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Estamos no Louvre,
observando o monumental Ciclo de Maria
de Médici, pintado por Peter Paul Rubens.
São 24 telas pintadas por Rubens por mais
de quatro anos com a ajuda de seu ateliê.
De acordo com o contrato, ele deveria
pintar todas as pessoas
mas seus assistentes
poderiam pintar o resto.
Essa foi uma grande encomenda feita por
uma das mulheres mais poderosas
da Europa àquele tempo,
senão a mais poderosa.
Seu pai era o duque da Toscana,
e seu marido era
Henrique IV, rei da França.
Este ciclo é uma comemoração
aos maiores eventos de sua vida.
Mas eu preciso dizer,
é um absurdo em sua pompa.
É um exagero completo.
Esta é uma mulher que teve eventos
significativos em sua vida,
e certamente foi extremamente
rica e poderosa.
Mesmo assim, Rubens teve que se esforçar
e trazer cada elemento mitológico que pode
para completar um ciclo que só podemos
descrever como dedicado ao ego dela.
Na realidade, ela teve uma vida
interessante e problemática.
Houveram vários escândalos, como por
exemplo com seu filho,que seria Luís XIII.
Ele era muito novo para
assumir o trono e, por isso,
ela estava governando a
França como regente.
Mas quando ele atingiu a idade
necessária, ela continuou governando.
Não deixou que ele assumisse o trono
e quando ele estava velho e com autoridade
o suficiente para dizer "Não, é minha vez"
ele a baniu da França e não
deixou que voltasse por anos.
E é possível entender porquê,
Maria era extremamente
ambiciosa e poderosa
seria difícil governar em sua presença.
Em sua sombra.
Vamos dar uma olhada na nona
pintura nesta série de 24.
É de quando ela está indo para
França a partir da Itália
e é chamada "O Desembarque em Marselha",
e por mais que sair de um barco não seja
visto como um momento triunfante,
Rubens consegue fazer com que
a cena, por si só, pareça triunfante.
Sim, ela é a rainha,
Vitória está acima dela com
trombetas anunciando sua chegada.
Isso. E não apenas uma,
mas duas trombetas.
Este é o começo da realização de
seu destino como rainha da França.
E vemos também França
personificada em uma pessoa
que parece estar se preparando
para ajoelhar frente à ela,
usando uma capa azul com
flores de lis douradas.
Que é o símbolo da
família real da França.
Atrás dela há um cavaleiro
de Malta que observa a cena.
Há esse navio incrível,
fortemente forjado.
O céu está, do modo mais barroco possível,
vibrando e cheio de energia
mas não há nada que se compare com
o que está acontecendo abaixo da prancha.
Isso mesmo. Temos três nereidas ou
ninfas do mar abaixo dela
junto com os deuses dos mares,
que estão se contorcendo.
É quase como se eles fossem o próprio mar.
Como se seus corpos fossem as ondas.
Há essa tremenda carga
de energia e beleza.
Observe o trabalho das cores
e as torções dos corpos
A dramaticidade de suas poses
contrasta com a magnificência
e pompa de Maria de Médici logo acima.
É possível notar que eles estão a ajudando
segurando firme o navio para que
ela possa andar mais facilmente.
Esses deuses e deusas pagãs
e figuras de vitória
estão todos à serviço do destino de
Maria de Médici como rainha.
E é curioso que ela está
em pouca evidência
se comparada às ninfas, que
ocupam mais que um terço da tela.
Agora que deixamos claro que
a obra é completamente exagerada,
vamos dar uma olhada
mais de perto na pintura.
Ok.
Então, a tela está pendurada a
um metro e vinte do chão,
de modo que, olhando para cima,
vemos os deuses do mar e as ninfas,
No jeito característico de
Rubens de lidar com a tinta,
há uma carga muito grande
de movimento e energia.
Os cabelos e barba grisalhos
do deus do mar logo à frente
me chamaram muito a atenção.
Se olhar logo abaixo dele,
é possível ver algumas pinceladas fortes.
Este é o tipo de força e
energia que Rubens tem.
E observe a coloração das nereidas.
Elas tem muitos tons de
rosa, amarelo, verde e azul.
E observe também toda
a perspectiva aplicada.
Há um poste que uma das
Nereidas está segurando
e tentando amarrar uma corda que
está se movendo para o nosso espaço.
O deus do mar mencionado há pouco está
esticando seu braço para o fundo.
Tudo na parte de baixo desta
tela está em movimento.
Fico encantado com o modo que seus
olhos estão absolutamente vivos com
pontos de tinta branca transformando-se
nessa bela superfície espelhada.
É possível ver isso nas pérolas
nos cabelos das mulheres
e nas gotas de água que
escorrem de seus corpos.
Essas 24 telas não estavam, claro,
dispostas originalmente no Louvre.
Elas estavam no Palácio do
Luxemburgo, que era,
na verdade, o palácio de Maria de Médici,
construído em semelhança ao de Florença.
É bastante divertido ir
de uma tela para outra
e ler a história dos grandes
momentos de sua vida.
[música]
Legendado por Lucas Nabesima
Este vídeo foi possível por uma
contribuição de Tania Odessa.