Desde que eu era criança,
uma pergunta vivia me assombrando:
"O que nos torna quem somos?"
Certo, vocês vão responder
essa pergunta dizendo
que eu era uma criança esquisita,
e devo concordar com vocês,
mas creio que essa questão
pode ser muito interessante.
O que quero dizer é:
qual é o cerne de nossa identidade?
Alguém poderia dizer:
nossa aparência física.
Bem, faz sentido,
é assim que eu reconheceria vocês.
Outra pessoa poderia sugerir:
a forma que nos vestimos.
Bem, isso definitivamente
reflete nossa personalidade.
Porém, acho que encontrei
uma resposta mais convincente
na aula de biologia no ensino médio,
e essa resposta me deixou
ainda mais curioso para explorar mais.
Nossa identidade é nosso cérebro.
Pense sobre isso!
Nosso cérebro comanda a forma
com que nos movemos, que falamos,
a forma que nos sentimos.
Ele preserva nossas memórias.
Ele cria nosso pensamento
e também muda conosco.
Um ano e meio atrás, consegui
uma vaga de estudante de doutorado
no Centro de Pesquisa Biomédica Newcastle.
Isso me deu a oportunidade de descobrir
um pouco mais sobre como o cérebro muda
quando crescemos, quando envelhecemos,
e, em casos infelizes,
quando ficamos com demência.
Hoje, vou levar vocês a uma jornada
através da história e da mente,
e exploraremos uma nova forma eficiente
de entender mais sobre como o cérebro
muda quando alguém tem demência
e como isso pode ajudar
milhões de pessoas no mundo todo.
Mas o que é demência?
O que sabemos sobre a demência?
Sempre tivemos o mesmo
conhecimento sobre isso?
Bem, não é esse o caso.
Vamos voltar 2 mil anos no tempo.
A antiga Grécia, grandes mentes
como Pitágoras ou Hipócrates.
Eles já podiam perceber
um estágio tardio de nossa vida
que envolvia algum tipo
de regressão mental.
Mas achavam que era apenas
uma consequência inevitável do envelhecer.
Vamos seguir em frente: Idade Média.
Infelizmente, a Idade Média não foi
proficiente em progresso científico
e nada de novo foi descoberto
sobre demência,
até o século 18,
quando, graças ao desenvolvimento
da pesquisa em anatomia,
puderam ver pela primeira vez
a atrofia cerebral relacionada
a essa regressão mental.
Porém, naquele tempo, se alguém mostrasse
alguma forma de doença mental,
era apenas considerado louco
e confinado em um hospício,
até o século 19, quando
um cientista chamado Alzheimer
pôde ver pela primeira vez
no cérebro de uma moça morta
que a doença que afeta
nossas habilidades mentais e memória
é associada à presença
de algumas placas em nosso cérebro.
Isso é o que hoje é conhecido
como a doença de Alzheimer,
que eu acredito que todos nesta sala
já tenham ouvido falar.
Esta é a causa mais comum de demência.
Porém, uma a cada dez pessoas com demência
é afetada por uma forma diferente,
que foi descoberta no século passado
por um psiquiatra japonês chamado Kosaka.
Esta forma de demência
é causada pelo acúmulo de agregados
anormais de proteínas no cérebro.
Estes corpos proteicos são
chamados de "Corpos de Lewy",
em homenagem ao cientista
que os encontrou primeiro.
Esta forma de demência, que é chamada
demência com Corpos de Lewy,
causa problemas em nossos movimentos
e em nosso caminhar.
Mas, bem lá no começo,
seus sintomas são muito similares
aos da doença de Alzheimer.
Para fazer um diagnóstico,
a maneira mais comum usada pelos médicos
é pedir à pessoa que tem os sintomas
que responda alguns questionários.
Os resultados desses questionários
estão de alguma forma relacionados
à severidade dos sintomas,
e por fim auxiliam no diagnóstico.
Mas, como podem imaginar,
a similaridade entre os sintomas
da demência pela doença de Alzheimer
e a demência com corpos de Lewy
torna muito difícil
diagnosticar corretamente;
e um diagnóstico errado significa
um tratamento errado.
Para melhores diagnósticos
os médicos podem contar
com alguns danos causados pela doença
para encontrar a diferença.
Até o momento, poucas tecnologias foram
usadas para avaliar como o cérebro muda
quando alguém tem demência.
Por exemplo, graças às imagens
por ressonância magnética,
também conhecido como MRI,
podemos ver que quando alguém
possui demência com corpos de Lewy,
algumas partes do cérebro se tornam
mais finas do que o comum.
