PHYLLIDA BARLOW EM ARTE NO SÉCULO 21 FINSBURY PARK, LONDRES Aqui costumava ser o apartamento da minha filha. E é a primeira vez que tive um estúdio com uma janela, sabe? Eu adoro esse horizonte semi-industrial. É perfeito para mim. ACADEMIA REAL INGLESA MAYFAIR, LONDRES Tenho fascinação por objetos industriais abandonados. Nos fundos de casa, onde vemos um pátio ferroviário, é possível ver esses objetos que tinham um uso muito específico de repente tornando-se moribundos. Para mim, refazer esses objetos é uma outra forma de fossilização. Sobretudo com materiais como gesso e cimento. Esculturas tem o poder de confrontar o mundo em que estamos vivendo. Podem absorver a cor e aqueles processos industriais. Muitos construtores usam essas cores para marcar lugares que precisam de reparo ou conserto. Tornam-se cores que informam dentro do ambiente urbano. ESTÚDIO DE BARLOW HORNSEY, LONDRES Para muitas pessoas que nasceram nos anos 1940, a sombra projetada pela guerra foi muito extensa. Tenho memórias singulares de Londres como uma cidade bastante destruída pela guerra, em East End. Toda a ideia de dano e reparo é algo inerente ao processo de criação das esculturas. Estou com algumas tesouras cegas aqui. A estética de uma coisa que parece estar prestes a ruir é algo que gosto bastante no meu trabalho. É bom trabalhar com outra artista que conta com esse tipo de acontecimento estético. Ela é ótima. Absolutamente adorável. Eu pago ele para falar... Isso é o que eu deveria dizer agora. De verdade, é muito bom trabalhar para ela. Muito bem. São mais 10 libras. Posso ir para casa mais cedo? [Phyllida] Durante os anos 1960, houve três exposições muito significativas em Londres, na Whitechapel Gallery, que desafiaram a escultura de toda forma. Todas as esculturas foram pintadas. Fibra de vidro e resina foram usadas como matéria-prima. As habilidades tradicionais da escultura estavam sendo desafiadas. Questionava-se a hierarquia liderada pelo bronze e pela pedra. Considero materiais terrosos, como gesso e cimento, bastante atraentes. Comecei a usar fibra de vidro e resina, e também a pintar minhas esculturas. Claro que havia visto o que Eva Hesse fez. Fiquei completamente hipnotizada pelo trabalho dela. Um pedaço de tecido pendurado podia mesmo confrontar o espaço que consumia. EXPANSÃO EXPANDIDA, 1969 Eu estava determinada a participar dessa nova abordagem na escultura. Existe um certo método na loucura. Há um grupo em particular mais focado em compressão, no caráter compacto das coisas sendo firmemente apertadas. É uma questão que gira menos em torno da ideia e mais da ação. Fazer trabalhos menores é a iniciação dos maiores. Sei que quero a cor como algo inerente, não sendo aplicada apenas ao fim. É por isso que estou colocando o tecido na cartolina nesta etapa. Assim a coisa aparenta ser quase uma rocha estratificada. Opa. Acho que estava mais interessada em processos de produção do que em ter uma ideia e somente colocá-la em prática. Gosto bastante do processo longo e lento de desenhar, pensar sobre isso, e só então passar para os materiais. O que está em sua cabeça começa a diminuir e o que está em sua frente ganha uma energia própria. Sempre me interesso pelo deslizamento da memória e a pintura é uma forma fantástica de registrar isso, essa imprecisão. Muito do trabalho mais rápido tem a ver com o pouco tempo de estúdio, quando os filhos eram menores. Então, foi um trato que fiz comigo mesma. Sendo apenas uma ou duas horas, eu tinha de ter feito algo. Com 16 anos, fui, como pintora, para a escola de artes. A pintura contaria com processos bastante estritos em torno dela. Eram tantos os certos e errados acerca de técnicas e formas. Tornou-se muito óbvio para mim que as pinturas usam a parede. E, para mim, paredes são muito autoritárias. Elas decidem o que é o espaço. Uma escultura independente usa o espaço que poderíamos ocupar, ou o espaço de algo mais útil. Sua espécie de possibilidade de ser anárquica me estimula muito. E talvez eu tenha encontrado nisso uma forma de escapar da obrigação de fazer algo da forma correta. A forma como trabalho agora, que parte do "grande", faz emergir a seguinte pergunta da minha relação com a escultura: Para onde escapa o espaço? Qual é a ambição do espaço, e de que forma se torna incluso? E o que acontece se esse espaço for explorado ao máximo? Sim, está tudo de ponta-cabeça. Que chateação. Devo ter colocado de qualquer jeito. Aqui vemos para onde as esculturas acabam indo, e o que acontece quando acabam indo para lugares em que não deveriam estar. Era a época em que eu não estava conseguindo expor, e pensava, "Bem, para mim é bom o suficiente colocar minha escultura nesse corredor por quatro horas até que queiram o espaço de volta." Isso mostra que há uma espécie de lacuna quanto ao que é em que lugar deve estar uma escultura. E acho que sempre estive interessada no objeto que parece se comportar mal. Isso foi um trabalho cuja base era uma tábua de passar. É um pouco nostálgico. O trabalho foi ficando pior com o passar do anos. Não melhorou. NOVO ESTÚDIO DE BARLOW CAMBERWELL, LONDRES Começamos a trabalhar na segunda mão, então? -Sim. -Como faremos? Escolha aleatoriamente uma cor que não seja o vermelho. Trabalhar com vários artistas mais jovens é muito importante para mim. Acho que estou presa nas cores de de Kooning. Sinto ter uma grande responsabilidade, e uma certa ansiedade de que isso seja benéfico para eles. Trabalham por meio período e são autônomos. Trabalho bem próxima do administrador do meu estúdio, o Adam, e estamos sempre pensando, "O que podemos oferecê-los? Por exemplo, um bloco de três meses, com garantia." Acho que o fato de ser mãe acaba tornando a pessoa bastante sensível diante do que o outro está passando. Sim, está bom. Está com um aspecto bem desleixado. Está ótimo. Hoje temos muitos assistentes pois estamos longe de terminar o trabalho para uma exposição. A orientação que dou a eles, considerando certas qualidades estéticas que busco, é que mantenham suas ações focadas em algo que é mais funcional que artístico. Como um gesto de limpeza, com um pincel que, por acaso, está embebido de tinta. É uma questão de informação e eficiência. Alguns dos melhores momentos que tive envolviam levar o trabalho a lugares em que pudesse ter uma relação diferente com ele enquanto fruto do estúdio. JUPITER ARTLAND EDIMBURGO, ESCÓCIA Percebi que estava olhando muito para o topo das árvores, e pensei em algo que possuísse um caráter industrial, em que o gesto de olhar para cima envolvesse olhar através de um molde para as árvores e para o céu. Daí surgiu a ideia da estrutura metálica no topo de uma coluna. E então ter contato com uma coisa que possivelmente foi deixada em um estado de entropia, que foi o caso desses degraus fatigantes. Há você, o trabalho e o lugar. É uma relação muito particular em que nada além disso entrará entre você e essa intenção. Ir sozinho é uma experiência muito poderosa. Adoraria fazer um trabalho que pudesse talvez chegar bem perto do mar, ou de alguma paisagem extremamente remota em que o público não seja um agente da peça. Como pensar na hipótese de uma árvore que cai na floresta, mas não saber de fato se aconteceu, já que você não viu.