(David Goldblatt): A câmera é
um instrumento muito estranho.
Demanda, primeiramente,
que você veja coerentemente,
ela te permite entrar em mundos,
lugares, e associações,
que de outra forma seria muito difícil.
Ser fotógrafo é realmente maravilhoso.
Não estou preso a lugar nenhum.
Posso ir e voltar como quiser.
É maravilhoso.
Meus anos de infância em Johannesburg
foram muito felizes.
Aproveitamos uma enorme liberdade.
Andávamos de bicicleta pelo
Randfontein Estates,
que era a mina de ouro
que rodeava a cidade,
e podíamos explorar bastante as minas.
É uma paisagem brutal, bem vazia, sombria,
não temos um mar, não temos um grande rio.
Só tínhamos esses espaços
tediosos e desinteressantes.
Acho que tinha uma espécie de osmose
acontecendo dentro de mim.
Eu me tornei organicamente
relacionado ao lugar.
Por um lado,
eu quero fotografar a paisagem.
"Paisagem", num sentido bem amplo.
De outro lado, sou fascinado por nossas
estruturas como declarações de valor.
Cheguei tarde demais para essa foto,
as árvores já estão cheias.
Mas vou tentar, vamos dar uma olhada.
Me parece que o tipo de arquitetura
emergente no norte de Johannesburg,
é um tipo de materialismo agressivo.
- Bom dia, senhores!
- Olá!
Como estão?
Neste país, quase que por causa da nudez,
das lutas entre o preto e o branco,
as estruturas que surgiram foram
incrivelmente claras
demonstrações de sistemas de valor.
Igrejas Africanas Protestantes brancas
são das quais eu penso em particular.
Suas igrejas tinham enormes janelas,
e uma estrutura megafônica,
com a chegada dos anos 1970, as forças
de liberação chegam à África do Sul,
colidindo mais e mais com os africanos.
Logo, suas novas igrejas viram defensivas.
Pouquíssimas delas foram construídas com
detalhes afiados nas paredes externas.
Estruturas públicas viram
claras manifestações da imagem própria.