Sou fonoaudióloga,
uma profissão maravilhosa
para pessoas que se importam
com a comunicação como eu.
Pensamos que a comunicação
é um direito humano.
O foco da minha carreira tem sido
em crianças surdas.
E desde cedo, aprendi sobre uma inovação
para o acesso a linguagem
sobre a qual quero lhes contar.
Meu primeiro emprego
foi numa pré-escola em Washington, D.C.
que incluía tanto crianças
surdas como ouvintes.
E a primeira criança
com quem trabalhei lá foi o Bradley,
uma criança de três anos
com profunda perda de audição.
Ele não obteve muito proveito
de seus aparelhos auditivos,
então seus pais optaram por usar
um modo visual de comunicação com ele
chamado Palavra Complementada.
Comecei a utilizar esse método com ele,
e durante aquele ano pré-escolar,
fizemos coisas comuns da pré-escola,
mas com a ajuda da Palavra Complementada.
Nós falávamos e eu gesticulava
sobre todos os assuntos possíveis,
e a linguagem de Bradley decolou.
Nós líamos e eu gesticulava
dezenas de livros.
E ele aprendeu a ler.
Ele avançou para ótimas habilidades
de linguagem e comunicação.
Conquista acadêmica.
Qual era o segredo?
Eu te perdoarei se você pensar que eu fui
a melhor fonoaudióloga do mundo.
Mas não foi por isso.
O verdadeiro segredo era que tínhamos
uma poderosa ferramenta em nossas mãos.
Tínhamos a Palavra Complementada.
Palavra Complementada.
O que é isso? O que estou fazendo?
Todos nós usamos nossos
olhos algumas vezes
quando estamos tentando
ouvir uma mensagem falada.
Mas a leitura labial é muito difícil.
A fala acontece rápido.
Os sons da fala são similares,
quando são invisíveis.
Usando apenas a leitura labial, entendemos
apenas um terço do que foi falado.
Para superar isso,
essa técnica foi desenvolvida
pelo Dr. Orin Cornett
na Universidade Gallaudet,
em meados dos anos 60.
Ele queria habilitar pais ouvintes
com crianças surdas
a compartilharem a linguagem falada.
Sua ideia foi um conjunto
de gestos feitos com a mão
que adicionariam informações
aos movimentos naturais dos lábios na fala
para tirar da leitura labial
o elemento de adivinhação.
E como funciona?
É um sistema muito simples.
O formato da mão mostra as consoantes.
Sua posição mostra as vogais.
Gestos adicionados aos movimentos labiais
da fala mostram os sons que dizemos,
e permitem que uma pessoa surda
compreenda 100% do que foi dito.
Deixe-me dar um exemplo.
Vamos pensar nas palavras
"Beto" e "perto".
Se estiver fazendo leitura labial,
você não consegue distingui-las.
Elas são parecidas.
Mas, se adicionarmos gestos,
fazemos com que pareçam diferentes.
Beto. Perto.
Você consegue até entender sem a voz:
(Sem voz) Beto. Perto.
Se você possui alguma audição,
os gestos podem ser um complemento.
Mas a língua falada pode ser
entendida inteiramente
através da visão se for necessário.
Aqui está a ilustração que demonstra
todo o sistema em apenas uma página.
Formatos da mão e consoantes.
Para adultos, aprender a gesticular
é simplesmente uma questão
de combinar os sons que você conhece
com os formatos e as posições da mão.
Outros podem aprender e entender a língua
se ela for gesticulada para eles.
O que podemos gesticular?
Qualquer coisa que podemos dizer.
como "supercalifragilisticexpialidoce".
Estou me exibindo.
(Risos)
Mas também estou mostrando
o que os gestos podem fazer.
Eu tenho gesticulado em inglês,
mas também podemos fazê-lo em espanhol,
e em mais de 60 outras línguas e dialetos.
E a Língua de Sinais Americana? LSA?
Por que precisamos de gestos
quando temos os sinais?
A LSA é, por si só, uma língua
para uma cultura e comunidade vibrantes.
