Isto é cocó e o que eu quero fazer hoje é partilhar a minha paixão por cocó com vocês o que pode ser bastante difícil mas penso que o que vocês podem achar mais fascinante é a forma como estes pequenos animais lidam com cocó. Então, este animal aqui tem um cérebro do tamanho de um grão de arroz, e mesmo assim consegue fazer coisas que nem eu nem vocês poderíamos sequer pensar em fazer. E basicamente tudo evoluiu para lidar com a sua fonte de alimento, que é o excremento. Portanto, a questão é: por onde começamos esta história? E parece apropriado começar pelo fim porque este é um produto da digestão que sai de outros animais, mas que ainda contém nutrientes e existem ali nutrientes suficientes para os escaravelhos-do-excremento conseguirem viver e então os escaravelhos-do-excremento comem excremento, e as suas larvas também se alimentam de excremento. Elas crescem completamente numa bola de excremento. Na África do Sul, existem cerca de 800 espécies de escaravelho-do-excremento, em África existem cerca de 2 000 espécies de escaravelhos-do-excremento e em todo o planeta existem cerca de 6 000 espécies de escaravelhos-do-excremento. Então, de acordo com os escaravelhos-do-excremento, o excremento é bastante bom. A não ser que vocês estejam preparados para terem excremento nas vossas unhas e para escavarem no próprio excremento, vocês nunca irão ver 90% das espécies de escaravelhos porque eles vão directamente para dentro do excremento em linha reta até abaixo dele, e então eles escavam para a frente e para trás entre o excremento e a superfície do solo e um ninho que eles fazem debaixo de terra. Portanto, a questão é, como é que eles lidam com este material? E a maioria dos escaravelhos-do-excremento consegue embrulhá-lo numa espécie de embalagem. 10% das espécies fazem, na realidade, uma bola e empurram esta bola para longe da origem do excremento normalmente, enterram-na num lugar remoto longe da origem do excremento e têm um comportamento muito particular pelo qual conseguem empurrar as suas bolas. Então este é um proprietário muito orgulhoso de uma bela bola de excremento. Vocês podem ver que é um macho porque ele tem um pequeno cabelo na parte de trás das suas pernas, e está claramente satisfeito por estar onde está. E depois ele está prestes a tornar-se uma vítima de um maldoso esmaga-e-apanha. (Risos) E esta é uma clara indicação de que este é um recurso valioso. E portanto, recursos valiosos têm de ser protegidos e guardados de uma forma especial, e nós achamos que a razão de eles rolarem as bolas para longe é devido a isto... ...devido à competição que está envolvida em tomar posse daquele excremento. Portanto, este monte de excremento era, na verdade... bem, isto era um monte de excremento 15 minutos antes de esta fotografia ser tirada e nós achamos que é a intensa competição que torna os escaravelhos tão bem adaptados em rolar as bolas de excremento. Então o que vocês têm que imaginar aqui é este animal a mover-se através da savana africana. A sua cabeça está para baixo. Ele está a andar para trás. É a forma mais bizarra de transportar comida em qualquer direcção e, ao mesmo tempo, ele tem que lidar com o calor. Isto é África. Está calor. Então o que eu quero partilhar convosco agora são algumas das experiências que eu e os meus colegas temos utilizado para investigar como os escaravelhos lidam com estes problemas. Observem este escaravelho, e existem duas coisas que gostaria que notassem. A primeira é como ele lida com este obstáculo que nós colocámos no seu caminho. Vejam, ele faz uma pequena dança e depois ele continua exactamente na mesma direcção que tomou no início. Uma pequena dança, e depois lá vai ele numa direcção em particular. Portanto, claramente este animal sabe para onde se dirige e sabe aonde quer ir o que é uma coisa muito, muito importante porque se pensarem nisso, vocês estão na pilha de excremento têm este enorme bolo que vocês