O ancião homo sapiens caminha
com dificuldade na direção da fogueira.
As crianças se reúnem à sua volta
e se sentam em silêncio.
Estão ansiosas para ouvir
o caçador mais famoso da tribo.
Ele deseja transmitir seu conhecimento.
Limpa a garganta...
e começa.
Há 25% de probabilidade
de se encontrar predadores perto do rio.
Os felinos de grande porte correm
50% mais rápido que os humanos.
As árvores dobram o tempo de vida
de caçadores indefesos.
Pobres crianças... Vocês acham
que vão se lembrar de alguma coisa?
Já estiveram numa situação
em que morreram de tédio
durante uma apresentação?
E aquele pobre caçador?
Ele passou a vida toda aprimorando
as habilidades de caçador
e horas incontáveis naquele PowerPoint.
E, no entanto, sua experiência
vai morrer com ele,
pois não conseguiu comunicá-la.
Se vocês já estiveram
numa situação parecida,
na qual tentaram ensinar algo para alguém,
mas a pessoa não conseguia
se lembrar de nada, digam: "Sim".
Plateia: Sim.
Tomas Pueyo: Se já tentaram
convencer alguém de alguma coisa
com argumentos, com a razão,
mas a pessoa não ouve a razão
nem os argumentos, digam: "Sim".
Plateia: Sim.
TP: Isso já aconteceu com todo mundo.
Não basta estarmos certos.
Precisamos ser capazes de nos comunicar,
e, para isso, os fatos e a razão
não são suficientes.
É por isso que os palestrantes
mais famosos do TED
passam somente 25% da palestra
falando sobre fatos
e os outros 65% contando histórias.
E estão certos.
As histórias são de duas a dez vezes
mais memoráveis que os fatos.
Vou repetir porque acabei de contar
um fato, o que não é muito memorável.
As histórias são de duas até dez vezes
mais memoráveis que os fatos isolados.
E é por isso que os livros mais influentes
contém uma série de histórias
que deram origem
às principais religiões do mundo.
As histórias são poderosas.
Então por que não as usamos mais
no nosso dia a dia para nos comunicar?
Devíamos usá-las o tempo todo,
mas na verdade, usamos os fatos, a razão.
E acho que há dois motivos para isso.
Primeiro: não sabemos muito bem
por que as histórias são tão cativantes.
Somos animais racionais.
Usamos os fatos todo dia.
Não podemos continuar assim?
E segundo:
não sabemos muito bem
como criar histórias com facilidade.
Tenho me feito essas
duas perguntas a vida toda.
Meu pai é cineasta.
Sempre conversamos
sobre histórias lá em casa.
Estudei um pouco de roteiro na faculdade
e até mesmo escrevi um livro
sobre estrutura narrativa.
Isso me ensinou a construir histórias,
mas não o porquê de serem cativantes.
A resposta me ocorreu
por meio do meu trabalho.
Tenho de ler muito sobre neurociência,
e a neurociência das histórias
é "doida".
Então vou contar a vocês,
mas em vez de apenas contar,
vamos fazer um experimento, certo?
Conforme falo sobre
a neurociência das histórias,
quero que analisem o que acontece
no seu cérebro, certo?
Certo, vamos lá.
Se eu disser "movimento bípede",
em que vocês pensam?
Em andar. Certo.
Em geral, o cérebro tenta
decifrar as palavras,
talvez encaixá-las...
Algumas partes do cérebro são ativadas.
Partes diferentes para cada um.
Vocês tentam decifrar
as palavras, imaginá-las...
E é difícil.
Se, em vez disso, eu falar
sobre um grupo de mulheres correndo.
Elas estão pisando firme no chão,
com toda força, os músculos tensionados,
o vento soprando em seus rostos...
Notaram alguma coisa?
Foi diferente, não é?
O que aconteceu no cérebro de vocês?
A parte do cérebro
que os faria correr no mundo real
foi ativada.
E a parte do cérebro que os faria
sentir o vento sobre a pele, também.
O cérebro não sabe a diferença
entre ouvir uma história
e vivenciar a experiência de fato.
É muito doido!
É como a realidade virtual:
um mundo virtual é criado
e o cérebro não sabe a diferença
entre o mundo real e o virtual.
E se eu falasse sobre três meninos maus,
que estão perseguindo vocês de bicicleta
e querem machucá-los.
Vocês tentam fugir, mas não conseguem
porque são deficientes.
Andam o mais rápido que podem
e afinal se livram deles!
E conseguem correr!
O que aconteceu no cérebro de vocês?
Sentiram-se mais envolvidos?
Como se estivessem dentro da história?
É isso mesmo que aconteceu no seu cérebro.
Parece que vocês estavam lá,
porque sua atividade cerebral
é igual à do personagem principal.
Na verdade, a atividade cerebral
é a mesma para todos nós: vocês, eu...
Ao contar uma história, pude
comunicar "telepaticamente"
o que acontecia no meu cérebro.
É empatia pura.
Toda essa atividade cerebral
é o que torna as histórias memoráveis.
E grava-as no seu cérebro.
Logo, o que é uma história,
pela perspectiva da neurociência?
