O reinado de Augusto marcou o início de um dos maiores impérios da História e o fim de uma das primeiras repúblicas. O primeiro imperador de Roma foi um chefe visionário que garantiu o lugar da sua civilização na História, ou um tirano que destruiu os seus valores fundamentais? Descubram-no em "A História contra Augusto". Ordem! Ordem! O réu de hoje é Caio Otávio? Caio Júlio César/Augusto. Temos o homem errado? Não, Meritíssimo, Caio Otávio, nascido em 63 a.C., era sobrinho-neto de Júlio César. Passou a chamar-se Caio Júlio César depois de ser nomeado filho adotivo e herdeiro do tio-avô. Conquistou o título de Augusto em 27 a.C. quando o Senado lhe concedeu honras adicionais. Ou seja, quando ele instituiu uma autoridade única e se tornou imperador de Roma. Isso é mau? Nessa época, não havia reis ou imperadores por todo o lado? Na realidade, Meritíssimo, o povo romano tinha derrubado os seus reis séculos antes para instituir uma república, um governo destinado a servir o povo, e não o privilégio de uma família dirigente. Foi Otávio quem destruiu essa tradição. Otávio foi um funcionário público modelo. Aos 16 anos, foi eleito para o Colégio dos Pontífices que supervisionava a adoração religiosa. Combateu por Roma na Hispânia juntamente com o tio-avô César e assumiu a responsabilidade de vingar a morte de César quando os oligarcas corruptos do Senado o traíram e o assassinaram. César tinha sido um tirano sedento de poder que tentara ser rei casando com a rainha Cleópatra do Egito. Depois da sua morte, Otávio juntou-se ao seu general Marco António iniciando uma guerra civil que dividiu Roma, depois apunhalou o seu aliado pelas costas para reforçar o seu poder. António era louco. Travou uma campanha desastrosa na Pártia e conspirou para transformar os territórios romanos em reinos pessoais para si mesmo e para Cleópatra. Não foi disso que César foi acusado? Bom... Então, Otávio destruiu António por ele tentar ser rei e depois tornou-se rei? Foi assim mesmo. Vemos a sua megalomania até no título que adotou: "O Ilustre". Era um título honorífico religioso. Augusto não procurava o poder para si mesmo. Como vencedor na guerra civil e comandante da maior parte das tropas, era seu dever repor a lei e a ordem em Roma, para que as outras fações não continuassem a lutar. Não repôs lei nenhuma — subordinou-a a ele. Não é verdade. Augusto fez tudo para devolver o prestígio ao Senado, melhorou a segurança alimentar das classes mais pobres, e abdicou do controlo do exército quando se demitiu do cargo de cônsul. Isso foi só cosmética. Usou a sua influência militar e riqueza pessoal para conquistar os favores do Senado, enquanto mantinha os poderes de um tribuno e o direito de festejar triunfos militares. Manteve o controlo das províncias com a maior parte das legiões. E, como se isso não bastasse, assumiu a posição de cônsul mais duas vezes, para promover os netos. Estava nitidamente a tentar instituir uma dinastia. Mas o que é que ele fez com todo esse poder? Ainda bem que pergunta, Meritíssimo. As ações de Augusto são tantas que é difícil referi-las a todas. Instituiu uma tributação consistente em todas as províncias, acabando com a exploração privada dos funcionários fiscais locais. Financiou pessoalmente uma rede de estradas e utilizou mensageiros de modo a que as notícias e as tropas viajassem facilmente por todo o reino. Foi com Augusto que foram construídos muitos dos famosos edifícios públicos de Roma. Os escritores da época foram quase unânimes nos elogios ao seu governo. Será que os escritores tinham alternativa? Augusto exilou muita gente com acusações vagas, incluindo Ovídio, um dos maiores poetas de Roma. E esqueceu-se de referir as leis abusivas em relação à vida pessoal dos cidadãos punindo o adultério, restringindo o casamento entre classes sociais, e penalizando mesmo quem se mantivesse solteiro. Estava a tentar melhorar a cidadania e a instaurar disciplina. E conseguiu. O seu legado fala por si. Quarenta anos de estabilidade interna, um exército profissional que expandiu as fronteiras de Roma em todas as direções e um governo ainda recordado como um modelo de virtude cívica. O seu legado foi um império que iria travar guerras de conquista sem fim, até ao seu colapso final, e uma tradição de autocracia militar. Sempre que um ditador com uniforme de general pratica atrocidades afirmando agir em nome do "povo", temos que agradecer a Augusto César. Então, você está a dizer que Augusto foi um bom imperador e você esta a dizer que não foi nada? Estamos habituados a festejar líderes históricos pelas suas façanhas e vitórias. Mas questionar se um indivíduo deve ter tanto poder é fazer o julgamento da própria História.