digitalizados do Road Rash de 32-bits, e como a gente sabe bem,
o uso desse estilo gráfico no Mega Drive pode trazer algumas sequelas, que estão bem presentes nesse jogo,
como granulação excessiva e cores totalmente ralas e esquisitas,
o que afastou muita gente do jogo e fez até com que a crítica especializada da época
considerasse os gráficos desse jogo piores do que as versões anteriores!
Mas, como o foco de Road Rash nunca foi mesmo os gráficos,
o terceiro jogo da série se mostra bem divertido, com físicas mais exageradas,
uma polícia mais insistente, que inclusive conta com um helicóptero para derrubar os motoqueiros,
e muito mais velocidade do que os anteriores, o que às vezes pode ser algo incontrolável, assim como no primeiro jogo da série.
A surpresa mesmo fica por conta desse lançamento para Sega CD, em 1995 também,
que naquele momento já era um console abandonado.
Road Rash CD é como se fosse um jogo híbrido, ou seja,
ele pega o que há de melhor em todas as encarnações anteriores da série e tenta misturar tudo,
incluindo os filminhos (em uma qualidade bem inferior, é claro), os menus e,
como vocês podem ver, os gráficos das versões de Mega,
o que é bem decepcionante considerando o poder do processador de vídeo do Sega CD,
que permitiria melhores efeitos de escala.
Mas o diferencial mesmo tá na trilha sonora licenciada,
que dessa vez toca durante a corrida,
apesar da qualidade sonora das músicas não ser lá grande coisa.
>>Chris Cornell: ♪ I got up feeling so down
♪ I got off being sold out
>>Rafael Fernandes: Apesar de não tirar muito proveito do add-on
além dos mais de 500 MB de conteúdo multimídia que a própria capa do jogo divulga,
Road Rash CD é mais uma opção para quem já tá cansado de jogar os três primeiros jogos de Mega,
oferecendo novas pistas e uma boa trilha sonora que toca durante os menus,
apesar de não acrescentar muita coisa em relação a esses games anteriores.
>>Carrie Akre: …now
♪ We've only got this moment
♪ And some would say about it
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