Eu peguei um celular
e acidentalmente me tornei famoso.
(Risos)
Só estava falando do que era
importante para mim,
mas, após apertar um botão
e fazer um vídeo viral provocativo,
eu me lancei ao estrelato
da noite para o dia.
Digo da noite para o dia,
pois acordei na manhã seguinte
com tantas notificações no celular,
que até pensei que havia dormido
durante uma tragédia nacional.
(Risos)
Foi muito louco, pessoal,
mas tive um salto quântico com relação
à minha influência e exposição.
Daí, fiz mais vídeos
e o assunto dos meus vídeos
era o mais polêmico dos EUA,
mas foi a maneira como falava sobre raça
que me transformou num para-raios digital.
Sobrevivi à brutalidade policial
e perdi um amigo de infância,
o Alonzo Ashley,
nas mãos da polícia
logo, tinha algo a dizer sobre o assunto.
Estávamos no auge do clamor
do movimento "Black Lives Matter"
e as pessoas me procuravam
para formular suas opiniões,
e, honestamente, foi bem assustador.
A internet tem uma qualidade interessante.
De certa maneira, conectou todo o mundo,
e eu me lembro que, quando criança,
muitas propagandas utópicas
eram jogadas sobre nós,
sobre como a rede mundial de computadores
iria conectar as pessoas de todo o mundo.
Mas as pessoas sempre serão pessoas.
(Risos)
E essa superestrada mágica
também atingiu os demônios da natureza
e deu Ferraris a eles.
(Risos)
A tecnologia é muito parecida
com o dinheiro.
Ela apenas mostra e amplifica
o que já está dentro de nós.
E logo conheci o fenômeno
do "troll" da internet.
Eles parecem viver debaixo
das pontes dessa superestrada...
(Risos)
E parece que eles não receberam o aviso
sobre a sabedoria da era da internet.
Lembro-me de ser vítima
de insultos incrivelmente racistas
vindo daqueles que usavam
a anonimidade da internet
como se fosse um capuz da Klan.
Alguns deles eram até criativos...
mas outros machucavam,
principalmente quando se trata
do mundo pós-traumático
de um sobrevivente de brutalidade policial
no ápice do "Black Lives Matter",
com muita gente da minha linha do tempo
sendo assassinada.
Para esses trolls, eu não era humano,
era uma ideia, um objeto,
uma caricatura.
Já falei que este negócio de raça
pode ser bem polêmico?
Sou uma pessoa naturalmente curiosa
e, ao pegar minha espada para ter
lutas épicas na seção de comentários...
(Risos)
comecei a notar
que alguns dos trolls
realmente tinham cérebros;
isso me deixou mais curioso
e eu queria entendê-los ainda mais.
E, apesar desses supostos idiotas
possuírem o que pareciam
ser pensamentos originais
eu pensei:
"Esses caras estão muito desinformados,
pelo menos de acordo com o que sei".
De onde esses caras tiram
esses argumentos?
Será que existe algum tipo
de universo alternativo
com fatos alternativos?
(Risos)
(Aplausos)
A história e a gravidade são opcionais lá?
Sei lá.
Mas eu precisava e queria saber.
O problema é que eu não sabia nada
sobre câmaras de eco digitais.
O mesmo algoritmo
de segmentação de mercado
que te mostra mais
dos produtos que você quer compra
também te mostra mais das notícias
que você gosta de ouvir.
Eu vivia num universo on-line
que apenas refletia minha visão de mundo.
Minha linha do tempo era bem liberal.
Não tinha a Breitbart, a Infowars,
nem a Fox News.
Não mesmo; para mim era
só MSNBC e "The Daily Show".
CNN e theGrio.
Esses trolls estavam saltando
a porta da entrada dimensional
e eu precisava saber como.
(Risos)
Então, decidi fazer
o algoritmo do Facebook
me mostrar mais notícias
das quais eu discordasse,
e isso funcionou por um tempo,
mas não era o bastante,
pois minha pegada on-line,
já havia estabelecido
os padrões do meu gosto.
Daí, com a ajuda do anonimato da internet,
eu me infiltrei.
(Risos)
Criei um perfil falso e enlouqueci.
Bem, na prática, isso era simples,
mas, emocionalmente, foi meio assustador,
principalmente devido ao ódio racista
que eu tinha experienciado.
O que não percebi foi que os trolls
estavam me vacinando,
calejando a minha pele,
me deixando imune às opiniões
das quais discordava,
me fazendo não reagir da mesma maneira
que teria reagido meses antes.
Beleza? Daí continuei.
Ao perceber que tudo isso
funcionava também no YouTube,
virei o Lucius25, um "lurker"
supremacista branco...
(Risos)
e me infiltrei digitalmente
no movimento da direita alternativa.
O meu avatar
era o Edgar Rice Burroughs,
um personagem da HQ do John Carter...
(Risos)
um herói de ficção científica
que tinha sido um soldado confederado.
E pensar que, anos antes, eu precisaria
de um treinamento de atuação,
uma maquiagem e identidade falsa.
Hoje posso só ser um "lurker".
