Cloe Shasha: Bem-vindo, Ibram,
e muito obrigada por se juntar a nós.
Ibram X. Kendi: Obrigado, Cloe, e Whitney,
e obrigado a todos por
participarem desta conversa.
Há algumas semanas,
neste mesmo dia, nós soubemos
da morte brutal de George Floyd.
Também soubemos
que uma mulher branca, no Central Park,
que não quis pôr a coleira no cão,
ao ser solicitada a colocá-la,
por um homem negro.
em vez disso,
decidiu ameaçar esse negro,
em vez disso,
decidiu chamar a polícia,
e alegar que estava a ser ameaçada.
E claro, quando assistimos
a isso, em vídeo,
muitos de nós, norte-americanos,
ficámos indignados.
Esta mulher, Amy Cooper,
foi à rede nacional de televisão
para dizer, como inúmeros
norte-americanos já disseram,
logo após protagonizarem
um ato racista:
"Eu não sou racista."
E digo inúmeros americanos,
porque quando, de facto, pensamos
na história dos norte-americanos
que expõem as suas ideias racistas,
que apoiam políticas racistas,
estamos, de facto, a falar
na história de um povo
que alega não ser racista,
porque toda a gente alega não ser racista
— quer estejamos a falar
das Amy Cooper do mundo,
ou de Donald Trump,
que, logo depois de dizer que a região
de maioria negra em Baltimore
é uma zona de ratos e roedores na qual
nenhum ser humano gostaria de viver,
e foi apontado como racista,
respondeu: "Na verdade,
eu sou a pessoa menos racista do mundo."
Realmente o pulsar do racismo em si
sempre foi de negação,
e o som dessa pulsação sempre foi:
"Eu não sou racista."
Então, o objetivo do meu trabalho
é fazer com que os norte-americanos
eliminem do seu vocabulário
o conceito de "não racista"
e percebam que ou estamos
a ser duplamente racistas
ou somos antirracistas.
Expressamos ideias que sugerem
que certos grupos raciais
são melhores ou piores do que outros,
ou superiores ou inferiores a outros.
Ou estamos a ser racistas,
ou a ser antirracistas.
Estamos a expor o conceito
de que os grupos raciais são iguais,
a despeito das diferenças culturais
e até mesmo étnicas.
Estamos a apoiar políticas
que levam à desigualdade
racial e a injustiças,
como vimos em Louisville,
onde Breonna Taylor foi assassinada,
ou estamos a apoiar e a pressionar
políticas de justiça
e igualdade para todos.
Então, penso que devemos
ser bastante claros
sobre se estamos a expressar
ideias racistas,
sobre se estamos a apoiar
políticas racistas,
e reconhecer quando o fazemos,
porque ser antirracista
é reconhecer quando expressamos
uma ideia racista, é dizer:
"Querem saber?
"Quando estava a fazer aquilo
no Central Park,
"eu estava, de facto, a ser racista.
"Mas vou mudar.
"Vou esforçar-me por ser antirracista."
E ser racista
é negar constantemente
as desigualdades sociais que permeiam
a sociedade norte-americana,
é negar constantemente as ideias racistas
que permeiam as mentes norte-americanas.
Por isso, quero construir
uma sociedade justa e igualitária
e a única forma de nivelarmos isso
começa com este processo
de reconhecer o nosso racismo
e começar a construir
um mundo antirracista.
Obrigado.
CS: Muito obrigada por essas palavras.
O Ibram sabe que o seu livro
"How to Be an Antiracist,"
tornou-se um "bestseller"
à luz do que tem acontecido,
e o Ibram fala um pouco
sobre a forma como o racismo
e o antirracismo
são as únicas posições opostas
a partilharem uma visão sobre o racismo.
Gostaria de saber se nos
poderia falar um pouco mais
sobre quais são os princípios
básicos do antirracismo
para esclarecer o tema para os que
não identificam as suas atitudes
como antirracistas.
IXK: Claro. Eu mencionei
na minha palestra
que a força motriz do racismo é a negação,
e a genuína força motriz
do antirracismo é a confissão,
é o reconhecimento de que,
para amadurecermos nesta sociedade,
literalmente,
precisamos de interiorizar,
a certa altura da nossa vida,
provavelmente ideias racistas,
ideias que sugerem que certas raças
são melhores ou piores do que outras.
E porque acreditamos
na hierarquia racial,
porque os norte-americanos foram
sistematicamente ensinados
que as pessoas negras
são mais perigosas,
que as pessoas negras são mais
propensas à criminalidade,
quando vivemos numa sociedade
na qual os negros
são 40% da população nacional
encarcerada,
isto parece normal às pessoas.
Quando vivemos numa sociedade,
numa cidade como Minneapolis,
onde os negros correspondem
a 20% da população,
porém mais de 60% são sujeitos
a tiros da polícia,
isto parece normal.
Então, ser antirracista
é acreditar que não há nada errado
ou inferior em relação aos negros
ou qualquer outra raça.
Não há nada perigoso
em relação aos negros
ou qualquer outra raça.
Quando vemos estas disparidades
raciais à nossa volta,
vemo-las como anormais,
e começamos a pensar:
Que políticas é que estarão
por detrás de tantos negros
serem mortos pela polícia?
