Gostava que todos fechassem os olhos... e se imaginassem sentados no meio de um grande campo aberto com o sol a pôr-se à vossa direita. Imaginem que, quando o sol se põe, hoje à noite, não vêem só as estrelas a aparecer, mas ouvem as estrelas a aparecer sendo as estrelas mais brilhantes as notas mais altas e as estrelas mais quentes e mais azuis a produzirem notas agudas. (Música) Como cada constelação é constituída por diferentes tipos de estrelas, cada uma vai produzir a sua própria melodia, como, por exemplo, a de Carneiro. (Música) Ou a de Orionte, o caçador. (Música) Ou até a de Touro. (Música) Vivemos num universo musical, e podemos usar isso para vivenciá-lo através de uma nova perspectiva, e partilhar essa perspectiva com um número maior de pessoas. É isto que quero dizer. Quando digo às pessoas que sou astrofísico, elas ficam muito impressionadas. Depois digo que também sou músico — todos dizem: "Ah, já sei". (Risos) Então, parece que todos sabem que há uma grande ligação entre a música e a astronomia. É uma ideia bastante antiga; remonta a Pitágoras com mais de 2000 anos. Talvez conheçam o Pitágoras de teoremas como o teorema de Pitágoras. (Risos) Ele disse: "Há geometria no soar das cordas, "há música no espaçamento das esferas." Ele pensava, literalmente, que o movimento dos planetas pela esfera celeste criava uma música harmoniosa. Se lhe perguntassem: "Porque não ouvimos nada?" ele diria que não ouvimos porque não sabemos o que é não a ouvir; não conhecemos o silencio genuíno. É só depois de não termos electricidade que ouvimos como o frigorífico é tão irritante. Talvez acreditem, mas nem todos acreditavam, incluindo nomes como Aristóteles. (Risos) Palavras exactas. (Risos) Parafraseando as palavras exactas. Parecia-lhe uma boa ideia, mas se algo tão amplo e vasto como o firmamento se mexesse e fizesse sons, não seria apenas audível, seria esmagadoramente alto. Nós existimos, logo não há música das esferas. Ele também pensava que o único propósito do cérebro era esfriar o sangue, portanto... (Risos) Gostava de vos mostrar que ambos estavam certos, à sua maneira. Vamos começar por compreender o que faz a música musical. Pode parecer uma pergunta tonta, mas já pensaram porque é que certas notas, quando tocadas juntas, soam relativamente agradáveis ou consonantes como estas duas. (Duas notas) Enquanto outras são mais tensas ou dissonantes, como estas as duas. (Duas notas) Não é? Porquê? Porque há notas sequer? Porque estamos ou não em sintonia? Bem, a resposta a esta pergunta foi resolvida por Pitágoras. Vejam a corda mais à esquerda. Se puxarem essa corda, ela produz uma nota, ao oscilar rapidamente para a frente e para trás. (Nota musical) Mas se cortarem a corda ao meio, ficam com duas cordas, cada uma oscilando duplamente mais depressa, produzindo assim uma nota relacionada. Ou três vezes mais depressa, ou quatro vezes (Notas progressivas) O segredo da harmonia musical são no fundo proporções simples: quanto mais simples for a proporção, tanto mais agradáveis ou consonantes estas duas notas vão soar. Quanto mais complexa for a proporção, mais dissonantes irão soar. É esta interacção entre a tensão e a libertação, ou entre a consonância e a dissonância, que faz aquilo a que chamamos música. (Música) (Aplausos) Obrigado. (Aplausos) Mas há mais. (Risos) As duas características da música a que chamamos altura e ritmo, são na verdade duas versões da mesma coisa, e posso mostrar-vos. É um ritmo, certo? Vejam o que acontece quando aceleramos. (Som a acelerar) (Tom a decrescer) Então quando um ritmo se repete mais de 20 vezes por segundo, o cérebro passa-se. Deixa de o ouvir como um ritmo e começa a ouvi-lo como um tom. Então qual é a ligação à astronomia? É aí que chegamos ao sistema TRAPPIST-1. Este sistema de exoplanetas foi descoberto em Fevereiro de 2017, e todos ficaram excitados porque são sete planetas similares à Terra a orbitar uma estrela anã vermelha. Pensamos que três dos planetas têm a temperatura certa para água líquida. Está tão perto que, nos próximos anos, devemos conseguir detectar elementos nas suas atmosferas como o oxigénio e metano — sinais potenciais de vida. Mas o sistema TRAPPIST é minúsculo. Aqui temos as órbitas dos planetas rochosos interiores do nosso sistema solar: Mercúrio, Vénus, Terra e Marte. Os sete planetas do tamanho da Terra do TRAPPIST-1 cabem bem dentro da órbita de Mercúrio. Tenho de expandir isto 25 vezes para verem a órbita dos planetas do TRAPPIST-1. O tamanho é muito mais similar ao nosso planeta Júpiter e às suas luas, embora sejam sete planetas do tamanho da Terra, a orbitar à volta de uma estrela. Outro aspecto que deixou todos excitados foram interpretações artísticas como esta. Há alguma água líquida, algum gelo, talvez alguma terra, talvez possam ir dar um mergulho neste incrível pôr-do-sol. Todos ficaram excitados. Uns meses depois, saíram alguns artigos que disseram que o aspecto seria mais como este. (Risos) Havia sinais de que algumas das superfícies poderiam ser lava derretida e que havia raios X danosos a emanar da estrela central, raios X que vão esterilizar a superfície da vida e até eliminar atmosferas. Felizmente, há uns meses, já em 2018, foram publicados novos artigos