Você já conhece um pouco sobre o mercado audiovisual, sobre as produções cinematográficas, sobre as produções televisivas e até mesmo sobre os serviços de streaming. Na prática, o profissional de produção executiva possui um papel e peso diferente, seja nas produções cinematográficas, nas televisivas e até, mais recentemente, nos serviços de streaming. Aqui no Brasil, tanto no cinema quanto na televisão, a figura do produtor é de um incorporador, é aquele que vai conseguir administrar os recursos para levantar uma obra audiovisual. É ele também que será o responsável pela comercialização de direitos de toda a parte jurídica. Vamos pegar o exemplo aqui no Brasil da produção de "Cidade de Deus" e "Cidade dos Homens". Os dois produtos, foram realizados pela O2 Filmes e tiveram à frente Fernando Meirelles e Bel Berlinck. O Fernando Meirelles é um diretor, e a Bel Berlinck, que junto com Andrea Barata Ribeiro, são as produtoras executivas da O2 Filmes. Bom, dois produtos diferentes, no caso, "Cidade de Deus" foi um produto para o cinema e o "Cidade dos Homens" para a televisão. Essa negociação foi feita de forma diferente, junto com a Rede Globo, ou seja, um produto auxiliou o outro, mas em produções diferentes, em pesos diferentes e até mesmo a forma de executar de maneira diferente. É interessante pensar que, apesar de ser a mesma produtora, eles tiveram que tratar cada produto de uma forma isolada. No cinema, é muito comum que essas funções da produção executiva sejam partilhadas também com as distribuidoras. Já na televisão, o cargo de produção executiva tem essas responsabilidades, ou seja, ele executará do começo ao fim. Isso ocorre principalmente devido ao fato de que as produções audiovisuais brasileiras para a televisão fechada são produzidas e financiadas, em sua grande maioria, por canais estrangeiros. Então, a negociação fica mais complicada. E aí aqui no Brasil, quando pensamos em televisão, negociar isso com os canais, quem vai ter esse papel é o produtor executivo. Normalmente, na televisão aberta, nós temos um modelo de produção horizontal, onde todas as etapas são realizadas pela própria emissora. No caso das televisões fechadas, nós temos uma produção mais vertical, onde temos as produtoras que realizam o processo de criação e de execução, ou seja, de toda a etapa de pré-produção e produção e depois as emissoras fechadas entram com a parte de veiculação. Novamente é o produtor executivo que vai negociar com essas emissoras, pegando o exemplo do "Cidade de Deus" e "Cidade dos Homens", a O2 Filmes, através das suas produtoras executivas, negociaram para que fosse feita a exibição junto à televisão e também que tivessem uma negociação junto à Globo Filmes para financiar o filme, uma das formas de financiamento do filme. E depois também da distribuição desse filme para outras plataformas. Hoje, um dos grandes sonhos dos produtores audiovisuais é emplacar um grande sucesso no serviço de streaming, seja na Netflix, seja na Amazon, HBO Max, não importa, quem vai negociar com esses serviços de streaming é o profissional da produção executiva. É esse profissional também que fica atento a essas demandas. Ou seja, esse profissional que vai ficar atento com que esses serviços estão procurando. Vamos pegar o exemplo da série "Marielle", que foi desenvolvida pela Globoplay. O fato de a vereadora Marielle ter sido assassinada e toda a repercussão que teve em cima deste caso gerou também um interesse por parte do público. É óbvio também que essa história começou a gerar o interesse para se fazer um documentário. E aí começa a negociação, por qual canal será feito este documentário, quem vai exibir? Então, várias empresas, ou seja, Netflix, HBO, Amazon, Globoplay procuraram a família da Marielle para se fazer uma produção sobre a história dela. E aí, no caso, foi feita pela Globoplay. O produtor executivo, então, vai tomar a frente e vai negociar com a família, os direitos e também toda a parte de pesquisa para levar para o serviço de streaming, e aí nós sabemos o resultado, que foi um grande sucesso. Um outro exemplo é a minissérie documental "Pacto Brutal", produzida pela HBO Max e que teve como produtora executiva Tatiana Issa. A história é sobre o assassinato da atriz Daniella Perez, se passa nos anos 1990 e teve essa negociação entre a Tatiana Issa e a família da Daniella Perez, principalmente com a mãe, a Glória Perez. Durante muito tempo se cogitou de fazer documentários ou até mesmo um filme, minisséries sobre este caso, mas a Glória Perez nunca autorizou. Depois de uma negociação com a Tatiana, a Glória Perez se sentiu à vontade para apresentar todo o seu acervo e apresentar as versões, esclarecer diversos fatos que ficaram pouco esclarecidos na mídia. O sucesso dessa minissérie se deve principalmente ao papel da produtora executiva Tatiana Issa, que conseguiu finalizar o projeto e, ao mesmo tempo, preservar a imagem da atriz Daniella Perez. E também conseguiu ter a colaboração da novelista Glória Perez para levar ao público uma história tão sensível.