Alguma vez você já passou por isso? Você está conversando com alguém e essa pessoa está falando algo sobre o qual ela se interessa muito, ou sobre o qual ela conhece bastante e você está conseguindo acompanhar. Até que uma hora você percebe que perdeu o fio da meada. Aí, você está ali ouvindo e se dá conta que não faz a menor ideia do que a pessoa está falando. (Risos) Aconteceu isso comigo com um amigo que sabe muito sobre investimentos. Um assunto que não conheço muito, mas que é muito importante, muito útil. Ele começou a falar sobre um tipo de carteira de investimentos, blá-blá-blá... (Risos) Infelizmente, acabei não assimilando muita coisa. Acho que esta é uma situação comum para todos nós e que, felizmente, podemos melhorar e é sobre isso que vou falar hoje. Eu sou cientista. Trabalho com física quântica. Já estive nos dois lados dessa história. Já fui aquele que explica algo muito complicado para alguém, mas também estive do outro lado, ouvindo um monte de coisas nas conversas com meus colegas. Quando acontece esta quebra na comunicação, observo uma coisa muito interessante: quando alguém para de entender o assunto, sente-se meio culpado por isso. Mas, se você parar para pensar, isso é totalmente errado. É exatamente o contrário, porque não há nada o que se possa fazer para entender o que é falado. Mas a outra pessoa pode ajudar você, se ela tentar explicar de uma forma mais clara. Então, ao longo da minha carreira, descobri que a única forma de sobreviver é ter a coragem de, educadamente, interromper a pessoa que está falando e dizer: "Desculpe, não estou entendendo nada" e, então, voltar ao momento em que você perdeu o fio da meada. Isso requer uma certa coragem, porque estamos admitindo que não entendemos do assunto. Mas, tudo bem, acho que meus medos não se justificaram. Geralmente, as pessoas respeitam quem procura saber ou, pelo menos, tentam se informar corretamente. Acho que nunca devemos nos sentir mal por não saber qualquer coisa ou por fazer perguntas. Eu divulgo muitas informações científicas e a ciência tem essa dificuldade de comunicação, porque, geralmente, o assunto é muito complexo. E os cientistas sempre reclamam que suas pesquisas são sempre deturpadas pela mídia, tipo: "Beber vinho cura câncer". (Risos) A propósito, não cura, não. Por outro lado, pode-se entender como jornalistas podem simplificar temas ou obter informações incorretas porque, para explicar pesquisas de ponta, você meio que precisa de alguém com PhD naquele assunto, e isso é algo que não é possível, ou seja, os jornalistas terem isso nas diferentes áreas da ciência. Acho que seria muito bom se houvesse um monte de gente realmente boa na comunicação científica, pessoas que entendessem a ciência, mas que pudessem explicar isso de uma maneira que o público em geral pudesse entender. Isso é importante por muitas razões, mas uma delas é que quase toda a pesquisa científica do mundo é financiada com recursos públicos. Seria bom se as pessoas comuns pudessem entender o trabalho financiado pelo seu próprio dinheiro. Para mim, a comunicação científica é boa porque também é interessante. A pesquisa é tão fascinante que seria bom se as pessoas pudessem entender. Veja o meu campo, por exemplo, a física quântica. Acho a física quântica um assunto profundamente interessante, mas ela é uma daquelas que tem reputação de ser extremamente difícil. É justo, ela é complicada nos detalhes, mas não significa que não se possa falar sobre ela. Vamos levantar as mãos. Levante a mão se você não sabe o que é física quântica. Não se sinta mal se não souber. Levante a mão. Assuma sua ignorância. Não tem problema. Beleza, está certo. A física quântica é a descrição das menores coisas do nosso universo. Se você fizer um zoom até as células, até as moléculas, átomos e nas coisas de que os átomos são feitos, as partículas subatômicas, prótons, nêutrons, elétrons, ela descreve como