Bom, "Fuga de Nova Iorque"
é o filme da minha infância.
- Eu não sou parvo, Plisskin.
- Chama-me Snake.
Nova Iorque foi uma espécie
da última fronteira da resistência.
- Olá, Snake! Quando é que chegaste?
Snake Plisskin é forçado
a ir a Nova Iorque
— com uma bomba relógio no corpo —
para salvar o presidente
e depois vir-se embora;
mas Nova Iorque era uma prisão.
"As regras são simples.
Depois de entrar, não se pode sair."
Isso faz-me lembrar a vida
que estou a viver.
Acho que Manhattan já não é uma prisão,
passou a ser um parque de diversões
para pessoas privilegiadas.
Aquilo que de certo modo
me entristece em Nova Iorque...
Penso que o que define uma cidade
são as pessoas que conhecemos.
Tenho visto todos os meus colegas
que têm muita dificuldade
em encontrar estúdios.
Muitas pessoas ficam deprimidas
porque o espaço que obtêm
pelo seu dinheiro é muito mau.
O problema é que toda a gente
está comprometida com qualquer coisa.
É por isso que admiro Nova Iorque.
Muitas pessoas são realmente intensas.
Estão aqui porque
querem fazer coisas
e estarem rodeadas
por outras pessoas loucas.
Mas, como toda a gente quer o mesmo,
precisam de estar no estúdio
ou de trabalhar
por isso, nunca socializam
umas com as outras.
É difícil encontrá-las nas ruas
— ou juntarem-se —
e é impossível porque...
"Oh, não, preciso de..."
"Estou a trabalhar..."
"Oh, não, preciso de fazer isto..."
Assim, o tempo e o espaço
não se interligam.
Eu decidi que me ia embora.
Pensei: "OK, vou sair de Nova Iorque.
"Vou para a Cidade do México
e tentar ali uma nova vida."
[Apartamento de Alejandro, Williamsburg]
Oh, não, que confusão!
Não sou bom a fazer planos.
Espero sempre até ao último minuto
porque nunca se sabe, não é?
É só que, este compromisso
— não consigo fazê-lo.
Este compromisso mata-me.
Mas agora tenho bilhete de ida
para a Cidade do México.
Quando comprei o bilhete,
tinha três semanas para fazer as malas
— para esvaziar o meu estúdio.
Vender coisas. Adeus, adeus.
Mas, quando se aproximou
a partida para o México
fiquei meio maluco
porque tinha de terminar um novo conjunto
de vídeos e de fotos
para a minha galeria no México.
E fiquei a pensar:
"Bom, acabei de me formar na Hunter.
"Tenho de fazer isto aqui.
"E ainda tenho mais três semanas.
"Um local excelente em Nova Iorque.
"Tenho um estúdio. Vá lá, toca a usá-lo."
["É melhor ter um amor e perdê-lo
do que nunca ter tido nenhum" (2014)]
Tinha uma ideia para este projeto.
Experimentar com materiais
e objetos debaixo de água.
Assim, fui a Phoenix neste verão
porque tínhamos acesso a piscinas.
Os meus pintores preferidos
eram os holandeses das pinturas vanitas.
Em parte, influenciaram o meu trabalho,
porque eles usam objetos
e fazem este tipo de relações entre eles.
Há sempre uns pequenos pormenores.
"Ali está uma mosca".
Tratam da morte.
Tratam da passagem do tempo.
Da beleza, da decadência.
Não havia nenhuma piscina.
Perguntei às pessoas:
"Conhecem uma piscina?
Jacuzzi? Qualquer coisa?"
Mas, definitivamente, não.
OK, vamos fazer isso!
Eu digo: "OK, será muito difícil
fazer um tanque?"
Então, procurei na Internet
e as pessoas fazem
aquários de contraplacado.
Fazem uma caixa muito resistente,
muito agradável.
Podemos enchê-la de água.
Espero que esta vá ficar bem.
Tem uma data de silicone e...
veremos.
Ótimo!
Enchi-a de água.
Tive medo que uma tonelada de água
inundasse o meu estúdio,
como no Shining.
Oh, meu Deus, temos aqui uma fuga!
Paciência.
Vai ser um tanque com uma fuga.
E vamos ter aqui um rio
e vai ficar tudo molhado.
Parece-me que, neste momento,
as limitações do tempo
e os problemas técnicos
— já estou a ter muitos.
Acho que:
"OK, Alejandro, concentra-te.
"Em três ou dois objetos. Toca a criar
alguma coisa com um mínimo."
Devo dizer, estou mesmo entusiasmado.
"Tão grande! Diabos o levem!
Pode dar-me meio quilo?
Quanto é?
São três dólares e meio.
Oh, ótimo. Porque não?
Tenho aqui umas beringelas... fálicas.
Beringelas, bananas, cerejas...
Acho que as cerejas não flutuam.
Chinatown é o meu local preferido
na cidade de Nova Iorque.
É um dos locais mais intocados.
Com personalidade.
Se quisermos comprar um prego,
podemos comprar um prego.
Nesta empresa não...
Chinatown parece-se mais
com a baixa da Cidade do México.
Quebram tantas regras,
como as regras da cidade de Nova Iorque.
É confuso. É frenético.
É como uma cidade deve ser.
Eu tive um tanque para peixes
quando era adolescente
e adorava aquilo.
Adorava como as coisas
se comportavam debaixo de água.
Sempre me interessei
por barcos, submarinos,
Jacques Cousteau.
Aqui, à superfície,
tudo está parado,
devido à gravidade.
Na água, podemos usar estas...
estas levitações para criar
diferentes esculturas.
É espetacular.
Aqui, ficamos um pouco aborrecidos,
a escultura está tão fixa,
como um monumento.
Eu queria uma escultura como esta,
a flutuar por aí,
a levitar.
Dia da mudança.
Devo dizer que penso
que toda a gente do mundo
devia viver em Nova Iorque
pelo menos um ou dois anos,
para ter sentido.
- OK, acho que estou
mais ou menos pronto.
Mas não é o único
estilo de vida que podemos ter.
Não é a única forma de fazer coisas.
Não está assim tão mau.
Sim!
Sim!
Bolas! as chaves... OK.
Nunca penso no futuro.
Não faço planos.
Para mim, é sempre uma transição.
Ir para o México, neste momento,
que está numa situação má.
Uma crise política.
Muito crime.
É giro, por vezes quando
me mudo para cidades
é sempre a pior altura.
É como se andasse à procura...
à procura de sarilhos.
Talvez fuja da Cidade do México.
Posso ir para Los Angeles
e fugir de lá.
Tenho de estar sempre a fugir.
Tradução de Margarida Ferreira