Que políticas estarão por detrás
do facto de tantos latinos
estarem a ser desproporcionalmente
infetados pelo COVID?
Como posso fazer parte de uma luta
para invalidar políticas e substituí-las
por políticas antirracistas?
Whitney Pennington Rodgers:
Então parece que você, de facto,
faz uma distinção entre
os não racistas e os antirracistas.
Você poderá falar um pouco mais
sobre isto em pormenor?
Qual a diferença entre os dois?
IXK: Do modo mais simples,
um não racista é um racista em negação,
e um antirracista é alguém
capaz de reconhecer
quando está a ser racista,
que é capaz de reconhecer
as desigualdades e os
problemas raciais da nossa sociedade,
que é capaz de desafiar
essas desigualdades raciais
contestando políticas.
Digo isso porque, de facto, esclavagistas
e traficantes de escravos
acreditavam que as suas ideias
não eram racistas nestes termos.
Eles diriam coisas como:
"Os negros são os descendentes
amaldiçoados de Ham
"e serão amaldiçoados como
escravos eternamente."
Isto não significa: "Não sou racista."
Significa: "A Lei Divina."
Eles diriam coisas como, você sabe:
"Com base na ciência, na etnologia,
"ou na história natural,
"os negros, por natureza,
"estão predispostos
à escravidão e servidão.
"Esta é a lei natural. Não sou racista.
"Na verdade, estou a cumprir um papel
que por natureza devo cumprir."
Assim, esta construção de não ser racista
e de negar o racismo
vem de lá de trás,
das origens deste país.
CS: Sim.
E porque é que acha
que ainda tem sido tão difícil
para algumas pessoas aceitarem
que a neutralidade não é suficiente
quando se trata de racismo?
IXK: Acho que é porque dá
muito trabalho ser antirracista.
Tem que se ser muito vulnerável, certo?
Você tem que ser capaz de admitir
que está errado.
Você tem de ser capaz de reconhecer
que, se tem mais posses,
se é branco, por exemplo,
e se possui mais,
não é porque é superior.
Você tem de reconhecer que,
sim, trabalhou duro,
em capacidade máxima,
na sua vida,
mas que também teve algumas vantagens
que lhe abriram oportunidades
que outras pessoas não tiveram.
É preciso reconhecer essas coisas,
e é muito difícil
ser autocrítico publicamente,
e até particularmente, .
Acho que este também é o caso,
e deveria ter iniciado desta forma,
de como as pessoas definem
a palavra "racista."
Algumas pessoas
tendem a definir "racista"
como uma categoria fixa,
como uma identidade.
Isto é essencial para definir
um indivíduo.
Alguém se torna racista.
E desta forma...
Desta forma também se associa o racista
a uma pessoa ruim, cruel.
Associa-se o racista a um integrante
do Ku Klux Klan.
E eles dizem: "Não sou do Ku Klux Klan,
"não sou uma má pessoa
"e tenho feito o bem na vida.
"Tenho feito o bem às pessoas de cor.
"Por isso, não posso ser racista.
"Não sou. Não é minha identidade."
Na verdade, não é assim que devemos
definir a palavra racista.
Racista é um termo descritivo.
Descreve o que uma pessoa
diz ou faz em determinado momento,
ou seja, quando alguém, em algum momento,
expressa um conceito racista,
naquele momento está a ser racista
ao dizer que os negros são preguiçosos.
Se, no momento seguinte,
está a apreciar a cultura
dos povos nativos,
está a ser antirracista.
WPR: Passaremos para algumas perguntas
da nossa comunidade, em breve,
mas eu acredito que, quando muitos
entendem o conceito apresentado,
a ideia de antirracismo,
há este sentimento
de que isto se refere apenas
à comunidade branca.
Assim, poderia falar mais sobre
como a comunidade negra
e não branca e outras minorias étnicas
podem tomar parte e refletir
sobre a ideia de antirracismo?
IXK: Claro.
Então, se os norte-americanos brancos
normalmente afirmam: "Não sou racista,"
as pessoas de cor
normalmente dizem:
"Não posso ser racista,
"porque sou uma pessoa de cor."
Então, algumas pessoas de cor
dizem que não podem ser racistas
porque não detêm poder para isso.
Portanto, em primeiro lugar,
o que tenho tentado fazer
no meu trabalho é ir contra a ideia
de que pessoas de cor não detêm o poder.
Não há nada mais desencorajador
para dizer ou pensar,
como uma pessoa de cor,
do que dizer que não se tem poder.
As pessoas de cor há muito usam
o poder mais fundamental
que um ser humano pode ter,
que é o poder de resistir às políticas,
o poder de resistir às políticas racistas,
o poder de resistir à sociedade racista.
Mas, se forem uma pessoa de cor,
e acreditarem que as pessoas
que vêm para cá
das Honduras ou de El Salvador
estão a invadir o país,
e acreditarem que os imigrantes latinos
são animais e violadores,
então vocês, certamente,
sejam negros, asiáticos ou nativos,
não farão parte da luta
em defesa dos imigrantes latinos,
para reconhecer que eles
têm muito a oferecer a este país
assim como qualquer outro grupo.
