Bom dia! Estou feliz em estar aqui hoje. A maioria das pessoas não tem ideia do que um inspetor-geral faz, e está tudo bem. Eu geralmente sou confundido com o procurador-geral e eu explico, na Califórnia, nós não nos parecemos em nada. (Risos) Mas como inspetor-geral, parte de meu trabalho é inspecionar programas no Departamento de Correções. Tive um único caminho para chegar neste lugar. Iniciei minha carreira como servidor na justiça criminal há 33 anos, trabalhei como servidor em basicamente todas as funções antes de estudar Direito e me tornar promotor. Como promotor público por 17 anos em um condado muito conservador fui responsável por mandar muitas pessoas para prisão. Enfim, não precisava ser muito inteligente para entender, ao processar uma mesma pessoa, que ela era presa, logo depois saia, reincidia de novo, era presa mais uma vez, saia de novo, reincidia mais uma vez, e que o sistema estava falido e eu era parte deste sistema. Então, em 2005, tive uma oportunidade de assumir o cargo de inspetor-geral e não só pude me empenhar nos programas de correções, como também pude mudar o que estava acontecendo, agarrei a oportunidade. Fui nomeado a inspetor-geral há 4 anos. Agora estou numa posição na qual é fácil identificar as falhas e também fácil para os envolvidos no sistema ficarem frustrados. Mas sou inspirado por alguém que celebramos esta semana: Martin Luther King. E quando perguntaram a ele sobre todas as frustrações que sofreu, todo sofrimento em si, ele disse: "Você pode transformar as frustrações em amargura ou pode encarar essas frustrações e transformá-las em uma força criativa para uma mudança positiva". Quero acreditar que a maioria dos envolvidos no sistema quer isso. Temos escutado relatos e mais relatos sobre pessoas agindo dessa forma. Então é sobre isso que quero lhes falar hoje: transformação. Muitas vezes escutamos palavras que julgamos saber seus significados, mas às vezes, precisamos de exemplos para entendermos o que elas significam. Transformação no sistema criminal judiciário não pode ocorrer somente com os criminosos. Estamos escutando ótimas histórias de pessoas se transformando. Mas a transformação tem que ocorrer no sistema e na sociedade como um todo. Estou muito animado com as mudanças. Muitos de vocês neste auditório são parte desta mudança. E isso é animador. Mas precisamos continuar porque a transformação não ocorre da noite para o dia; é um processo. Na verdade, a definição é: "Passar por uma mudança ou conversão no uso, função, propósito ou natureza do ser". Precisamos mudar a maneira que usamos nossas prisões, temos que usar usá-las de uma maneira que as pessoas saiam delas melhores do que quando entraram, não piores. Seria o primeiro a lhes dizer o quanto seria ingênuo pensar que isso vai funcionar para todo mundo. Mas certamente pode funcionar para muitas pessoas. É uma questão de saúde pública que temos escutado de outros palestrantes. Portanto, o que peço para as pessoas, quando conversamos sobre o sistema criminal judiciário, é perceber que estamos fazendo a mesma coisa repetidamente e esperando resultados diferentes. (Risos) Plateia: Isso é loucura. Isso é loucura. E estou cansado de fazer parte dessa loucura. Quero ver uma mudança. Entretanto, para que essa mudança ocorra, precisamos compreender quais são os quatro objetivos e a ênfase que nosso sistema dá a eles. Leciono justiça criminal há dez anos no ensino médio e hoje, infelizmente, o propósito da justiça criminal está nessa ordem: punição, incapacitação, dissuasão e reabilitação. E infelizmente, nós, como sociedade, damos destaque a isso, mas é tão estúpido; e acreditem em mim, converso com centenas de criminosos, centenas de vítimas, centenas de oficiais da polícia e todos dizem que isso é estúpido. Punição, como já escutamos, é algo que nunca será uma solução a longo prazo. Sim, tem que haver consequências para o crime, sim, a punição deve contrapor o crime, mas as pessoas podem mudar. Então, se elas pagam pelos seus crimes, devem ser aceitas de volta na sociedade. Portanto, punição por si só não pode ser a solução. Tem que haver reabilitação junto com a punição. E, francamente, se dissuasão funcionasse, não teríamos ninguém nas prisões. Nunca conversei com um criminoso que disse: "Avaliei todas as consequências de minhas ações antes de cometer o crime". (Risos) Há poucos relatos de criminosos, alguns deles hoje, que quando entram na prisão dizem: "Nunca mais quero voltar"? Claro, mas não é tão fácil assim, porque transformação é um processo. As oportunidades têm que exceder os obstáculos. E o terceiro objetivo do encarceramento, que é a incapacitação, é realmente uma hipocrisia. Sim, tiramos os criminosos das ruas por um tempo, mas ficamos sabendo que 90% voltam para as ruas novamente. É uma hipocrisia também porque se alguém é realmente criminoso, e sei que há homens nesta sala que concordam com isso, tudo que está fazendo ao colocá-los na prisão é mudar a população de vítimas deles. Eles vitimizam outros presidiários, os carcereiros, e se tiverem contatos fora da prisão, vão continuar a cometer crimes. Então a incapacitação também não funciona. Portanto, se a punição não é a resposta em si, se a dissuasão não funciona e a incapacitação é estúpida, isso tudo nos leva à reabilitação. Ela é realmente a única saída e se pudermos torná-la real, teremos benefícios muito duradouros para a sociedade como um todo. Então, o que é preciso? Bem, já disse a vocês que as oportunidades excedem os obstáculos e a transformação é