-Eu sei exatamente o que está falando.
quando diz que, quando está
sentada em casa, escrevendo
não está pensando,
"Sou surda, sou surda, sou surda!"
Eu digo o mesmo comigo,
quando eu estou sentada
fazendo minha maquiagem,
eu não fico tipo,
"Sou cega, sou cega,"
tipo, eu não estou pensando
sobre a minha cegueira,
eu estou só vivendo a minha vida
porque esse é o nosso normal.
[música] Molly Burke - entrevista com Jessica fora do armário
-Olá pessoal, nós estamos de volta
com minha série
em que eu sento com outra pessoa
da comunidade deficiente
e nós conversamos sobre tudo
relacionado a vida e deficiência,
e essa é provavelmente
a mais solicitada que já vi.
Então nós finalmente estamos
com a Jessica,
e eu vou deixar você falar
o seu sobrenome.
- (dá risada) Jessica Kellgren-Fozard.
tudo tranquilo, eu sei,
é um sobrenome difícil.
- Nós estávamos literalmente
falando sobre isso
antes de começar a gravar,
a gente estava conversando
no Google Meet,
e eu, tipo, estava praticando o nome,
e eu disse, "Não, quer saber?
"Eu cheguei até aqui,
estava profundo demais,"
disse, "eu vou pular
para fora da piscina,
ela vai assumir controle, então obrigada."
- Tudo bem, é complexo.
O Kellgren é sueco,
o Fozard é o sobrenome da minha esposa,
é da Normandia, junta isso tudo,
é complicado para todo mundo.
- Ou, Jessica Fora do Armário
que eu acho que é um nome brilhante,
porque você não é só
uma das fashionistas mais fabulosas
que eu sigo nas redes sociais,
mas você está também de fato
fora do armário, e eu acho que é
um username muito divertido.
- (dá risada) Sim,
fora de vários armários;
fora do armário gay,
fora do armário deficiente,
só vivendo a vida abertamente.
- Esse é o jeito de viver a vida,
sendo o seu melhor, mais autentico
e confiante eu de rainha.
E isso é exatamente o que você faz.
eu assisto os seus videos e eu
rio alto, de verdade.
tipo, você não é só uma das pessoas mais
estilosas que eu e sigo, mas uma das
mais engraçadas
e eu acho que você, simplesmente
sendo você mesma, quebra tantos esteriótipos
e equívocos sobre deficiência
e eu acho que é fabuloso,
então, obrigada por existir
na internet
-(risada) quer dizer, eu posso falar
a mesma coisa sobre você, Molly.
-Eu acordei essa manhã e eu pensei, tipo
ok, Molly, você tem que ficar, tipo,
pelo menos meio maravilhosa
porque você vai sentar ao lado
da Jessica no vídeo, e vai ser
vergonhoso
-Ah não, eu acho você incrivelmente estilosa,
eu sempre aprecio
o seu Instagram também
-Obrigada, eu aprecio isso.
então, eu sei que uma tonelada da minha audiência
já conhece e ama o seu conteúdo
mas para os que não, você gostaria de
meio que dar uma introdução a quem
Jessica é?
-Oh deus, ok, então o "discurso de elevador"
de mim, eu acho.
então, eu sou a Jessica, sou youtuber,
criadora de conteúdo. Eu crio conteúdo
geralmente divertido, informativo, educacional
a respeito de questões tipo
deficiência, doenças crônicas, e LGBTQ+.
Eu tenho duas condições genéticas,
neuropatia hereditária com suscetibilidade à pressão,
o que quer dizer que existem vãos
entre as bainhas de mielina dos seus nervos.
para mim, isso significa que eu posso paralisar
partes do meu corpo onde os meus nervos são mais
facilmente danificados, que
afeta a minha escuta, e eu tenho perda de
visão em um dos meus olhos por causa disso.
e isso pode fazer coisas tipo, minhas mãos
não possuem sentidos, porque eu paralisei meus
braços por um ano e meio quando eu era
adolescente. Eles voltaram
até certo ponto, mas agora eles não sentem
nada, é tipo usar luvas
o tempo todo. E eu não sinto frio ou calor
nada disso
ou molhado, o que é bem irritante quando
você está tentando pendurar roupas,
porque você fica tipo "isso está molhado?
está seco? não faço ideia."
e eu acabo tendo que pressionar o meu rosto
em todas as minhas roupas pra descobrir se
está úmido ou não. Bem estranho.
