Trevor Paglen: O título dessa obra é
Um Protótipo para um Satélite Não Funcional,
e a ideia aqui é pegar a tecnologia,
pegar a engenharia e usá-los
para o exato oposto
do que normalmente fazem.
É basicamente um balão gigante
que se transforma em um cubo muito pequeno.
A coisa toda
pesa menos de um quilo.
Você poderia colocar isso em um foguete.
ele entraria em uma órbita terrestre baixa,
e quando você enviasse um sinal
para ele, ele se inflaria.
Você seria capaz de vê-lo
do chão.
se pareceria com uma estrela
movendo-se lentamente pelo céu.
duraria algumas semanas,
depois ele acumularia
muito desgaste da atmosfera
e queimaria.
é uma coisa muito temporária.
Alguns objetos são projetados
para criar padrões que brilham,
outros que cintilam.
Outros designs ficam claros
e depois escurecem novamente.
O que estamos fazendo aqui hoje
são testes de inflação.
[ máquina ]
Tentando entender o que
esses objetos são fisicamente
tanto como esteticamente.
- Encontrei um fio de cabelo aqui.
- Sim, tem um ali.
Tem outro
aqui também.
Eu realmente penso nelas
como esculturas pós-minimalistas
inspiradas em grande parte
por algumas das primeiras espaçonaves
que a NASA construiu.
-Certo, legal.
Foi uma época muito estranha
no final da década de 1950, início da década de 1960
onde as pessoas estavam colocando coisas
no espaço,
mas essa linguagem de espaçonaves
ainda não havia se consolidado.
O que era o Sputnik?
era uma bola de metal
que fazia, "Bip, bip, bip,
bip, bip, bip."
Realmente não havia motivo para ser feito
a não ser para fazê-lo.
A NASA realizou um projeto
chamado Pageos,
fazendo grandes balões autoinfláveis.
Esses eram satélites de comunicação.
Você seria capaz de fazer uma
chamada telefônica transcontinental
transmitindo uma onda de rádio
para um desses satélites
refletivos no céu,
e então a onda
rebateria
para outro lugar no mundo.
Havia outra coisa
que eles queriam fazer
com essas espaçonaves,
é claro,
que era fazer mapas melhores
para armas nucleares.
Muitos artistas daquela época
estavam olhando para eles
como objetos estéticos.
Talvez tenham visto um mundo
onde não tivéssemos que
nos matar com uma guerra nuclear,
não precisaríamos usar a tecnologia
para criar um estado de monitoramento.
Talvez houvesse
uma direção diferente.
E esse momento é algo
que estou tentando mesmo
entender.
Estamos aqui
na fronteira sul
de uma área militar gigantesca,
aproximadamente do tamanho da Suíça
chamada a "Nellis Range".
Logo a oeste daqui
fica o local de testes de Nevada,
onde testes nucleares
foram realizados
ao longo de muitas, muitas décadas.
Esse é o centro
para muitos dos drones
que são pilotados pela força aérea,
bem como várias partes
da comunidade militar
e de inteligência.
A base fica bem ao lado de uma
de uma rodovia.
Encontrei esses drones pela primeira vez
literalmente passando de carro,
olhando para o céu e dizendo
"Ei, o que é aquilo?"
É perfeitamente legal
o que estamos fazendo.
Você pode fotografar qualquer coisa
que pode ver com seus olhos.
Estamos em terra pública.
Por um lado, os Estados Unidos
possuem um enorme aparato de sigilo,
mas, ao mesmo tempo, também é
um dos países mais abertos
do mundo.
Eu cresci na Força Aérea.
Isso me fez muito confortável
ao redor da cultura militar,
que o exército é parte
do que é os Estados Unidos.
Morei no Texas, em Washington, D.C.;
vários lugares diferentes no exterior.
Você está sempre sendo desalojado,
mas pelo lado positivo,
você está sempre vendo coisas novas,
tendo a chance de ver as coisas
de uma maneira diferente.
Tenho trabalhado como um artista
por toda a minha vida.
Desde que eu era criança
e durante o ensino médio,
Eu sempre trabalhei
em projetos criativos.
Quando fui para a escola de arte,
a maneira como a arte é ensinada
no nível universitário
é muito teórico
e vem mais ou menos
da teoria literária.
Qual é a retórica de uma imagem?
Isso nunca funcionou completamente para mim.
Eu queria ir além.
Arte é mais do que uma série
de imagens que estão desincorporadas.
Arte é objetos que vivem
em lugares reais, economias,
espaços, arquitetura.
Eu estava procurando por
várias formas diferentes
de tentar encontrar uma linguagem
Que me permitisse pensar
sobre o que eu estava fazendo,
e acabei chegando à geografia.
A geografia é sobre tudo.
