WEBVTT 00:00:07.496 --> 00:00:09.361 Tens à tua frente uma tigela gigante 00:00:09.361 --> 00:00:12.454 de Crocantes de Carbono cheios de energia. 00:00:12.454 --> 00:00:15.451 Uma colher. Duas. Três. 00:00:15.451 --> 00:00:17.812 Pouco depois, estás abastecida pelo pico de energia 00:00:17.812 --> 00:00:19.703 que vem da tua refeição. 00:00:19.703 --> 00:00:22.813 Mas como é que essa energia chegou à tua tigela? 00:00:22.813 --> 00:00:25.502 A energia existe na forma de açúcares 00:00:25.502 --> 00:00:28.313 fabricados pela planta da qual vieram os teus cereais, 00:00:28.313 --> 00:00:29.979 como o trigo ou o milho. 00:00:29.979 --> 00:00:33.313 Como podes ver, o carbono é o esqueleto químico, 00:00:33.313 --> 00:00:35.011 e as plantas vão buscar a dose de que precisam 00:00:35.011 --> 00:00:38.515 na forma de dióxido de carbono, CO2, 00:00:38.515 --> 00:00:40.433 a partir do ar que todos respiramos. 00:00:40.433 --> 00:00:42.602 Mas como é que a fábrica de energia de uma planta, 00:00:42.602 --> 00:00:45.021 situada no estroma do cloroplasto, 00:00:45.021 --> 00:00:47.811 transforma um gás com um carbono, como o CO2, 00:00:47.811 --> 00:00:51.774 num sólido com seis carbonos, como a glicose? 00:00:51.774 --> 00:00:55.029 Se estás a pensar na fotossíntese, tens razão. 00:00:55.029 --> 00:00:58.240 Mas a fotossíntese divide-se em duas etapas. 00:00:58.240 --> 00:01:00.782 A primeira, que armazena a energia que vem do Sol 00:01:00.782 --> 00:01:05.343 sob a forma de trifosfato de adenosina, ou ATP. 00:01:05.343 --> 00:01:08.842 E a segunda, o ciclo de Calvin, que captura o carbono 00:01:08.842 --> 00:01:10.928 e o transforma em açúcar. 00:01:10.928 --> 00:01:13.296 Esta segunda fase representa uma das linhas de produção 00:01:13.296 --> 00:01:15.796 mais sustentáveis da Natureza. 00:01:15.796 --> 00:01:20.426 E, com isso, bem-vinda à fábrica mais minúscula do mundo. 00:01:20.426 --> 00:01:21.844 As matérias-primas? 00:01:21.844 --> 00:01:24.308 Uma mistura de moléculas de CO2 provenientes do ar, 00:01:24.308 --> 00:01:26.760 e moléculas pré-montadas chamadas 00:01:26.760 --> 00:01:30.399 ribulose bifosfato, ou RuBP, 00:01:30.399 --> 00:01:32.261 que contêm, cada uma, cinco carbonos. 00:01:32.261 --> 00:01:36.178 O iniciador? Uma enzima muito trabalhadora, chamada rubisco 00:01:36.178 --> 00:01:39.614 que solda um átomo de carbono de uma molécula de CO2 00:01:39.614 --> 00:01:41.593 à cadeia de RuBP 00:01:41.593 --> 00:01:44.618 para construir uma sequência inicial de seis carbonos. 00:01:44.618 --> 00:01:47.873 Esta divide-se rapidamente em duas cadeias mais curtas 00:01:47.873 --> 00:01:49.874 que contêm três carbonos cada uma 00:01:49.874 --> 00:01:54.391 e se chamam fosfogliceratos, ou PGA, para abreviar. 00:01:54.391 --> 00:01:57.550 Entra o ATP e uma outra molécula chamada 00:01:57.550 --> 00:02:01.678 fosfato de nicotinamida adenina dinucleótido, 00:02:01.678 --> 00:02:04.806 ou simplesmente NADPH. 00:02:04.806 --> 00:02:07.725 O ATP, que funciona como um lubrificante, distribui energia, 00:02:07.725 --> 00:02:13.511 enquanto o NADPH acrescenta um hidrogénio a cada uma das cadeias de PGA, 00:02:13.511 --> 00:02:15.427 transformando-os em moléculas chamadas 00:02:15.427 --> 00:02:19.610 gliceraldeído 3-fosfato, ou G3P. 00:02:19.610 --> 00:02:22.531 A glicose precisa de seis carbonos para se formar, 00:02:22.531 --> 00:02:24.496 obtidos a partir de duas moléculas de G3P, 00:02:24.501 --> 00:02:28.426 que, a propósito, têm entre si no total seis carbonos. 00:02:28.426 --> 00:02:30.844 Portanto, acabámos de fabricar açúcar, certo? 00:02:30.844 --> 00:02:32.511 Nem por isso. 00:02:32.511 --> 00:02:35.878 O ciclo de Calvin funciona como uma linha de produção sustentável, 00:02:35.878 --> 00:02:38.178 o que significa que aquelas RuBP originais 00:02:38.178 --> 00:02:40.272 que deram um empurrão no início, 00:02:40.272 --> 00:02:42.727 precisam de ser recriadas reutilizando os materiais 00:02:42.727 --> 00:02:44.359 que estão dentro do ciclo agora. 00:02:44.359 --> 00:02:46.976 Mas cada RuBP precisa de cinco carbonos 00:02:46.976 --> 00:02:49.809 e o fabrico da glicose precisa de seis. 00:02:49.809 --> 00:02:51.394 Alguma coisa não bate certo. 