É 427 a.C. e o pior conflito interno já ocorrido na Grécia Antiga está no seu quarto ano. A Guerra do Peloponeso está sendo travada entre as Cidades-Estado de Atenas e Esparta, bem como a dos seus aliados. Os atenienses não são páreo ao formidável exército espartano em terra. Então, eles abandonam os campos e movem-se para dentro das muralhas ao redor da cidade e do porto, agora munidas de uma frota superior e um extenso império marítimo. As condições de superlotação tornaram-se insustentáveis e uma recente epidemia extinguiu um terço da população. Mas a vida da cidade continua. Archias e Dexileia vivem no centro de Atenas. Como pintor de cerâmica de luxo, Archias é relativamente bem-sucedido e tem grande interesse nos negócios da cidade. Dexileia, por sua vez, não pode participar da política nem ter propriedade própria. O casal é grato aos deuses que três das suas quatro crianças, um filho e duas filhas, sobreviveram além da infância. Muitos pais veem suas filhas como um inconveniente, uma vez que elas requerem dotes para acharem seus maridos. Mas Archias está confiante de que sua riqueza irá permiti-lo fazer bons casamentos para elas sem levá-lo à bancarrota. Assim como muitos atenienses, sua família possui escravos. Originalmente de Thrace, estes foram capturados em guerra. Thratta faz a maior parte das tarefas domésticas e ajuda a criar as crianças. Philon é um pedagogo, que supervisiona a educação do filho, ensinando-o a ler e escrever. Archias acorda cedo, pois tem uma reunião dos Ekklêsia, a assembleia dos cidadãos, que ocorre na madrugada. Antes de sair, ele queima incenso e realiza uma libação no pequeno templo no quintal para todos os membros da sua casa. Dexileia ficará em casa o dia todo, ensinando tarefas de casa às suas filhas. Mais tarde, ela irá descansar no pátio interno para respirar ar fresco. Quando Archias chega ao Agora, o coração cívico e comercial da cidade, ele encontra a praça completamente lotada de seus conterrâneos, homens adultos locais que terminaram o treinamento militar. Preso ao monumento central está o quadro com a pauta da reunião. Hoje há apenas um assunto para debate: o que fazer com o povo de Mitilene, uma cidade na ilha de Lesbos, onde uma rebelião contra as regras atenienses acabou de começar. A reunião ocorre num monte ao oeste da acrópole conhecido como o Pnyx. A palavra significa "muito superlotado", e a multidão com 5 mil cidadãos deixa claro o porquê. O mensageiro purifica o monte borrifando suas delimitações com sangue de porco e ordena ordem. À medida que todos se sentam nos bancos em frente à plataforma, o presidente da sessão inicia a reunião com as palavras: "Tis agoreuein bouleutai?” "Quem deseja se pronunciar na assembleia?" Um a um, os cidadãos falam, alguns querem clemência, outros buscam vingança. Uma proposta é apresentada para executar todos os mitilenos e escravizar as esposas e crianças deles, pois eles traíram seus aliados atenienses durante um tempo de guerra. Uma maioria ergue a mão direita em favor. Assim que a reunião termina, Archias volta ao Agora para comprar comida e vinho. Centenas estão reunidos lá para debater os resultados, muitos infelizes com a decisão. Quando Archias volta para casa, ele conta para Dexileia sobre o debate. Ela acha que matar os inocentes, bem como os culpados, é severo e pouco produtivo, e ela diz isso para ele. Por volta do pôr-do-sol, Archias vai à casa de um amigo para um simpósio. Os nove homens bebem vinho e discutem sobre a reunião até tarde da noite. Archias compartilha a opinião de sua esposa que insiste por clemência, e seus amigos, por fim, concordam. Antes do amanhecer, algo inusitado acontece. Mensageiros circulam por toda Atenas anunciando que o conselho convocou uma nova reunião. O segundo debate é igualmente intenso, mas uma nova resolução, executar apenas os líderes da rebelião, passa por pouco. Ainda há um problema: um navio com ordens para executar a primeira resolução foi enviado no dia anterior. Então, um outro navio rapidamente inicia navegação para reverter a ordem: uma corrida da democracia contra o tempo.