todos eles funcionam e também como eles interagem com a luz. O interessante da física quântica é que, fundamentalmente, ela governa o universo e as coisas que acontecem lá são muito estranhas. Vou falar sobre alguns fenômenos que ocorrem na física quântica. Um que talvez você conheça é a dualidade onda partícula. Pode-se imaginar todas essas partículas subatômicas, os prótons, nêutrons e elétrons, como bolinhas pulando e batendo uma nas outras. Às vezes, devemos tratá-las como ondas que se espalham. Elas são as duas coisas ao mesmo tempo, o que é difícil imaginar. Vou dar um exemplo. Imagine jogar uma dessas bolinhas numa lagoa. A bolinha iria desaparecer e produziria ondulações na superfície da água. Imagine, agora, que uma dessas ondulações atinja um galho. Todas as ondulações na superfície desapareceriam e, de repente, aquela bolinha sai de dentro do galho. Isso soa meio estranho, não é? Mas este é o tipo de coisa que ocorre o tempo todo no mundo subatômico. Outro fenômeno que você pode ter ouvido falar é o tunelamento quântico. Imagine que eu jogue uma dessas bolinhas contra uma janela fechada. Seria como jogar, desculpem, eu jogo, ela pula, eu pego eu jogo, ela pula, eu pego, eu jogo... e ela passa pela janela fechada. A janela não quebrou. Ela não interagiu com a bola. De repente a bolinha está do outro lado da janela e se pode vê-la indo embora. (Risos) Se víssemos isso, iríamos achar uma loucura, certo? Isso acontece o tempo todo no mundo subatômico. É exatamente por isso que nós existimos. Sabemos que no Sol a fusão nuclear é quem gera a energia. A fusão nuclear é a união de dois átomos de hidrogênio e os prótons em seu núcleo se repelem. Se não fosse por tunelamento quântico, eles se repeliriam e nada aconteceria. Mas eles se conectam por um túnel quântico e é isso que permite que eles se fundam e liberem luz, e sem a luz do Sol, não existiríamos. Podemos agradecer ao tunelamento quântico pela nossa existência. Outro fenômeno que existe é a superposição. Uma palavra muito chique, mas simplesmente significa que se pode fazer coisas opostas ao mesmo tempo. Por exemplo, posso girar num sentido, posso girar no outro sentido, mas, como seria girar em ambos os sentidos ao mesmo tempo? (Risos) Não podemos fazer isso, nem imaginar, mas é isso que as partículas subatômicas fazem o tempo todo. Podemos meio que fazer isso, pelo menos, minúsculas partes de nós podem. Se você já esteve numa máquina de ressonância magnética, ela procura todos os átomos de hidrogênio do seu corpo e os faz girar em ambos os sentidos ao mesmo tempo, criando uma superposição. Isto é o que nos permite ver dentro do corpo das pessoas. É interessante notar que toda essa física nos parece tão abstrata e distante do nosso dia a dia. No entanto, isso acontece dentro de nós porque somos feitos de coisas quânticas. Isso está acontecendo em toda parte. Não é apenas nas máquinas de ressonância que usamos tecnologia da física quântica. Novas tecnologias surgem por causa da física quântica pela nossa compreensão da física quântica. Uma delas, a compreensão do silício nos permitiu desenvolver o chip de silício, usado em todos os computadores do mundo. Toda a infraestrutura de computação do mundo existe por causa da nossa compreensão da física quântica. Outras coisas também, como lasers, que são muito úteis, e usinas nucleares. Existem muitos clichês sobre a física quântica: "Ninguém realmente entende a física quântica". Não é verdade. Nós entendemos muito bem a física quântica, e as pessoas acreditam que sim, porque existem a ressonância magnética e as centrais nucleares. Eles querem dizer que, quando imaginamos uma coisa que pode ser uma partícula e uma onda ao mesmo tempo, ou algo que pode girar em duas direções ao mesmo tempo, achamos muito difícil imaginar. Mas podemos descrever tudo muito bem usando matemática. É fascinante que uma coisa possa ser tão contra-intuitiva por