Eu sou professor do ensino médio; não estou acostumado a ter uma sala cheia prestando atenção ao que digo. (Risos) Quem aqui, quando estava na escola, gostava de estudar ciências? Nada mau. Agora, nesta última semana, quem aqui usou algo que aprendeu nas aulas de física, no seu cotidiano? Certo, temos alguns, mas não muitos. Então, acho, como professor, não estou tendo muita influência na vida dos meus alunos, e isso é um problema. Gostaria de iniciar contando a história de Zaya. Zaya foi minha aluna na Mongólia, há sete anos. Ela tinha 14 anos naquela época. Zaya era uma menina tranquila, estudava muito, e sempre tinha uma palavra gentil para os amigos. Zaya acreditava em OVNIs. Seu avô falava que ele tinha sido abduzido várias vezes e se tornou famoso por suas pinturas retratando essas abduções. Na época em que a conheci, Zaya descobriu a Internet e começou a aprender mais sobre as teorias da conspiração. Com o tempo, ela começou a suspeitar que o governo local, o governo nacional e mesmo a economia mundial estavam sob o comando de homenzinhos verdes. Isso é o que acontece, quando uma adolescente que não pensa de forma crítica, tem acesso à internet. Num mundo em que há sérios desafios à nossa frente: aquecimento global, avanços na saúde a tecnologia evoluindo a uma taxa cada vez mais rápida. Para que a sociedade possa lidar com isso, vamos precisar de uma população cientificamente alfabetizada. Ao mesmo tempo, se você usa o pensamento crítico e científico em sua vida, estará capacitado para entender melhor o mundo. Mas, como no caso de Zaya, nós, professores, não estamos ensinando os alunos a pensar de forma crítica. Não estamos ensinando alunos a usar as ideias científicas, para dar sentido à vida deles. A maioria de nós reconhece que precisamos melhorar, mas, ao mesmo tempo, muitas de nossas conversas são dirigidas a coisas erradas. Muitas pessoas parecem pensar que poderíamos fazer as crianças adorar ciências e ser boas nela, se pudéssemos mostrar explosões e demonstrações maravilhosas. Então, vamos apresentar uma demonstração maravilhosa. (Aplausos) Tenho um frasco e existe um catalisador aqui. Este frasco contém peróxido de hidrogênio com um pouco de detergente comum. Vou derramar aqui dentro. E temos este efeito legal. O que acontece aqui, é que o peróxido de hidrogênio está sendo dividido pelo catalizador, transformando-se em água e liberando o oxigênio. Por causa do detergente na mistura, o oxigênio está ficando preso nas bolhas e temos um monte delas. Este efeito vai durar uns 10 minutos ou mais. Espero que vocês não se distraiam muito, e não prestem mais atenção em mim. Certo, isso é tudo muito legal, você fica mais curioso em relação ao mundo? Isso faz você imaginar por que o céu é azul, como o motor do carro funciona, ou por que as tartarugas têm aqueles desenhos legais na carapaça? Não, certamente não. Quer dizer, perguntas como essas tornam você curioso, mas não tenho certeza que este tipo de demonstração vá fazer muito pelos alunos. A menos que se possa usar as demonstrações para estimular a curiosidade ou para ensinar o pensamento crítico, essas demonstrações serão apenas enganação, num mundo que precisa de gente capaz de pensar de forma crítica. O segundo erro que cometemos é supor que ciência é algum tipo de conjunto de conhecimentos. Se ciência for um conjunto de conhecimentos, então as escolas serão empresas que decidirão se os alunos aprenderam esse conhecimento. Existem duas ferramentas para fazer isso. A primeira são as questões de múltipla escolha. Que cor produzirá a melhor resolução num telescópio ótico ou num microscópio? Há quatro respostas erradas e uma certa. Que tipo de usinas devem ser construídas para fornecer energia elétrica? Não há lugar para sutilezas, esclarecimentos ou explicações. Quantos cromossomos os humanos têm? Não há exceções, existe apenas a resposta. Qual dessas definições aqui formuladas é a definição