querem levar para longe de qualquer outro ser e a forma mais rápida de fazer isso é em linha recta. Então nós demos-lhes mais algumas tarefas para resolverem e o que nós fizemos aqui, foi virar o mundo debaixo dos pés deles. E vejam a resposta. Então este animal fica na verdade com o mundo todo virado debaixo dos seus pés. Foi virado 90 graus. Mas ele não vacila. Ele sabe exactamente para onde tem de ir e dirige-se para uma direcção em particular. Então a nossa próxima questão foi: Como é que eles fazem isto? O que é que eles estão a fazer? E havia uma pista à nossa frente. Era que, de vez em quando, eles subiam ao topo da bola e davam uma vista de olhos em redor. E o que é que vocês acham que eles poderiam estar a ver quando subiam ao topo da bola? Quais eram as pistas óbvias que este animal poderia usar para direccionar o seu movimento? E a pista mais óbvia era olhar para o céu, e então nós pensámos: "O que é que eles estariam a olhar para o céu?" E a coisa mais óbvia para se olhar é o sol. Portanto, uma experiência clássica aqui em que o que nós fizemos foi mover o sol. O que faremos agora é escurecer o sol com uma tábua e depois mover o sol com um espelho para uma posição completamente diferente. E reparem no que o escaravelho faz. Ele faz uma pequena dupla dança e depois dirige-se de volta exactamente na mesma direcção da qual veio no início. O que acontece agora? Então, claramente, eles estão a olhar para o sol. O sol é uma pista muito importante no céu para eles. O problema é que o sol nem sempre está disponível porque ao pôr-do-sol, ele desaparece no horizonte. O que acontece no céu aqui é que há um padrão muito grande de luz polarizada no céu que nós não conseguimos ver. É da forma como os nossos olhos são feitos. Mas o sol está no horizonte aqui e nós sabemos que quando o sol está no horizonte, digamos que está neste lado, existe um norte-sul, um caminho enorme através do céu de luz polarizada que não conseguimos ver e que os escaravelhos conseguem. Então como é que testamos isso? Bem, isso é fácil. O que nós fazemos é colocar um filtro de polarização enorme colocar o escaravelho debaixo dele, e o filtro está nos ângulos certos para os padrões de polarização do céu. O escaravelho sai debaixo do filtro e faz uma curva à direita porque ele sai debaixo do céu de que estava originalmente orientado e depois reorienta-se de novo para a direcção que deveria originalmente ir. Então obviamente os escaravelhos conseguem ver luz polarizada. Ok, então o que nós temos até agora é, o que é que os escaravelhos estão a fazer? Eles estão a rolar bolas. Como estão a fazê-lo? Bem, estão a rolá-las em linha recta. Como é que eles as mantêm numa linha recta em particular? Bem, eles estão a olhar para as pistas celestiais no céu algumas das quais vocês e eu não conseguimos ver. Mas como é que eles apanham estas pistas celestiais? Isto era o que nos interessava a seguir. E foi esse pequeno comportamento particular, a dança que nós pensámos que seria importante, porque, olhem... ele faz uma pausa de vez em quando e depois dirige-se na direcção em que quer ir. Então o que estão eles a fazer quando fazem esta dança? Quão longe podemos empurrá-los antes de eles se voltarem a reorientar? E nesta experiência aqui, o que nós fizemos foi forçá-los a irem para um canal, e podem ver que ele não foi particularmente forçado para dentro deste canal em particular, e deslocámos gradualmente o escaravelho em 180 graus até que este indivíduo acaba por ir na direcção exactamente oposta que queria seguir inicialmente. E vamos ver qual será a sua reacção conforme se dirige através dos 90 graus aqui, e agora ele dirige-se para... ...quando ele termina aqui ele vai estar 180 graus na direcção errada. E vamos ver qual é a resposta dele. Ele faz uma pequena dança, ele dá uma volta e volta para trás. Ele sabe exactamente para onde se dirige. Ele sabe exactamente qual é o problema e ele sabe