um processo. Escutamos histórias fantásticas hoje e quero lhes contar outra sobre um jovem chamado Miguel. Miguel seria o primeiro a confirmar que era trapaceiro, como escutamos anteriormente. Ele passou toda sua juventude vendendo drogas, se envolvendo em gangues e, por fim, acabou preso. Mesmo preso, ele continuava trapaceando, mas não como um bom empreendedor. Ele continuou tentando descobrir meios de contrabandear na prisão, enganar os carcereiros, etc. Ele decidiu entrar na brigada de incêndio não porque queria aprender a ser bombeiro, mas porque pensava que teria mais oportunidades de contrabandear cigarros e vendê-los. Quando estava na brigada, algo aconteceu. Ele foi submetido aos treinamentos, aprendeu a ter espírito de equipe com seus companheiros de brigada porque carregavam máquinas pesadas e ficavam perto de uma lâmina de serra, era preciso confiar no cara ao seu lado. Foram enviados a um incêndio no sul da Califórnia, nos arredores de Poway. Disseram a eles: "Vocês têm que fazer um aceiro porque esta área corre risco e as chamas estão vindo na direção dela. Nós já evacuamos as casas". Eles ficaram por volta de 20 horas fazendo o aceiro. Naquela noite o fogo chegou e eles viram como o aceiro segurou o fogo e não deixou que avançasse. Ficaram o resto do dia apagando os pequenos focos de incêndio. Na manhã seguinte, quando estavam andando por uma rua de mão dupla em que a polícia escoltava as pessoas de volta as suas casas, algo aconteceu. Carros pararam, famílias saíram e começaram a aplaudi-los. Miguel começou a chorar e, a princípio, ele não conseguia entender o que estava acontecendo. Mas foi um momento único no qual ele se conscientizou e algo dentro dele disse: "Posso ser mais do que sou agora". Escutamos estas histórias o dia todo. Transformação é um processo. No entanto, ela começa com a pessoa assumindo sua responsabilidade e decidindo pela mudança. Precisam tomar essa decisão. O que acontece quando você aciona o interruptor de luz mas não tem um lâmpada? Não acontece nada, continua escuro. Tem que haver um canal pra essa força, um condutor pra esta energia positiva passar. Bem, ele voltou para a brigada, e todos os outros presos que ele chamava de otários, porque passavam o tempo livre com programas educativos, ele acabou se envolvendo com eles. Aquilo foi a lâmpada dele, o canal para a energia positiva que ele possuía. Portanto, uma vez que tinha o canal, começou a fazer coisas que nunca imaginaria fazer. Primeiro, tentou se reaproximar de sua família, pois tinha eliminado qualquer chance de restabelecer relacionamentos. E muito em breve, adivinhem? Ele ia receber liberdade condicional. Ele ficou com muito medo e me disse: "A sociedade vai me aceitar?" Acreditarão que me transformei? O que vou fazer quando sair da prisão?" Transformação é um processo e não acontece do dia para noite. Tem que ter aquela inspiração para mudar, ligar a força. Tem que ter o canal para aquela força positiva. Estamos chegando lá, não estamos nem perto de onde poderíamos estar. Para cada preso que participa do programa, há 50 outros na lista de espera. Mas estamos chegando lá. Fazendo de tudo para atingir o objetivo e isso é positivo. Precisamos ter mais lâmpadas aqui fora, mais canais para que ocorra a mudança positiva. Ele recebeu a liberdade condicional, e disse que havia um indivíduo, escutamos esta história hoje também, que acreditou nele, e quando ele começou a vacilar, pois há momentos que as pessoas vacilam... O que acontece quando uma tempestade interfere com a eletricidade? Suas lâmpadas piscam, às vezes apagam. Quem está lá, então? A companhia elétrica, tomara, ou quem quer que possa religar as luzes para você. Bem, nós como sociedade, as famílias e as pessoas aqui fora precisam desejar ver os presos, talvez ainda tropeçando, mas bem-sucedidos no final. Do contrário, manteremos um sistema que temos há anos, no qual nosso trabalho se destina a tentar compreender como encarcerar as pessoas ao invés de mantê-las fora das prisões e com condições. Isso tem que mudar porque as oportunidades têm que exceder os obstáculos. Portanto, os que estão no sistema e acreditam nas mudanças tentam fazer com que elas aconteçam. Sei que há pessoas no sistema que estão tentando fazer as mudanças para elas mesmas. Miguel está livre e bem-sucedido agora, pois ele foi capaz de ligar a luz. Foi capaz de construir um canal para a energia positiva passar. Ter um caminho para continuar, ter as infraestruturas funcionando e a pagar as contas para que o processo não pare. O que acontece se tentar ligar as luzes mesmo tendo as lâmpadas, mas sem pagar as contas? A luz é cortada. Transformação é um processo e as oportunidades tem que exceder os obstáculos. Quero mostrar algo e espero que ecoe em todos nós. É um exemplo de transformação. É a clássica história de uma pessoa cuja vida teve mais obstáculos do que oportunidades; que não foi aceita pela sociedade e decidiu trilhar o caminho do crime, mas foi preciso um momento, uma percepção, neste caso uma garotinha, para mudar a vida desta pessoa. Além disso, foi preciso que a sociedade aceitasse esta pessoa após ela passar pela transformação. Acho que todos vão reconhecê-lo. (Video clipe "O Grinch") (Risos) O pobre coração do Grinch ficou três vezes maior aquele dia, e então ele entendeu o verdadeiro significado do Natal. Grinch descobriu a força que tinha dentro de si. (Video termina) Robert Barton: Se o Grinch... (Aplausos) Se o Grinch se transformou, há esperança para todos. Obrigado. (Aplausos)