Vocês já tiveram aquele pesadelo
em que estão na escola de novo, e nus?
Lembram-se da vergonha,
da frustração impotente desse pesadelo?
Minha infância foi esse pesadelo.
Não que eu já tenha ido nu pra escola,
(Risos)
mas a vergonha, a frustração,
a sensação de todos estarem contra mim,
tudo isso era bem real pra mim.
Eu tinha sete anos e via a escola
como um campo de batalha
onde todo mundo fazia
parte do exército inimigo.
E eu não sabia a razão disso
nem como resolver o problema.
Minha vida era assim.
E este era eu.
Eu era meio estranho,
como talvez possam perceber.
Não tive uma vida terrível:
minha familia me amava,
eu tinha alguns amigos
e, quando lançaram o Super Mario Bros.,
fiquei craque no negócio.
(Risos)
Mas não me encaixava
na escola nem em lugar nenhum,
e não entendia por quê.
Me esforçava ao máximo
pra fazer amigos, mas não conseguia.
Eu era amável, mas as pessoas
me maltratavam.
Eu não sabia como fazer dar certo.
Daquela época, lembro-me de três coisas.
Uma é voltando da escola
com minha mãe, e perguntar a ela:
"Como faz pra conversar com as pessoas?
Nem isso eu sei fazer!".
Outra é da hora do lanche na escola:
quando eu me sentava,
todos os meninos da mesa
se levantavam e saíam.
Do jeito que eu era,
decidi explorar meu novo poder:
eu os seguia de mesa em mesa,
(Risos)
obrigando-os a peregrinar pelo refeitório,
antes de eu desistir e comer sozinho.
Minha terceira lembrança
é chegar da escola
e correr soluçando pros braços do meu pai,
dizendo: "Eu não presto, não presto".
Portanto, crescer foi difícil,
especialmente no ensino fundamental.
O ensino médio foi um pouco mais fácil,
mas eu ainda tinha muito
problema pra me enturmar.
Sou aquele com a camiseta tingida.
(Risos)
Foi só no ensino médio que as coisas
realmente começaram a mudar.
Meus pais são ótimos.
Eles estão aqui, então, se falarem
com eles, deem os parabéns.
Todos os pais querem pensar
que os filhos são normais,
mas, naquela altura, os meus já tinham
percebido que eu não acertava o passo,
ou talvez marchasse na direção oposta.
Por isso, antes do ensino médio,
me levaram a um psicólogo,
quando fui diagnosticado
com a Síndrome de Asperger.
Se nunca ouviram falar dela,
trata-se de uma condição
neurológica do espectro autista,
e ela basicamente provoca
dificuldade em aprender
habilidades sociais naturalmente.
Pensem nisso assim:
se pegarmos um bebê,
e ele tiver nascido no Japão,
ele vai aprender japonês
naturalmente, simplesmente
convivendo com as pessoas de lá.
Mas, se pegarmos um adulto
que nunca aprendeu japonês
e o soltarmos no meio de Tóquio,
ele vai ter muito mais dificuldade.
Da mesma forma, uma pessoa sem Asperger
aprende as habilidades
sociais de forma natural,
simplesmente observando o mundo ao redor.
No entanto, alguém com Asperger
é como o adulto num país estrangeiro
onde ele não fala a língua.
É muito mais difícil aprender.
Ser diagnosticado
foi uma grande revelação,
pois eu não sabia
a razão das minhas dificuldades.
Mas a partir daí entendi: "Ah, é porque
não tenho habilidades sociais!"
O psicólogo me deu
uma lista das habilidades sociais
com as quais pessoas com Asperger lutam,
e daí pensei: "Então, tá. Mãos à obra!"
Então comecei a estudar essas habilidades,
a ler livros sobre linguagem corporal,
conversação, etiqueta... li de tudo!
Comecei a assistir filmes com meus pais,
e pausávamos o filme umas dez vezes:
"Ei, o que aconteceu nessa conversa?",
"Não entendi por que
tal personagem fez aquilo",
"Ei, me expliquem esse comportamento!"
Comecei a melhorar,
e as coisas começaram a fazer sentido.
Comecei a ser capaz de entender
os sistemas que governam
a interação entre as pessoas.
Consegui criar metáforas e ideias
que me ajudassem a saber como reagir.
Aliás, vamos falar sobre linguagem
corporal, um tópico divertido.
Se pegarem numa livraria
um livro sobre o assunto,
ele vai listar todos os sinais corporais.
Meu favorito é o que diz
que os pés sinalizam a intenção.
Numa conversa, se o pé da pessoa
aponta em nossa direção,
significa que ela está focada na conversa.
Se os pés da pessoa apontam pra porta,
é porque ela quer ir embora!
Deveríamos, então, imediatamente
deixá-la encerrar a conversa.