Uma máquina de empatia.
Um instrumento que permite
entrar na mente de outra pessoa
e ter as mesmas experiências,
os mesmos pensamentos
e os mesmos sentimentos.
Muito bacana, não é? Não é?!
Plateia: Sim!
TP: Por isso as histórias são poderosas,
e precisamos saber como usar a empatia
para criar boas histórias.
Se vocês perguntassem
a Aristóteles, 2 mil anos atrás,
ele falaria sobre os três atos
de uma história: começo, meio e fim.
Mas nunca achei isso muito revelador.
Precisamos de mais detalhes
para poder criar histórias.
Então vocês podem seguir essa receita,
mas não vou contar, vou mostrar pra vocês.
Dois avisos:
vou dar alguns "spoilers"
sobre filmes clássicos.
Se ainda não assistiram,
deveriam ter vergonha,
e este vai ser o castigo de vocês.
Segundo: vai ser bem rápido, certo?
Agarrem-se às suas poltronas...
Prontos? Certo, vamos lá!
(Vídeo) (Música do início do Rei Leão)
TP: No começo, temos o mundo comum.
É o mundo do personagem principal.
O mundo normal.
Mas tem algo... estranho nele.
Alguma coisa não parece muita certa.
Até que de repente...
(Batidas)
Há um acontecimento que incita tudo.
Um episódio no começo da história
altera o mundo do personagem principal.
Mas ele não sabe
lidar com aquela informação.
Hagrid: Você é um mago, Harry.
TP: É aí que entra o mentor!
Ele vai fazer o personagem principal
encarar o acontecimento que provoca tudo,
e parar de fugir.
Ele o levará para longe do mundo comum,
até atravessar o limiar
para o mundo extraordinário.
Um mundo mágico...
Um mundo novo e completamente diferente
do mundo comum que ele conhecia.
Onde ele encontrará novos aliados...
Aliens: Ahhh!
Buzz: Saudações!
TP: Novos inimigos,
e começará a enfrentar
novos testes e desafios.
Até que de repente...
Bum!
Há o "ponto central".
Um evento bem no meio
que muda toda a história,
porque muda a maneira
como o personagem vê o mundo.
Ele vê que estava errado, mas não sabe
como lidar com essa nova informação!
Ele está frágil, reflexivo.
E os inimigos tiram vantagem
dessa fragilidade para se aproximar...
Eles o ameaçam.
E o cercam.
E é então que atacam!
Há a crise.
O ponto mais baixo da história.
Um momento de morte...
de perda...
O personagem principal está derrotado
e percebe que precisa mudar algo.
E há o retorno.
Ele volta revigorado.
E vai enfrentar o inimigo mais uma vez.
Mas ele mudou,
e consegue ter mais sucesso que antes.
E agora, ele vence.
Nós vemos o resultado:
ele volta para o mundo comum,
de onde veio, mas ele está diferente.
Graças a isso, ele venceu
e recebe sua recompensa.
(Fim do vídeo)
Essa é a estrutura das histórias, certo?
Acabamos?
Não.
Parece bastante intuitivo, não é?
De jeito nenhum!
Pergunte a outro escritor e ele dirá:
"Esqueça aquela receita,
você deveria seguir esta aqui.
A outra tem muita coisa errada!"
Pergunte a outro escritor e ele dirá:
"Oi? Histórias não têm três atos.
Têm cinco, ou seis, ou oito..."
Ou 22...
Ou 31!
Na verdade, há centenas
de receitas para se criar histórias
e nenhuma delas é igual.
O debate pode ser bom, se você
estiver escrevendo um livro ou um filme...
Mas quando só precisamos
de uma receita que seja fácil de seguir,
para criar histórias para o dia a dia,
precisamos de algo que seja
mais simples, mais fundamental.
E se as histórias não fossem lineares,
e sim circulares?
No sentido de que o começo e o fim
estejam conectados.
Depois de passarmos pelo mundo
e aventura extraordinários,
voltamos para o mundo comum.
E devido aos contrastes,
podemos identificar as diferenças.
Podemos perceber isso,
por exemplo, em "O Rei Leão".
O filme começa com o nascimento de Simba,
e depois de ele passar
por todo o ciclo da vida,
termina com o nascimento de seu filho.
Vemos isso em "Doze anos de escravidão",
que começa com um grupo de negros escravos
e termina com um grupo de negros livres.
E em "Gravidade",
que começa com uma mulher
sozinha no espaço, olhando a Terra
e termina com a mesma mulher
sozinha na Terra, olhando para o espaço.
Vemos isso em "Mad Men":
no primeiro episódio
da primeira temporada,
Don Draper está infeliz,
mas termina uma campanha
publicitária muito difícil.
E, no final, sete anos depois,
no último episódio,
ele termina uma campanha muito difícil
de novo, mas, dessa vez, está feliz.
Em "O poderoso chefão",
que começa com um casamento
e termina com um funeral.
É possível notar a estrutura
do começo, do fim e do círculo.
E a mesma coisa acontece logo depois,
com o "problema" e a "solução",
o acontecimento que gera tudo e o clímax.