-E ai você acaba com uma mancha aleatória na bochecha
ou uma mancha de base no lado
da sua camiseta branca.
-Quer dizer, eu deveria adicionar, eu só faço isso
quando eu não estou usando maquiagem
-Dica de mestre.
-E eu também tenho Síndrome de
Ehlers-Danlos, que é relacionada ao meu tecido
conjuntivo, e significa que eu não apenas sou
super móvel, e muito flexível e entortável,
o que a maioria das pessoas pensam que é tipo, uou,
que ótimo truque de festa, e é,
é um ótimo truque de festa que eu
talvez tenha usado demais quando criança.
Eu deslocava várias coisas só para provar
para as pessoas que eu podia. Não faça isso.
É uma ideia horrível. Não faça isso.
Mas também afeta o tecido conjuntivo em
coisas como meus órgãos internos,
então eu tenho alguns problemas com meu coração,
eu tenho Sindrome de Taquicardia Ortostática
Postural, que vem daquilo,
que é só um problema de regulamento da pressão
sanguínea, então eu desmaio bastante. E eu não posso
me esforçar muito, basicamente eu subo dois
degraus da escada e eu fico tipo, ai deus,
tem um ataque cardíaco vindo.
Ok, maravilhoso, então eu tenho que deitar
no chão por meia hora.
E a moda vintage é só uma camada
por cima de tudo, só pra deixar tudo mais
bonito enquanto estamos aqui.
-Eu acho que você deveria
fazer mais conteúdo de moda.
Estou apresentando essa ideia agora,
e eu acho que muitas pessoas
nos comentários vão concordar
que você deveria ter um trecho
todo no seu canal dedicado a
conteúdo de moda porque nós precisamos dessa
inspiração vintage que você traz,
nós precisamos da sua sabedoria vintage.
Eu estava, como estávamos falando antes
de começarmos a filmar eu estava
tipo, enchendo ela de perguntas
sobre a cultura de moda vintage, porque
eu sou fascinada por ela e sempre que
eu tento fazer algo assim
não funcionou muito bem,
então, eu acho que você deveria fazer
vídeos de moda e, sabe, quando eu comecei
a fazer conteúdo de moda era meio que
um erro completo, eu queria fazer um vídeo
sobre, tipo, acessibilidade em compras online
e era pra ser só aquilo, mas as pessoas
pediram para que eu continuasse
e eu fiquei tipo,
"bem, se você quer que eu alimente
meu vício, e fale sobre algo que eu amo,
fico feliz de fazer isso" e existem pessoas
na comunidade ativista PCD/PPD
que estavam chateados com isso.
Tipo, eles querem que eu dedique
meu canal pra falar só sobre deficiências
e eu até entendo, mas, para mim,
eu sou humana e deficiências são real
um tópico importante pra mim, e
isso afeta minha vida diariamente,
mas moda também, e a confiança que
a moda me traz!
E assim como maquiagem,
como meu cão-guia,
como namorar,
como todos esses outros aspectos
e eu acho que é muito importante
para nós, como comunidade PPD,
a mostrar para a sociedade, o lado humano
do nosso dia-a-dia,
e as coisas normais, ordinárias,
coisas humanas que amamos
e que participamos.
-Claro, claro.
Eu sempre relaciono isso com
livros infantis,
porque acho que é o jeito mais fácil
de entender pessoas aprendendo coisas novas.
Então, tem tantos livros infantis
que falam sobre certas questões.
É sobre
"Algumas pessoas usam cadeira de rodas"
ou "algumas pessoas tem 2 mães"
e as crianças não amam esses livros.
Elas não querem lê-los porque
eles são muito focados
nessa questão específica que precisa
passar uma mensagem. Não é divertido!
