Esta noite, esta ponte
une-nos a todos uns aos outros.
Une-nos a todos os que somos
daqui, deste bairro,
com os que vieram de fora.
Une-nos com aqueles que,
diferentes ou parecidos,
vivem aqui connosco.
É essa diversidade,
cuja beleza e cuja riqueza
— essa diversidade representada
pelas cores desta ponte —
pretendemos apresentar esta noite.
Esta ponte une-nos com uma história
que começou há três anos,
quando um grupo de vizinhos
do bairro de San Cristóbal,
juntamente com as entidades
locais do bairro
e com a colaboração
de um grupo de especialistas,
decidiram que este local,
este local onde estamos aqui esta noite,
seja o local para voltar a participar.
Seja o local para voltar a trabalhar,
para voltarmos a nos unir e também
seja o local para voltarmos a imaginar.
Nós, a princípio, não acreditávamos
que fosse possível.
Não acreditávamos ser possível
construir uma coisa
que permanecesse tanto no tempo.
E muito menos que fosse cuidado.
Mas, claro, como não cuidar duma coisa
que fomos nós que fizemos?
Em 2012, começámos a planear
esta grande ideia transformadora
que começou no início de 2013.
Reconquistando este espaço público,
passo a passo,
uma ação após outra, metro a metro,
à medida que íamos obtendo
os recursos necessários.
Crianças que só tinham
dois palmos de altura
pintaram primeiro as letras
e a parede que tenho atrás de mim.
Três meses depois, traçaram-se as ruas,
puseram-se as escadas e os andaimes,
para os pais, as mães,
os filhos e os netos.
Quase 200 pessoas contribuíram
cada uma com um losango
para recuperar 1700 m2
da superfície desta ponte.
Em novembro de 2013, com um contentor
de madeiras que uma empresa já não queria
vizinhos e vizinhas do bairro
fizeram um triângulo
seguido logo por outro,
para construir a mobília
de toda esta ponte que podem ver
com os vossos olhos
e também para construir o palco
em que estou, neste momento.
Assim, sem sermos pintores,
nem pedreiros, nem artesãos,
— embora houvesse miúdos
que, como já disse,
apareceram. logo no primeiro dia,
e queriam trabalhar com a broca —
trabalhámos em equipa
para fazer deste espaço
o que podem ver esta noite:
pura beleza.
E é aqui que surge a grande pergunta:
E agora?
Este espaço foi divulgado,
foi fotografado, premiado,
apareceu em vídeos musicais.
Já muita gente o veio visitar
— da Alemanha, de Paris,
de Catar e também do Canadá.
Que fazer com um espaço
em que tanta gente trabalhou?
Aqui, senhoras e senhores,
é quando nós aparecemos,
os rapazes e as raparigas da ponte.
Somos um grupo de jovens do bairro
e também de fora do bairro,
que nos propusemos fazer aqui
coisas incríveis
que, normalmente, não costuma haver.
Propusemo-nos criar
experiências culturais com o bairro
e aqui neste sítio, na ponte.
Somos os rapazes e as raparigas
do primeiro curso de gestão cultural
e trabalhamos com a possibilidade
de agitar as nossas ruas, deste bairro.
Mas também trabalhamos
com a possibilidade
de despertar a nossa vitalidade.
Mas como se aprende fora da escola
regulamentada e das formações oficiais?
Principalmente, aprende-se praticando,
também à base de êxitos
e, claro, também à base de erros.
Muitas vezes, tivemos de aprender
a fazer coisas que não sabíamos,
e outras vezes não tivemos outro remédio
senão aprender a fazer coisas
que nem sequer nos tinham
passado pela cabeça.
Tivemos de aprender a soldar
porque precisávamos de construir
um dispositivo móvel e audiovisual
para fazer cinema.
Aprendemos a utilizar o Photoshop
porque precisávamos de fazer pósteres
e as tesouras e a cola
já não eram suficientes.
Também aprendemos a fazer
comunicados à imprensa,
porque precisávamos de fazer publicidade.
E agora, estamos a aprender
a falar em público,
porque precisamos de comunicar.
(Aplausos)
Também aprendemos que, num local
como este, pode acontecer tudo,
quase todas as coisas.
Não é obrigatório ser
para cinema, bailado ou teatro.
Pode ser tudo isso ao mesmo tempo.
Até podemos estar a ver
um concerto, a ouvir um concerto,
enquanto estamos a comer
"paella", por exemplo,
Organizámos sessões de cinema
debaixo da ponte, que não eram só cinema.
Contámos mais de 100 Charlôs,
em "Charlie Chaplin em Tempos Modernos.
Vestidos com calças largueironas
feitas em antigas oficinas.
Aprendemos a cair e a levantarmo-nos
como Chaplin fazia,
com a ajuda de uns acrobatas especialistas
que nos ajudaram a dar aqueles murros,
sem causarmos qualquer dano.
Um jovem poeta do bairro
com uma grande paixão pela poesia
e pela palavra falada
inspirou o Festival da Palavra
que deu a oportunidade
de subir a este mesmo palco
a poetas, a fãs do "rap",
a pessoas apaixonadas,
e também a pessoas com experiência.
Também aprendemos que o teatro
pode ser o que quisermos
e também o que não estamos à espera.
Colaborámos com um grupo
de profissionais que nos ensinaram
que o teatro não é apenas ir a um sítio
e ver como os outros atuam
mas que o teatro pode ser
uma experiência viva e comunitária.
Os rapazes e as raparigas da ponte
aprenderam no bairro
que a cultura não é apenas
aquilo que está no centro
e que podemos ver
nos pósteres do metro.
Não é preciso ser "snob"
para fazer cultura.
A cultura é sobretudo um imaginário comum,
provém das pessoas.
Pessoas como cada um de vós
que estão aqui.
pessoas com um nome e um apelido,
com frustrações, com medos e interesses.
Pessoas, sobretudo,
com inquietações a despertar.
Se nos perguntassem se queríamos
fazer este curso num centro oficial,
diríamos que agora sabemos
que um edifício, um centro oficial,
não é o único local onde se aprende.
O que aprendemos aqui no bairro
complementa o que podemos aprender
num edifício.
É isso precisamente
que nos torna em especialistas.
Nós, os rapazes e as raparigas da ponte,
não somos um grupo fechado.
somos sobretudo uma atitude.
A atitude de querer
que se passem aqui coisas incríveis,
coisas que contaríamos com alegria.
Agora somos um grupo pequeno
mas queremos ser um grupo muito maior
com mais vizinhos e vizinhas
dispostos a propor loucuras.
Com mais jovens de todas as partes
da cidade que também estejam dispostos
a colaborar neste bairro
ou em qualquer outro.
E também com colaboradores
e outras associações
que vejam neste espaço,
nesta ponte de cores, uma oportunidade.
Que vejam nesta ponte de cores
um espaço de liberdade.
Estamos orgulhosos por este bairro
ser um exemplo de compromisso,
por este bairro ser
um exemplo de criatividade
e que também seja
um exemplo de energia.
Um bairro que, pouco a pouco,
vai largando a sua fama de conflito.
Um bairro onde as pessoas sabem
que não podemos esperar
a mudança, sentados.
Vocês todos também são de aqui, da ponte.
Animem esta aventura e deem-lhe vida.
Esta noite, esta ponte une-nos a todos.
Apenas a 15 minutos do centro de Madrid,
esta ponte espera-vos de braços abertos.
Sejam bem-vindos.
Muito obrigada.
(Aplausos)