Vocês verão essas pessoas
como "ameaças ao vosso emprego,"
e, dessa forma, apoiarão
a retórica racista,
apoiarão as políticas racistas,
apesar de, provavelmente,
isso ser prejudicial a vocês mesmos,
por outras palavras, será nocivo,
se vocês forem negros, imigrantes
do Haiti ou da Nigéria,
se forem asiáticos ou
imigrantes vindos da Índia.
Então, é de grande importância
até para pessoas de cor
compreender que elas têm
o poder de resistir,
e quando as pessoas de cor
consideram outras pessoas de cor
como sendo o problema,
não vão ver o racismo
como o problema.
E qualquer um que não veja
o racismo como o problema,
não está a ser antirracista.
CS: O Ibram mencionou isto no início,
mas tem estado a falar sobre
como o racismo é a razão
para que as comunidades negras e de cor
sejam sistematicamente
desfavorecidas nos EUA,
o que levou a muito mais mortes
por COVID-19 nestas comunidades.
No entanto, os "media" frequentemente
culpam as pessoas de cor
pela sua vulnerabilidade à doença.
Por isso, gostaria de saber,
na mesma linha,
qual é a relação entre o antirracismo
e uma potencial mudança sistémica?
IXK: Eu acho que é uma relação direta.
porque quando se é...
Quando alguém acredita
e absorveu ideias racistas
não vai sequer achar
que a mudança seja necessária,
porque vai acreditar
que a desigualdade racial é normal.
Ou não vai acreditar
na possibilidade de mudança.
Por outras palavras,
vai acreditar que a razão
por que os negros estão a ser mortos
pela polícia, em índices tão altos
ou a razão por que os latinos
estão a ser infetados em índices elevados
é porque há algo de errado com eles,
e nada pode ser mudado.
Então, vocês nem começarão
a perceber a necessidade
de uma mudança estrutural do sistema,
e muito menos fazer parte da luta
pela mudança estrutural do sistema.
Então, para ser antirracista,
mais uma vez,
é preciso reconhecer
que há apenas duas causas
para a desigualdade racial:
que há algo errado com as pessoas,
ou que há algo errado
com o poder e as políticas.
E se vocês concluírem que não há nada
de errado com nenhum grupo social,
e digo grupos...
não digo indivíduos.
Há certamente algumas pessoas negras
que não levaram o coronavírus a sério,
o que é uma das razões
por que foram infetadas.
Porém, há pessoas brancas
que não levaram o coronavírus a sério.
Nunca ninguém provou
que os estudos mostram
que os negros são mais aptos
a levar o coronavírus a sério
do que os brancos.
Não estamos a falar de indivíduos,
e certamente não devemos
individualizar os grupos.
Certamente não devemos analisar
o comportamento individual
de um único latino ou negro,
e dizer que eles representam um grupo.
Este é um conceito racista em si mesmo.
Estou a falar de grupos,
e se acreditamos que os grupos são iguais,
então a única outra alternativa,
a única explicação para persistir
com a desigualdade e injustiça,
é poder e políticas.
Assim, usar o nosso tempo a transformar
e a desafiar o poder e as políticas
é usá-lo de modo antirracista.
WPR: Temos algumas perguntas do público.
A primeira vem de um membro
da comunidade que pergunta:
"Quando falamos de
privilégio branco,
"falamos também sobre o privilégio
de não termos as conversas difíceis.
"Você sente que isto
está a começar a mudar?"
IXK: Eu espero que sim,
porque acho
que os norte-americanos brancos
também precisam de reconhecer,
ao mesmo tempo,
os seus privilégios,
os privilégios que acumularam
em resultado de sua cor branca,
e a única forma por que
poderão fazer isso
é iniciando e tendo estas conversas.
Porém, eles também devem reconhecer
que têm mais posses,
os norte-americanos brancos
possuem mais,
devido às políticas racistas,
mas a pergunta que eu acho
que eles deveriam fazer,
particularmente quando
estão a conversar entre eles, é:
"Se tivéssemos uma sociedade
mais igualitária,
"nós possuiríamos mais?"
Porque o que pergunto
é se os norte-americanos brancos
possuem mais por causa do racismo,
mas há outros grupos
noutras democracias ocidentais
que têm mais do que
os norte-americanos brancos,
e começamos a perguntar-nos:
Porque é que as pessoas de outros países
têm assistência à saúde gratuita?
Porque é que têm
licença de maternidade remunerada?
Porque é que eles têm
uma ampla rede de segurança social?
Porque é que eles têm e nós não?
E uma das grandes respostas
ao porquê de não termos
isso aqui, é o racismo.
Uma das principais respostas
para o facto de Donald Trump
ser o presidente dos EUA
é o racismo.
Então, não estou a pedir
que os norte-americanos brancos
sejam altruístas,
para se tornarem antirracistas.
Estamos, de facto, a pedir às pessoas
que sejam inteligentes
no seu próprio interesse.
Os quatro milhões, ou cinco milhões
de brancos pobres em 1860,
cuja pobreza era o resultado direto
da riqueza de alguns milhares
de famílias donas de escravos,
no intuito de desafiar a escravidão,
não estávamos a pedir
que fossem altruístas.
Não, na verdade,
precisávamos que fizessem
o que fosse no seu próprio interesse.
As dezenas de milhões
de norte-americanos, brancos,
que perderam os seus empregos
em resultado desta pandemia,
não estamos a pedir que sejam altruístas.
