Tradutora: Andreia Frazão
[Phyllida Barlow: Feito em casa]
A minha mãe era muito criativa:
fazia tricô, vestidos, costura.
Adoro a forma como ela me ensinava
a fazer móveis para a casa das bonecas
com caixas de fósforos descartadas.
Formas simples e próprias
de fazer as coisas.
Era a antítese da loja de brinquedos.
Tinha tudo a ver com arranjar
recursos dentro de casa.
Quando estava na escola de arte,
havia muitas coisas certas e erradas
quanto a técnicas, processos, formas,
e até ideias.
E muitas coisas eram tabu,
como a domesticidade,
ou certos artesanatos
que talvez estivessem
associados às mulheres,
como tricotar ou costurar.
Eram as grandes,
fortes tradições da escultura
que era importante aprender,
e eu não tinha muito lá jeito para isso.
Anos depois, o meu ensino
foi muito influenciado
por não seguir a abordagem
do certo e errado,
mas antes por tentar encontrar coisas
que poderiam realmente
revelar algo bastante
idiossincrático aos estudantes.
Quais eram as suas aspirações?
O que se passava nas suas cabeças?
E depois poder convidá-los
a começar a pensar nos processos
que refletiriam esses desejos e ambições.
O meu ensino tinha muito a ver
com o que eu sentia que
me faltara na escola de arte.
Tenho cinco filhos.
Já estão quase todos na casa dos quarenta.
E eu acho que queria dar continuidade
a esse sentido positivo
que a minha mãe tinha,
de que poderiam ter vidas felizes
e fazer o que queriam fazer,
que não eram obrigados a cumprir
uma expetativa maior.
[RISO]
Todos fazem arte.
A nossa terceira filha é enfermeira
em Londres, especializada em VIH.
Portanto, tem um trabalho delicado,
mas pinta bastante, o que é incrível.
Há muitos artistas
que não têm exposições.
Há muita arte que nunca se viu.
E penso que isto me intriga.
Fazer obras que não têm um destino
tem algo de solitário e de triste.
E muitos artistas passam
por isto a vida inteira,
e é heróico.
O romance que nunca é publicado,
será que não deveria ter sido escrito?
Claro que devia.
Isso é fazer uma contribuição fantástica
para a cultura do momento,
porque esse indivíduo tem
uma enorme vontade de o fazer
sem quaisquer outras pressões
de qualificações.
São estas as minhas reflexões privadas.
Penso que há muito no mundo da arte
e a forma como vivenciamos a arte
que é fantástico, mas
penso que há muita coisa
que não é totalmente falada
nem reconhecida,
que é o invisível e o desconhecido
e o ato criativo como experiência
profundamente privada.
Há um grande e poderoso desejo
apenas de criar algo.
E será que isso se limita
a sofrer os efeitos da erosão?
Espero que não.
[RISOS]