Isso me permitiu levar ideias
da teoria visual
e estudos culturais
e incorporá-las
em uma paisagem maior
que poderia lidar
com a economia política,
que poderia lidar
com arquitetura,
que poderia lidar com o espaço.
De fato, a coisa toda
é sobre isso,
era a produção de espaço.
Muitos trabalhos
que agora observamos
como sendo um clássico tipo de
fotografia artística de paisagem,
pessoas como Timothy O'Sullivan
Ou Muybridge,
Fotógrafos ocidentais,
você vai até os Arquivos Nacionais
e procura
essas fotografias originais,
elas vêm em relatórios gigantescos
que dizem, você sabe,
"Pesquisa de reconhecimento
do Oeste Americano,
Departamento de Guerra".
Na verdade, elas não foram feitas
para serem fotografias de paisagem
na forma como os fotógrafos de
paisagem contemporâneos trabalham.
Esses fotógrafos foram contratados
pelo Departamento de Guerra
para sair e documentar o Ocidente
por motivos de levantamento topográfico
e cartografia e elaboração de mapas
mas também por motivos ideológicos,
como uma espécie de reivindicação do Ocidente.
Isso é interessante para mim
nessa tradição,
essa relação
entre estética e poder
e tecnologia e ideologia.
Colonos, pessoas da Corrida do Ouro
descreveu essa paisagem
usando vocabulário
que eles usariam
para descrever o inferno.
Eles falaram sobre pilares de sal, infernos,
esse lugar muito bizarro, perigoso
e aterrorizante.
Em termos dessa tradição de
fotografia de paisagem ocidental,
é algo em que eu penso
em manter um diálogo com.
Talvez isso volte
àquela questão do Ocidente,
essa promessa
de um certo tipo de liberdade,
um horizonte de possibilidade
mas um que nunca foi
sem uma quantidade extrema de violência.
Isso era verdade
do século 19
com a colonização do
oeste e as guerras indígenas,
e talvez isso seja verdade agora,
com as guerras dos drones.
Praticamente não importa onde
um drone no mundo esteja voando,
há uma boa chance de que
seu piloto esteja baseado em Nevada.
Eles estão voando em missões de combate
no Paquistão, Iêmen e Afeganistão,
controlados de Nevada,
então esses espaços
estão dobrados uns sobre os outros
de uma forma muito real.
Você passa algum tempo lá fora,
e você percebe
que há pequenas coisas
voando por aí
que se parecem com insetos.
Esses são diferentes drones
que são pilotados de Nevada.
O que é interessante para mim sobre
fotografar drones
é continuar essa exploração
do relacionamento
entre ver e tecnologia
e estética e política.
Essas são câmeras controladas remotamente
que têm mísseis acoplados a elas.
Elas estão envolvidas em assassinatos
e esse tipo de coisa.
Olhando para o drone no céu,
para mim,
talvez seja um pouco
de um eco de Turner
olhando para o trem
na famosa pintura
Chuva, Vapor e Velocidade.
É uma imagem bem embaçada,
muito abstrata de um trem,
mas o que estava acontecendo
naquele momento histórico
era que os trens eram
alguns dos primeiros exemplos
de coisas que os humanos haviam feito
que se moviam mais rápido
do que seus olhos podiam ver.
E existem histórias loucas,
pessoas sendo atingidas por trens
que estavam viajando
a 30 milhas por hora
porque elas literalmente
não podiam entender
o que essa velocidade significava.
Estou tentando ver
alguns dos objetos
que estão transformando radicalmente
a maneira como
nós entendemos e percebemos
o mundo.
Em Muybridge, você encontra
esse desmembramento do tempo,
que é captado
por alguém como Edgerton,
que tem fotografias famosas de uma
bala voando através de uma maçã,
realmente acelerando o tempo.
Edgerton recebe então um contrato
para fotografar os primeiros
testes nucleares atmosféricos,
qual é a aparência de uma explosão nuclear.
Para fazer esse tipo de fotografia,
os gatilhos de seus obturadores
são melhores do que os gatilhos
das próprias armas nucleares,
então o gatilho da câmera
se torna incorporado
na arma nuclear.
Uma empresa é criada, chamada EG&G,
que agora é
uma importante empresa de defesa.
Tem uma história muito interessante
e complicada
sobre ver, sobre tecnologia,
sobre o militarismo e as armas
que são agrupados
na fotografia de paisagem do século 19.
Essa questão de representação
e tecnologia
e política e ideologia
sempre fez parte
da história da arte–
Leonardo da Vinci,
mistérios mitraicos romanos.
Em termos dos limites na forma em
que costumamos falar sobre arte,
falhamos em reconhecer que
a produção de imagens ou objetos de arte
tem tudo a ver com
o que está acontecendo em uma sociedade.
