Olá.
Costumo dizer que gostaria
que as borboletas falassem,
mas recentemente tenho reconsiderado isso;
já temos um mundo barulhento demais.
Já imaginaram se as borboletas
tagarelassem por todo o lado?
Mas gostaria de lhes perguntar uma coisa:
qual é o significado de algumas histórias
que os humanos contam sobre elas?
Porque, em todo o mundo, as culturas
contam histórias e mitologias similares
que dizem que as borboletas
tem a ver com a alma humana.
Algumas culturas afirmam que as borboletas
carregam as almas das crianças
que morreram injustamente ou muito cedo,
outras culturas afirmam que as borboletas
abrigam as almas de nossos ancestrais.
Esta borboleta chama-se Kallima inachus.
De um lado, ela parece borboleta,
do outro lado, parece uma folha.
Ela se dobra como uma folha
para enganar predadores.
Por isso, ora a vemos, ora não,
algo oculto, algo revelado.
Talvez nossas ideias sobre a alma humana
tenham surgido desta borboleta.
Por isso, é possível que borboletas
exerçam uma função sublime
na nossa vida após a morte.
Mas nesta vida, neste mundo, as borboletas
se encontram realmente em sério risco.
Esta é uma mariposa.
A mariposa é parente das borboletas
e costuma voar à noite.
Esta se chama "praedicta",
porque Darwin predisse que ela existe.
Hoje, mais de 60 espécies
de borboletas estão em perigo
ao redor do mundo, mas, mais que isso,
o número de insetos está declinando.
Nos últimos 50 anos, perdemos
cerca de 50% do total de insetos.
Ora, isso é um desastre.
Pode nos impactar de forma mais séria,
mais rápida do que as mudanças climáticas.
Embora as borboletas não façam muito
no ecossistema do qual dependemos,
elas são úteis para outros seres
dos quais nós dependemos.
O mesmo para toda a vida dos insetos,
que está na base dos nossos
sistemas de suporte à vida.
Não podemos perder esses insetos.
A biodiversidade ao redor do mundo
está em amplo declínio.
Perda de habitat, pesticidas, herbicidas
e impactos das mudanças climáticas.
Perda de habitat é muito sério,
e é nisso que precisamos começar
a progredir mais conscientemente.
Esse é o pior momento,
estamos sobrecarregados de problemas.
Esse é também o melhor
momento, há ótimas notícias.
Temos exatamente o que precisamos:
uma plataforma para salvar a natureza,
denominada Ciência Cidadã,
um termo usado para designar
pessoas sem doutorado
que contribuem para a pesquisa científica.
Às vezes é chamada ciência da comunidade
por cumprir o propósito da ciência cidadã,
que é trabalhar em prol do bem comum.
É uma ciência amadora.
Atualmente, vem sendo turbinada
pela ampla capacidade computacional,
pela análise estatística e smartphone,
mas essa prática é antiga,
as pessoas a fazem há muito tempo.
É uma ciência amadora.
Ciência profissional tem suas raízes
na ciência amadora.
Charles Darwin era um cidadão cientista.
Ele não tinha diplomas avançados
e trabalhou somente para si mesmo.
Alguém mostrou a Darwin esta
orquídea estrela de Madagascar,
que tem um esporão de quase 40 cm,
que é a parte da flor que contém o néctar.
Alguém mostrou isso a Darwin e disse:
"Isso prova que a evolução
não ocorre de maneira natural.
Esta flor prova que apenas Deus pode criar
esses seres incrivelmente bizarros,
e de aparência ardilosa na Terra,
pois inseto algum seria capaz
de polinizar flores como essas.
É Deus quem as reproduz".
E Darwin disse: "Não, tenho certeza
de que há um inseto em algum lugar
com uma probóscide longa o suficiente
para polinizar essa orquídea".
Ele estava certo.
Este é o mapa da borboleta-monarca.
Ela tem uma história diferente
daquela mariposa em particular,
mas reflete o mesmo tipo de ideia
fundamental que Darwin teve
chamada coevolução,
que está no centro
de como a natureza funciona,
e no centro do que está acontecendo
de errado com a natureza hoje.
Com o tempo, à medida que a mariposa
desenvolvia uma probóscide mais longa,
a planta expandia seu esporão.
Ao longo de milhões de anos,
planta e mariposa criaram uma relação
que ampliava suas chances de subsistência.
A borboleta-monarca tem um tipo
diferente de relação de coevolução,
e hoje isso está no centro do que está
está dando errado para elas.
Este é o mapa da migração
da borboleta-monarca.
Ela faz algo incrível.
No decorrer de um ano ela
percorre toda a América do Norte.
Ela o faz em quatro ou cinco gerações.
As primeiras gerações vivem
apenas por algumas semanas.
Elas acasalam, põem ovos e morrem.
A geração seguinte surge como borboletas
e dá o próximo passo na jornada.
Ninguém sabe como isso acontece.
Na etapa em que a quinta geração
retorna, e esta vive mais tempo,
elas passam o inverno
no México e na Califórnia.
Quando chegam lá,
essas borboletas estão retornando ao lugar
de onde seus ancestrais partiram,
sem nunca terem estado lá,
muito menos alguém relacionado com elas.
Não sabemos como elas fazem isso.
Sabemos que elas migram assim,
apesar de diversas perguntas sem resposta
sobre a migração da monarca,
graças à ciência cidadã.
Por décadas, as pessoas investigaram
as borboletas-monarca, como
e onde elas podem ser vistas,
contribuindo com essas observações
para plataformas como Journey North.