correta de energia? É quase que um teste de compreensão de leitura. Qual é a estrela mais próxima? Não se pode avaliar a capacidade das crianças fazerem as perguntas certas, de formular uma hipótese, de conduzir um experimento, ou de dar sentido às suas vidas com um teste de múltipla escolha. A outra técnica que temos é a formulação de questões científicas. Os problemas da ciência simulam situações da vida real, nas quais os alunos aplicam seus conhecimentos científicos. Aqui está um exemplo. Massa de 5 quilogramas, aceleração de 2 metros por segundo ao quadrado, e sabemos que força é massa vezes aceleração, então, quanto vale a força? Quando os alunos veem um problema como este, dizem: "Qual equação devo usar? Que definições devo usar? Quais ideias eu deveria escrever no papel?", e eles param de pensar. Esses problemas não oferecem nenhuma avaliação significativa da capacidade de uma criança de aplicar o conhecimento científico. Eles não passam de um teste para mostrar se os alunos sabem ou não resolver este tipo de problema. Então, testes científicos não são bons, certo? Mas e daí? O problema é que esses testes funcionam como portais para impedir que os alunos se formem, permitir que entrem na universidade, e para permitir que recebam o treinamento necessário. Como resultado, há uma tremenda pressão nos alunos, famílias e professores para prepará-los para esses testes. Estamos nos concentrando na coisa errada, esses testes são o objetivo errado. Se houver algo mágico ou significativo em ciências no início do ano, desaparecerá em dezembro. Eis como são as coisas. Educação em ciências não está funcionando. Estamos tentando explosões que não funcionam, e triturando as crianças por meio de testes que não nos dizem nada. Tenho outra demonstração para vocês. Esta é melhor. Uma caixa misteriosa, por favor, observe. Agora que você vê isso, quem tem uma pergunta? Quem está curioso sobre isso? Quem quer subir ao palco, puxar uma dessas cordas e ver o que acontece? Sim, esta é a reação que queremos dos alunos! Queremos que sejam curiosos. Quando apresento esta caixa aos alunos, eles pedem: "Mostre-nos por dentro!" Mas nunca farei isso. Está lacrada, é claro. Assim como a ciência, a caixa não tem a ver com respostas, não se tem acesso a alguma espécie de verdade universal. Tudo o que se tem são perguntas. Digo aos alunos que eles podem fazer a sua própria caixa misteriosa, e você também pode fazer. Se sua caixa funcionar como a minha, então, parabéns, você conseguiu. Mas nunca vou mostrar o que tem nela. É uma demonstração científica, certo? Mas, a maior parte do aprendizado em ciências é um pouco mais difícil, então, vamos a mais uma demonstração. Uma bola de plástico branco e um ímã. A bola de plástico branco não é atraída pelo cobre, mas, o ímã também não porque o cobre não é ferromagnético. Se os jogarmos pelos tubos, aí está a bola de plástico, mas onde está o ímã? Aí está. Então, o que aconteceu? À medida que o ímã cai, o tubo sente uma mudança no campo magnético. Exatamente como num dínamo ou num gerador, a mudança no campo magnético cria uma corrente elétrica. E como o ímã cai verticalmente, a corrente vai fluir em círculos; esses círculos são chamados de correntes parasitas. Da mesma forma que a corrente num fio cria um campo magnético, as correntes parasitas também criarão um campo magnético. O campo magnético criado aqui estará no sentido oposto ao do campo magnético do ímã. Portanto, à medida que cai, o ímã será repelido por um campo que ele mesmo está criando. Como resultado, o ímã cai mais devagar. Agora que você viu a demonstração, ouviu a explicação e viu algumas figuras, você entendeu, certo? Bem, vamos testar a sua compreensão. Pegarei o imã, virarei de cabeça para baixo e soltarei. Ele cairá mais rápido, mais devagar ou na mesma velocidade? Mesma velocidade. A situação é complexa. É difícil. Indução eletromagnética é um assunto que, quando