Mas a linguagem corporal difícil,
pois existem montes de sinais
significando montes de coisas diferentes.
Por exemplo, esfregar o nariz indica
que a pessoa não tem certeza,
enquanto esfregar a parte de trás
do pescoço indica ansiedade;
ações semelhantes, significados
semelhantes, mas um pouco diferente.
Daí, eu olhava pra pessoa
pra descobrir o que dizia
sua linguagem corporal
e, quando percebia, a conversa seguia
e eu me esquecia completamente
do que estava falando.
Imaginem entender essa lista toda...
É muito difícil avaliar de imediato
o que as pessoas estão sentindo.
Então decidi condensar tudo isso.
Peguei todos os sinais
da linguagem corporal e os agrupei
simplesmente em conforto e desconforto.
Decidi que não precisava me lembrar
de que esfregar o nariz significava
incerteza, ansiedade, indigestão, etc.
Só precisava saber que, se o outro
não estivesse confortável,
talvez houvesse algo errado.
Aí, podia pegar isso, tentar descobrir
o que havia de errado e tentar consertar.
Se estou conversando com alguém e noto
que a pessoa dá sinais de desconforto,
penso: "Deixe-me observar
a conversa, o ambiente,
e ver se há algo que eu possa consertar".
Antes, as pessoas ficavam chateadas
comigo, e eu não entendia por quê.
Eu estava conversando com alguém
e achava que estava tudo indo bem,
mas a pessoa explodia,
pois eu não entendia os sinais.
Agora, consigo começar a ver
o que está acontecendo e me adaptar.
Mas eu ainda precisava
aprender a conversar,
e conversar não é fácil.
Há muitos livros sobre o assunto,
mas todos dão apenas dicas e truques,
o que não é muito útil.
É como se quiséssemos
aprender a jogar beisebol,
e os livros dissessem simplesmente
pra ficar de olho na bola.
Eles não dão as regras do jogo,
e jogar não se aprende assim.
Então, estudei muito, pratiquei,
pensei muito sobre o assunto,
e descobri o segredo de uma boa conversa.
Prontos pra resposta?
Prontos pra tomar nota,
ou tuitar, o que acharem melhor?
Conversar é como fazer um sanduíche.
Especificamente, é fazer
um sanduíche junto com um amigo,
em que adiciono um ingrediente
e passo o sanduíche pra ele.
Ele adiciona um ingrediente
e me devolve o sanduíche.
Provavelmente ninguém
aqui faz sanduíche em equipe,
mas é uma metáfora, então prestem atenção.
Porque é assim que uma conversa deve ser:
adicionamos algo a ela,
pensamentos, ideias, uma história,
e então convidamos a outra pessoa a falar,
fazendo uma pergunta ou algo do tipo.
Adicionamos um ingrediente,
e devolvemos o sanduíche.
O amigo faz o mesmo
e nos devolve o sanduíche.
Portanto eu sabia o que se devia
fazer numa conversa.
Sabia como manter a conversa fluindo
e quando deveria adicionar algo.
Mas eu ainda precisava descobrir
como ser um bom interlocutor.
Como escolher tópicos
que interessassem as pessoas?
E isso foi difícil pra mim,
porque eu costumava divagar muito.
Se alguém me perguntasse:
"O que você fez hoje?",
eu contava tudo, tim-tim por tim-tim!
(Risos)
Raramente essa era a resposta esperada.
Então tive de descobrir o tom certo
e como evitar divagar.
Como só dizer o que as pessoas
estão interessadas em ouvir?
Daí, desenvolvi uma técnica
que chamei de "porta rangendo".
E ela funciona assim:
digamos que cheguem em casa tarde,
e a porta da frente é velha e range.
Ninguém vai querer abrir
a porta de uma vez,
porque (porta rangendo) vai
incomodar todo mundo na casa.
Então abrimos um pouquinho (rangido),
mais um pouco (rangido),
e continuamos (rangido, rangido),
até ela abrir completamente,
pra que possamos entrar.
Do mesmo modo, se alguém
me perguntasse alguma coisa,
eu compartilhava parte da resposta,
e dava a oportunidade de pedirem mais.
Assim, se me perguntassem:
"O que você fez no fim de semana?"
Eu dizia: "Fui nadar", e parava por aí.
Se ficassem curiosos,
iam perguntar, e eu contava mais.
Se não perguntassem,
a gente mudava de assunto,
e nenhum estrago seria feito.
Descobri todos esses sistemas
de como interagir com as pessoas,
mas coloquei na minha própria língua.
Posso lhes contar tudo o que descobri,
mas, como já disse,
tenho a tendência de divagar,
então vou parar por aqui.
Mas a questão é
que minhas habilidades sociais
começaram a melhorar.
