À medida que a tecnologia progride,
e à medida que avança,
muitos de nós presumem que estes avanços
nos tornam mais inteligentes,
mais espertos e mais ligados ao mundo.
O que eu gostaria de demonstrar
é que isso não acontece necessariamente,
já que progresso é simplesmente
uma palavra para mudança,
e com a mudança ganha-se algo,
mas também se perde algo.
Para ilustrar este ponto,
gostaria de vos mostrar
como a tecnologia tem lidado
com uma pergunta muito simples,
muito comum, quotidiana.
E a pergunta é esta:
Que horas são? Que horas são?
Se derem uma olhadela ao vosso iPhone,
é simples dizer as horas.
Mas, gostaria de vos perguntar,
como diriam as horas
se não tivessem um iPhone?
Como diriam as horas,
digamos, há 600 anos?
Como o fariam?
A forma como o fariam
seria usar um dispositivo
chamado astrolábio.
O astrolábio é relativamente
desconhecido no mundo de hoje.
Mas, na altura, no século XIII,
era o dispositivo do dia.
Era o primeiro computador
popular do mundo.
Era um dispositivo que é um modelo do céu.
As diferentes partes do astrolábio,
neste tipo particular,
a "aranha" corresponde
às posições das estrelas.
O disco corresponde
a um sistema de coordenadas.
E a "madre" tem algumas escalas
e encaixa tudo.
Se fôssemos uma criança instruída,
saberíamos não só como usar o astrolábio,
saberíamos também construir um astrolábio.
Sabemos isto porque o primeiro tratado
sobre o astrolábio,
o primeiro manual técnico
em língua inglesa,
foi escrito por Geoffrey Chaucer.
Sim, esse Geoffrey Chaucer, em 1391,
ao seu pequeno Lewis,
o seu filho de 11 anos.
Neste livro, o pequeno Lewis
ficaria a conhecer a grande ideia.
A ideia central que faz
com que este computador funcione
é uma coisa chamada
projeção estereográfica.
Basicamente, o conceito é
como é que se representa
a imagem tridimensional
do céu noturno que nos rodeia
numa superfície plana, portátil,
de duas dimensões.
A ideia é relativamente simples.
Imaginem que a Terra
está no centro do universo,
e à sua volta está o céu
projetado numa esfera.
Cada ponto da superfície da esfera
é mapeado através do polo de baixo
numa superfície plana, onde é registado.
A estrela polar corresponde
ao centro do dispositivo.
A elítica, que é a trajetória
do sol, da lua e dos planetas
corresponde a um círculo exterior.
As estrelas mais brilhantes correspondem
a pequenos punhais na "aranha".
E a altitude corresponde
ao sistema de discos.
Ora, o verdadeiro génio do astrolábio
não é apenas a projeção.
O verdadeiro génio é juntar
dois sistemas de coordenadas
de forma a que encaixem perfeitamente.
Há a posição do sol, da lua e dos planetas
na "aranha" móvel
e depois a sua localização no céu,
tal como é vista de uma certa latitude,
no disco de trás.
Então como usariam este dispositivo?
Primeiro deixem-me voltar atrás
por instantes.
Isto é um astrolábio.
Bastante impressionante, não é?
Este astrolábio foi-nos emprestado
pelo Museu de História de Oxford.
Podemos ver os diferentes componentes.
Isto é a "madre", com as escalas atrás.
Esta é a "aranha". Conseguem ver?
É a parte móvel do céu.
Por detrás vemos
um padrão de teia de aranha.
Esse padrão de teia de aranha
corresponde às coordenadas locais no céu.
Isto é uma régua.
E atrás estão outros dispositivos,
ferramentas de medição e escalas,
para se poderem fazer alguns cálculos.
Sabem, sempre quis ter uma coisa destas.
Para a minha tese,
construí um feito de papel.
Este é uma réplica
de um dispositivo do século XV.
Provavelmente vale tanto
como uns três Macbook Pros.
Mas um verdadeiro custaria
tanto como a minha casa,
a casa do lado
e todas as casas do quarteirão,
de ambos os lados da rua,
talvez mais uma escola,
e ainda — sei lá — uma igreja.
São mesmo incrivelmente caros.
Vou mostrar como trabalhar
com este dispositivo.
Então vamos para o primeiro passo.
Primeiro, o que se faz
é escolher uma estrela
no céu noturno,
se querem ver as horas à noite.
Esta noite, se o céu estiver limpo
podemos ver o triângulo de verão.
Há uma estrela brilhante chamada Deneb.
Vamos escolhê-la.
