Peço-vos que respondam levantando as vossas mãos. Quantas pessoas têm acima de 48 anos? Bem, parecem ser bastantes. Ora, parabéns, porque se observarem este slide particular da esperança de vida nos EUA, vocês estão agora acima da esperança média de vida de alguém que nasceu em 1900. Mas vejam o que aconteceu no decurso desse século. Se seguirem a curva, verão que se inicia ali em baixo. Ali está aquela inflexão relativa à gripe de 1918. E aqui estamos em 2010, a esperança média de vida de uma criança nascida hoje é 79 anos e ainda não terminámos. Estas são as boas notícias. Mas ainda existe muito trabalho a fazer. Então, por exemplo, se perguntarem, em quantas doenças é que hoje conhecemos a base molecular exata? Acontece que são cerca de 4000, o que é espantoso, porque a maioria destas descobertas moleculares ocorreu apenas nos últimos tempos. É entusiasmante ver isso do ponto de vista do que aprendemos mas quantas dessas 4000 doenças têm tratamento disponível neste momento? Apenas cerca de 250. Temos então este enorme desafio, esta enorme lacuna. Podem pensar que isto não seria muito difícil, que simplesmente teríamos a capacidade de pegar nesta informação fundamental que estamos a aprender sobre como é que essa biologia básica nos ensina as causas das doenças e construir uma ponte sobre esta lacuna abismal entre aquilo que aprendemos sobre ciência básica e a sua aplicação prática, uma ponte que se assemelharia a isto, onde teriam de construir uma bela e brilhante via para chegar de uma à outra margem. [Conhecimento fundamental] [Aplicação desse conhecimento fundamental] Não seria fantástico se fosse assim tão fácil? Infelizmente, não é. Na realidade, tentar partir do conhecimento fundamental para a sua aplicação é mais assim. Não existem pontes brilhantes. Vocês a modo que colocam apostas. Talvez tenham um nadador e um barco a remos e um barco à vela e um rebocador e estes são largados ao seu destino. Vêm as chuvas e os trovões relampejam, e oh senhores, há tubarões na água e o nadador fica em apuros, e o nadador afoga-se e o barco à vela vira-se. Aquele rebocador vai contra as rochas, e talvez se tiverem sorte, algum consiga atravessar. Como é que isto é na realidade? O que é que custa afinal construer um método terapêutico? O que é uma droga? Uma droga é feita de pequenas moléculas de hidrogénio, carbono, oxigénio, azoto e outros átomos todos conjugados de uma certa forma. São essas formas específicas que determinam se aquela droga particular vai atingir o alvo. Vai aterrar onde é suposto? Olhem para esta figura aqui — uma série de formas a dançar. O que precisam de fazer, se estão a tentar desenvolver um novo tratamento para o autismo ou a doença de Alzheimer ou o cancro é encontrar a forma certa dentro desta mistura que provoque o benefício desejado e que seja segura. Quando observam o que acontece naquele gargalo, talvez comecem com milhares ou dezenas de milhar de compostos. Vão selecionando ao longo de vários passos em que muitas destas formas falham o objetivo. Talvez possam realizar um estudo clínico com quatro ou cinco destas formas. Se tudo correr bem, 14 anos depois de começarem, recebem uma aprovação. E custar-vos-à muitos milhares de milhões de dólares para conseguir aquele sucesso único. Temos de olhar para aquele gargalo do modo que um engenheiro olharia, e dizer: "Como podemos fazer fazer isto melhor?" Este é o tema central de que vos quero falar. Como podemos fazer isto andar mais depressa? Como podemos tornar isto mais bem sucedido? Vou falar-vos de alguns exemplos em que isto já resultou. Um deles, que aconteceu nos últimos meses, é a aprovação de uma droga para a fibrose quística. Mas demorou bastante para chegar lá. A causa molecular da fibrose quística foi descoberta em 1989 pelo meu grupo de trabalho em colaboração com outro grupo de Toronto, que descobriram a mutação que ocorria num gene particular no cromossoma 7. A imagem