Bom dia. Como a maioria de vocês, adoro viajar. Tanto mais que, como sou investigadora de arquitetura, viajar é muito útil para a minha profissão. Um dos locais mais apaixonantes que visitei foi Machu Picchu, no Peru. A uns quilómetros dali, situa-se esta ponte fantástica, feita de plantas, há 600 anos, no tempo dos incas. Todos os anos, os aldeões dos dois lados do rio reúnem-se num festival de três dias, durante o qual entrançam a erva das colinas adjacentes para renovarem a ponte. Os materiais crescem naturalmente, são locais e a construção manual não é poluente. É assim um procedimento histórico que devia inspirar os engenheiros modernos. Comparem isto com o edifício em que nos encontramos: a Sorbonne, em Paris. Quanto CO2 foi libertado para construir este edifício? Segundo um rápido cálculo, aproximado, se este edifício fosse construído hoje, emitiria 50 vezes mais carbono do que conduzir de Paris a Pequim. Quando compramos um carro, perguntamos qual o consumo de CO2. Porque é que não perguntamos o mesmo quando compramos uma casa? Podem ficar admirados, mas em França 40% das emissões de CO2 provêm do setor da construção. É muito mais do que o que provém do setor dos transportes. Desde sempre que me interessei pelo colossal impacto que os edifícios têm no nosso ambiente. É por isso que quis ser engenheira arquiteta. (Risos) Tinha vontade de mudar de imagem. É verdade que a arquitetura contemporânea tem uma relação bastante conflituosa com o ambiente. E eu defino esse conflito por três vícios que vos vou mostrar hoje mas também vou mostrar como o podemos evitar, com alguns exemplos. Já devem ter percebido, o primeiro vício é o carbono. Portanto, o CO2 como um gás com efeitos de estufa. Sabiam que o carbono aumentou 40% desde a revolução industrial? Daí a alteração climática. Se queremos evitar as catástrofes climáticas irrevogáveis, precisamos de reduzir as emissões de carbono, a partir de agora. Não dentro de 20 ou 50 anos, mas agora. É por isso que não basta reduzir o carbono proveniente da utilização dos edifícios, mas também o carbono que é emitido durante a construção dos edifícios. Portanto, para o cálculo da Sorbonne que acabei de fazer, não só levei em conta o aquecimento, a iluminação, a utilização do edifício, — aquilo a que chamamos o carbono operacional — mas levei em conta todo o resto do ciclo de vida do edifício: a extração dos materiais, a sua produção, o transporte para o estaleiro, a construção do edifício, a sua demolição e a gestão dos resíduos. Tudo isso, é aquilo a que chamamos o carbono intrínseco, o carbono incorporado. Ao contrário do carbono operacional que podemos melhorar no futuro, tomando medidas de eficácia de energia, o carbono intrínseco é imediato: depois de emitidas as emissões do carbono intrínseco, o mal está feito. Além disso, certos edifícios têm uma duração de vida muito curta. Olhemos para o que a História nos ensina: eis duas cúpulas que, no momento da sua construção, eram as maiores cúpulas de betão da Terra. O Panteão de Roma, e o Kingdome em Seattle. O Panteão foi construído há 2000 anos, e o Kingdome foi construído nos anos 70. Eis o que se passou. Apenas 26 anos depois da sua construção, o Kingdome foi demolido por explosão. Tinham caído umas telhas do teto e o estádio perdeu popularidade. Portanto, foi preciso destruí-lo. Demasiadas vezes, o impacto ambiental dos edifícios é descrito apenas pelo carbono operacional da utilização. Mas, no caso do Kingdome de Seattle, tal como em muitos outros edifícios, o carbono intrínseco, ou seja, a construção e a demolição do edifício, é uma parte muito mais importante do impacto total do ciclo de vida dos edifícios. É por isso que temos necessidade de um método global e uniforme para avaliar o carbono dos edifícios. Por isso, quis juntar-me à equipa do Laboratório Building Technology do MIT, a fim de criar uma base de dados dos edifícios com as suas emissões de CO2 e a quantidade dos materiais. Nessa base de dados, engenheiros e arquitetos podem integrar os seus projetos e compará-los aos milhares de edifícios de todo o mundo. Para vos dar um exemplo concreto, eis dois estádios da base de dados: temos o estádio olímpico de Pequim — talvez o conheçam pelo nome de Ninho de Pássaro — e o estádio olímpico de Londres. Estes dois estádios olímpicos têm a mesma função. No entanto, um