eu ensino, levo horas trabalhando com os alunos. Fazemos exercícios, construímos modelos e os implantamos. Compreender as ideias em ciências leva tempo, esforço e, é claro, demanda uma educação cuidadosa. A técnica que uso quando leciono se chama ensino de modelagem. A modelagem simula como os cientistas adquirem o conhecimento e isso funciona muito bem. Gostaria de mostrar. Começaremos com uma experiência. Os alunos têm que encontrar a relação entre duas variáveis meticulosamente restritas. Depois, vamos nos encontrar na aula e juntar nossas descobertas para criar um modelo. Como foram os alunos que criaram o modelo, não é mais a lei da gravitação de Newton, é a lei de Anna ou lei de Ivan ou a lei de Alexander. Eles têm direitos sobre ela, é deles. Depois, vamos pegar o modelo e aplicá-lo ao mundo real. Finalmente, podemos pegar o modelo, retirar as restrições e ver que ele não funciona mais. O que nos permite criar um modelo novo, mais geral. Este enfoque de aprendizagem realmente funciona; a investigação é clara neste aspecto. Vai exigir tempo e esforço reciclar professores para ensinar de forma mais eficaz. Mas, a parte boa é que não é nem difícil e nem caro. Uso muito o quadro branco inteligente. Trago o quadro e os alunos devem proporcionar a inteligência. Quando quero que os alunos desenvolvam uma habilidade, ofereço uma coisa real e é assim que os mantemos comprometidos. Na última semana, estavam com uma bexiga com água, foram ao segundo andar e a seguraram na janela; eles precisavam prever, quando soltassem a bexiga, comigo andando debaixo da janela, se cairia na minha cabeça. Vamos ver. (Inicia o vídeo) Lá vai ela.....caíndo.. Na mosca. (Risos) Podem ver como eles estão felizes lá em cima. (Risos) (Aplausos) Obrigado. Voltemos à Zaya. Ela estava se tornando cada vez mais paranoica e preocupada com OVNIs. Minha obrigação era fazê-la aplicar o pensamento científico, que estava aprendendo nas aulas, às ideias sobre OVNIs e teorias da conspiração. Aos poucos, ao longo do ano, ela começou a voltar atrás em suas ideias. No final do ano, ela já era uma menina normal novamente. A ciência e a forma científica de pensar deu a ela um melhor entendimento do seu próprio mundo. Imagine se pudéssemos aprender ciências, com os alunos tendo aulas dinâmicas, práticas e significativas. Imagine se todos pudéssemos aprender a pensar de modo crítico e científico. Mas, falta um detalhe muito importante. As provas. Aqui na Europa e em todo o mundo, estamos apostando, cada vez mais, em testes padronizados. Cada minuto que os alunos gastam aprendendo a fazer perguntas, fazer experiências, e pensar como cientista, é um minuto que não estão usando para se preparar para as provas. Qualquer mudança que fizermos ao ensino de ciências precisará começar com uma mudança na política de avaliação científica. Há alternativas a esses testes horríveis: projetos, tarefas em aberto, grupos, laboratório normal e virtual, portfólios. Se você for um educador, busque isso! Elas foram testadas, foram usadas por décadas. Não sei por que não as usam, é loucura. Estou aqui porque quero apelar aos líderes em ciências aqui e em todo o mundo, para voltar atrás nesses testes padronizados, procurar e considerar seriamente outras formas de avaliação. Tenho um recado para vocês também e especialmente para os alunos. Ciência é muito mais que provas. Se você usar a ciência no seu modo de pensar e se puder aprender a pensar de modo crítico e científico, você será uma pessoa mais inteligente e mais útil. Podemos aprender a pensar de modo científico e crítico e, assim, exigir das escolas, do sistema educacional, e de você mesmo. E, mais relevante, não deixe que as provas digam o que é importante para você. Aprender ciências é difícil, mas também é muito importante. Acho que estamos fazendo da forma errada e que podemos fazer melhor. De fato, acho que "devemos" fazer melhor. Muito obrigado. (Aplausos)