No entanto, quando tão lendo
um livro divertido, de aventura,
em que, oh, acontece do protagonista
ser portador de uma deficiência,
ou acontece que ele tem um núcleo,
uma organização familiar não tradicional.
Aí sim é mais cativante,
e as crianças querem aprender coisas novas.
E sei que uma das coisas legais de se ter
criadores de conteúdo PPD
que criam conteúdo que não é só sobre deficiência
é que você também traz pessoas que
não necessariamente clicaram no vídeo
estando tipo "Ah, não sei
não sei se quero assistir algo
sobre uma pessoa cega
porque eu nunca conheci uma
e isso pode ser desconfortável
Mas se é um video
que você tá fazendo outra coisa,
e clicam, eles tão tipo,
"ah, quer saber?
isso é interessante!
vou continuar assistindo
aos outros vídeos dela!"
E aí é uma ótima maneira de mostrar
às pessoas, eu acho.
E eles começam a se envolver mais
com essas questões.
Não é algo tão distante,
agora é tipo "Ah, acontece que
minha criadora de conteúdo preferida, Molly,
é portadora de deficiência,
e acontece que ela também fala sobre isso!
E agora eu aprendi coisas sobre"
Então eu acho que essa é a melhor maneira
Mas, na verdade, Molly,
dois coelhos, uma cajadada
por falarmos de moda.
Acho que a próxima vez que
você vier a Inglaterra, vou ter
vamos fazer uma transformação vintage!
-Oh meu deus, com certeza!
Quando toda essa loucura no mundo
acabar, e todos estivermos vacinados,
eu vou para a Inglaterra,
pra finalmente ver meu irmão,
depois de mais de um ano,
E, eu posso ver você,
e faremos a transformação vintage!
Eu tô prometendo pra você
Mas eu não poderia concordar mais
com o que você disse.
Meu ponto favorito sobre o que eu faço
é que eu posso tornar o aprendizado divertido
para as pessoas.
Eu posso ensiná-las de modo que elas se divertem,
e é verdadeiramente a melhor maneira de se aprender.
É assim que eu quase sempre aprendi
quando eu crescia.
Eu nunca fui alguém que conseguia ficar
sentada na sala de aula, e escutar você falando
comigo sobre algo. Eu precisava ser a pessoa
que ficava de pé fazendo algo,
Eu era uma aluna sensível,
eu gostava de estar realmente fazendo a coisa
e imersa nela, pra conseguir entender.
E poder, espero, ser divertida para as pessoas,
enquanto elas aprendem e saem da caixinha
para olhar e pensar de forma diferente,
é tão recompensador.
Então eu total concordo com você.
Eu sempre digo
nós falamos muito na comunidade PPD sobre o
fato que, sabe, nós somos bem
"baixos" na pirâmide de causas,
e das coisas que as pessoas se importam,
ou que discutem sobre, ou que sabem sobre.
Você sempre vê aqueles paineis sobre diversidade,
e é como se tudo fosse mostrado,
exceto deficiência.
E a gente fica tipo, "oi, então, (risos)"
-Oi, tamo aqui, (risos) [Jessica]
-A gente também tá nessa mesa!! [Molly]
-Eu acho que tem tantas marcas
que acham que podem se safar fazendo
o mínimo do mínimo,
quando falamos de representação PPD.
Seja em publis, ou realmente fazendo as coisas acessíveis.
Quantas delas acham,
"ah, uma pessoa na cadeira de rodas e já tá bom!
É isso, representamos toda pessoa PPD,
abordamos todas as necessidades,
Excelente.
Claro que nossa marca é amigável a comunidade
PPD, temos uma rampa!"
E a gente fica tipo, "aham, tô vendo"
E, como você tá ajudando qualquer outra pessoa PPD?
Tipo, pessoas que usam cadeira de rodas só fazem
uma pequena parte da população PPD como todo.
E as pessoas não conseguem entender isso.
E, claro, tendo o símbolo de deficiência como
uma cadeira de rodas. Obviamente, uma maneira
muito visual de comunicar diretamente, mas também
há uma tendência de fazer as pessoas esquecerem
de todo mundo além disso.