um lado, e tão útil por outro. Eu gosto de falar sobre ciência para as pessoas. Faço vídeos no YouTube e escrevo livros infantis para a crianças de 7 a 11 anos e gosto de me dedicar e não me atenho somente à ciência. Gosto de explicar assuntos complicados para essa idade. Física quântica, nanotecnologia, relatividade, ciência aeroespacial, este tipo de coisas. Cheguei à conclusão que se pode explicar qualquer coisa para qualquer pessoa, desde que se faça do jeito certo; criei um conjunto de princípios para fazer isso. Gostaria de compartilhá-los com vocês. Aqui estão os quatro princípios para uma boa comunicação científica. Falei ciência, mas pode ser qualquer assunto técnico. Certo. Número um: "Comece no lugar certo". Todo mundo tem conhecimentos diferentes, todos possuem uma bagagem de conhecimentos diferente. Nosso trabalho é explicar as coisas de forma que as pessoas passem entender. Não adianta deixar um buraco e começar de lá, porque as pessoas não entenderiam. É melhor partir do que as pessoas já sabem. E como se faz isso? É tão simples quanto perguntar sobre o que as pessoas sabem, ou até mesmo fazer uma exposição e perguntar: "Você já entendeu isso?" "Isso faz algum sentido para você?" Quando falamos para um auditório, temos que usar nossa melhor intuição, por exemplo, pedir para levantar as mãos. É sempre melhor pecar por excesso. As pessoas geralmente não se importam em ouvir informações que já conhecem. Certo. Segundo princípio: "Não exagere". As pessoas têm um limite para receber informações e temos que ser realistas. É melhor explicar, digamos, três coisas, que alguém vai entender e lembrar, em vez de sobrecarregá-lo com excesso de informações, o que anularia todo o seu esforço. Eu poderia ter continuado a falar sobre física quântica, e espero que o que falei tenha sido suficiente para despertar seu interesse ao final desta palestra. Certo. Terceiro princípio: "Clareza é melhor que exatidão". Quando explicamos coisas com exemplos, a tentação é dar a explicação mais exata, cientificamente falando, mas elas tendem a ser mais longas e meio confusas. É melhor usar uma explicação mais simples que talvez não seja completamente correta, tecnicamente, mas que faça sentido. Imagine o fato aqui e a explicação completa aqui. Só queremos levá-lo ao longo deste caminho. Por exemplo, quando falei sobre girar em sistemas quânticos, a verdade é que isso é um pouco mais abstrato, girar essas partículas subatômicas, mas o que eu falei, fornece uma boa ideia daquilo que pessoas possam estar interessadas, e posso acertar os detalhes depois. Certo. Quarto princípio: "Explique por que você acha legal". (Risos) Quando se explica algo para alguém, há uma razão pela qual se faz isso. Ou achamos a coisa superimportante ou muito interessante. E quanto mais se transmite isso para alguém, é mais provável que ele se lembre e tire algum proveito disso tudo. Pode ser feito de várias maneiras. Uma delas é simplesmente mostrar o seu entusiasmo pelo assunto. Outra forma é mostrar como ele é relevante para a vida das pessoas. Por exemplo, física quântica: toda vez que usa o telefone, você está invocando as leis fundamentais do universo para atender as suas ordens (Risos) como quando você posta fotos do seu gato. (Risos) Concluindo, esses são meus quatro princípios. Gostaria apenas de contar uma história. Quando conheço pessoas pela primeira vez, me apresento e digo que sou físico, e recebo quase sempre uma reação parecida com esta: "Sempre fui muito mal em física". (Risos) Isso acontece tantas vezes que é uma pena. A ciência não deveria ser sobre se você é bom nisso ou não. Deveria ser apenas se você tem interesse por ela ou não. Se você acha ou considera a ciência é assustadora, digo a você: "Existe muita coisa boa por aí". Basta escolher o assunto de seu interesse, encontrar alguma coisa e, a partir daí, seguir a sua curiosidade. Obrigado. (Aplausos) (Vivas)