Comecei a procurar
por um pouco de "Infowars",
e um pouco da revista
"American Renaissance",
da "National Vanguard Alliance",
e comentei em vídeos,
falando mal do Al Sharpton
e do "Black Lives Matter".
Deplorava os que combatiam o racismo
como o Eric Holder e o Barack Obama,
e espelhava os sentimentos antinegros
que eram jogados em mim.
E, para ser honesto, foi meio estimulante.
(Risos)
Passava dias navegando
com meu novo perfil racista...
(Risos)
Fazer besteira no mundo ariano
foi algo bem diferente.
(Risos)
Comecei a entrar nos perfis
do meus antigos trolls,
e muitos deles são só gente normal,
curtem vida ao ar livre,
são caçadores, nerds de computador,
e caras comportados que gravam
vídeos de suas famílias.
Até onde sei, alguns deles podem
estar aqui nesta sala, né?
(Risos)
Mas, quando me infiltrei, vi uma grande
abundância de personalidades,
celebridades como Milo Yiannopoulos,
Richard Spencer e David Duke.
Esses caras eram líderes
do pensamento da direita,
mas, com o passar do tempo, a direita
alternativa acabou usando suas informações
para suprir seu fervor.
E outra coisa levou ao fervor
da direita alternativa:
a esquerda tentar demonizar extensivamente
tudo que seja branco e masculino.
Se você tiver a pele clara e um pênis,
você está de segredos com o Satã.
(Risos)
E, vocês sabiam...
vocês acreditariam que algumas
pessoas se ofendem com isso?
E...
(Risos)
Mas, escutem,
o fato é que a geração do milênio
só estuda a história fragmentada.
Os norte-americanos estão
decididos a encher os livros
com versões de "CliffsNotes"
sobre seu passado obscuro.
Isso descontextualiza severamente
a raça e a raiva que vem com ela,
criando um solo fértil
para que fatos alternativos surjam.
E no mundo louco da internet
é fácil vender ideias
do "Mein Kampf" reformuladas
a uma geração reprovada
nas escolas públicas.
E muitas dessas ideias são
facilmente desmascaradas.
Fatos alternativos
têm essa característica.
Mas um tema nas entrelinhas dos argumentos
chamou muito minha atenção,
e ele era:
por que sou odiado pelo
que não posso evitar ser?
E, como um homem negro
nos EUA, isso me marcou.
Já passei muito tempo
me defendendo contra tentativas
de me demonizar
e me desculpando pelo que sou,
tentavam me retratar
como algo que eu não era:
um criminoso ou um gangster;
uma ameaça à sociedade.
Uma compaixão inesperada.
Uau.
Mas,
as fontes históricas da demonização
de homens brancos e negros
são muito diferentes,
e a categoria em que você se enquadra,
infelizmente, é um acidente no nascimento.
Provavelmente vocês estão surpresos
com esta perspectiva,
e eu também estava.
Nunca na minha vida achei
que poderia ter compaixão
por aqueles que me odiavam.
Não é uma compaixão que me faça
querer ser amigo deles.
Não sinto compaixão
infinita pelas pessoas
que me querem fora deste planeta, beleza?
Mas tenho compaixão o suficiente
para entender a postura deles.
E para ser honesto,
eles têm algumas opiniões válidas.
Por exemplo, o fato de os liberais
receberem todos de braços abertos,
menos aqueles que têm
visões conservadoras.
(Risos)
Deus me livre se você ama
mesmo seu país e Deus, né?
Falavam também do medo que tinham
do que chamavam de "genocídio branco",
o medo da diversidade ser
uma força que irá apagá-los.
Eu entendo o que é temer
pelo destino de seu povo.
Só de pensar em crack, AIDS,
violência de gangues,
encarceramento em massa,
gentrificação e brutalidade policial,
o povo negro tem muitas razões
para se preocupar.
Mas, se a natureza dá razão
à diversidade e você não,
lamento muito, mas você perderá esta luta.
(Risos)
(Aplausos)
A natureza não está nem aí para sua
raça; isso foi criação do homem.
A natureza só quer organismos saudáveis,
e, para atingir essa meta, seus preciosos
traços étnicos serão ignorados.
A partir do momento que você
se desprende da sua identidade de raça
e se conecta de novo com a humanidade,
todos seus problemas acabam.
(Aplausos)
Eu digo qual raça não
está prestes a acabar:
a raça humana.
Vem curtir. A água está uma delícia.
(Risos)
Até a água ficar muito quente,
mas esta é uma outra palestra TED.
(Risos)
O meu ponto é: para você chegar
a esse entendimento,
você tem que deixar o medo pra lá
e se agarrar à curiosidade,
e, infelizmente, muitas pessoas
não entrarão nesta jornada
para ver o mundo do outro lado.
Vamos ser honestos,
isso não serve só para os progressistas,
mas para os conversadores
de direita também.
Mesmo que alguns
dos argumentos fossem válidos,
eles ainda estavam presos
nas suas câmaras de eco,
reciclando o mesmo ponto
de vista velho e arcaico,
sem nunca diversificar suas perspetivas
e sem ter uma visão de mundo completa.
