Lembro-me nitidamente da primeira vez que tive a oportunidade de ver uma TEDTalk. Foi nos primeiros passos da Internet e creio que, depois de a ver, a Internet tornou-se importante para mim e eu pensei: "Se alguém inventou isto, "para difundir uma coisa tão bela como as TEDTalks, "penso que a Internet se justifica plenamente". Eu tinha toda a razão. Nessa altura, também fiquei intrigado quanto às palavras, as três palavras que definiam "TED". Eram Tecnologia, Entretenimento e Design. Se olharem para o meu cartaz, há um "m" minúsculo que tomei a liberdade de acrescentar: "TEDm" e um ponto de interrogação. O "m" refere-se a música. Penso que a música é tão importante como tudo o mais que fazemos na vida, ou mesmo mais. Penso que toda a gente que está envolvida na música devia continuar a fazer isso durante toda a vida. A minha vida, desde há 50 anos, tem-se centrado no ensino, na aprendizagem e na execução e as minhas experiências refletem-se na minha palestra de hoje. Isto não é uma teoria, não é uma hipótese, é uma coisa que eu vivo numa base quotidiana. Considero a música como uma coisa que partilhamos. A música é beleza que partilhamos. Ao enriquecer-nos através da execução, enriquecemos os outros. Posso dizer-vos que, enquanto executante, sinto-me enriquecido quando executo e, enquanto membro da audiência, sinto-me enriquecido quando escuto alguém. O meu receio é que esta criatividade interativa é uma coisa que tem vindo a diminuir nos últimos 20 anos. O meu plano para hoje é explorar a música ou falar sobre a música através das lentes destes três termos, destas três áreas, destas três palavras: tecnologia, entretenimento e "design". Obviamente, a tecnologia é talvez um dos fatores mais importantes que transformou a música nos últimos 50 anos. Sem dúvida nenhuma, podemos dizer que o número de pessoas que hoje têm acesso à música, a qualquer tipo de música que possam imaginar, é maior do que jamais foi no passado. Portanto, a influência da tecnologia na disseminação da música é incrível. E, provavelmente, uma das razões por que estamos a tentar imaginar para onde ir, o que fazer, é porque a tecnologia muda mais rapidamente do que conseguimos adaptar os nossos conhecimentos e a nossa capacidade para trabalhar com ela. Uma forma como eu encaro a tecnologia é a forma como olho para vocês aqui. Muitos de vocês aqui, logo que saírem desta sala, vão colocar os auscultadores e vão-se embora sozinhos a ouvir música. Isso dá-vos um belo som, de facto, mas esse som está aqui, dentro do vosso crânio, nem sequer se ouve meio metro à vossa volta, está só na vossa cabeça. É como um casulo que vos isola do resto do mundo. É a tecnologia que nos permite fazer isso. Por outro lado, por causa da tecnologia, podemos reunir cinco a seis mil pessoas numa arena e fazê-las participar num concerto. A última vez que assisti a um desses eventos, acabei por observar todo o evento num ecrã do tamanho de uma casa e os executantes reais eram do tamanho de bonecos, à distância. E perguntei a mim mesmo: "Qual seria a diferença "se tivesse ficado em casa e assistisse no computador "em vez de estar aqui com uns milhares dos meus amigos mais queridos?" Acredito que estamos a falhar o alvo. Porque é que pagamos tanto dinheiro para nos sentarmos na primeira fila? Não é porque o som seja melhor mas porque queremos estar perto da ação. É o que está no nosso ADN, é o que está nos nossos genes. Evoluímos nesta tradição em que a música fazia parte do ritual e todos fazíamos parte da tribo, todos nós precisamos de sentir o ritmo. Todos precisamos de sentir essa música, não é? (Palmas ritmadas do público) (Risos) (Palmas ritmadas do público) Estão a ver? Ou seja, estamos todos juntos, não é? Não vos pedi para fazerem nada. Vocês sabiam o que fazer. É isso o que a música faz. O que estamos a perder, com alguns aspetos da tecnologia, é este imediatismo, esta necessidade de estar lá. Não estamos a satisfazer a nossa necessidade de fazermos parte do ato musical. Estamos a ser passivos. Ficamos sentados, a apreciá-la à distância ou apenas a isolarmo-nos do resto do mundo e, portanto, a viver a