com medições mais apuradas, e descobriram que o aspecto será mais deste género. (Risos) Agora sabemos que vários deles têm grandes reservas de água — oceanos globais — e alguns deles têm atmosferas espessas. Então, é o local correcto para procurar potenciais sinais de vida. Mas há algo ainda mais excitante acerca deste sistema, especialmente para mim. É o facto de o TRAPPIST-1 ser uma cadeia ressonante. Significa que, por cada duas órbitas de um planeta exterior, o seguinte orbita três vezes, o seguinte quatro vezes e depois 6, 9, 15 e 24 vezes. São proporções muito simples entre as órbitas destes planetas. Se acelerarmos o movimento dele, obtemos ritmo, não é? Uma batida por cada vez que um planeta dá a volta. Agora sabemos que, se acelerarmos ainda mais o movimento, produzimos tons musicais. Neste caso em particular, esses tons trabalham juntos, criando uma harmonia quase humana. Então vamos ouvir o TRAPPIST-1. A primeira coisa que vão ouvir é uma nota por cada órbita de cada planeta, e lembrem-se que esta música vem do próprio sistema. Não estou a criar tons ou ritmos, estou apenas a adaptá-los à capacidade de audição humana. Depois dos sete planetas terem entrado, vão ver — bem, vão ouvir um rufar cada vez que dois planetas se alinham. Isto é quando eles se aproximam uns dos outros e dão um puxão gravitacional uns aos outros. (Uma nota) (Duas notas) (Três notas) (Quatro notas) (Cinco notas) (Seis notas) (Sete notas) (Som de tambor) Este é o som da estrela — a sua luz convertida em som. Poderão perguntar-se como é que isto é possível. É bom pensar na analogia de uma orquestra. Quando todos se juntam para tocar numa orquestra, não podem começar logo, não é? Têm de se sintonizar; têm de se assegurar que o seu instrumento está alinhado com o do vizinho. Algo similar aconteceu com o TRAPPIST-1 no início da sua existência. Quando os planetas se estavam a formar estavam a orbitar num disco de gás. Dentro desse disco, eles podem deslizar e ajustar a sua órbita à dos vizinhos até estarem completamente sintonizados. Ainda bem que o fizeram porque este sistema é muito compacto — muita massa num espaço apertado. Se nem todos os aspectos das órbitas estivessem sintonizados, iriam rapidamente perturbar as órbitas uns dos outros, destruindo todo o sistema. Então, é a música que está a manter vivo o sistema e os seus potenciais habitantes. Qual é o som do nosso sistema solar? Odeio ter de ser eu a mostrar-vos isto mas não é bonito. (Risos) Por uma razão. O nosso sistema solar está numa escala bem maior. Portanto, para ouvirmos os oito planetas, temos de começar com Neptuno no fim do nosso alcance auditivo, e depois Mercúrio fica bem lá em cima no topo do nosso alcance auditivo. Como os nossos planetas não são muito compactos — estão muito espalhados — não tiveram de se ajustar às órbitas uns dos outros, estão todos a tocar uma nota aleatória ocasionalmente. Por isso, desculpem, mas aqui está. (Nota) Isto é Neptuno. (Duas notas) Urano. (Três notas) Saturno. (Quatro notas) Júpiter. E ali no meio, Marte. (Cinco notas) (Seis notas) Terra. (Sete notas) Vénus. (Oito notas) E este é Mercúrio. Ok, ok, vou parar. (Risos) Este era o sonho de Kepler. Johannes Kepler foi a pessoa que desvendou as leis do movimento planetário. Ele estava fascinado pela ideia de haver uma ligação entre a música, a astronomia e a geometria. Ele gastou um livro completo para procurar uma harmonia musical entre os planetas do sistema solar e foi muito, muito difícil. Seria muito mais fácil se ele tivesse vivido no TRAPPIST-1 ou então... no K2-138. Este é um novo sistema descoberto em Janeiro de 2018 com cinco planetas. Tal como o TRAPPIST, estavam todos sintonizados no início da sua existência. Estavam sintonizados numa estrutura proposta pelo próprio Pitágoras, há mais de 2000 anos. Mas deram o nome do Kepler ao sistema, que foi descoberto pelo telescópio espacial Kepler. Nos últimos mil milhões de anos, eles perderam a sua sintonia, um pouco mais do que o TRAPPIST. Por isso vamos voltar atrás no tempo e imaginar como eles teriam soado quando se estavam a formar. (Várias notas repetidas) (Música) (Música termina) (Aplausos) Obrigado. Agora poderão estar a pensar: até onde vai isto? Quanta música há no espaço? Pensei nisso no Outono do ano passado quando trabalhava no planetário da Universidade de Toronto. Fui contactado por uma artista chamada Robyn Rennie e pela sua filha Erin. Robyn adora o céu nocturno, mas já não o vê há 13 anos devido à perda de visão. Elas perguntaram se havia algo que eu pudesse fazer. Juntei todos os sons do universo que consegui e integrei-os no que se tornou "O Nosso Universo Musical". É um espectáculo de planetário baseado em sons explorando o ritmo e a harmonia do cosmos. A Robyn ficou tão emocionada com a apresentação que, quando chegou a casa, pintou esta deslumbrante representação da sua experiência, que eu estraguei ao pôr Júpiter no póster. (Risos) Então... neste espectáculo, levo pessoas de todos os níveis de visão numa viagem auditiva do universo, do céu nocturno até ao fim do universo observável. Isto é apenas o início de uma odisseia musical para vivenciar o universo com uma nova visão e audição. Espero que se juntem a mim. Obrigado. (Aplausos)