Ninguém gosta de fazer um erro.
E eu fiz um erro enorme.
Tentar descobrir esse erro,
levou-me a uma descoberta
que alterou totalmente a forma
como pensamos na Terra e na Lua.
Sou cientista planetária
e o que mais gosto de fazer
é fazer colidir planetas.
(Risos)
No laboratório, posso disparar
sobre rochas, usando canhões como este.
(Disparo)
(Risos)
Nas minhas experiências,
posso gerar as condições extremas
durante a formação de planetas.
Com modelos de computador,
posso fazer colidir planetas inteiros
para os obrigar aumentar
ou posso destruí-los.
(Risos)
Quero perceber como fazer
a Terra e a Lua
e porque é que a Terra é tão diferente
dos outros planetas.
A ideia principal para a origem
da Terra e da Lua
chama-se a "teoria do impacto gigante".
Esta teoria afirma que um corpo
do tamanho de Marte
atingiu a Terra, quando jovem,
e a Lua formou-se do disco
de destroços em volta do planeta.
Esta teoria pode explicar
muitas coisas sobre a Lua
mas tem uma falha enorme:
implica que a Lua é feita
sobretudo a partir desse planeta
do tamanho de Marte,
que a Terra e a Lua são feitas
de materiais diferentes.
Mas não é isso que vemos.
A Terra e a Lua são como
gémeas idênticas.
O código genético dos planetas
está escrito nos isótopos dos elementos.
A Terra e a Lua
têm isótopos idênticos.
Isso significa que a Terra e a Lua
são feitas dos mesmos materiais.
É muito estranho que a Terra
e a Lua sejam gémeas.
Todos os planetas são feitos
de materiais diferentes,
por isso todos têm diferentes isótopos,
todos têm o seu código genético.
Nenhum outro corpo planetário
tem a mesma relação genética.
Só a Terra e a Lua são gémeas.
Quando comecei a trabalhar
na origem da Lua,
já havia cientistas que queriam rejeitar
essa ideia do impacto gigante.
Não viam como esta teoria podia
explicar a relação especial
entre a Terra e a Lua.
Estávamos todos a tentar
encontrar novas ideias.
O problema era que não havia
ideias melhores.
Todas as outras ideias
ainda tinham falhas maiores.
Portanto, estávamos a tentar
resgatar a teoria do impacto gigante.
Um jovem cientista do meu grupo
sugeriu que alterássemos a rotação
do impacto gigantesco.
Talvez que, se puséssemos a Terra
a girar mais depressa
pudesse misturar mais materiais
e explicar a Lua.
Tinha-se escolhido um corpo de impacto
do tamanho de Marte
porque isso podia ter criado a Lua
e criado a duração do dia da Terra.
As pessoas gostavam
desta parte do modelo.
Mas e se fosse outra coisa
a determinar a duração do dia da Terra?
Assim, poderia ter havido outros impactos
gigantes que tivessem criado a Lua.
Fiquei curiosa sobre o que
poderia ter acontecido,
por isso tentei simular impactos gigantes
com uma rotação mais rápida
e descobri que era possível
fazer um disco
a partir da mesma mistura
de materiais do planeta.
Ficámos muito entusiasmados.
Talvez fosse essa a forma
de explicar a Lua.
O problema é que também descobrimos
que isso não seria muito provável.
Quase sempre, o disco
é diferente do planeta
e parecia que fazer a Lua desse modo
seria uma coincidência astronómica,
e era difícil aceitarmos a ideia
de que a ligação especial
da Lua com a Terra fosse um acidente.
A teoria do impacto gigante
continuava ameaçada,
e continuámos a tentar perceber
como fazer a Lua.
Então, chegou o dia
em que percebi o meu erro.
Os meus alunos e eu
observávamos as informações
dos impactos gigantes de rotação rápida.
Nesse dia, não estávamos
a pensar na Lua,
estávamos a observar o planeta.
O planeta fica super quente
e vaporiza parcialmente
com a energia do impacto.
Mas os dados não pareciam
os de um planeta.
Parecia realmente estranho.
O planeta estava estranhamente
ligado ao disco.
Eu tenho uma sensação super excitada
quando uma coisa errada
poderá ser uma coisa interessante.
Em todos os meus cálculos,
eu tinha assumido que havia um planeta
com um disco separado à volta.
Calculávamos o que havia no disco
para testar se um impacto
podia criar a Lua.
Mas as coisas já não eram tão simples.
Estávamos a fazer o erro
de pensar que um planeta iria sempre
parecer-se com um planeta.
Naquele dia, percebi
que um impacto gigante
tinha feito uma coisa totalmente nova.