destes dois estádios emite 10 vezes mais carbono na sua construção que o outro. Qual deles acham que é? Ouvi dizer Pequim? A minha base de dados mostrou que é o estádio de Pequim que utiliza 10 vezes mais carbono do que o de Londres. Porquê? Porque a equipa de "design" londrina integrou a sustentabilidade desde as primeiras fases da conceção. Isso é a prova de que os "designers" têm uma influência enorme no impacto ambiental dos edifícios. É isso que me motiva, que me faz levantar todas as manhãs, saltar da cama para ir trabalhar. Quero dar aos "designers" as ferramentas, os instrumentos necessários para reduzir o impacto ambiental dos seus edifícios. Agora vocês acham que eu sou uma ecologista "hippie". (Risos) Uma "tree hugger", como se chama nos EUA. Talvez seja, sim, talvez seja uma ecologista "hippie", mas não sou só isso. Também penso no dinheiro que podemos poupar. Para além do carbono, se minimizarmos os materiais da nossa casa. chegamos ao segundo vício, que é o dinheiro. É verdade, as estruturas ineficazes gastam, de forma inútil, os materiais e, portanto, o dinheiro. Como sou belga, vou mostrar um exemplo do meu país. Esta é a prodigiosa gare de Liège que, em 10 anos de construção, ou seja, com sete anos de atraso... (Risos) triplicou o custo financeiro, atingindo os 300 milhões de euros. É por causa disto que eu quero desenvolver um instrumento que ajude os arquitetos e os engenheiros a colaborarem em conjunto para diminuírem, não apenas o impacto ambiental dos edifícios, mas também o seu custo financeiro, aumentando a sua funcionalidade, a estrutura e a estética dos seus edifícios. Respeitando a liberdade de expressão criativa dos engenheiros e arquitetos, quero contribuir para uma nova abordagem inovadora da conceção e da construção. Mas antes de se poder fazer isso, é preciso considerar o terceiro vício da arquitetura contemporânea, ou seja, a vaidade. É preciso evitar as etiquetas... (Risos) as etiquetas ambientais de certos "starchitects ". "Starchitect" é uma palavra formada por "star" e "architect". Eu gostava que vocês mudassem o vosso olhar sobre a arquitetura, gostava que admirassem edifícios que contribuem para um futuro progressista e sustentável, e não apenas edifícios que se contentam em ser bonitas estruturas de arte moderna. Comparem, por exemplo, a fantástica Fundação Louis Vuitton, em Paris e a Torre Eiffel. Pela sua conceção estrutural, a Torre Eiffel conseguiu tornar-se um ícone para a cidade, utilizando duas vezes menos aço do que a Fundação Louis Vuitton. Vemos que é possível combinar uma engenharia eficaz e uma arquitetura criativa para minimizar os materiais e assim (inaudível). Para além de minimizar a utilização dos materiais, de utilizar materiais locais como faziam os incas, podemos também reciclar ou reutilizar os materiais, como faz este arquiteto japonês que constrói pavilhões com tubos de cartão. Também podemos utilizar materiais naturais, como terra comprimida na muralha da China, ou bambu, como nesta catedral na Colômbia. Nesta região, o bambu cresce até 30 cm por dia! O que o torna num material muito renovável. Também podemos utilizar a madeira, porque a madeira, durante o crescimento, absorve carbono em vez de o emitir. Gabinetes de engenheiros estão a fazer estudos a fim de construir arranha-céus de madeira. Como veem, tudo é possível. Adotem duas regras para uma arquitetura ambiental. A primeira é utilizar menos materiais, e a segunda, é diminuir o carbono desses materiais. Viajemos agora para o futuro. No futuro, temos uma arquitetura que percorreu uma via falsa, com demasiado carbono, demasiado dinheiro, demasiada vaidade, mas encontrámos o caminho certo aprendendo com essa arquitetura aprendendo com o nosso legado histórico, o nosso património, aprendendo com outras culturas, e explorando. Conceberemos sem limites mas lembrando-nos que os nossos recursos são limitados. Isso quer dizer que temos de ser um pouco mais criativos. Esperemos que os engenheiros, os arquitetos e os construtores de amanhã se inspirem nas colunas de cartão, nas arcadas de tijolos naturais, nas pontes ultra otimizadas ou nas catedrais de bambu. Os "starchitects" de amanhã serão aqueles que terão conseguido este desafio ecológico. Os exploradores de amanhã serão aqueles que terão conseguido este desafio ecológico. Muito obrigada. (Aplausos)