00:02:51.394 --> 00:02:54.195 A resposta encontra-se num facto fenomenal. 00:02:54.195 --> 00:02:57.225 Enquanto estivemos concentrados nesta linha de produção isolada, 00:02:57.225 --> 00:03:00.725 houve outras cinco a funcionar ao mesmo tempo. 00:03:00.725 --> 00:03:03.662 Com seis correias transportadoras a deslocar-se em uníssono, 00:03:03.662 --> 00:03:05.809 não há apenas um carbono que é soldado 00:03:05.809 --> 00:03:07.416 a uma cadeia de RuBP, 00:03:07.416 --> 00:03:11.590 mas sim seis carbonos soldados a seis RuBP. 00:03:11.590 --> 00:03:15.091 Isto cria 12 cadeias de G3P em vez de apenas duas, 00:03:15.091 --> 00:03:18.726 o que significa que, no total, há 36 carbonos: 00:03:18.726 --> 00:03:21.308 o número exacto que é preciso para fabricar açúcar 00:03:21.308 --> 00:03:24.392 e para reconstruir aquelas RuBP. 00:03:24.392 --> 00:03:27.187 Dos 12 G3P agrupados, 00:03:27.187 --> 00:03:28.940 dois são escoados para formar 00:03:28.940 --> 00:03:32.309 aquela cadeia de glicose com seis carbonos, rica em energia. 00:03:32.309 --> 00:03:35.614 Aquela que te está a abastecer através do teu pequeno-almoço. Sucesso! 00:03:35.614 --> 00:03:37.617 Mas voltando à linha de produção, 00:03:37.617 --> 00:03:39.617 os produtos secundários desta produção de açúcar 00:03:39.617 --> 00:03:44.202 são prontamente montados para recriar aquelas seis RuBP. 00:03:44.202 --> 00:03:46.892 Isso necessita de 30 carbonos, 00:03:46.892 --> 00:03:51.002 o número exacto contido pelos restantes 10 G3P. 00:03:51.002 --> 00:03:54.315 Agora acontece uma remistura molecular. 00:03:54.315 --> 00:03:56.422 Dois dos G3P são soldados para ficarem unidos, 00:03:56.422 --> 00:03:58.589 formando uma sequência de seis carbonos. 00:03:58.589 --> 00:04:02.875 Juntando um terceiro G3P, forma-se uma cadeia de nove carbonos. 00:04:02.875 --> 00:04:05.957 A primeira RuBP, formada por cinco carbonos, 00:04:05.957 --> 00:04:07.599 é moldada a partir daqui, 00:04:07.599 --> 00:04:09.559 deixando quatro carbonos para trás. 00:04:09.559 --> 00:04:11.104 Mas aqui não há desperdício. 00:04:11.104 --> 00:04:14.293 Estes são soldados a uma quarta molécula de G3P, 00:04:14.293 --> 00:04:16.315 formando uma cadeia de sete carbonos. 00:04:16.315 --> 00:04:18.541 Juntando uma quinta molécula de G3P, 00:04:18.541 --> 00:04:20.707 forma-se uma cadeia de dez carbonos, 00:04:20.707 --> 00:04:24.074 que já é suficiente para originar mais duas RuBP. 00:04:24.074 --> 00:04:26.875 Com três RuBP completas recriadas 00:04:26.875 --> 00:04:29.204 a partir de cinco dos dez G3P, 00:04:29.204 --> 00:04:31.207 multiplicando simplesmente este processo por dois 00:04:31.207 --> 00:04:33.875 iremos renovar as seis cadeias de RuBP 00:04:33.875 --> 00:04:36.671 que são necessárias para reiniciar o ciclo. 00:04:36.671 --> 00:04:39.089 Portanto, o ciclo de Calvin gera o número exacto 00:04:39.089 --> 00:04:40.793 de elementos e processos 00:04:40.793 --> 00:04:43.375 que são necessários para manter esta linha de produção bioquímica 00:04:43.375 --> 00:04:45.208 a funcionar interminavelmente. 00:04:45.208 --> 00:04:47.127 E este é apenas um das centenas de ciclos 00:04:47.127 --> 00:04:48.625 que estão presentes na Natureza. 00:04:48.625 --> 00:04:49.959 Porquê tantos? 00:04:49.959 --> 00:04:53.060 Porque se os processos de produção biológica fossem lineares, 00:04:53.060 --> 00:04:55.730 não seriam nem tão eficientes nem tão bem sucedidos 00:04:55.730 --> 00:04:58.444 como a utilização de energia para fabricar os materiais 00:04:58.444 --> 00:05:01.238 com que a Natureza conta, como o açúcar. 00:05:01.238 --> 00:05:03.355 Os ciclos criam voltas vitais de feedback 00:05:03.355 --> 00:05:06.857 que reutilizam e reconstroem os ingredientes repetidamente 00:05:06.857 --> 00:05:08.609 originando tanto quanto possível 00:05:08.609 --> 00:05:10.987 a partir dos recursos disponíveis no planeta. 00:05:10.987 --> 00:05:12.768 Como, por exemplo, esse açúcar, 00:05:12.768 --> 00:05:14.819 construído a partir de luz do Sol e carbono em bruto 00:05:14.819 --> 00:05:16.650 convertido em fábricas nas plantas 00:05:16.650 --> 00:05:18.653 para se transformar na energia que te abastece 00:05:18.653 --> 00:05:21.652 e que mantém os ciclos a rodar na tua própria vida.