Pedimos que reconheçam que,
se tivéssemos um governo diferente,
com diferentes prioridades,
eles estariam muito melhor agora.
Desculpem, não me façam começar.
CS: Não, até agradecemos. Obrigada.
E em adição a isso,
obviamente os protestos e este movimento
levaram a alguns progressos:
à remoção de monumentos confederados,
ao compromisso da Câmara de Minneapolis
em acabar com o departamento
da polícia, etc.
Mas o que é que o Ibraim considera ser
a maior prioridade das forças policiais
caso esta luta pela justiça continue?
Há outros meios de aprender
com os outros países?
IXK: Na verdade, eu não acho
que haja, necessariamente,
um tipo de política prioritária única.
Quero dizer, se preciso mesmo responder,
provavelmente diria que há duas,
que são:
assistência médica gratuita
de alta qualidade para todos.
E, quando digo alta qualidade,
não estou a falar apenas
do "Medicare For All".
Falo de um cenário paralelo
em que o sudoeste rural da Geórgia,
onde as pessoas são
predominantemente negras
e há um dos mais altos índices
de mortes no país, de COVID
nessas regiões no sudoeste da Georgia,
deveriam ter acesso à assistência médica
da mesma boa qualidade que
as pessoas em Atlanta e Nova Iorque têm,
e, ao mesmo tempo,
uma assistência gratuita.
Este ano há muitos americanos
que não estão a morrer apenas de COVID
mas também de doenças
do coração e de cancro,
que são as causas número um de mortes
de americanos antes da COVID
e a maioria deles é
desproporcionalmente negra.
Por isso eu diria que,
em segundo lugar, reparação.
Muitos americanos alegam
que acreditam em igualdade racial,
que querem abraçar a igualdade racial.
Muitos americanos reconhecem o quão
crítica está a situação económica
para cada pessoa neste país,
neste sistema económico.
Mas ao mesmo tempo muitos rejeitam
ou não apoiam as reparações.
Assim, temos uma situação
em que os americanos brancos
têm, na última vez em que verifiquei,
um rendimento médio 10 vezes maior
que o dos americanos negros.
E, de acordo com um estudo recente,
em 2053
— eu diria, entre agora e 2053 —
prevê-se um aumento
do rendimento médio dos brancos
— isto antes da atual recessão —
e o rendimento médio dos negros
supostamente cairá para zero dólares,
e isto, com base na atual recessão,
poderá estender-se por uma década.
Assim, não temos apenas
uma desigualdade racial de rendimentos,
temos uma desigualdade de rendimentos
que vai aumentando.
Então, pergunto aos americanos
que alegam estarem empenhados
na igualdade racial
e que também reconhecem a importância
da sustentação económica
e estão cientes de que a riqueza é herdada
de que a maior parte da riqueza é herdada,
e quando se pensa em herança,
pensa-se no passado
e nas políticas passadas
que muitos americanos consideram racistas,
seja a escravatura
ou até dificultando práticas,
como começaríamos a diminuir
esta crescente desigualdade
de rendimentos entre raças
sem um expressivo programa
como as reparações?
WPR: Mais ou menos ligada
à ideia de disparidade de recursos
e a desigualdade de rendimentos no país,
temos uma pergunta de Dana Perls,
"Qual a sua sugestão
para as organizações liberais brancas
"efetivamente enfrentarem
o racismo no local de trabalho,
"especialmente em locais onde as pessoas
se silenciam diante do racismo
"ou fazem declarações simbólicas
sem analisarem internamente?"
IXK: Claro.
Eu vou fazer umas sugestões.
Uma: Já há algumas décadas,
todos os locais de trabalho
têm-se comprometido publicamente
com a diversidade.
Habitualmente, possuem
declarações de diversidade.
Eu, basicamente, rasgaria
essas declarações de diversidade
e escreveria uma nova declaração,
uma declaração comprometida
com o antirracismo.
Nessa declaração seria
claramente definido o conceito racista
o que é o conceito antirracista,
o que é uma política racista
e uma política antirracista.
E isso indicaria um local
de trabalho comprometido
com uma cultura de ideias antirracistas
com uma cultura numa instituição
com base em políticas antirracistas.
Assim, todos podem avaliar
as ideias de toda a gente
e as políticas desse local de trabalho
com base nesse documento.
E eu acredito que assim começaria
o processo de transformação.
E acho também ser muito importante
que os locais de trabalho
não só diversifiquem a sua equipa
mas diversifiquem também
a administração de topo.
Acho que isso também é
absolutamente indispensável.
CS: Temos mais umas perguntas do público.
Temos uma de Melissa Mahoney
que pergunta:
"Donald Trump parece tentar
fazer do 'Black Lives Matter'
"uma questão partidária,
"por exemplo, ridicularizando Mitt Romney
"por participar num protesto pacífico.
"Como separar esta questão
para a tornar apartidária?"
IXK: Bom, acho que dizer
que a vida dos negros
é uma declaração dos Democratas,
é, ao mesmo tempo, declarar
que os Republicanos não valorizam
a vida dos negros.
Se é isto o que Donald Trump
essencialmente diz,
se ele declara que há um problema
com as manifestações
em defesa da vida dos negros,
então, qual é a solução?