Contudo, essas e outras tecnologias
ainda são muito caras, demoradas,
ou desconfortáveis para os pacientes.
Há alguma outra forma melhor
para obter um diagnóstico certo
nos estados iniciais da demência?
Esta é a principal questão que tento
responder com minha pesquisa.
Agora, quero que todos vocês pensem
sobre seu próprio cérebro
como um computador poderoso.
Um computador usa eletricidade
para processar o texto digitado,
as imagens que vemos na tela,
ou os jogos que jogamos.
Ele não é apenas um bloco
de metal e plástico.
É feito de várias partes independentes,
que se relacionam
através de cabos coloridos.
De forma muito similar,
seu cérebro usa eletricidade
para processar todas as informações
coletadas do mundo ao redor.
Podemos chamá-la de atividade elétrica.
Nosso cérebro não é apenas
uma esponja de matéria cinzenta.
Ele é feito de várias
áreas independentes ou regiões
que falam entre si
através de vias conectadas.
Podemos encontrar
tanto vias lentas quanto rápidas,
e a eletricidade flui através delas
e conecta nosso cérebro.
Neste ponto, podemos fazer a hipótese
que devido à doença que causa demência,
essas vias elétricas podem ser
de alguma forma afetadas, certo?
Mas para provar essa hipótese,
nós precisaríamos de um jeito
para registrar a atividade
elétrica do cérebro.
Há algum jeito de fazer isso?
Bem, a resposta para essa pergunta
é uma tecnologia chamada
eletroencefalograma, ou EEG.
O EEG consiste basicamente em um capuz
feito de pequenos objetos
chamados eletrodos,
que acompanham continuamente
a atividade elétrica do cérebro
a partir do couro cabeludo.
Comparada a outras tecnologias,
o EEG é muito mais fácil, barato e rápido.
Então, recentemente,
cientistas tentaram avaliar
como essas vias elétricas
do cérebro são afetadas
quando alguém tem demência, usando o EEG.
Interessantemente, descobriram
que quando alguém tem demência,
todas essas vias elétricas estão
de alguma forma defeituosas.
Isto significa que a eletricidade
não consegue fluir corretamente
da forma que deveria,
e a informação não é processada
de forma adequada
pelas diferentes áreas do cérebro.
Mas o achado mais interessante foi
que na demência com corpos de Lewy,
as vias mais rápidas estão
ainda mais prejudicadas.
Isso significa que a informação
é mais lenta em todo o cérebro,
e isso leva a todos os sintomas associados
à demência com corpos de Lewy,
como a perda temporária de consciência,
alucinações visuais, problemas de sono.
Como podem ver, graças a uma ferramenta
fácil e conveniente como o EEG,
podemos ter melhor compreensão
sobre como o cérebro lida com a demência.
Porém,
ainda há uma grande questão não resolvida:
onde está a fonte dessas mudanças anormais
dentro do cérebro?
Com a minha pesquisa, eu espero bolar
uma estratégia para encontrar a posição,
a força, e o tamanho dessa fonte,
e acredito que a forma de fazer isso pode
estar mais perto do que pensamos.
Agora, quantas pessoas no auditório têm
um smartphone? Levantem a mão!
Era exatamente isso que eu esperava!
Se vocês pegarem os smartphones,
se abrirem o mapa nele,
a primeira coisa que vão ver é
algo parecido com isto:
um ponto azul mostrando sua posição atual.
Alta tecnologia, não é?
Já se perguntaram como isso funciona?
Basicamente, há objetos chamados satélites
que giram em volta da Terra.
Cada satélite coleta algumas informações
sobre a posição de seus smartphones.
Finalmente, seus smartphones
reúnem todas essas informações,
e coletam a sua própria posição,
a de cada um de vocês.
Talvez se perguntem por que comecei
a falar de smartphones...
não estou tentando vender nada a vocês.
O que estou tentando dizer
é que podemos utilizar a mesma estratégia
para encontrar aquela fonte no cérebro.
No nosso caso, os satélites serão
os eletrodos do capuz de EEG.
O smartphone será a fonte cerebral
que estamos procurando.
Se tudo isso funcionar, graças
a ferramentas poderosas como o EEG,
estaremos muito mais perto
da fonte da doença em si,
e isso será uma grande contribuição
em um futuro próximo
para encontrar uma maneira eficiente
de diagnosticar a demência,
para curar as pessoas afetadas,
e, finalmente, consertar este incrível
computador que é o nosso cérebro.
Obrigado.
(Aplausos)