Este é um mapa de algumas observações
de borboletas fornecidas à Journey North.
Como podem ver, os pontos
escuros estão codificados
conforme o período do ano
em que as observações foram feitas.
Esta enorme quantidade de informações
surge em lugares como a Journey North,
possibilitando a criação de um mapa
desse período ao longo de um ano
com o deslocamento das monarcas.
Ainda graças à ciência cidadã,
entendemos como o total de monarcas
vem sendo reduzido drasticamente.
Nos anos de 1980, quando as borboletas
passaram o inverno aqui na Califórnia,
formaram um total de 4 milhões.
Em 2018, foi um total de 30 mil.
De 4 milhões a 30 mil desde 1980.
Na costa leste, estão um pouco melhor,
mas se reduzindo em número também.
Então, o que faremos quanto a isso?
Organicamente falando, ninguém
pede a ninguém para fazer nada,
pessoas em todo o continente estão
apoiando as borboletas-monarcas.
Para elas, o grande problema é a asclepia.
É outra relação de coevolução.
E aqui vai a história:
a asclepia é uma planta tóxica.
Contém um veneno que evoluiu para
impedir que outros insetos a comessem,
mas a monarca desenvolveu
um tipo diferente de relação,
uma estratégia diferente com a asclepia.
Não apenas toleram a toxina da asclepia,
como retém o veneno em seu próprio corpo,
se tornando venenosa para seus predadores.
As borboletas-monarcas põem
ovos somente nas asclepias,
enquanto as lagartas monarcas
comem somente asclepias,
porque precisam dessa toxina
para criar o que são enquanto espécie.
Por isso, pessoas têm plantado
asclepias por todo lugar no país,
onde temos perdido asclepias
devido à destruição de habitats,
uso de pesticidas, herbicidas e impactos
resultantes de mudanças climáticas.
É possível criar habitat de borboletas e
habitat polinizador em peitoril de janela.
Também podem visitar canteiros locais
para conhecer plantas nativas da região,
e levar para casa algumas plantas bonitas.
A ciência cidadã pode fazer muito mais
do que salvar as borboletas-monarcas.
Ela é capaz de representar em escala
o nível exigido de ações que precisamos
mobilizar para salvar a natureza.
Aqui temos um exemplo,
o "City Nature Challenge",
que é um projeto da Academia
de Ciências da Califórnia
juntamente com o Museu
de História Natural de Los Angeles.
Por quatro anos, City Nature Challenge
tem encarregado cidades mundialmente
para participar da contagem
da biodiversidade delas.
Acumulamos cerca de um milhão
de observações da biodiversidade
coletadas por pessoas de toda
parte desde abril passado.
O destaque deste ano foi a África do Sul,
para o desgosto de San Francisco.
(Risos)
Eles têm muito mais
diversidade do que nós.
É interessante perceber
o que é revelado quando observamos
quais são os recursos naturais
do lugar onde vivemos.
À medida que nos conscientizamos, queremos
viver onde há maior biodiversidade.
A ciência cidadã é um ótimo
instrumento de justiça social
e metas de justiça ambiental.
Para ajudar a alcançá-las, é preciso
levantar dados e elucidar o cenário,
fundamentar o objetivo e atingir
a raiz do problema identificado,
para assim contribuir com a sua solução.
A City Nature Challenge devia
receber um elogio da ONU.
Alguma vez já existiu um esforço
global em favor da natureza
realizado de forma tão coordenada?
Isso é incrível. É fantástico,
realmente um movimento popular.
Conseguimos informações interessantes
sobre borboletas e outros seres
quando realizamos essas "bioblitzes".
A City Nature Challenge trabalha
com uma ferramenta chamada iNaturalist,
considerada a droga de entrada
para a ciência cidadã.
Sugiro que o registro pessoal
seja feito num computador,
e o aplicativo instalado no telefone.
Com o aplicativo iNaturalist é possível
tirar fotos de pássaros, inseto, cobra....
A função de inteligência artificial
e sistema de verificação do aplicativo,
se encarrega de verificar a observação.
O aplicativo mostra a data, a hora
a altitude e a longitude da observação
e fornece a sua localização geográfica.
Essas são as informações,
é a ciência da ciência cidadã.
Esses dados são então compartilhados,
e esse compartilhamento
é a alma da ciência cidadã.
Quando compartilhamos informações,
temos uma ideia muito mais clara
do que está acontecendo.
É impossível analisar toda
a migração da borboleta-monarca
sem compartilhar os dados que vêm
sendo reunidos há décadas,
sem ter uma ideia clara
de como a natureza opera,
por meio da ciência cidadã.
Esta é a borboleta azul Xerces,
que ficou extinta quando perdeu
o seu habitat no parque Golden Gate.
Ela tinha uma relação de coevolução
com uma formiga, mas é uma outra história.
(Risos)
Vou terminar pedindo
que participem da ciência cidadã
de alguma maneira.
É algo incrível e muito positivo
que precisa de um verdadeiro
exército para realmente funcionar.
Só quero acrescentar que as borboletas
devem ter problemas enormes
mesmo sem carregarem almas humanas por aí.
(Risos)
Mas há muito o que não sabemos, não é?
E o que todas essas histórias nos contam?
Talvez tenhamos coevoluído
nossas almas com as borboletas?
Certamente, estamos ligados às borboletas
mais profundamente do que sabemos,
e o mistério da borboleta jamais
será revelado se não as salvarmos.
Então, por favor, juntem-se a mim
para ajudar a salvar a natureza agora.
Obrigada.
(Aplausos)