Sim, LSA e Palavra Complementada
são ambas meios visuais de comunicação,
mas elas transmitem línguas diferentes.
Temos um intérprete
de linguagem de sinais aqui,
mas ele é chamado
de intérprete por um motivo.
Ele traduz de uma língua para outra.
É possível usar e ser fluente em ambas,
LSA e Palavra Complementada.
Você não precisa escolher entre elas.
Você pode saber as duas.
Mas quando você quer acesso
direto a língua falada,
Palavra Complementada é um modo
eficaz e eficiente de conseguir.
E a tecnologia? Implantes cocleares.
Aparelhos auditivos digitais.
A tecnologia não funciona para todos.
E não funciona o tempo todo.
A tecnologia não é um substituto
para ser capaz de transmitir clara
e consistentemente uma língua.
Quando gesticulamos para crianças surdas,
pesquisas e experiências nos mostram
que elas aprendem de modo fácil e natural,
com efeitos poderosos na alfabetização
e no desempenho acadêmico.
Um estudo demonstrou que,
quando gesticulamos para crianças surdas,
elas leem como seus colegas ouvintes.
E este é um resultado muito significativo
se você conhece a história dos problemas
de alfabetização de crianças surdas.
Mas não é só isso que podemos fazer.
Crianças que têm dificuldades
de aprendizado ou com a língua,
crianças ouvintes que estão aprendendo
a ler, precisam de fonética,
precisam de bom conhecimento na língua
falada como base para decodificação.
Palavra Complementada pode ser útil
em todas essas situações.
Vamos tirar um minuto para ver
a Palavra Complementada em ação.
Veremos um vídeo produzido por Aaron Rose.
Aaron e Mary-Beth são pais surdos
que cresceram usando
a Palavra Complementada.
E agora eles estão gesticulando
e compartilhando sua língua nativa
com sua filha, Arabella.
Vocês verão ela aprendendo
e entendendo a língua
quando é gesticulada para ela.
E verão ela começar a gesticular
de volta para seus pais.
(Vídeo) (Mulher espirrando)
[Atchim!]
Ah! [Achou!]
[Uuu. Uuu. Uuu.
Uuu. Uuu. Uuu.]
[Arabella]
[Vire a página.]
[Peixe roxo.]
[Olhe o caminhão de bombeiros.]
[Você quer um pouco de leite?]
[Folha.]
[Mostre a bola para a mamãe.]
[Borboleta. É uma borboleta.]
[Aonde está a tartaruga?]
[Onde está o sol?]
[O sol está lá fora.]
[Onde estão as uvas?]
[Ho. Ho.]
[Ho. Ho. Ho.]
[Mais.]
[Sim!]
[Pode gesticular? A.]
[B.]
[C.]
[D.]
[E.]
[Um.]
[Dois.]
[Três.]
[Vai.]
[Vai.]
(Aplausos)
Posso contar centenas de histórias
e apontar para dezenas de estudos
que mostram o impacto
da Palavra Complementada.
Encerrarei com o encontro que me fez
deixar a faculdade de direito,
aprender a gesticular,
e decidir que eu queria trabalhar
com famílias e ajudá-las a se comunicarem.
A primeira vez que vi
a Palavra Complementada em ação,
perguntei à mãe que acabei de conhecer
por que escolheu gesticular para seu filho
e ela me respondeu: "Quero compartilhar
minha língua com meu filho.
Quero que ele entenda as minhas palavras.
Quero que ele entenda
quando eu disser: 'Eu amo você'.
E ele entende".
Por 50 anos, a Palavra Complementada
tem sido um segredo bem guardado.
Mas a língua não deveria ser um segredo.
Milhares de famílias
têm se beneficiado com essa técnica,
mas ainda não é conhecida o suficiente.
Alguém que você conhece
precisa de acesso à linguagem.
Você pode aprender a gesticular.
Ou pode contar a alguém sobre isso.
Você pode espalhar para todos.
Você pode dar uma mão à linguagem.
Obrigada.
(Aplausos)