música como uma unidade solitária, em oposição a fazer parte do grupo mais amplo. O meu ponto de vista é que temos que ser envolvidos, e não entretidos. Já que usei esta palavra, passemos para a área do "entretenimento". Sim, a música devia e pode ser considerada como um entretenimento, mas não apenas como um entretenimento. Há muito mais coisas na música. A gama de expressões que podemos exprimir com a música é muito mais do que entretenimento. Quando penso na palavra "entretenimento", o meu primeiro pensamento é música muito leve, fácil de ouvir, um pouco inconsequente, algures em pano de fundo, quando estamos num elevador — isso é entretenimento. Não penso na música como um entretenimento, quero que vocês se sintam envolvidos, quando toco. Quer seja uma melodia alegre que vos faça querer dançar e pular quer vos faça chorar, quero que se envolvam, e não que se entretenham. O entretenimento não é uma coisa má mas quero que a música seja mais do que isso. Infelizmente, a música, nos últimos 50 anos, ou mais, tem vindo a estreitar-se desta enorme pletora de sentimentos e emoções para meia dúzia de acordes e muitos poucos termos musicais que repetimos vezes sem conta há 50 anos ou mais. Não podemos culpar apenas os músicos por isso. Qual é a outra palavra que vem à cabeça quando dizemos "entretenimento"? "Indústria", não é? A certa altura, começamos a olhar para a música mais como uma mercadoria que pode ser vendida do que a olhar para a música como uma coisa que tem valor artístico. A certa altura, quando começamos a pensar na música como uma coisa que tem que ser vendida, o nosso objetivo é vender tantas unidades quantas possível porque é a única maneira de termos lucros. O que é que podemos vender facilmente? Podemos vender aquilo que não leva muito tempo a ser absorvido. Por isso, vou usar um exemplo muito simples, talvez nem muito apropriado. Imaginem que estão com fome. Trazem-vos uma fatia de pizza. ou vocês têm este conjunto maravilhoso, fresco, direitinho do mercado, vegetais nutritivos e saudáveis e tudo aquilo de que precisam. Dentro de meia hora podem sentar-se e comer. Têm que preparar a refeição. O que é que vai acontecer? Já sabemos. Escolhem a fatia de pizza porque estão com fome. Vão satisfazer a vossa necessidade. É isso que a indústria da música faz connosco, com a música. Proporcionam-nos uma satisfação rápida, Não temos que pensar nisso, não temos que analisá-lo. Engolimo-lo e ficamos felizes e satisfeitos. Vocês sabem o que isso vai fazer à vossa dieta, se continuarem a comer pizza dia após dia. Sabemos que não é bom para nós, mas continuamos a fazê-lo por causa da magia do "marketing" e de tudo o que a indústria sabe fazer. O meu ponto de vista é que, sim, a indústria é uma coisa boa, sim, a música que ouvimos é divertida, mas não vejamos a música apenas como entretenimento, apenas como um bem que pode ser comercializado. Quase parece que estamos a avaliar a música por meios não musicais. Estamos a dizer: "Quanto é que podemos vender?" em vez de dizermos: "Até que ponto isto é bom?" Esta dualidade, este tipo de visão da música como duas coisas diferentes faz-me pensar no "design". A sério, quando eu estava a pensar nestas três palavras, "design" — pensei, porque não "arte"? Faria uma sigla muito gira: TEA Talk, não era? Descontraímos, bebemos chá, falamos, em oposição a TEDTalk. Infelizmente, é "design" — infelizmente não, mas é assim. O que é o "design"? Qual é a diferença entre arte e "design"? O "design" serve dois amos. Tem que ser agradável esteticamente e também tem que ser funcional. Parece que tudo aquilo de que temos falado sobre multitarefas também se exprime nessa ideia de arte: de que temos que satisfazer duas coisas. Vejo aqui muitos estudantes, por isso vou fazer-vos uma pergunta: quantos de vocês estiveram envolvidos com música no secundário? Muito bem, é uma boa escola. Quantos de vocês estiveram envolvidos com a ideia: "Isto vai ajudar a minha candidatura à faculdade?" Não sejam tímidos. Ninguém vos vê. Mas eu vejo. Quantos de vocês pensaram: "Será bom para a minha candidatura à faculdade "eu tocar música na