Como Laurie sugeriu, eu gostaria de começar voltando no tempo para outubro de 1960 quando John F. Kennedy desembarcou no aeroporto de Ypsilanti no sul de Michigan, o Willow Run. Era 1:45 da madrugada, Kennedy estava nos últimos dias de uma eleição apertada com Richard Nixon e quando chegou ao campus na Universidade de Michigan, no hotel do campus onde ia ficar aquela noite, ele estava exausto. A Universidade de Michigan não estava interessada em exaustão. Havia 10 mil pessoas que tinham vindo ao seu encontro, e um microfone instalado em frente às escadas do campus. E embora os redatores de discursos estivessem todos escondidos na sala dos fundos do Memorial Union, pensando, bebendo ou o que for, Kennedy sabia que tinha que dizer alguma coisa. (Imitando JFK) "Eu vim aqui para dormir", ele disse. (Risos) E então em três minutos, às duas da manhã, sem consultar um redator ou fazer uma pesquisa, Kennedy propôs uma das ideias mais duradouras de sua curta existência. Ele propôs o Corpo de Paz, e pouco depois de eleito, ele fez isso acontecer. O que faz com que este ano seja o quinquagésimo aniversário do Corpo de Paz. Duzentos mil homens e mulheres já serviram em 139 países... realizando pequenas ações, trazendo melhorias na educação, na agricultura e na saúde para comunidades carentes. E pelo caminho, essas pequenas ações contribuíram para grandes objetivos, resolvendo grandes problemas, como desarmar a ira atômica da Guerra Fria sem uma bomba ou ajudar a construir a imagem dos EUA no exterior não só como uma nação de poder, mas como uma promessa. Mais que tudo, o Corpo de Paz mostrou que jovens líderes e o serviço nacional podem ser uma ferramenta importante em resposta a grandes problemas. Agora, temos ouvido falar de grandes problemas o dia inteiro. Conhecemos as estatísticas: uma em cada três crianças norte-americanas e uma em cada duas das crianças de cor irá desenvolver diabetes tipo 2. Temos mais pessoas vivendo em prisões nos EUA hoje do que os que conseguem ganhar a vida como agricultores. Temos uma epidemia de obesidade de tal forma incontrolável que os líderes militares chamam de uma crise de segurança nacional. Hoje, 27% dos jovens dos EUA, homens e mulheres, não se qualificariam para o serviço militar porque estão gordos demais para lutar. A menos que façamos algo para colocar esse sistema de volta nos trilhos, estamos indo para a maior e mais cara crise na saúde pública que podemos imaginar, bem maior e mais difícil de consertar do que a que temos agora. Então olhando para esses problemas e buscando uma solução, minha pergunta hoje, mesmo sendo menos bonito que John F. Kennedy e mesmo que eu esteja aqui apenas como representante de muitos outros que tiveram essa ideia, minha pergunta é: como os EUA estarão daqui 50 anos, se começarmos juntos um Corpo de Paz para a alimentação escolar? Hoje, 31 milhões de crianças comem na escola cinco dias por semana, obtendo mais da metade das calorias no almoço, café da manhã e lanche da escola. O que nossos filhos comem na escola e o que aprendem sobre comida na escola, afeta a forma como eles crescem, como eles aprendem, como eles vão alimentar suas famílias, e quanto tempo eles vão viver. A escola é onde tudo começa. Agora, como seria esse Corpo de Paz ou FoodCorps, para a alimentação escolar? Eu não acho que precisamos do governo para dirigir e financiar esse programa. Eles têm muito o que fazer em Washington. Mas um pouco de apoio, um investimento estratégico do governo, um carimbo de aprovação poderia nos dar o tipo de apoio necessário para podermos alavancar o apoio de fundações, corporações e filantropos individuais que acreditam que todas as crianças merecem um futuro saudável. Existe um modelo para esse tipo de parceria público-privada através do serviço nacional. É a AmeriCorps, que foi abençoada por amplo apoio bipartidário por líideres como John McCain e Orrin Hatch e o presidente Obama, e é responsável por alguns dos melhores trabalhos, o trabalho mais inovador acontecendo nos EUA hoje, organizações como Teach for America, e City Year e Habitat for Humanity. Não acho que precisamos de organizações sem fins lucrativos para reinventar o trabalho de reparar a alimentação escolar. Já existem organizações trabalhando em todos os 50 estados para isto: trazer melhorias quantificáveis para a merenda escolar. Nós os ajudamos a ampliar. Precisamos identificar as organizações mais eficazes no solo e dar-lhes botas, dar-lhes trabalhadores, ajudá-los a fazer mais. Ter um reforço no grupo para a alimentação escolar... Membros do serviço que passem um ano de serviço modestamente pago, tornando a vida melhor para as crianças que mais precisam de ajuda. Encontrar esses membros não deveria ser difícil. Temos uma geração de jovens que desejam um trabalho