A solução é "não haver manifestações".
Qual é a alternativa?
A alternativa é não haver manifestações
pelas vidas dos negros.
A alternativa é não se importar
quando negros morrem por agressão policial
ou com o COVID.
Então, para mim, a forma de tornar
isto numa questão não partidária
é combater ou questionar nesse sentido,
e obviamente os Republicanos vão alegar
que não é isso que dizem,
mas é algo muito simples:
ou acreditamos que
a vida dos negros é importante
ou não,
e se acreditamos que
as vidas dos negros são importantes
porque acreditamos
nos direitos humanos,
então acreditamos no direito humano
de todas as pessoas viverem, negras ou não
e não ter que temer a violência policial
e não ter que temer o Estado
e não ter que temer
que um protesto pacífico seja enfraquecido
por causa de um político
que quer fazer campanha.
Assim, estabelecer-se-á
uma política que mostre isso
ou não.
WPR: Então quero fazer uma pergunta
sobre o que as pessoas pensam
sobre o antirracismo
e como podem, de facto,
mostrar isso nas suas vidas.
Eu calculo que muitas pessoas
ouvem isto e pensam:
"Eu preciso de ser muito cuidadoso
"quanto à forma
como as minhas ações e palavras
"são interpretadas.
"Como é interpretada
a intenção daquilo que eu digo."
Isso pode ser cansativo,
e acho que isto está ligado
até mesmo à ideia de políticas.
Então, estou curiosa.
Há um enorme elemento de ponderação
que acompanha
o exercício de ser antirracista.
Qual é a sua reação e resposta
aos que se sentem preocupados
com o cansaço mental
de ter constantemente de pensar
se as suas ações
podem ou não ferir alguém?
IXK: Acho que parte da preocupação
que as pessoas têm sobre o cansaço mental
é a ideia
de que elas não querem cometer um erro
e acho que ser antirracista
é cometer erros e reconhecer
quando cometemos erros.
Para nós, é essencial ter
estas definições bem claras,
assim podemos avaliar as nossas palavras,
avaliar as nossas ações,
e quando cometermos um erro,
assumirmos e dizermos:
"Sabem que mais?
Este foi um conceito racista."
"Sabem uma coisa? Eu estava a apoiar
uma política racista, mas vou mudar."
Outra coisa que acho importante
que nós percebamos
é que, de muitas formas,
estamos viciados.
E quando digo nós,
indivíduos e certamente o país,
estamos viciados no racismo.
Essa é uma das razões
por que há tantas pessoas em negação.
As pessoas, geralmente,
negam os seus vícios.
Porém, quando percebemos
que temos este vício,
todos os que estavam viciados
— quando conversamos
com amigos ou familiares
que estão a ultrapassar
um vício de abuso de drogas,
eles não vão dizer
que estão completamente curados,
que não vão pensar nisso
com frequência.
Alguém que esteja a ultrapassar
o alcoolismo vai dizer:
"Este é um processo diário,
"vivido diariamente, em cada momento.
"E sim, é difícil
"conter-me
"para não regressar ao meu vício,
"mas, ao mesmo tempo, é libertador,
é uma libertação,
"porque não vou continuar a
mergulhar naquele vício.
"Então, percebo que não vou
continuar a ferir as pessoas
"por causa do meu vício."
E isto é fundamental.
Perdemos muito tempo a pensar
em como nos sentimos
e pouco tempo a pensar em como
as nossas ações e ideias afetam os outros.
Acho que isto é algo que
o vídeo do George Floyd
força os americanos a fazer:
ver verdadeiramente,
e ouvir especialmente
como uma pessoa se sente
ao ver o resultado do seu racismo.
CS: Tenho outra pergunta da audiência.
Esta pergunta:
"Pode falar sobre
o ponto de interseção
"entre o ativismo do antirracismo,
do feminismo e dos direitos dos 'gays'?
"Como é que o ativismo do antirracismo
se relaciona e afeta o ativismo
"destes outros direitos humanos?"
IXK: Claro.
Eu defino uma ideia racista
como qualquer ideia que sugira
que um grupo racial é superior
ou inferior a outro, seja como for.
E eu uso o termo "grupo racial"
em oposição a "raça"
porque todas as raças são um conjunto
de grupos de diversos setores e raças.
Assim, temos mulheres negras
e homens negros
temos negros heterossexuais
e negros "gays",
tal como temos mulheres latinas
e mulheres brancas e homens asiáticos.
O que é essencial compreender
é que não há só ideias racistas
que visaram os negros, por exemplo.
Há ideias racistas que foram evoluindo
e visaram as mulheres negras,
que visaram as lésbicas negras,
que visaram as mulheres
transexuais negras.
Muitas vezes estas ideias racistas
que visam grupos interligados,
interligam-se com outras formas
de intolerância
que também visam esses grupos.
Para dar um exemplo sobre mulheres negras,
um dos conceitos racistas mais antigos
sobre as mulheres negras
é a ideia de que elas são
mulheres inferiores
ou que nem sequer são mulheres,
e que são inferiores às mulheres brancas,
que são o pináculo da feminilidade.
Esta ideia está interligada
com a ideia machista
que sugere que as mulheres são fracas,
que, quanto mais fraca for uma pessoa,
— uma mulher —, mais mulher ela é,
e quanto mais forte ela for,
mais masculina é.