orquestra?" Ninguém? Ok. Eu sei, eu ensino estudantes que dizem: "Eu devia ter música, porque vai ajudar a minha candidatura à faculdade "mostrar que me interesso por coisas diferentes, etc.". Estou abomino essa ideia de tentar provar que a música é uma coisa necessária para ser um bom aluno de matemática. Através da investigação, sabemos que, se estudarmos música, se nos envolvermos com a música, isso contribuirá para o desenvolvimento emocional e intelectual em criança. Sabemos isso há séculos, mas agora a ciência também o prova. Quantas vezes lemos um romance com a ideia de que vai melhorar a nossa investigação? Pode ser, mas essa não é a razão principal para lermos um romance. Quando estudam física, vocês estudam física porque querem ser um bom atleta? Não! Vocês estudam física por causa do estudo da física e daquilo de bom que obtemos daí. Façamos da música aquilo que ela é. Estudar a música pela música, pela beleza da estética e para compreender como funciona com as outras pessoas, para trabalhar, para criar música, com outras pessoas, etc. Não estudemos música por causa de outra coisa qualquer. Algumas tendências em que reparei e que, espero, consiga partilhar convosco é que estamos sempre desligados e menos envolvidos com a música. Vemos a música como uma coisa simples, uma coisa que é divertida e entretém, e não tentamos aprofundar a música. A música é reduzida a um conjunto muto simples de regras, em oposição a toda a beleza que ela pode ter. Também vemos, dada a forma como funciona a indústria, que a diversidade não está presente como gostaríamos que estivesse. Eu cresci num país onde, num raio de 130 km, eu podia ouvir sete, oito línguas diferentes e ouvir música de sete, oito tipos de culturas diferentes. Quando cheguei aos EUA, não tinha a menor hipótese de encontrar outras músicas na rádio a não ser canções populares. Não ouvia nada em francês, não ouvia nada sem ser em inglês, e sentia falta disso. O que é que vamos fazer quanto a isso? Quais são os passos que podemos dar a fim de tornar a música relevante na nossa vida? Primeiro que tudo, dado o meu historial de executante, de professor, penso que o primeiro passo é envolver muitas pessoas como nós na música. É muito fácil envolvermo-nos com a música em qualquer idade. Pais e futuros pais, vocês podem começar a levar os filhos a sessões de música, logo aos três meses. Depois, vocês sabem o que passaram na escola básica: comecem a tocar música, procurem lições. Depois, quando chegam à vossa idade, à faculdade, é talvez a altura mais difícil, porque há muitas coisas a passar-se na vossa vida, e é difícil encontrar algum tempo para envolver a música. Bom, tentem, sei que é difícil mas tentem. Por outro lado, se forem músicos profissionais, devem sair e procurar audiências: não esperem que as audiências vão ter convosco. Saiam, vão às escolas, vão às bibliotecas. É aí que vamos criar as audiências para amanhã. Enquanto educadores, precisamos de criar competências para que as pessoas apreciem a música por si mesmas em vez de esperar que a indústria vos dê a resposta certa para o tipo de música que devem ouvir ou qual é a qualidade na música. E, por fim, devemos tentar abrir os olhos e abrir os ouvidos e incluir tantas culturas diferentes e tantos tipos diferentes de música, quantos os diferentes géneros no nosso reportório. O meu ponto de vista não era tornar isto num grito de guerra pela minha causa mas não consigo evitá-lo, tenho que o fazer. Gostava de vos deixar com dois desafios: Um é, se não estão envolvidos na música, envolvam-se na música. Vai tornar-nos uma pessoa mais feliz, sem dúvida alguma. Se estão envolvidos na música, levem outros convosco, partilhem e falem sobre os benefícios e a beleza que obtêm através da música. Por fim, sei que, nas próximas quatro horas, todos vocês vão sair com os auscultadores postos, vão ligar o rádio do carro, o que quer que seja. O meu desafio é este, antes de procurarem um posto ou antes de escolherem na lista interroguem-se: "Terei coragem suficiente de tentar uma coisa diferente, "de ouvir um tipo diferente de música?" Obrigado. (Aplausos)