Por exemplo, voltando
para "O poderoso chefão",
no começo Michael Corleone diz:
"Minha família é de criminosos,
mas eu não sou como eles".
O que ele quer dizer é:
"Para mim, a honestidade e a civilidade
são mais importantes que a família".
Quando o filme termina,
ele matou todos os inimigos da família
e mente na cara da esposa,
ou seja, prioriza a família
em vez da honestidade e civilidade.
Você pode notar essa imagem espelhada.
A mesma coisa acontece em "Toy Story",
no começo do filme, Buzz aterrissa
e desafia a liderança de Woody.
E no final da história,
eles são amigos e dividem a liderança.
Esse padrão do qual estou falando
acontece por toda a história.
A primeira metade explora o problema
e a segunda metade explora a solução.
Por isso, numa história como "Matrix",
podemos ver cena após cena
da primeira metade
espelhada na segunda.
É muito doido!
Eles pegaram a primeira metade do filme
e revisitaram cada cena na segunda metade,
espelhando-as.
Agora vocês entendem
a estrutura das histórias, certo?
A primeira metade espelha
a segunda; há uma simetria.
E sempre que há duas metades,
elas têm de se conectar em algum ponto.
Esse é... o "ponto central".
É o evento principal de uma história,
pois traz o entendimento
para resolver o problema.
Em "O poderoso chefão", é na primeira vez
em que Michael Corleone mata,
priorizando, assim, a família
em vez da civilidade.
E ele adora!
Em "O Rei Leão" é quando Mufasa,
o rei leão, morre
e seu filho percebe
que não pode mais ser um moleque.
No fim, ele terá de crescer
e se tornar o rei leão.
Em "Toy story" é quando Buzz e Woody
são sequestrados e percebem
que, se não pararem de brigar,
vão acabar morrendo.
Em "O despertar da força" é quando Rey
toca no sabre de luz e percebe
que também pode ser uma jedi.
Essa é a estrutura das histórias,
e nota-se que se parece com um círculo.
A "estrutura circular".
E essa estrutura está em todo lugar,
não somente nos filmes que contei.
Está em "Hamlet", em "Macbeth"...
na maioria das peças de Shakespeare.
E até mesmo antes...
Em Beowulf, o primeiro épico em inglês
tem uma estrutura circular.
Mais cedo ainda? E a vida de Buda?
E podemos falar não só
de histórias, mas de sagas.
Por exemplo, cada trilogia
"Star Wars" é um "círculo".
E os primeiros seis filmes
também são um círculo.
Cada livro do "Harry Potter" é um círculo.
Todos os sete juntos são um círculo.
E isso também acontece no nível micro:
numa boa história, cada ato, cada cena,
é um círculo.
Por que essa estrutura está em todo lugar?
Por que a encontramos em todo lugar?
Será que há algo fundamental nela?
Bem, essa é a estrutura
da resolução de problemas.
Você estabelece o problema.
Explora o problema.
Traz o entendimento
para resolver o problema.
Explora o entendimento... e o soluciona.
As histórias solucionam problemas.
Então estou dizendo que as histórias
solucionam os problemas,
e há cinco minutos disse
que são máquinas de empatia, certo?
Como juntar essas duas coisas?
As histórias são uma forma
de entrar na mente dos outros
para saber como solucionamos os problemas.
Ou seja,
as histórias são uma forma
de aprendizado.
Há centenas de milhares de anos,
os Homo sapiens não eram
os mais fortes, nem os mais rápidos,
mas eram os melhores
na solução de problemas.
Aqueles que mais gostavam de histórias,
conseguiam resolver mais problemas.
Sobreviviam mais tempo, conseguiam
ter mais filhos e propagar seus genes.
E foi assim que evoluímos
gostando de histórias,
porque elas nos ensinam.
Vejam bem, aquele caçador nunca teria
compartilhado aqueles tópicos, certo?
Ele teria dito:
"Ah, um dia, quando eu era da sua idade,
fiquei com fome e fui caçar na floresta.
Quando me aproximei do rio, vi um leão,
e o leão me viu.
Então comecei a correr,
mas ele era mais rápido,
aí subi numa árvore e consegui me salvar".
E o que as crianças iriam dizer?
"Nossa! Não devo ir
perto do rio, há predadores ali.
Não devo tentar correr de um leão...
Se eu estiver em perigo,
devo subir numa árvore".
A mesma lição que elas
nunca se lembrariam antes
está infundida em suas mentes agora.
Querem usar o poder das histórias?
Ouçam com muita atenção.
Estão cansados de tentar
ensinar algo às pessoas,
mas elas não se lembram de nada?
Parem de empurrar fatos
e comecem a envolvê-las com histórias!
Estão cansados de tentar
convencer as pessoas de algo
quando elas não ouvem a razão?
Parem de lhes enfiar lições goela abaixo
e comecem a usar as histórias.
Mas não usem só uma história uma vez.
Usem histórias em casa, na escola,
no trabalho, em qualquer lugar, todo dia!
Vocês, ouvintes do TED, têm a curiosidade
intelectual única para buscar a verdade.
Dominem a contação de histórias
e as propagarão.
Obrigado.
(Aplausos)