Eu tenho medo do palco. Sempre tive medo do palco, e não só um bocadinho, é um bocadinho grande. E isso nem sequer importava até eu ter 27 anos. Foi aí que comecei a escrever canções, mas mesmo nessa altura, eu só as tocava para mim. Só por saber que os meus colegas de quarto estavam na mesma casa deixava-me desconfortável. Mas passados uns dois anos, só escrever canções não era suficiente. Eu tinha tantas histórias e ideias, e queria partilhá-las com outras pessoas. Mas fisiologicamente, eu não conseguia. Eu tinha um medo irracional. Mas quanto mais escrevia, e quanto mais praticava, mais queria tocar para os outros. Então na semana do meu 30.º aniversário, decidi que iria a uma sessão de microfone aberto local, e deixar este medo para trás. Bem, quando lá cheguei, estava cheio. Havia tipo, 20 pessoas lá. (Risos) E todas pareciam zangadas. Mas eu respirei fundo, e inscrevi-me para tocar, e senti-me bastante bem. Bastante bem, até cerca de 10 minutos antes da minha vez, quando todo o meu corpo se revoltou, e uma onda de ansiedade tomou conta de mim. Quando se sente medo, o nosso sistema nervoso simpático entra em ação. Dá-nos uma onda de adrenalina, o nosso batimento cardíaco aumenta, a nossa respiração acelera. A seguir, os nossos sistemas não-essenciais começam a desligar-se, como a digestão. (Risos) Por isso a nossa boca fica seca, e o sangue foge das extremidades, portanto, os nosso dedos já não funcionam. As pupilas dilatam-se, os músculos contraem-se, o nosso sentido de Homem-Aranha dá o alarme, basicamente todo o nosso corpo tem o dedo no gatilho. (Risos) Este estado não é bom para tocar música folclórica. (Risos) Quer dizer, o nosso sistema nervoso é um idiota. A sério? Duzentos milhares de anos de evolução humana, e continua sem saber a diferença entre um tigre dente-de-sabre e 20 cantores de folclore numa noite de terça-feira de microfone aberto? (Risos) Eu nunca estive mais aterrorizado — até agora. (Risos e aplausos) Então, quando chegou a minha vez, e de alguma forma, eu consigo chegar ao palco, começo a minha canção, abro a boca para cantar pela primeira vez, e um horrível vibrato — sabem, quando a voz vibra — é o que sai. E isto não é o bom tipo de vibrato, como o de um cantor de opera, isto é o meu corpo inteiro a convulsar com medo. Quer dizer, é um pesadelo. Eu estou envergonhado, o público está claramente desconfortável, eles estão focados no meu desconforto. Foi tão mau. Mas isso foi a minha primeira experiência a sério como um cantor-compositor. E algo bom aconteceu — eu tive um minúsculo vislumbre daquela conexão com o público de que eu estava à espera. E eu queria mais. Mas eu sabia que tinha que ultrapassar este nervosismo. Naquela noite prometi a mim mesmo: eu iria voltar todas as semanas até deixar de ficar nervoso. E foi o que fiz. Voltei todas as semanas, e de facto, semana após semana, não melhorou. Aconteceu o mesmo todas as semanas. (Risos) Não me conseguia livrar dos nervos. E foi aí que tive uma epifania. E lembro-me muito bem, porque eu não tenho muitas epifanias. (Risos) Tudo o que eu tinha que fazer era escrever uma canção que explorasse o meu nervosismo. Que só parecesse autêntica quando tivesse medo do palco, e quanto mais nervoso estivesse, melhor seria a canção. Simples. Por isso, comecei a escrever uma canção sobre ter medo do palco. Primeiro, confessando o meu problema, as manifestações físicas, como me sentia, como o ouvinte se sentiria. E depois tendo em conta a minha voz a tremer, e eu sabia que ia cantar mais ou menos meia nota acima do normal, porque estava nervoso. Ao ter uma canção que explicava o que me estava a acontecer, enquanto estava a acontecer, dava permissão ao público para pensar nisso. Não tinham que se sentir mal por eu estar nervoso, podiam partilhar a experiência comigo, e assim éramos todos uma família grande, nervosa e desconfortável. (Risos) Ao pensar no meu público, aceitando e explorando o meu problema, fui capaz de pegar em algo que me estava a bloquear o progresso, e torná-lo em algo que era essencial para o meu sucesso. E ter a música sobre o medo do palco deixou-me ultrapassar aquele grande problema logo no início de um espetáculo. E depois podia prosseguir, e tocar o resto das minhas canções com um bocadinho mais de à vontade. E, eventualmente, eu não precisei de tocar a canção do medo do palco, de todo. Exceto quando estava mesmo nervoso, como agora. (Risos) Não se importam se eu tocar a música do medo do palco para vocês? (Aplausos) Posso beber um pouco de água? (Música) Obrigado. ♫ Não estou a brincar, sabem, ♫ ♫ este medo do palco é real. ♫ ♫ E se estou aqui a tremer e cantar, ♫ ♫ bem, vocês saberão como me sinto. ♫ ♫ E o erro que estaria a cometer, ♫ ♫ o 'tremolo' causado pelo meu corpo a tremer. ♫ ♫ Enquanto se sentam aí envergonhados por mim, ♫ ♫ Bem, vocês não têm de estar. ♫ ♫ Bem, talvez só um pouco. ♫ (Risos) ♫ E talvez eu vos tente imaginar a todos sem roupa. ♫ ♫ Mas cantar à frente de estranhos todos nus assusta-me mais do que alguém possa imaginar. ♫ ♫ Não para discutir isto prolongadamente, ♫ ♫ mas a minha imagem nunca foi o meu ponto forte. ♫ ♫ Por isso, francamente, gostava que todos se vestissem, ♫ ♫ Quer dizer, nem sequer estão mesmo nus. ♫ ♫ E sou eu quem tem o problema. ♫ ♫ E vocês dizem-me: "Não te preocupes tanto, vais sair-te lindamente." ♫ ♫ Mas sou eu que vivo comigo ♫ ♫ e eu sei como fico. ♫ ♫ O vosso conselho é gentil, mas vem tarde. ♫ ♫ Senão mesmo um pouco condescendente. ♫ ♫ E esse tom sarcástico não me ajuda enquanto canto. ♫ ♫ Mas não devíamos falar destas coisas agora ♫ ♫ realmente, eu estou no palco, e vocês estão na multidão. Olá. ♫ ♫ E eu não estou a gozar com um medo completamente irracional, ♫ ♫ e se eu não estivesse preparado para enfrentar isto, ♫ ♫ com certeza não estaria aqui. ♫ ♫ Mas se soltar uma nota claramente, ♫ ♫ saberão que estou a recuperar lenta mas seguramente. ♫ ♫ E talvez para a semana, estarei a tocar lindamente a minha guitarra ♫ ♫ a minha voz clara como a água, e todos a cantar comigo. ♫ ♫ Mas, provavelmente, levantar-me-ei apenas e começarei a tocar, ♫ ♫ cordas vocais a mexer, ♫ ♫ a velocidades ligeiramente mais rápidas do que o som. ♫ (Aplausos)