Comecei sem a intenção de ser perfeito,
apenas bom o bastante.
Comecei a ter conversas em que entendia
os sinais não verbais que me eram dados.
Comecei a ser capaz de fazer amizades
e ser parte de um grupo de amigos.
Pessoal, quero que entendam
como isso foi incrível pra mim.
pois Interação social foi algo
com que lutei a vida toda.
Mas aí entendi que não era
uma incapacidade permanente,
mas algo que eu podia superar.
Foi um passo enorme, mas, mais que isso,
foi poder desfrutar da alegria da amizade.
Para alguém que viveu
a vida toda à margem,
fazer parte de um grupo de amigos,
ser alguém com quem
as pessoas queriam sair...
foi incrível demais!
Acho que só percebi
o quanto as coisas tinham mudado
quando recebi um telefonema
do meu amigo Mark,
e ele falou: "Daniel, vamos reunir
a galera neste fim de semana?"
Eu respondi: "Parece uma boa ideia".
Houve uma longa pausa, e ele disse:
"Então... você organiza as coisas, né?"
De alguma forma, eu tinha passado
de pária social a planejador de festa.
(Risos)
Gente, ter Asperger
e aprender habilidades sociais
é como uma criança com péssima visão
usar óculos pela primeira vez.
Mas experimentar a alegria da amizade
depois de uma vida à margem
é como dar um par de óculos àquela criança
e depois levá-la ao Louvre.
O tio Ben do Homem-Aranha diz:
"Com grande poder
vem grande responsabilidade".
Este é um evento TEDx numa universidade,
então vamos usar citações eruditas aqui.
(Risos)
Assim, com grande poder
veio grande responsabilidade.
Se tive o poder de abrir a porta para
esse mundo novo da amizade e aceitação,
também não teria a responsabilidade
de fazer isso pelos outros?
Então, fiz uma coisa simples: comecei
a procurar ex-colegas que eram como eu.
Os jovens que eram estranhos,
diferentes, que não se encaixavam.
E me tornei amigo deles.
E no final essas pessoas foram
os amigos mais incríveis que já tive.
Acho que foi o tempo que eles passaram
à margem que fez deles tão incríveis.
Nossa cultura tem a estranha mania
de achar que a dor não é normal,
que o estado padrão da humanidade
é ser feliz o tempo todo.
Por isso, quando sentimos
essa pressão para nos encaixar,
sentimos pressão também
pra esconder a dor e fazer uma cara feliz.
Mas, quando a gente sabe
que não vai se encaixar,
quando se é um pária,
mesmo a vida sendo difícil às vezes,
isso nos dá a liberdade
de reconhecer nossa dor,
e dessa forma reconhecer a dor alheia.
E assim se constrói a compaixão.
Ou podemos ver de outro ponto de vista.
Thoreau se isolou,
foi viver longe da sociedade,
pois queria viver de forma consciente.
Mas, quando a sociedade
nos empurra para o isolamento,
também nos força a viver
de forma consciente.
Podemos fazer escolhas
baseados não no que é popular,
nem no que está na moda,
ou no que os amigos pensam,
mas apenas com base
no que queremos ser e fazer.
Assim, quando me aproximei dessas pessoas,
vi que eram amigos incríveis.
Vi que as pessoas que procurei,
pensando que elas precisavam de mim,
eram as pessoas de quem eu precisava,
porque eram mais capazes de me apoiar.
Vou dar um exemplo.
No meu primeiro ano de faculdade,
havia uma amiga passando
por um período difícil.
Por isso eu realmente tentei apoiá-la.
Daí, um dia recebo um telefonema
de casa, e é uma notícia muito ruim.
Eu me segurei até desligar
o telefone, mas depois desabei.
Estou falando de lágrimas,
de... foi terrível.
Eu estava chorando e de repente
senti um braço em volta de mim.
Olhei pra cima e era minha amiga,
a que eu estava ajudando.
Ela me abraçou e me confortou,
e ela era exatamente a pessoa
de quem eu precisava naquele momento.
E, gente, não se trata apenas
do apoio que recebi dos meus amigos,
mas eles me ajudaram a entender
que não tem problema precisar de apoio.
Porque, quando comecei a ser sociável,
quando comecei a experimentar aceitação,
fiquei com um medo danado da rejeição.
Fiquei apavorado de fazer algo errado,
de cometer uma gafe, e as pessoas dizerem:
"Daniel é um impostor;
no fundo ele sempre foi estranho.
(Risos)
Vamos descer o pau nele!"
Obviamente esse medo não é muito realista,
mas nossos maiores medos
raramente o são, né mesmo?
Então eu sentia muita pressão
pra mostrar o meu melhor lado.
Mas isso é solitário.
Porque, ao tentarmos mostrar nosso melhor,
o resto do nosso eu ainda está travado.
