>>Rafael Fernandes: Que se danem os gráficos. Muito antes de Pro Evolution Soccer e da série FIFA, International Superstar Soccer 64 era O jogo de futebol. Lançado no dia 31 de julho de 1997, o game representou uma revolução que só quem viveu aquela época pôde presenciar. >>Narrador: International Superstar Soccer >>Rafael Fernandes: Um dos maiores trunfos de International Superstar Soccer 64 está no fato de que ele tenta trazer um pouco de simulação sem perder a jogabilidade arcade. Aqui há uma série de detalhes nunca vistos antes, aumentando ainda mais o realismo em relação ao futebol de verdade. As partidas podem ser realizadas em diferentes horários do dia e condições climáticas. Dá pra escolher várias táticas para o time, dá pra controlar o goleiro, dá pra escolher cara ou coroa, enfim, havia um senso de liberdade nunca visto antes, e esse era o diferencial de International 64 em relação a todos os outros jogos de futebol da época. >>Narrador: Em posição para a cobrança de falta. [Inaudível] GOL! A França empata o placar! >>Rafael Fernandes: É claro que muitos desses detalhes são bem comuns nos jogos da geração atual, mas naquele tempo, há quinze anos atrás, era de fazer explodir a cabeça de qualquer um. Olha só esse juiz, por exemplo, que depois de dar um cartão, ele pegava um bloquinho e anotava o nome do jogador, e isso era incrível! E as comemorações dos gols então? Extremamente realistas, com direito a imitação da famosa dancinha do Bebeto na Copa de 94. Pois é, né? Era uma vez que a gente achava esses gráficos os mais avançados do mundo, né não? Por isso eu posso dizer com segurança que nos videogames domésticos não havia nada melhor que o título da Konami. E pra completar, ainda tem uma coisa que praticamente todo jogo daquela época tinha: o modo cabeção, que era destravado ao entrar com o código da Konami na tela título, ou seja, C cima, C cima, C baixo, C baixo, C esquerda, C direita, C esquerda, C direita, B, A, Z e Start. O melhor é que essa opção sempre zoava com a colisão entre objetos, colocando uma porção de cenas dantescas e bizarras. Pena que hoje em dia não tem mais nada parecido com isso. >>Narrador: …verdadeira dominação. GOL! Oh, GOL! GOOOOL! >>Rafael Fernandes: Mas é claro que um jogo não se sustenta só nos visuais. E International 64 tinha muito mais a oferecer na jogabilidade. Os controles eram acessíveis mas ao mesmo tempo tinham bastante profundidade. É possível fazer dribles e vários outros comandos avançados que exigem um pouco mais de habilidade no jogo. Além disso, a dificuldade é muito bem equilibrada, e há uma longa curva de aprendizado até pegar a manha e vencer todas no nível 5. E, quando o jogo estiver manjado a esse ponto, é só tentar jogar com uma seleção bem fraca, como os Estados Unidos, por exemplo, e aí sim o desafio fica bem complicado. O maior destaque fica para o Scenario Mode, que é tipo um modo de missões onde você controla um time, geralmente em situação ruim na partida, e deve ganhar o jogo a qualquer custo. São 16 estágios, sendo o último o mais desafiador, colocando os Estados Unidos pra virar um jogo de dois a zero a favor para o Brasil. Complicado, hem? >>Narrador: Que oportunidade! Um chute excelente! GOOOOL! Ele chutou com seu pé direito! Um gol vital para os Estados Unidos! >>Rafael Fernandes: E o som? Mesmo com as conhecidas limitações do Nintendo 64, a Konami não desapontou aqui. A trilha sonora é uma das melhores que já existiram. Mas o som do cartucho brilha mesmo é durante as partidas. O narrador é provavelmente o mais empolgado de todos os jogos de futebol de todos os tempos. Olha só os berros do cara! >>Narrador: A Inglaterra interceptou a bola. A Alemanha frustrou novamente. Ele está criando um caminho aqui. Pra quem foi esse passe? Que oportunidade! GOL! GOL! GOL! GOOOOL! A Inglaterra toma a liderança! >>Rafael Fernandes: E a versão japonesa é ainda mais louca! Lá eles chamaram um locutor de rádio, que praticamente surta quando acontece um gol ou algum lance de perigo. O… Confere aí! >>Tom G: Rebateu! Gol! Gol! Go-Gol! Ótimo! Ótimo! Viva! Viva! Cruzamento! Cabeceou! Okay! Gol, gol, gol , gol, gol! Gol! Gol! Gol! >>Rafael Fernandes: Infelizmente nem tudo é perfeito. Os sons das torcidas são um pouco distorcidos, mas não chegam a tirar o brilho do resultado final que a Konami conseguiu aqui. >>Tom G: Okay! Gol, gol, gol, gol, gol, gooool! Gooool! Gooool! Tudo certo! Boa bola… >>Rafael Fernandes: International Superstar Soccer 64 teve um grande sucesso. Principalmente por aqui no Brasil. Por isso que não é tão difícil achar algum cartucho usado do jogo nessas feirinhas por aí. A continuação, o International 98, melhorava tudo em relação ao original, oferecendo gráficos mais fluidos, um som bem melhor, e alguns retoques na jogabilidade e na inteligência artificial dos adversários, evitando aqueles gols ridículos do jogo anterior. Já o International Superstar Soccer 2000 veio um pouco mais aprimorado, mas tinha alguns problemas um pouquinho mais graves, começando pela nova mecânica do chute. Se você segurar o botão B da mesma forma que pressionava nos jogos anteriores pra definir a potência do chute, olha aí o que acontece. >>Narrador: Chutou por cima do… >>Rafael Fernandes: E é uma mudança que na prática não fazia sentido algum. Serviu só pra atrapalhar mesmo. Pra completar, a versão americana e consequentemente a nossa versão, a versão nacional do jogo, não tinha o modo carreira, que era uma espécie de RPG bem simples, onde você criava um jogador e ia acompanhando ele desde as categorias de base até a seleção. O International 2000 também era compatível com o cartucho de expansão do Nintendo 64, o que permitia aumentar a resolução do jogo para incríveis 640x480. O problema é que a taxa de frames por segundo caía feio, e ficava praticamente impossível jogar. Vai entender, né? Naquela altura, no ano de 2000, a série Winning Eleven já estava conquistando a preferência do público. Desenvolvido pela KCET, o estúdio da Konami na cidade de Tóquio, o game acabou evoluíndo na geração seguinte para a série Pro Evolution que a gente conhece bem hoje em dia, ofuscando totalmente o nome International Superstar Soccer, que chegou ainda a ter três jogos lançados para o PlayStation 2, GameCube e PC. Mas, no fim das contas, a série estagnou. As chances da franquia voltar hoje em dia são bem difíceis, já que além do baixo interesse do público e da Konami, o produtor Katsuya Nagae, que cuidava da série desde a época do Super Nintendo, faleceu no ano de 2008. O jeito então é conviver com os jogos antigos, onde o futebol mais arcade viveu a sua época de ouro, onde a diversão valia mais que um punhado de polígonos. Fora! Salvo! Fora! Fora! Salvo! Fora! Fora! Salvo! Yoyoi no yoi!