Já tive momentos de "Eureca!",
mas este não foi um deles.
(Risos)
Eu não percebia o que se estava a passar.
Tinha aquele objeto estranho, novo,
à minha frente,
e o desafio de tentar compreendê-lo.
O que é que fazemos
quando enfrentamos o desconhecido?
Como é que começamos?
Questionamos tudo.
O que é um planeta?
Quando é que um planeta
deixa de ser um planeta?
Brincávamos com novas ideias.
Tivemos de pôr de lado
a nossa velha forma de pensar
e, brinca brincando,
abandonei todos os dados,
todas as regras do mundo real
e libertei o meu espírito
para poder explorar.
Abrindo um espaço mental
em que podia tentar ideias extravagantes,
e depois trazê-las ao mundo real
para as testar,
conseguiria aprender.
Brinca, brincando, aprendemos muito.
Combinei as experiências de laboratório
com os modelos de computador
e descobri que, depois da maioria
dos impactos gigantes,
a Terra está tão quente
que não há superfície.
Há só uma espessa camada de gás
cada vez mais densa com a profundidade.
A Terra teria sido como Júpiter.
Não havia nada onde pôr o pé.
E essa era apenas uma parte do problema.
Eu queria perceber o problema total.
Não podia abandonar o desafio
de perceber o que se estava a passar
nos impactos gigantes.
Demorei quase dois anos
a abandonar ideias antigas
e a criar ideias novas
para compreendermos os dados
e perceber o que significam para a Lua.
Descobri um novo tipo
de objeto astronómico.
Não é um planeta,
é feito a partir de planetas.
Um planeta é um corpo
cuja gravidade própria
é suficientemente forte
para lhe dar a sua forma redonda.
Gira sobre si próprio.
Se aquecer e girar mais depressa,
o equador torna-se cada vez maior
até chegar a um ponto crítico.
Passando esse ponto crítico,
o material no equador
transforma-se num disco,
quebrando todas as regras
de ser um planeta.
Deixa de poder girar.
A forma continua a mudar,
vai aumentando de tamanho.
O planeta passa a ser uma coisa nova.
Demos um nome a esta descoberta:
sinestia.
Este nome tem origem na deusa Héstia,
a deusa grega da lareira e do lar,
porque pensamos que foi nisso
que a Terra se transformou.
O prefixo significa "tudo junto",
para sublinhar a ligação
entre todos os materiais.
A sinestia é aquilo
em que um planeta se torna
quando o calor e a rotação o levam
ao limite duma forma esferoide.
Gostavam de ver uma sinestia?
(Aplausos)
Nesta visualização
de uma das minhas simulações,
a jovem Terra já está a girar rapidamente
depois de um impacto gigante anterior.
Está deformada, mas reconhecemos
o nosso planeta
pela água à superfície.
A energia provocada pelo impacto
vaporiza a superfície,
a água, a atmosfera,
e mistura todos os gases
em poucas horas.
Descobrimos que muitos
impactos gigantes criam sinestias,
mas estes objetos brilhantes,
a arder, não vivem muito tempo.
Arrefecem, encolhem,
e voltam a ser planetas.
Quando os planetas rochosos,
como a Terra, estavam a crescer,
provavelmente transformaram-se
em sinestias mais do que uma vez.
Uma sinestia dá-nos uma nova forma
de resolver o problema da origem da Lua.
Propomos que a Lua se formou
no interior de uma enorme
sinestia vaporosa.
A Lua cresceu a partir da chuva de magma
que se condensou
a partir do vapor rochoso.
A ligação especial da Lua com a Terra
justifica-se porque a Lua
se formou dentro da Terra,
quando a Terra era uma sinestia.
A Lua poderá ter orbitado
dentro da sinestia, durante anos,
oculta à vista.
A Lua é revelada quando a sinestia
arrefece e encolhe
dentro da sua órbita.
A sinestia transforma-se
no planeta Terra,
só depois de arrefecer
durante centenas de anos.
Na nossa nova teoria,
o impacto gigante cria uma sinestia
e a sinestia divide-se
em dois novos corpos,
criando a Terra e a Lua
idênticas quanto aos isótopos.
Têm sido criadas sinestias
por todo o universo.
Só percebemos isso
através da nossa imaginação:
que mais me escapa
no mundo à minha volta?
O que está oculto à minha vista
pelos meus pressupostos?
Da próxima vez que olharem para a Lua,
não se esqueçam:
as coisas que julgamos saber
podem ser a oportunidade
de descobrir qualquer coisa fantástica.
(Aplausos)