Estamos no Museu de Arte Moderna
e estamos vendo "Pássaro no espaço",
de Constantin Brancusi, 1928.
Brancusi era um romeno que trabalhou
sua carreira quase inteira em Paris.
E ele trabalhou em muitas mídias e levava
os materiais a expressões realmente novas.
Isto é bronze.
É bronze. Foi muito, muito polido.
Para parecer ouro.
Mas não é apenas bronze,
porque, para Brancusi,
o pedestal era parte da escultura.
E tem um pedestal de pedra.
Tem calcário abaixo dele e,
normalmente, se veria
um pedestal de madeira mais abaixo,
criando uma hierarquia
de materiais, do que ele considerava mais
primitivo até o mais industrial.
É uma ideia neoplatônica de ascenção
do material ao imaterial.
Acho que está certo.
E, na verdade, a refletividade do bronze
esclarece esse aspecto.
É realmente sobre luz e movimento, não?
Essa não é uma escultura que é,
de forma alguma,
uma imagem literal
de um pássaro,
é uma imagem deste arqueamento
gentil e orgânico
desta figura crescente.
Não e tanto um pássaro quanto
é uma representação
da coisa que pássaros fazem e nós amamos.
Conforme se anda e se olha para ela,
a luz que reflete nela se desloca
e muda e oscila,
então ela tem essa sensação
de algo quase cinético.
Como se estivesse se mexendo e crescendo,
mas não é uma propulsão
que parece mecânica,
apesar de ser metal e a vemos
como material industrial.
Há uma ótima história sobre
essa escultura.
Ela foi incluída numa famosa
exibição no MoMA, em 1936,
chamada "Cubismo e Arte Abstrata"
e quando ela chegou da França,
os despachantes aduaneiros ficaram com ela
e não a deixaram sair.
Por quê?
Porque o MoMA alegava que
era uma obra de arte
e eles não acreditavam.
Era 1936 e eles pensaram que
ela tinha algum uso industrial
e poderia ser taxada
e o MoMA disse "Não, é uma obra de arte,
não pode ser taxada"
e ela foi mantida.
Houve um caso judicial sobre ela.
Mas para que ela poderia servir?
Se me lembro corretamente,
as notícias sugeriam
que poderia ser um propulsor ou
uma parte de um propulsor.
Ela realmente se remete à radicalidade,
que acho que esquecemos,
de sua abstralidade.
Ela não parece, de algum
modo, tão abstrata.
Ela sugere voo e movimento para cima
e estamos acostumados com coisas
sugerindo esses aspectos.
[Legendado por Raysa Valentim]
[Revisado por Pedro Byrro]