significativo. Acho que temos metade de uma geração procurando trabalho. Mas se tirarmos proveito dessa intenção, dessa paixão que ouvimos falar hoje para que os jovens encontrem uma forma de arregaçar as mangas e larguem seus iPhones por um minuto, coloquem a mão na massa, produzam alimentos, ajudem as crianças, se relacionem com as comunidades, tornando as coisas melhores, acho que podemos ter uma ideia que realmente cresce. Agora, para onde estes membros de serviço iriam? John F. Kennedy falou muito sobre a nova fronteira, mas é a velha fronteira que precisa de nós agora. São lugares como Iowa, onde crianças da zona rural crescem em cidades pequenas, rodeadas pelo solo mais rico do país, e muitas vezes sem acesso regular a frutas e verduras frescas. São lugares como Mississipi, Arkansas e todo o sul, onde os determinantes sociais e raciais da saúde já apresentam uma em cada cinco crianças sofrendo de obesidade e taxas muito mais altas entre as crianças de cor e de baixa renda. E são lugares como o Sudoeste e comunidades indígenas norte-americanas onde algumas das maiores taxas de diabetes no mundo criaram raízes. Como o Tohono O'odham Nation no Arizona onde, na época de Kennedy, o diabetes tipo 2, a então chamada diabetes no adulto, era inédita. Bem, hoje, é diagnosticada em crianças com seis anos de idade, e estima-se que 60% da população adulta tenha a doença. Estes são os lugares onde a herança do racismo, a herança da pobreza ergueram altas barreiras para o sucesso. A epidemia de obesidade e o custo com distúrbios alimentares estão construindo muros mais altos. Temos que derrubá-los, e a mudança tem de vir de jovens líderes das comunidades, bem treinados e apoiados, junto com homens e mulheres de outros pontos do país. O que esses membros do serviço farão em seu ano de trabalho mal remunerado, mas com profundo significado? (Risos) Os membros de serviço da FoodCorps provavelmente poderão inspirar-se no Corpo da Paz. Originalmente, esse programa focava a educação, agricultura e saúde. Bem, neste caso, educação significa educação alimentar: ensinar aos jovens o que é comida saudável e ser um modelo exemplar que mostre que comer bem e se exercitar pode realmente ser legal. Significa que... a agricultura, neste contexto, são as hortas da escola. Ajudar as crianças a tocar, produzir e provar os alimentos que são bons para elas, alimentos que nunca tiveram a chance de experimentar, como a alface. (Risos) Significa saúde, que neste caso é dar a essas crianças acesso regular aos alimentos saudáveis que eles estudaram e produziram; programas "Da Horta pra Escola", que ligam produtores locais que plantam os alimentos da mais alta qualidade, com cantinas escolares que estão sedentas por isso. Significa tornar as cantinas em lugares onde a comida saudável é celebrada, e, mesmo de pequenas formas, comercializada para as crianças, usando os mesmos truques que pegamos da indústria de fast food, que controlou esse grupo demográfico por décadas. Wendell Berry, o fazendeiro filósofo e poeta do Kentucky, diz que há três tipos de soluções. Existem soluções que agravam o problema que deveriam consertar. É como responder ao aquecimento global comprando um ar-condicionado maior. (Risos) Existem soluções que apenas empurram o problema adiante. Etanol à base de milho, que parece ser uma solução tão sustentável quando você olha para um campo de milho pronto para a colheita, não parece tão bom quando você lembra que, para plantar meio hectare de milho e fertilizá-lo apenas uma vez com fertilizante de amoníaco anidro, você queima 2 mil m3 de gás natural. Depois há o terceiro tipo de solução. Wendell Berry a chama de solução por padrão. São soluções que não causam mais problemas nem fazem os problemas se aprofundarem; elas causam mais soluções. E eu acho que essa poderia ser uma solução desse tipo. Pense no que poderia acontecer se começarmos esse rolo compressor. O que poderia acontecer se, em vez de ajudarmos as crianças a combaterem a obesidade, começarmos a ajudar os jovens que estão servindo a conseguirem trabalho em alimentação e agricultura, se ajudarmos os agricultores a encontrar mercados locais nas escolas, se começamos a ajudar as comunidades a reunirem-se para construir hortas e perceberem que têm o poder de consertar outras questões, justiça social e ambiental, apenas trabalhando juntas. Imaginem se daqui a 50 anos tivéssemos essas coisas como uma bola de neve, se tivéssemos essas soluções gerando mais soluções, Acho que alguns dos problemas que ouvimos e pensamos hoje ficariam um pouco menores. Essa é minha esperança. O que temos que fazer é tirar aquela antiga ideia cansada de serviço de alimentação e repensá-la como algo um pouco velho e um pouco novo: comida de verdade e serviço nacional. Obrigado. (Aplausos)