O que estou fazendo aqui é
colecionar distintivos e patches
para projetos militares secretos.
A questão de como representar aquilo
que não deve ser representado
é uma das questões mais antigas na arte.
A maior parte da arte religiosa em muitas, muitas
tradições diferentes
tem a ver
exatamente com essa questão.
A imagem do peixe, do cordeiro,
essas são imagens
que seriam entendidas
por outros cristãos
durante o Império Romano
mas não significariam nada para
alguém que fosse de fora.
United States Air Force
aerospace medicine, AFFTC,
Isso significa
Centro de Testes de Voo da Força Aérea,
usado pelos doutores
que atendem os pilotos na Área 51,
que é uma espécie de base famosa
que não existe em Nevada.
O pequeno slogan que eles têm
é "Melhor atendimento em nenhum lugar".
então temos todos os tipos de piada
acontecendo.
A figura do dragão
geralmente significa
um assim dito satélite de inteligência de sinais,
ou um satélite de espionagem.
Ele simplesmente coleta chamadas de telefones celulares,
qualquer tipo de transmissão de rádio
emanando da superfície
da terra.
É uma antena gigante.
É do tamanho
de um campo de futebol.
Eles se parecem com guarda-chuvas.
A antena circular estendida nestes ícones
se traduz na imagem
do dragão
com suas asas estendidas,
e parece que é uma estrela
juntando-se a uma coleção de outras estrelas,
Portanto, é um satélite
que está se juntando a uma coleção
de outros satélites
que têm algum tipo de
missão secreta de reconhecimento.
O que são todas as coisas
que estão acontecendo ao nosso redor
que influenciam nossas vidas,
nossa cultura política,
sabe, nossa cultura em geral
e que, no entanto, são invisíveis?
Quais são as coisas em órbita
que influenciam o que acontece
na superfície da Terra
mas que também são, em um sentido muito literal, extraterrestres?
Há um pequeno grupo de astrônomos amadores
em todo o mundo
que todas as noites saem
e procuram por coisas
que "não estão lá" no céu.
E ao longo de dezenas de anos,
eles montaram
um tipo de catálogo alternativo
para o céu noturno.
Tomando observações
desses astrônomos amadores,
você pode modelar as órbitas
de espaçonaves
e prever exatamente onde estarão no céu noturno.
Os satélites precisam seguir as
Leis de Kepler
do Movimento Planetário,
e, portanto, há uma verdadeira contradição
no sentido de que os militares podem fazer
todas as coisas secretas
que quiserem,
mas eles não podem inventar
leis secretas da física.
Eu quero– vamos descobrir
a que horas será o pôr do sol.
O pôr do sol será às 7:50,
portanto, quero dar uma olhada nos satélites
que vão começar, digamos,
entre 8:45 e 11:45 de hoje à noite.
E aqui eu tenho minha lista.
Estas são todas as naves espaciais confidenciais
que estarão no céu esta noite,
muitas das quais não serão visíveis.
Vou fazer uma captura de tela
dessa trajetória e salvar.
Isso basicamente
vai me dar um mapa
do que essas espaçonaves
vão fazer.
E depois vou colocar isso
em uma lista de capturas,
e eu vou dizer,
"Ok, às 9:10,
"Queremos estar olhando
para esta parte do céu
e procurar por esse satélite".
Isso é o que vai realmente tirar as fotos.
Essa é uma câmera muito simples, padrão,
e sem graça
com uma lente comum.
Às vezes, eu tiro fotos
sob um céu nublado
ou céu misto ou céu limpo.
Eu realmente tento incorporar
um espectro amplo
de condições atmosféricas nas
nas fotografias que eu tiro.
Há uma longa tradição
de olhar para o céu noturno.
O céu noturno
é um espelho cultural.
Desde os babilônios
ou gregos, qualquer que seja,
as pessoas têm olhado para o céu
em busca de respostas para as grandes questões.
Quem somos nós?
De onde viemos?
Para onde vamos?
E isso era verdade
dos astrólogos babilônicos
tentando descobrir o futuro
com base no movimento dos planetas,
E isso é verdade
dos cientistas contemporâneos
usando coisas
como o telescópio espacial hubble
para tentar ver o começo do tempo
e os limites do universo.
É pegar esse conceito
e transformá-lo um pouco
e olhando para o céu.
Mas ao invés de ver
algum tipo de futuro divino,
nós vemos coisas militares.
nós vemos máquinas de vigilância.
A revolução que está acontecendo
na percepção neste momento
tem a ver com máquinas
vendo por outras máquinas.
Os seres humanos estão projetando máquinas
e softwares para ver por nós,
e isso é novo.
É algo que estou apenas tentando
entender como ver, eu acho.