-Sim.
Eu não sei se isso tem acontecido na Inglaterra,
mas pelos últimos anos eu estive vendo,
na América do Norte, uma mudança em que
certos lugares estão colocando outros adesivos
que representam outras deficiências, o que é
legal, porque, por exemplo, no transporte
público, como num ônibus, eu preciso sentar.
Não é uma questão, eu preciso conseguir me sentar.
Porque equilíbrio é uma combinação, como eu
tenho certeza que você sabe sendo uma mulher surda,
de audição e visão.
Então, meu equilíbrio, não conseguindo ver,
é bem ausente.
Logo, ficar de pé em um veículo que está em movimento,
mesmo se estiver segurando na barra,
não é realmente uma coisa que me ajude.
Então eu preciso sentar,
e quando eu entro num ônibus, com o meu cão-guia,
as pessoas não percebiam, que tipo,
eu era alguém que precisava do assento preferencial,
e só continuavam sentadas lá.
Mas agora colocaram esses adesivos com tipo,
um cara com uma bengala, uma pessoa numa cadeira
de rodas, tem alguém com um um andador.
E eu fico tipo "brigada por mostrar visualmente
diversas pessoas que podem precisar sentar no
assento preferencial"
-Sim, eu definitivamente vi nos últimos anos
esse tipo de adesivo
"nem todas as deficiências são visíveis"
em muitos lugares públicos
e é tão bom ver isso,
porque eu lembro como foi, meio que
crescer com uma deficiência, mas não era,
vamos dizer, notada, eu não fui diagnosticada
até que eu tivesse 17 anos, aí quando eu tinha
17, de repente eu tive essa grande crise de saúde,
e realmente precisava usar o banheiro especial,
eu precisava ter acesso as coisas.
Eu tive muitos problemas com isso, porque
as pessoas constantemente tentavam me parar
de usar as coisas, falando "ah isso não é pra você,
é pra pessoas PPD", e eu ficava tipo
"Sério, eu sou PPD. Eu não sei o que posso fazer
pra deixar isso mais óbvio pras pessoas,
que eu estou tendo dificuldades e certas
coisas me ajudariam"
Então é incrível ver agora, eu me preocupo
menos sobre usar banheiros especiais em público,
quando eles têm um adesivo de
"nem todas as deficiências são visíveis".
Porque as piadas de mal gosto que eu recebi
saindo de um banheiro especial com dois pés
é tipo "uhh"
-Assim, acho que parte do problema com isso
é como quantas pessoas fisicamente aptas
usam o banheiro que é pra pessoas PPD.
Muitas pessoas fisicamente aptas acabam usando
instalações que foram feitas para pessoas PPD
E, agora, quando eu vejo alguém se apresentando como
não-PPD, as pessoas só meio que assumem que
são não-PPD, por causa de tantas pessoas
fisicamente aptas que tiram proveito
de ter um pouco mais de espaço na cabine,
pra quando estão fazendo cocô,
e não querem que ninguém ouça.
E eu fico tipo, "não é para isso que foi feito,
não é para todas as suas sacolas de compras,
madame, é para pessoas que precisam da
barra de suporte, que precisam do espaço
extra pra um cuidador, um animal de serviço,
pra um aparelho de mobilidade.
Tipo, tem muitas razões pra isso existir,
mas suas compras extras, ou espaço extra
pra cagar, não é pra isso.
-Outra coisa lamentável é também
tantos lugares que colocam o espaço para
trocar o bebê dentro dos banheiros PPD.
E não é tipo, uma mesa especial,
significa que dá pra trocar alguém maior que um bebê,
é literalmente só isso,
porque enfiaram pais, pessoas PPD,
"claro, vocês podem usar o mesmo lugar,
tudo bem, nunca vai precisar porque nunca vai
ter mais que uma pessoa precisando usar o
banheiro ao mesmo tempo"
E eu tive ocasiões em que eu saí do banheiro
e uma mãe bateu o carrinho nas minhas pernas,
e foi tipo "Oh,