Bom dia. Alguém aqui já reparou nos detalhes dos tetos do Café Majestic, que é um ex-libris daqui, do Porto? Ou nos tetos fantásticos do Palacete das Águias? Ou mesmo do recentemente restaurado Palácio do Conde do Bolhão? Os detalhes: parar e reparar nos detalhes. Eu confesso que, até há alguns anos, eles me passavam despercebidos. Eu costumo contar uma história. Estudei nas Belas Artes, aqui no Porto, morei numa casa com tetos estucados e o meu quarto tinha um teto incrível. Eu me lembro de uma forma circular, totalmente recheada de flores e, num dia típico das casas do Porto, com as suas infiltrações, parte do teto ruiu. A solução que o proprietário encontrou foi derrubar tudo e reconstruir um teto liso. Nesta situação, o que mais me entristece não é a reconstrução com o teto liso. Eu compreendo que isso tem os seus custos. O que mais me entristece mesmo é que não há um único registro desse teto. Eu dormi por meses naquele quarto e não há nenhum registro daquele teto. Um teto provavelmente único, que representava uma época, o gosto pessoal do cliente que construiu aquele edifício, e não existe um só registro. Esta minha "dor" se despertou quando, depois de eu ter terminado a Faculdade de Belas Artes, comecei a trabalhar numa empresa estrangeira especializada em gessos decorativos. Ali eu tive a oportunidade de trabalhar com senhores estucadores que me ensinaram muito. Aprendi muito mesmo com eles. Vamos agora ver um pequeno vídeo de parte das técnicas que adquiri com eles. (Vídeo) (Música) (Fim do vídeo) Os portugueses foram muito talentosos nesta área do estuque, principalmente os homens de Afife e Areosa, terras de Viana do Castelo, por coincidência ou não, a minha cidade, que no século 18 desceram para o Porto e Lisboa e construíram imensos palácios e residências particulares, e a maior parte do espólio de estuque nacional foi construído por eles. Imaginem quantos estucadores trabalham atualmente, exclusivamente para a arte do estuque. Quase nenhum. No momento, eu conheço um e, mesmo assim, ele não trabalha exclusivamente com a arte do estuque. Quase 70% do trabalho dele é de restauro. Então, quando eu já estava há cinco anos nessa empresa de gessos decorativos, comecei a fazer algumas visitas aos ateliers destes estucadores, alguns deles já estavam aposentados, para conversar, compartilhar, para poder absorver um pouco das histórias deles. No início foi um pouco estranho quando entrou uma garota, com esta altura, e disse que estava fazendo exatamente o mesmo que eles fizeram e que queria introduzir novamente o estuque no mercado e valorizá-lo. Eles ficaram com o pé atrás e disseram: "É impossível você fazer o mesmo que nós fazíamos". Essa dúvida terminou quando eu os convidei para compartilhar comigo, numa espécie de intercâmbio. Primeiro fui até eles, conversamos e depois eles foram ao meu atelier. Com alguns deles, eu consegui fazer alguns trabalhos e algumas parcerias. Há aqui uma troca, uma interação entre gerações, que é realmente o que mais me importava e é com eles que tenho aprendido muito. Neste momento, estes estucadores, principalmente os aposentados, vêm de uma geração de filhos e netos de estucadores, mas os filhos deles não estão dando continuidade à arte, pois sentem que ela já morreu. O que eu pretendia com essas conversas e visitas era fazer com que eles entendessem que a arte não está morrendo e que quero reintroduzi-la no mercado. Mas de um ano para cá, tenho recebido o espólio deles. Eles querem deixar os moldes e algumas peças nas mãos de alguém que dê continuidade e que preserve a arte, de certa forma. O que estão vendo é uma fotografia de um pouco de um espólio que recebi. Tenho recebido muitas coisas. Neste momento, não sei o que quero fazer. Está tudo guardado no meu atelier com todo o carinho e isso vai, com toda a certeza, servir de inspiração em breve para os meus trabalhos. Talvez no futuro eu consiga fazer uma homenagem a estas pessoas com um arquivo. Não gosto muito de dar o nome de "museu", mas seria um espaço de exposição meritório para todo o trabalho que eles fizeram. A minha vontade é a de voltar a introduzir o estuque no mercado. Obrigada. (Aplausos)