Antes de março de 2011 eu trabalhava com retoque de fotos na cidade de Nova York. Nós somos criaturas cinzentas e pálidas. Nos escondemos no escuro, em quartos sem janela, e geralmente evitamos a luz do sol. Tornamos modelos magras mais magras ainda, peles perfeitas mais perfeitas ainda, e o impossível possível, e somos criticados pela imprensa o tempo todo, mas na verdade alguns de nós são artistas talentosos com anos de experiência e uma apreciação real por imagens e fotografias. Em 11 de março de 2011, eu assisti de casa, assim como o resto do mundo, o trágico acontecimento ocorrido no Japão. Logo depois, uma empresa na qual eu sou voluntária, All Hands Volunteers, estava em terra, em questão de dias, trabalhando como resposta ao ocorrido. Eu, junto com centenas de outros voluntários, sabia que não podia simplesmente ficar em casa sentada, então decidi me juntar a eles por três semanas. Em 13 de maio, eu fiz meu percurso para a cidade de Ofunato. É uma pequena cidade pesqueira na província de Iwate, com cerca de 50.000 pessoas, uma das primeiras a ser atingida pelas ondas. Foi registrado que as águas aqui atingiram mais de 24 metros de altura, e percorreram mais de 3 Km para o interior. Como vocês podem imaginar, a cidade foi devastada. Nós retiramos restos dos canais e valas. Limpamos escolas. Removemos lama e esvaziamos as casas prontas para renovação e reabilitação. Limpamos toneladas e toneladas de carcassas fedorentas e em decomposição vindas da fábrica de processamento de peixe local. Nos sujamos e adoramos fazer isso. Por semanas, todos os voluntários e moradores encontraram coisas semelhantes. Eles encontraram fotos e álbuns de fotos e câmeras e cartões de memória SD. E todo mundo estava fazendo a mesma coisa. Estavam coletando e os entregando em vários lugares em cidades diferentes para protegê-los. Até esse ponto eu não tinha percebido que essas fotos eram uma grande parte da perda pessoal que essas pessoas tinham passado. Como elas correram da onda e pelas suas vidas, absolutamente tudo o que elas tinham, tudo teve que ser deixado para trás. Ao final da minha primeira semana lá, eu me vi ajudando em um centro para desabrigados da cidade. Eu estava ajudando a limpar o onsen (fonte termal) público, as enormes banheiras gigantes. Aconteceu de também ser um local na cidade onde o centro para desabrigados estava coletando as fotos. Era onde as pessoas estavam entregando as fotos, e eu estava honrada porque naquele dia eles confiaram em mim de verdade a ajudá-los a começar a limpar as fotos à mão. Isso foi emocionante e eu estava inspirada, e eu sempre ouvi sobre pensar fora dos padrões, mas nunca havia acontecido e foi quando eu saí fora do meu padrão, que alguma coisa aconteceu. Enquanto eu olhava as fotos, algumas tinham mais de cem anos, algumas ainda no envelope do laboratório de processamento, eu não podia deixar de pensar como uma retocadora, que eu poderia corrigir o que estava rasgado e reparar o que estava riscado e eu conhecia centenas de pessoas que poderiam fazer o mesmo. Então naquela noite, eu simplesmente as achei no Facebook e perguntei a algumas delas, e pela manhã a resposta havia sido tão efusiva e tão positiva que eu sabia que nós tínhamos que tentar. Então começamos a retocar as fotos. Esse foi o começo. Não era um terrível estrago, mas onde a água tinha causado esta descoloração no rosto da menina precisava ser reparada com muita precisão e delicadeza. Caso contrário, a garotinha não iria mais se parecer com esta garotinha, e com certeza isto é tão trágico como ter a foto danificada. (Aplausos) Com o tempo, mais e mais fotos chegaram, felizmente, e mais retocadores eram necessários , e então eu fui novamente até o Facebook e o Linkedln, e em cinco dias, 80 pessoas queriam ajudar de 12 países diferentes. Em duas semanas, eu tinha 150 pessoas querendo se juntar ao grupo. Dentro do Japão, por volta de julho, começamos na cidade vizinha de Rikuzentakata, mais ao norte de uma cidade chamada Yamada. Uma vez por semana, montávamos nosso equipamento de digitalização nas bibliotecas temporárias de fotografias que tinham sido montadas, onde as pessoas iam procurar suas fotos. As senhoras mais velhas nunca tinham visto um scanner antes, mas dentro de 10 minutos procurando suas fotos perdidas, elas nos davam, tinham as fotos escaneadas, carregadas para um servidor em nuvem, o download era feito por um "gaijin", um estranho, de algum lugar do outro lado do globo, e começava a ser consertada. O tempo que levava, no entanto, para ter a foto de volta é uma história completamente diferente, e dependia obviamente do tamanho dos estragos. Poderia levar uma hora. Poderia levar semanas. Poderia levar meses. O quimono nesta foto com certeza tinha que ser desenhado à mão. ou reconstruído, enfatizando as partes coloridas restantes e detalhes que a água não havia danificado. Consumiu muito tempo. Todas essas fotos foram danificadas pela água, submersas em água salgada, cobertas por bactérias, no esgoto, algumas vezes mesmo em óleo, o que com o tempo continuará danificando-as, então limpá-las foi uma grande parte do projeto. Não poderíamos retocá-las a menos que estivessem limpas, secas e recuperadas. Nós tivemos sorte com nossa limpeza à mão. Tivemos uma moradora local incrível que nos guiou. É muito fácil danificar mais ainda as fotos já danificadas. Como minha líder de projeto Wynne disse uma vez, é como fazer uma tatuagem em alguém. Você não tem a chance de errar. A senhora que nos trouxe essas fotos teve sorte, pelo jeito que as fotos ficaram. Ela havia começado a limpar as fotos sozinha e parou quando percebeu que estava danificando mais. Ela também tinha uma duplicata. Áreas como seu marido e seu rosto, que de outro modo seriam impossíveis de resgatar, pudemos juntá-las, formando uma boa foto, e refazer a foto inteira. Quando ela pegou as fotos conosco, ela compartilhou um pouco da sua história. As fotos foram encontradas pelos colegas de seu marido nos escombros de um corpo de bombeiros local distante de onde a casa havia estado um dia, e eles o tinham reconhecido. No dia do tsunami ele tinha sido encarregado de garantir de que os portões contra tsunami estavam fechados. Ele teve que ir na direção da água quando as sirenes tocaram. Seus dois filhos pequenos, já não tão pequenos agora, mas seus dois garotos estavam na escola, escolas diferentes. Uma delas foi atingida pela água. Ela levou uma semana para encontrar as escolas e descobrir que os meninos haviam sobrevivido. O dia que eu dei as fotos a ela, era também o aniversário de 14 anos do seu filho mais novo. Para ela, apesar de tudo isso, estas fotos eram o presente perfeito para ele, algo que ele poderia olhar novamente, uma lembrança de antes, de quando ainda não estava marcado por aquele dia em março quando absolutamente tudo mais em sua vida havia mudado ou sido destruído. Após seis meses no Japão, 1.100 voluntários haviam passado pelo All Hands, centenas dos quais haviam nos ajudado com a limpeza à mão de mais de 135.000 fotografias, a grande maioria -- (Aplausos) -- a grande maioria das quais encontraram seus lares novamente, isso é importante. Mais de quinhentos voluntários em volta do globo nos ajudaram com 90 famílias, a conseguir centenas de fotografias de volta, totalmente restauradas e retocadas. Durante esse tempo, não tínhamos gasto mais do que cerca de mil dólares em equipamentos e materiais, a maioria com tintas para impressão. Tiramos fotos a todo momento. Uma foto é uma lembrança de alguém ou de algo, um lugar, um relacionamento, um amor. Eles são nosso guardião de lembranças e nossas histórias, a última coisa que pegaríamos e a primeira coisa que voltamos para procurar. É disso que o projeto se trata, sobre restaurar estes pequenos pedaços de humanidade, devolvendo a alguém uma conexão. Quando uma foto como esta pode ser devolvida para alguém como esta, faz uma grande diferença nas vidas das pessoas que a recebem. O projeto também fez uma grande diferença na vida dos retocadores. Para alguns deles, possibilitou uma conexão com algo maior, ao restituir algo, utilizando seus talentos em uma coisa diferente do que modelos magras e de pele perfeita. Eu gostaria de concluir lendo um e-mail que eu recebi de uma delas, Cindy, no dia em que eu finalmente voltei do Japão após seis meses. "Enquanto eu trabalhava, não pude deixar de pensar nas pessoas e nas histórias representadas nas imagens. Uma em particular, uma foto de mulheres em todas as idades, da avó à garotinha, reunidas em torno de um bebê, mexeu comigo, porque é uma foto semelhante a da minha família, minha avó, minha mãe, eu, e uma filha recém nascida, está pendurada em nossa parede. Através do globo, em todas as idades, nossas necessidades básicas são as mesmas, não são?" Obrigada. (Aplausos) (Aplausos)