Estas duas ideias estão interligadas
e degradam constantemente
as mulheres negras
tal como a ideia da mulher negra
forte e masculina
que é inferior à mulher frágil e branca.
Assim, o único meio de compreender
estes conceitos
da mulher branca frágil e superfeminina
e da mulher negra forte e masculinizada
é compreendendo as ideias sexistas,
é rejeitando as ideias sexistas,
e, muito brevemente, digo o mesmo
quanto à interrelação
entre racismo e homofobia,
em que os "gays" negros
têm sido sujeitados à ideia
de que são mais hiper sexuais
devido à ideia de que os "gays"
são mais hiper sexuais
do que os heterossexuais.
Assim, os "gays" negros têm sido rotulados
como mais hiper sexuais
do que os "gays" brancos
e do que os negros heterossexuais.
E não podemos de facto ver isso,
entender isso e rejeitar isso
se não rejeitarmos e entendermos
e questionarmos também a homofobia.
WPR: E sobre este mesmo problema,
temos outra pergunta de Maryam Mohit:
"Como vê a interação entre a cultura
do boicote e o antirracismo?
"Por exemplo, quando alguém foi
extremamente racista no passado
"e isso se torna conhecido?"
Como é que responde a isto?
IXK: Uau.
Eu acho que isso é muitíssimo complexo.
Obviamente, eu encorajo as pessoas
a transformarem-se,
a mudar, a reconhecer as situações
em que foram racistas,
e, obviamente, enquanto comunidade,
temos de oferecer às pessoas
a possibilidade de fazer isso.
Quando alguém reconhece que foi racista,
não podemos obviamente boicotá-la.
Mas também acho
que há pessoas
que fazem coisas muito graves
e há pessoas que são muito reticentes
em reconhecer a gravidade do que fizeram
em determinado momento.
Não se trata apenas
de um ato abominável, terrível,
mas, além disso,
recusam-se a reconhecer
esse ato abominável e terrível.
Neste caso, percebo a vontade
das pessoas em boicotá-los,
e acho que tem de haver,
por outro lado,
tem de haver algum tipo de consequências,
consequências públicas,
consequências culturais,
para as pessoas que agem de forma racista,
em especial em casos extremamente graves.
E muitas pessoas decidem
que vão boicotá-las.
Não estou necessariamente a criticá-las
mas, de facto, acredito que devemos
tentar encontrar um meio de discernir
entre os que se recusam a transformarem-se
e os que cometem um erro
e o reconhecem,
e estão de facto empenhados
em transformarem-se.
CS: Sim, quero dizer,
um dos receios expressos
por muitos ativistas
é que a energia por detrás
do "Black Lives Matter"
tem de ser mantida
para que aconteça a mudança no racismo.
Acho que isso também
se aplica ao que o Ibram disse.
E imagino, estou curiosa,
qual é a sua opinião
sobre quando os protestos
começarem a esmorecer
e as campanhas de doação
se dissiparem nos bastidores.
Como é que garantimos que este debate
sobre o antirracismo
permaneça primordial?
IXK: Claro.
Em "How to Be an Antiracist,"
num dos capítulos finais,
há um capítulo chamado "Fracasso."
Falo sobre aquilo a que chamo
defesa dos sentimentos,
que é o mal-estar sobre
o que está a acontecer,
sobre o que aconteceu a George Floyd
ou o que aconteceu a Ahmaud Arbery
ou o que aconteceu a Breonna Taylor.
Sentem-se mal com este país
e com o rumo que o país está a tomar.
Então a forma como procuram
sentir-se melhores
é participar em manifestações.
A forma como procuram sentir-se melhores
é fazendo doações a certas organizações.
A forma como procuram sentir-se melhores
é lendo um livro.
Então, se é isto o que muitos americanos
estão a fazer,
assim que se sentirem melhores,
por outras palavras, assim que
uma pessoa se sinta melhor
pela sua participação
em clubes do livro ou em manifestações
ou em campanhas de doação,
então nada irá mudar,
com exceção dos seus sentimentos.
Portanto, precisamos de superar
os nossos sentimentos.
Isto não quer dizer que as pessoas
não se devam sentir mal,
mas devemos usar os sentimentos,
como nos sentimos mal
com o que está a acontecer,
para aplicar, para pôr em prática,
o poder antirracista e as políticas.
Por outras palavras,
os nossos sentimentos devem guiar-nos.
Mas não devem ser a finalidade.
Isto não devia ser sobre
sentirmo-nos melhor.
Isto devia ser sobre mudar o país,
e precisamos de manter os olhos abertos
para transformar este país,
caso contrário,
assim que as pessoas
se sintam melhores após tudo isto,
voltaremos à mesma situação
ao ficarmos horrorizados com outro vídeo,
e voltarmos a sentir-nos mal,
e o ciclo continuará.
WPR: Acho que, quando pensamos
que tipos de mudanças queremos implementar
e como podemos fazer o sistema
trabalhar melhor,
fazer com que os nossos governos
trabalhem melhor,
fazer com que a nossa polícia
trabalhe melhor,
haverá modelos noutros países?
Obviamente a história
dos EUA é específica
em relação à reflexão
sobre a raça e a opressão.
