Não percebo como é que não dá aulas
nas academias da polícia.
Então acha que foi o Rusk?
É o nosso homem?
Claro. É óbvio.
Ele conhecia tanto a Sra. Blaney
- como a tal Barbara qualquer coisa.
- Sim.
Aí tem, então.
Disse-me que ele é um pervertido.
Por isso é que ficou com as roupas
e as guardou na pasta do Sr. Blaney.
Não temos provas.
É só raciocinar.
Não quer antes dizer intuição?
O que é a tua intuição diz
que vou querer hoje para o jantar?
Bife com batatas assadas.
Mas vais comer
"pied de porc a la mode de Caens".
- Parece uma pata de porco.
- Exatamente.
Fiz o mesmo molho que os franceses
usam para tripa.
Que reconfortante.
Quando é que vais prender
esse tal Mr. Robinson, ou Rusk,
ou seja lá como se chama?
Quando tiver provas.
-Levam mais tempo do que a intuição.
-Quando é que as vais ter?
Dentro de minutos, espero eu, querida.
A sério?
Seu malandro. Conta lá.
Bem...
...sabemos que, se o Rusk é o assassino,
ele foi com a vítima
num camião de batatas.
E como é que sabemos isso?
Alguma vez viste um cadáver
a sair sozinho de um saco fechado?
Para que é que ele havia de querer
tirar o cadáver de dentro do saco?
Estava a procura de alguma coisa, claro.
Como é que sabemos isso?
O cadáver estava em rigor mortis.
Ele teve de partir os dedos
da mão direita para retirar alguma coisa.
(Estalido)
Era tão bom voltar a comer
pão simples nesta casa?
O que achas que era?
Um medalhão? Um broche? Uma cruz.
Tinha que ser algo
que o encriminasse.
Algo que lhe escapu
quando pôs o corpo no camião.
Talvez um lenço com monograma.
Não me parece que fosse uma cruz.
Bem...
Não vejo porque não.
Obsessão sexual e religosa
estão muito próximas.
O que quer que fosse, ele encontrou-o,
o que foi um azar para nós.
Mas tivemos um pouco de sorte.
O caminonista contou-nos
que fez uma paragem durante a viagem
num boteco de estrada
fora de Londres.
- Um boteco de estrada?
É um género de café
frequentado por camionistas, querida.
Servem comida simples,
como sandes de ovo e bacon,
salsichas com puré
e chá ou café.
Porque é que é uma sorte
que ele tenha parado lá?
Não é o facto de ele ter parado,
mas o facto de ele ter parado
apenas uma vez.
O único sítio em que o suspeito pode ter saído
é nesse café.
Mandei lá o Sargento Spearman,
para ver se encontrava alguém
que se lembrasse de ver o Rusk.
Ele deve estar aí a chegar.
Então, come, querido. Deves querer
terminar antes de ele chegar.
Muito bom, muito bom.
Não tem lá muita carne.
Assim não ficas empanturrado, querido.
Vou levar o meu prato
para comer enquanto bato os ovos do soufflè.
(Toque da Campainha)...
- Boa noite, Sargento.
- Boa noite.
- Estou a interromper?
- De modo algum. Entre.
- Obrigado.
- Deixe o chapéu e o casaco no sofá.
Boa noite, Sargento Spearman?
Posso oferecer-lhe uma bebida?
Boa noite, minha senhora.
Eu... não sei...
Deixe lá isso.
Não está de serviço.
E que tal uma Margarita? É delicioso.
Tequila, licor triple sec,
sumo de limão e
sal espalhado na borda do copo.
- Vai adorar.
- Obrigado, minha senhora.
Sargento Spearman, parece ansioso
por aprovação.
- Mais vale deitar cá para fora.
- Sim, senhor.
A mulher que serve ao balcão do café
identificou o Rusk
pela fotografia que lhe mostrei
e lembra-se de vê-lo lá
na noite em que encontraram o corpo.
E há mais.
- Está à espera do rufar dos tambores?
- Não, senhor. Peço desculpa.
A mulher também disse que o Rusk
estava desgrenhado e cheio de pó,
e pediu emprestada uma escova para a roupa.
Está aqui a escova que ela lhe deu, senhor.
Está a ver?
Que acha, Spearman?
Pó de batatas?
Aqui tem, Sargento.
Obrigado.
- Obrigado, minha senhora.
- Ouviste tudo?
- Sim, já te disse. Eu sempre soube.
- Claro.
- Leve isto para análise depressa.
- Com certeza, senhor.
Parece que desta vez
prendemos o homem errado.
Que quer dizer com 'nós'?
Foi você quem o prendeu.
- Pronto, Spearman, pode ir.
- Boa noite, minha senhora.
Não terminou a bebida.
Peço desculpa, mas tenho de levar isto
para análise o antes que possa.
Boa noite, Spearman. Bom trabalho.
- Muito bom trabalho.
- Obrigado, senhor.
Coitado do Mr. Blaney. Tens de o tirar de lá
imediatamente, Tim.
Ele ainda está hospitalizado.
Amanhã de manhã falo com
o assistente do comissário
para reabrir o processo.
Ele não vai gostar, mas há
provas suficientes para um perdão oficial.
Vão compensá-lo de alguma forma?
Devem dar-lhe algum dinheiro,
mas não há compensação
que chegue em casos destes.
Coitado.
Acho que o mínimo que podes fazer
é convidá-lo para um óptimo jantar.
Deixa-me ver.
Vai ter que ser algo substancial.
Talvez um Caneton aux cerises.
- Que é isso?
- Pato
com molho de cerejas.
Depois de toda a comida da prisão,
acho que ele não vai recusar nada.