exactamente como lidar com ele e a dança neste comportamento de transição é que lhes permite reorientarem-se. Então esta é a dança, mas depois de gastarmos muitos anos sentados nos arbustos de África a observar os escaravelhos em dias bonitos e quentes, nós reparámos que havia outro comportamento associado ao comportamento da dança. De vez em quando, quando eles sobem ao topo da bola eles limpam a cara. E vocês vêem-no a fazê-lo outra vez. Então pensámos, o que poderia estar a acontecer aqui? Claramente, o chão está muito quente, e quando o chão está quente eles dançam mais frequentemente, e quando eles fazem esta dança particular eles limpam a parte inferior da cara. E pensámos que isto poderia ser um comportamento de termorregulação. Nós pensámos que talvez o que eles estão a fazer é tentar sair do solo quente e também cuspir para as suas caras como forma de a arrefecer. Então o que nós fizemos foi umas arenas uma era quente, a outra era fria. Colocamos uma sombra nesta. Deixámos a outra quente. E depois o que fizemos foi filmá-los com uma câmara térmica. Então o que vêem aqui é uma imagem do calor do sistema, e o que vocês podem ver emergir aqui a partir das fezes é uma bola de excremento frio. Então a verdade é, se olharem para a temperatura aqui o excremento está frio. (Risos) Então, tudo em que estamos interessados aqui é comparar a temperatura do escaravelho com a do pano de fundo. O pano de fundo aqui tem cerca de 50 graus centígrados. O escaravelho e a bola têm, provavelmente, cerca de 30 a 35 graus centígrados portanto, esta é uma grande bola de gelado que este escaravelho está neste momento a transportar através da savana. Ele não está a subir. Ele não está a dançar, porque a sua temperatura corporal é, na verdade, relativamente baixa. É mais ou menos como a vossa ou a minha. E o mais interessante aqui é que o seu pequeno cérebro está bastante frio. Mas se nós contrastarmos agora com o que acontece num ambiente quente, reparem na temperatura do solo. É cerca de 55 a 60 graus centígrados. Reparem quantas vezes o escaravelho dança. E olhem para as suas pernas da frente. Elas estão a ferver. Então a bola deixa uma pequena sombra térmica e o escaravelho sobe ao topo da bola e limpa a cara, e a toda a hora ele está a tentar arrefecer-se achamos nós, e a evitar a areia quente que ele está a atravessar. E o que fizemos foi colocar pequenas botas nessas pernas porque esta era uma forma de testar se as pernas estavam envolvidas em sentir a temperatura do solo. E se repararem aqui, com botas, eles sobem ao topo da bola muito menos vezes do que quando não tinham as botas. Portanto, nós descrevemo-las como botas refrescantes. Foi um composto dentário que utilizámos para criar estas botas. E nós também arrefecemos a bola de excremento, conseguimos colocar a bola num frigorífico, dar-lhes uma bonita e fresca bola de excremento e eles subiram para cima da bola bastante menos vezes do que quando tinham uma bola quente. Isto é chamado de pernear. É um comportamento térmico que vocês e eu fazemos se atravessarmos a praia nós saltamos para a toalha, alguém tem uma toalha — "Desculpe, eu saltei para a sua toalha." — e depois vocês procuram outra toalha qualquer e dessa forma vocês não queimam os pés. E é exactamente o que os escaravelhos fazem. Contudo, há mais uma história que eu gostaria de partilhar convosco e é desta espécie em particular. É do género chamado Pachysoma. Há cerca de 13 espécies neste género, e eles têm um comportamento em particular que acho que vos vai interessar. Este é um escaravelho-do-excremento. Vejam o que ele está a fazer. Conseguem reparar na diferença? Eles normalmente não andam tão devagar. Isto é em câmara lenta mas está a andar para a frente e com isso, está, na verdade, a formar uma bola de excremento. Esta é uma diferente espécie do mesmo género mas com exactamente o mesmo comportamento de pilhagem. Há mais um importante aspecto