Mas quando olhamos para outras
nações e outras culturas,
haverá outros modelos
que podem ser vistos como exemplos
que poderíamos implementar aqui?
IXK: Bom, há muitos.
Há países onde a polícia não usa armas.
Há países
que têm maior população do que os EUA
mas têm menos presos.
Há países
que tentam combater crimes de violência
não com mais polícias e prisões
mas com mais empregos e oportunidades,
porque sabem e veem
que as comunidades
com os maiores níveis
de crimes de violência
tendem a ser as comunidades
com os maiores níveis de pobreza
e desemprego a longo prazo.
Eu acredito que...
E, obviamente,
outros países oferecem consideráveis
redes de segurança social às pessoas.
Assim, as pessoas não cometem crimes
devido à pobreza,
as pessoas não cometem crimes
devido ao desespero.
Então, penso que é fundamental para nós
em primeiro lugar
refletir que, se não há nada de errado
com as pessoas,
então, como podemos reduzir
a violência policial?
O que fazer sobre a redução
das desigualdades raciais na saúde?
Que políticas podemos mudar?
Quais foram as políticas que funcionaram?
Este é o tipo de perguntas
que devemos fazer,
porque nunca houve nada de errado
com as pessoas.
CS: No seu texto "Atlantic"
chamado "Who Gets To Be
Afraid in America", o Ibram escreveu:
"O que eu sou, um homem negro,
não devia ser importante.
"O que devia ser importante
é quem eu sou."
E sinto que é como se dissesse
que, noutros lugares,
talvez isso seja mais possível.
Gostava de saber
quando o Ibram imagina um país
onde quem somos
é o mais importante de tudo,
como é que imagina isso?
IXK: Bom, imagino isso,
enquanto negro americano
que as pessoas
não me veem como perigoso
e desse modo, tornam
perigosa a minha existência.
O que me permite passear por esse país
e não pensar que as pessoas
sentirão medo de mim
por causa da cor da minha pele.
Isso permite-me acreditar
que não consegui o emprego porque
podia ter sido melhor na entrevista,
não por causa da cor da minha pele.
Permite-me...
um país onde há igualdade racial
um país onde há justiça racial,
um país onde há oportunidades iguais,
um país onde as culturas
afro-americana e nativa
e a cultura dos americanos mexicanos
e dos americanos coreanos,
são todas igualmente respeitadas,
em que ninguém é obrigado a assimilar
a cultura dos brancos americanos.
Não existe nenhum padrão
de vestuário profissional.
Não é obrigatório
aprender a falar inglês
para ser americano.
Na verdade, teríamos não só
igualdade e justiça para todos
mas encontraríamos uma forma
de valorizar as diferenças,
de apreciar todas as diferenças
humanas, étnicas e culturais
que existem nos EUA.
Isto é o que podia tornar
este país extraordinário,
em que nos tornássemos num país
por onde poderíamos de facto viajar
e conhecer culturas de todo o mundo
e apreciar essas culturas
e até mesmo entender
a nossa própria cultura
vendo o que outras fazem.
Há tanta beleza aqui
no meio de toda esta dor
e apenas quero descascar
e remover
todas as camadas de políticas racistas
para podermos curar-nos
e ver a verdadeira beleza.
WPR: Ibram, quando pensa nesse momento,
até onde situa esse progresso
em direção à verdadeira beleza?
IXK: Pessoalmente,
eu sempre vejo progresso
e resistência nas manifestações
e só pelo facto de as pessoas
estarem a exigir,
nas praças e nas câmaras municipais
mudanças progressivas e sistémicas,
sei que essa mudança chegou.
Mas as pessoas estão a exigir
e as pessoas estão a exigir
nas cidades pequenas, nas grandes cidades
e as pessoas estão a exigir
em lugares que conhecemos
e em lugares
de que precisamos ouvir falar.
As pessoas estão a exigir mudanças
e estão fartas.
Quero dizer, vivemos num momento
em que enfrentamos uma pandemia viral,
uma pandemia racial
dentro de uma pandemia viral
em que negros estão a ser infetados
e a morrer desproporcionalmente.
e uma pandemia económica
com mais de 40 milhões de americanos
que perderam o seu emprego,
e certamente a pandemia
da violência policial.
As pessoas estão a manifestar-se
contra a violência policial
apenas para sofrerem
essa violência nas manifestações.
Quero dizer, as pessoas veem
que há um problema fundamental,
e um problema que pode ser resolvido.
Há uma América que pode ser recriada,
e as pessoas exigem isso,
e este é sempre um começo.
O começo é aquilo
que estamos a viver agora.
CS: Acho que a próxima pergunta
do público
segue este raciocínio, que é:
"O que é que lhe dá esperança
neste momento?'
IXK: A resistência ao racismo
sempre me deu esperanças,
mesmo se, digamos,
há seis meses vivêssemos um momento
em que, quase todas as noites,
em todo o país as pessoas estavam
a manifestar-se contra o racismo,
mas eu poderia olhar
apenas para a história
quando as pessoas estavam a resistir.
Ou seja, a resistência
sempre me traz esperança,
porque é sempre resistência.
Claro, isto é tempestuoso,
mas o arco-íris está
normalmente do outro lado.
Mas também penso na esperança
de forma filosófica,
porque eu sei que, para
as mudanças acontecerem,
temos de acreditar nas mudanças.
