[Marcel Dzama:
Desenhar com Raymond Pettibon]
Gosto de trabalhar sozinho
durante um mês.
Depois disso, preciso de estar
com outros artistas ou amigos.
Gosto muito de colaboração.
Trabalhar com Raymond Pettibon
tem sido uma honra.
Ele foi o primeiro artista contemporâneo
de que ouvi falar,
por causa das capas de álbuns
das bandas "punk" que ele tinha feito
ao longo dos anos.
Começámos a colaborar porque íamos
a todos os jantares de artistas Zwimmer.
Éramos ambos um pouco
desajeitados socialmente.
Por isso, desenhávamos nesses jantares.
Habitualmente, sentávamo-nos
ao lado um do outro.
Começávamos a desenhar nos guardanapos
em cima da mesa.
Penso que foi ele quem abriu a porta
para a aceitação do desenho
como uma forma de arte importante,
não apenas como um esboço
antes da pintura ou da escultura.
Foi ele que abriu a porta
e depois eu também entrei.
Vamos fazer esta catedral ou as ondas?
- Vamos começar por esta?
- Vamos.
Marcel Dzama: Também há esta
que tu tinhas para os cavalos.
RP: Ah, claro.
MD: É uma cor muito bonita.
RP: Adoro catedrais góticas
porque basta deixar que a gravidade...
MD: Sim, é só deixar cair.
(Risos)
RP: Foram precisos 500 anos
de trabalho árduo para a terminar
mas prefiro desenhá-la.
MD: Nem sequer falávamos
do que tencionávamos fazer.
Começávamos naturalmente
numa ponta do papel
e encontrávamo-nos no meio,
ou mudávamos de lado.
Sabíamos que muitas pessoas
iam tentar descobrir:
"Oh, o Marcel desenhou isto
e o Raymond desenhou isto".
Então, ele desenhava um morcego,
propositadamente,
e eu desenhava uma onda
ou um surfista,
ou qualquer coisa por que
somos mais conhecidos.
Se a tinta pingava sobre o meu desenho,
eu tentava incorporá-la,
como uma cobra ou qualquer coisa assim.
Enquanto Raymond deixava
simplesmente os pingos.
Eu gosto daquela descontração que ele tem
de deixar as coisas acontecerem.
É esse fluxo natural
que funciona muito bem.
Os nossos filhos são da mesma idade.
têm os dois seis anos.
Estiveram aqui há uns dias
e pintaram isto aqui no canto.
Raymond e eu também participámos.
Foram eles que começaram.
Tinham esta onda aqui.
Isto é uma espécie de peça
colaborativa familiar.
É muito divertido.
Desde que tenho um filho, descobri
que ver as coisas pelos olhos dele
ver as coisas de uma nova forma
e descobrir coisas que eu ignorava
ou a que estava habituado
influenciaram o meu trabalho.
Descobri
que esta descontração no meu trabalho,
quando colaboro
dá-lhe mais energia.
O trabalho tem vida
e eu passei a fazê-lo.