sobre o comportamento deste escaravelho que nós achamos bastante fascinante e que é ele forrar e aprovisionar um ninho. Vejam este indivíduo aqui. O que ele está a tentar fazer é fazer um ninho. E ele não gosta desta primeira posição mas ele adopta uma segunda posição e cerca de 50 minutos mais tarde, o ninho está terminado e ele afasta-se para forrar e aprovisionar numa pilha de bolas secas de excremento. E no que eu quero que reparem é o caminho de saída comparado-o com o caminho de chegada. Comparem os dois. Em geral, verão que o caminho de chegada é bastante mais directo do que o caminho de saída. No caminho de saída, ele está sempre à procura de uma nova bola de excremento. No caminho para casa, ele sabe onde ela está e quer ir directo a ela. O importante aqui é que esta não é uma viagem só de ida como na maioria dos escaravelhos-do-excremento. A viagem repete-se para a frente e para trás entre uma dispensa e um ninho. E olhem, vocês vão ver outro crime sul-africano mesmo a acontecer. (Risos) E o vizinho rouba uma das bolas de excremento. E o que vocês vão ver aqui é um comportamento chamado caminho da integração. E o que está a acontecer é que o escaravelho tem uma casa, de onde sai por um caminho tortuoso à procura de alimento, e quando encontra o alimento volta para casa. Ele sabe exactamente onde é a casa. Existem duas formas de ele poder fazer isto e nós podemos testá-lo colocando o escaravelho numa nova posição, quando está no local de pilhagem. Usando pontos de referência, ele encontra o caminho para casa. Se usar algo chamado caminho de integração, ele não vai encontrar o caminho para casa. Ele vai chegar a um local errado e o que ele faz aqui, estando a usar o caminho de integração, é estar a contar os passos ou a medir a distância nesta direcção. Sabe ir para casa, e sabe que deveria ir naquela direcção. Se o mudarem de sítio, ele acaba no local errado. Vamos ver o que acontece quando pomos este escaravelho à prova com uma experiência parecida. Aqui está o nosso astuto investigador. Ele muda o escaravelho de sítio e agora vemos o que acontece. O que temos aqui é uma toca. Era onde estava a forragem. A forragem foi mudada para uma nova posição. Se ele estiver a usar pontos de referência como orientação deve ser capaz de encontrar a toca porque ele é capaz de reconhecer os pontos de referência em redor dela. Se ele estiver a usar o caminho de integração então deve terminar neste local errado. Então vamos ver o que acontece quando testamos o escaravelho. Aqui está ele. Ele está a prestes a ir para casa, e vejam o que acontece. Que vergonha. Ele não faz a mais pequena ideia. Ele começa a procurar pela casa pela distância correcta em relação ao alimento, mas ele está claramente perdido. Sabemos então que este animal usa o caminho de integração para encontrar o seu caminho, e o insensível investigador leva-o ao topo esquerdo e larga-o. (Risos) Então o que vemos aqui é um grupo de animais que usam uma bússola, e usam o sol como uma bússola para encontrar o seu caminho e têm algum tipo de sistema para medir essa distância, e sabemos que esta espécie aqui conta mesmo os passos. É o que eles usam como um odómetro, um sistema de contar passos, para encontrar o seu caminho de volta a casa. Ainda não sabemos o que os escaravelhos-do-excremento usam. Então o que aprendemos com estes animais com um cérebro do tamanho de um grão de arroz? Bem, sabemos que conseguem rolar bolas em linha recta usando pistas celestiais. Sabemos que a dança é um comportamento de orientação e também um comportamento termorregulador e também sabemos que usam um sistema de caminho de integração para encontrarem o seu caminho para casa. Para um animal pequeno que lida com uma substância bastante revoltante podemos realmente aprender uma enorme quantidade de coisas a partir deles a fazer comportamentos que nem vocês nem eu conseguiríamos possivelmente fazer. Obrigado. (Aplausos)