Um revolucionário não pode ser cínico.
É impossível.
Então, eu sei que preciso
de acreditar na mudança
para ela acontecer.
WPR: Temos outra pergunta
que menciona uma das questões
de que já falou
em relação à mudança estrutural
que devemos provocar.
De Maryam Mohit: "Em relação a pôr
em prática as políticas transformadoras,
"uma das coisas mais importantes
será eleger as pessoas certas
"que, a todos os níveis,
podem provocar essas mudanças?"
IXK: Bom, acho que isso
faz parte da questão.
Claro que acho que devemos eleger
pessoas para cargos,
desde os conselhos escolares
a Presidente dos EUA,
pessoas comprometidas
em instituir políticas antirracistas
que levem à igualdade e justiça.
Acho que isto é fundamental,
mas não acho
que devemos pensar que esta é
a única coisa em que nos devemos focar
ou a única coisa que devemos fazer.
E há instituições,
há bairros,
que precisam de mudanças,
que, até certo ponto,
estão fora da competência de um político
oficialmente eleito.
Há administradores, CEO e presidentes
que detêm o poder de mudar políticas
dentro das suas esferas,
dentro das suas instituições,
então, devemos focar-nos nisso.
A última coisa que direi sobre votar
é o que escrevi numa série de textos
para "The Atlantic" no início deste ano
cuja intenção era fazer os americanos
pensarem sobre o que chamo
"o outro votante oscilante".
Não são os votantes tradicionais
que oscilam entre
Republicanos e Democratas
e que são basicamente
mais velhos e brancos.
Falo sobre aqueles que oscilam
entre votar nos Democratas
e não votar de todo.
Essas pessoas são geralmente mais jovens
e geralmente pessoas de cor,
mas sobretudo pessoas jovens de cor,
sobretudo jovens negros
e latino-americanos.
Então, devemos ver essas pessoas,
estes votantes jovens, negros, latinos
que estão a tentar decidir se votam ou não
da mesma forma que vemos
aqueles que estão a tentar decidir votar
entre Trump e Biden nas eleições gerais.
Por outras palavras, considerar
os dois como votantes oscilantes
é vê-los de modo a pensar
que precisamos de persuadi-los.
Eles não são carneiros políticos.
Não vamos apenas usá-los.
Precisamos de encorajá-los e persuadi-los.
Para estes votantes oscilantes,
também precisamos
de tornar o voto mais fácil.
Geralmente, os jovens de cor
são os que têm mais dificuldade em votar
devido às políticas de repressão.
CS: Obrigada, Ibram.
Bom, estamos ao final desta entrevista,
mas eu gostava de lhe pedir
que lesse algo que escreveu
há alguns dias, no Instagram.
O Ibram escreveu uma bela legenda
na foto da sua filha.
E pergunto se o Ibram estaria
disposto a partilhar
e a dizer-nos rapidamente como podemos
ter esta perspetiva na nossa vida.
IXK: Claro.
Eu publiquei uma foto da minha filha
de quatro anos, Imani
e na legenda escrevi:
"Eu amo, e porque amo, resisto.
"Tem havido muitas teorias
"sobre o que alimenta as crescentes
manifestações contra o racismo
"em público e em privado.
"Deixa-me oferecer-te outra: amor.
"Nós amamos.
"Conhecemos a vida dos que amamos,
"especialmente os nossos negros queridos
"que estão em perigo
"sob a violência do racismo.
"As pessoas perguntam-me sempre
o que é que me alimenta.
"A mesma coisa: amor.
"O amor desta rapariguinha,
"o amor de todas as crianças
e dos adultos
"que querem viver uma vida plena,
"na plenitude da sua humanidade,
"sem serem impedidos
por políticas racistas,
"sem serem rebaixados
por ideias racistas,
"sem serem aterrorizados
pela violência racista.
"Sejamos antirracistas.
"Defendamos a vida.
"Defendamos os direitos humanos
de viver e viver em pleno,
"porque amamos."
E, Cloe, eu gostava de sublinhar
que, no coração do antirracista,
há amor,
há amor pelo país,
amor pela humanidade,
amor pelos parentes,
pela família e pelos amigos,
e, certamente, amor por si mesmo.
E eu considero que o amor é um verbo,
considero que o amor é...
ajudar os outros, e até a mim mesmo,
a evoluir constantemente
como forma melhor de mim mesmo,
deles mesmos, que exprimem
quem querem ser.
Então, para amar este país e a humanidade
precisamos de evoluir de forma construtiva
para sermos uma versão
melhor de nós mesmos.
Não há forma de ser melhor,
não há forma de construir
uma humanidade melhor,
enquanto ainda tivermos
as algemas do racismo.
WPR: Acho isto lindo.
Agradeço tudo o que partilhou, Ibram.
Ficou bastante claro que não será fácil
consertar isto. Certo?
Não há uma opção paliativa
que faça isto desaparecer.
É necessário trabalho de nossa parte.
Agradeço a sua honestidade
e a consideração que o trouxe aqui hoje.
IXK: De nada.
Obrigado por terem esta conversa comigo.
CS: Muito obrigada, Ibram.
Estamos muito agradecidas
pela sua participação.
IXK: Obrigado.