Porém, ao longo do tempo,
meus amigos me mostraram
que gostavam de mim por quem eu era.
Que não tenho de ser
o organizador de festas
ou o ombro amigo o tempo todo.
Ou seja, tudo bem ser apenas o Daniel,
mesmo que eu fosse estranho.
Esta é Sam, minha namorada na faculdade.
Como podem ver, ela foi
ótima em criar um lugar
onde eu sentia a liberdade
de ser apenas eu,
mesmo que isso fosse realmente estranho.
Eis alguns dos meus amigos mais queridos
numa xícara de chá na Disneylândia,
pois onde mais a gente vai com os amigos?
Ficamos bem próximos nesse grupo,
porque, no primeiro ano da faculdade,
decidimos que, uma vez
por semana, arranjaríamos tempo
para nos reunir, e sermos nós mesmos.
Cada semana era uma coisa diferente.
Às vezes, discutíamos um assunto,
às vezes jogávamos,
às vezes só curtíamos
a companhia uns dos outros.
A única regra era trazer
à tona nosso verdadeiro eu.
E então, semana após semana,
eu trazia o verdadeiro Dan
e, semana após semana,
era recebido com aceitação,
mesmo quando o verdadeiro Dan
era bem esquisito.
(Risos)
E assim, com o tempo,
meus amigos me ajudaram a perceber
que era legal eu poder ser
o SuperDan, o cara sociável,
que eu tenha aprendido
essas habilidades e tal,
mas que eu não precisava ser o SuperDan
ou o Dan sociável o tempo todo,
que ser eu mesmo bastava.
E espero que percebam
que é suficiente vocês serem quem são.
Espero que entendam
que há pessoas no mundo
que vão gostar de vocês
exatamente do jeito que são.
E que não deveriam parar
de procurar por pessoas assim,
porque, no final, são elas
que nos definem.
São pessoas que não desistem de nós,
que veem o bem em nós,
mesmo quando somos duros conosco mesmos.
Como diz o provérbio: "É preciso
uma aldeia para educar uma criança",
mas na verdade precisamos de uma aldeia
ao nosso redor a vida toda.
Minha história é a história
de uma aldeia, não é sobre mim.
É a história do apoio que recebi
desde sempre da minha família,
quando eu pelejava tanto.
É a história dos amigos
que me encorajaram,
o que me permitiu encorajar outros.
É a história das palavras gentis
que ouvi e passei adiante.
Em última instância, é a história da ideia
de que todo mundo merece
um lugar pra chamar de seu.
Quando eu tinha sete anos,
lanchava sozinho no recreio,
porque ninguém queria se sentar comigo.
Se eu tentasse sentar junto,
eles se levantavam.
Acho que posso afirmar que ninguém
ali via qualquer valor em mim.
Mas também posso afirmar
que as pessoas da minha vida
que viram valor em mim
foram a razão pela qual fui capaz
de chegar aonde estou hoje.
Não quero me gabar, mas tenho
um site sobre habilidades sociais
que teve mais de 40 milhões de visitas,
minha história foi contada na mídia,
e estou dando uma palestra no TEDx
agora sobre a minha vida.
Acho que posso afirmar
que eu havia valor em mim, com certeza.
Mas só percebi esse valor porque pessoas
na minha vida me mostraram isso.
Percebi que não podia fazer isso sozinho.
O ponto da minha palestra é muito simples:
ninguém merece ficar sozinho,
e ninguém consegue nada sozinho.
Então, quem estiver só,
procure as pessoas, fale com elas.
E se virem alguém que esteja
solitário, sejam amigos dele.
Quando eu tinha sete anos,
sentado sozinho no recreio,
ficava louco pra alguém se aproximar.
Ficava louco pra alguém
se sentar à minha mesa
e me mostrar que valia
a pena ser meu amigo.
Se estivessem ali comigo,
se tivessem visto o garoto
merendando sozinho todos os dias,
vocês seriam aqueles
que teriam se sentado ao meu lado?
Se a resposta for "sim",
então hoje também vocês seriam
aquele que se sentaria ao lado de alguém
que precisa tanto de um amigo,
como eu precisava na época?
Será que vocês seriam os únicos que veriam
alguém que todo mundo rejeitou,
e diriam: "Eu aceito aquela pessoa"?
Seriam aquele que vê alguém que parece
estranho, esquisito ou diferente
e diriam: "Sabe de uma?
Ele pode ser um amigo muito legal".
E daí fariam amizade com ele?
Vocês se sentariam ao lado dele
e perguntariam seu nome?
Vocês ouviriam a história dele
e se tornariam parte dela?
Eu prometo que, se vocês o fizerem,
poderão descobrir que ele se tornou
uma parte incrível da história de vocês.