A seguir, mede-se a altitude de Deneb.
No segundo passo, levanto o dispositivo
e depois vejo a sua altitude aqui
para conseguir vê-la claramente
e depois meço a sua altitude.
É cerca de 26 graus.
Não conseguem ver daí.
O terceiro passo é identificar a estrela
na parte da frente do dispositivo.
Aqui está Deneb. Consigo ver.
O quarto passo é mover a "aranha",
mover o céu.
para que a altitude da estrela
corresponda à escala atrás.
Quando isso acontece
tudo fica alinhado.
Tenho aqui um modelo do céu
que corresponde ao céu real.
Por isso, em certo sentido,
seguro um modelo do universo
nas minhas mãos.
Finalmente, pego numa régua
e movo-a até uma linha de data
que me diz que horas são.
É assim que se usa este dispositivo.
(Risos)
Eu sei o que estão a pensar,
"Dá muito trabalho, não? Não é trabalho
demais, só para ver as horas?"
enquanto olham de relance
para o vosso iPod, para ver as horas.
Mas há uma diferença entre os dois
porque, com o vosso iPod,
podem saber, ou o vosso iPhone,
pode saber exatamente
que horas são, com precisão.
A forma como o pequeno Lewis
veria as horas
é através de uma imagem do céu.
Ele saberia onde as coisas
se encaixariam no céu.
Não só saberia que horas eram,
mas também saberia onde iria nascer o sol,
e como se iria mover através do céu.
Saberia a que horas nasceria o céu
e a que horas seria o pôr-do-sol.
E saberia isso para
cada objeto celeste no céu.
Então, nos gráficos de computador
e no design de interface de utilizador,
há uma expressão chamada "affordances".
As "affordances" são
as qualidades de um objeto
que nos permitem realizar
uma ação com ele.
O que o astrolábio faz é permitir
que nos liguemos ao céu noturno,
para olharmos para o céu noturno
e muito mais
— para vermos o visível
e o invisível juntos.
Assim, é apenas um uso.
Incrivelmente,
há cerca de 350 ou 400 usos.
Até há um texto
que tem mais de mil usos
deste primeiro computador.
Na parte de trás há escalas e medições
para a navegação terrestre.
Podemos fazer levantamentos topográficos.
O levantamento de Bagdade
foi feito com ele.
Podemos calcular equações matemáticas
de todos os diferentes tipos.
Seria preciso um curso universitário
completo para o ilustrar.
Os astrolábios têm uma história incrível.
Têm mais de 2000 anos.
O conceito de projeção estereográfica
teve origem em 330 a.C.
E há astrolábios de muitos tamanhos
e formas diferentes.
Há os portáteis, há os grandes, fixos.
E penso que o que é comum
a todos os astrolábios
é que são obras de arte lindas.
Há uma qualidade de perícia e precisão
que é simplesmente surpreendente
e extraordinária.
Os astrolábios, como qualquer tecnologia,
evoluem ao longo do tempo.
Por isso, as primeiras "aranhas"
eram muito simples e primitivas.
E as "aranhas" mais avançadas
tornaram-se emblemas culturais.
Esta é de Oxford.
Acho esta extraordinária
porque o padrão da "aranha"
é completamente simétrico
e mapeia com precisão
um céu completamente assimétrico.
É espetacular, não?
É simplesmente espantoso.
Então, o pequeno Lewis
teria um astrolábio?
Provavelmente não um de bronze.
Talvez tivesse um
de madeira ou de papel.
A grande maioria destes primeiros
computadores eram dispositivos portáteis
que podíamos transportar no bolso.
Então, o que é que o astrolábio inspira?
Bem, penso que, em primeiro lugar,
relembra-nos quão engenhosas
eram as pessoas,
eram os nossos antepassados,
há muitos anos.
É um dispositivo incrível.
Todas as tecnologias evoluem.
Todas as tecnologias se transformam
e são influenciadas por outras.
O que ganhamos com uma nova tecnologia
é precisão e exatidão.
Mas penso que o que perdemos
é uma perceção sentida do céu,
uma sensação de contexto.
Conhecer o céu, conhecer
a nossa relação com o céu,
é o centro da verdadeira resposta
à pergunta "que horas são?"
Penso que os astrolábios
são simplesmente extraordinários.
Então, o que podemos aprender
com estes dispositivos?
Principalmente que há
um conhecimento subtil
de que podemos ligar-nos ao mundo.
Os astrolábios devolvem-nos
a esta sensação subtil
de como as coisas se encaixam,
e também de como nos ligamos ao mundo.
Muito obrigado.
(Aplausos)