Eles nem escutam as vozes
políticas e antirracistas,
como a do Tim Wise,
da Michelle Alexander, do Dr. Joy Degruy,
Boyce Watkins, Tariq Nasheed.
Todas essas vozes têm
as repostas que eles procuram,
mas, infelizmente, eles não as escutarão
devido ao poder das câmaras de eco.
Temos que desfazer as divisões digitais,
pois à medida que nossa tecnologia avança,
as consequências do tribalismo
se tornam mais perigosas.
Toda essa experiência me ensinou
que nossos dispositivos não nos salvarão.
Todos os dispositivos tecnológicos
só têm domínio do universo lá fora,
mas não aqui dentro.
Só falam do QI, e não do IE.
É um desequilíbrio perigoso.
Onde iremos conseguir
a inteligência emocional,
o desenvolvimento da personalidade,
a virtude da paciência,
indulgência, compaixão,
e as coisas que fazem
com que esses dispositivos
sejam uma bênção e não uma maldição?
Parece que a humanidade em si
está precisando de uma atualização.
Mas...
(Aplausos)
É uma grande tarefa a cumprir,
mas não acredito que existam
monstros invencíveis.
Não há gigantes sem ao menos
um calcanhar de Aquiles.
E se eu disser a vocês
que o melhor jeito de chegar a isso
é conversar corajosamente
com pessoas difíceis,
que não veem o mundo
da mesma maneira que você?
Ah, meus amigos, conversas devem ser
mesmo a chave para a atualização,
pois, lembrem-se,
a linguagem foi a primeira
forma de realidade virtual.
Literalmente é uma representação
simbólica do mundo físico,
e, com esse dispositivo,
podemos mudar o mundo físico.
Lembrem-se, conversas
acabam com a violência,
conversas geram países,
constroem pontes,
e, no momento crítico,
as conversas são a última
ferramenta que humanos usam
antes de ir às armas.
E não pensem que estou falando
de conversas on-line seguras
no conforto do seu laptop.
Não.
Falo de conversas cara a cara
com pessoas de verdade.
Com isso em mente, organizei
um fórum da comunidade
chamado "Shop Talk Live".
Alguém já esteve lá, né?
No "Shop Talk Live",
temos as conversas que mudam vidas.
Nós nos encontramos com a comunidade
bem onde ela se encontra,
e já fizemos de tudo: já desencorajamos
violência de gangues ao vivo,
ajudamos a encontrar emprego,
e já aconselhamos jovens sem teto.
Tivemos que fazer isso
pois, na comunidade negra,
existia uma séria falta de confiança
devido à violência da era do crack.
E nós acabamos fazendo tudo sozinhos,
resolvendo nossos próprios problemas,
sem esperar por ninguém.
E a verdade é,
seja ele o prefeito ou o criminoso,
você irá vê-los na barbearia.
Então, o que fizemos foi só
organizar o que já acontecia.
Agregamos os pontos de vista alternativos
que vinham dos universos
digitais alternativos,
e os dissecamos, os desmembramos
em tópicos controversos.
Depois, com meu celular,
virei a internet contra si mesma,
e comecei a transmitir
essas conversas ao vivo
para meus seguidores.
Isso os fez querer sair
do conforto de seus laptops
e se encontrar pessoalmente
e conversar de verdade
com pessoas reais na vida real.
E fizemos isso... obrigado.
(Aplausos)
Às vezes, reflito sobre o paradoxo
de eu tentar resolver os problemas,
de nós tentarmos resolver
os problemas em nossas comunidades.
Nós já construímos pontes
com tantas comunidades,
desde a comunidade LGBT
à de imigrantes árabes
e até nos sentamos com alguém usando
uma bandeira confederada no chapéu
e falamos de coisas
que realmente importam.
Está na hora de pararmos de tentar
dar um jeitinho na experiência humana.
Não temos como fugir uns dos outros.
Então, pare de tentar.
(Aplausos)
Temos que entender:
todos os seres humanos querem o mesmo
e temos que nos relacionar para conseguir.
É por causa dessas conversas corajosas
que pontes são construídas.
Está na hora de vermos
pessoas como pessoas
e não só como as ideias
que projetamos nelas ou às quais reagimos.
Os seres humanos não são as barreiras,
mas são as entradas
para as coisas que desejamos.
Esta é uma evolução coletiva e consciente.
A minha jornada começou
com um famoso vídeo de celular
e com um amigo que perdi.
A sua jornada começa agora.
Junte-se ao renascimento
da conexão humana.
Ele vai acontecer mesmo sem você.
A minha sugestão é: escolha um assunto
e comece um diálogo comunal
pelas suas redondezas.
Encontre com as pessoas na vida real.
Acredite em mim,
quando você burlar o algoritmo
da sua existência,
você terá experiências diversificadas.
Está na hora de crescer, pessoal.
Quando, e não se, fizermos isso,
ficará claro que a chave
para a atualização
foi sempre nosso mundo interno,
e não um dispositivo que criamos,
e a entrada para essa experiência é,
e sempre será, cada um de nós.
Obrigado.
(Aplausos)