que veem ali? Aqui está. Este é o mesmo miúdo. Este é Danny Bessette, 23 anos depois, porque este é o ano — e é também o ano em que o Danny se casou — em que tivemos, pela primeira vez, a aprovação da FDA de uma droga que atingia especificamente o defeito da fibrose quística baseada em todo este conhecimento molecular. Estas são as boas notícias. As más notícias são que esta droga ainda não trata todos os casos de fibrose quística, e não funciona com o Danny. Ainda estamos à espera da próxima geração para ajudá-lo. Mas demorou 23 anos para chegar até aqui. É demasiado tempo. Como avançamos mais depressa? Uma forma de avançar mais rapidamente é tirar partido da tecnologia. Uma tecnologia muito importante da qual dependemos para tudo isto é o genoma humano, a capacidade de olhar para um cromossoma, desenrolá-lo, extrair todo o ADN, e ser capaz de ler todas as letras daquele código de ADN, os As, os Cs, os Gs e os Ts que são o nosso manual de instruções e o manual de instruções de todos os seres vivos. O custo de fazer isto, que era de centenas de milhões de dólares, diminuiu no decurso da última década, mais depressa que a Lei de Moore, até ao ponto de custar hoje menos de 10 000 dólares para sequenciar todo um genoma. Estamos a caminhar relativamente depressa para o genoma de 1000 dólares. Bem, isso é excitante! O que significa isso em termos da sua aplicação para uma doença? Quero falar-vos de outro problema. Este é um problema que é bastante raro. Denomina-se Progeria ou Síndrome de Hutchinson-Gilford. É a forma mais dramática de envelhecimento precoce. Apenas uma em cada 4 milhões de crianças tem esta doença. De um modo simples, o que acontece é que, por causa de uma mutação num gene particular, é construída uma proteína tóxica para a célula e isso causa o envelhecimento nestes indivíduos a uma taxa sete vezes superior ao normal. Vou mostrar-vos um video sobre o que isto faz à célula. Uma célula normal, ao ser observada ao microscópio, teria o núcleo localizado no meio da célula, que é bonito e redondo e com limites lisos assemelhando-se a algo como isto. Uma célula com progeria, por outro lado, por causa da proteína tóxica chamada progerina, apresenta estes altos e lombas. O que gostaríamos de fazer após descobrir isto em 2003, é arranjar uma forma de corrigir isto. Outra vez, ao saber algo sobre os caminhos moleculares, foi possível escolher um destes muitos compostos que poderiam ser úteis e experimentá-lo. Numa experiência realizada numa cultura de células e aqui mostrada num vídeo se pegarmos nesse composto particular e o adicionarmos àquela célula que tem progeria, e observarmos o que acontece, em apenas 72 horas, aquela célula torna-se — para todos os efeitos que podemos determinar — quase uma célula normal. Bem isso foi entusiasmante, mas resultaria realmente num ser humano? No espaço de apenas 4 anos, desde o momento em que o gene foi descoberto até ao início de um estudo clínico, isso conduziu a um teste àquele composto específico. As crianças que aqui veem, voluntariaram-se todas para participar nisto, Foram 28 ao todo. Podem ver, assim que a imagem surge, que são um grupo de jovens fantástico todos afetados por esta doença, todos apresentando semelhanças entre si. Em vez de vos dizer mais sobre o assunto, vou convidar um deles, Sam Berns de Boston, que está aqui esta manhã, para subir ao palco e nos falar sobre a sua experiência como uma criança afetada com progeria. O Sam tem 15 anos. Os pais, Scott Berns e Leslie Gordon, ambos médicos, estão também aqui connosco esta manhã. Sam, por favor senta-te. (Aplausos) Então Sam, conta lá a estas pessoas como é ser afetado com esta doença chamada progeria? Sam Burns: A progeria limita-me de variadas formas. Não posso praticar desportos nem realizar atividades físicas, mas tenho-me interessado por coisas que a progeria, felizmente, não me limita. Mas quando há algo que eu realmente gostava de fazer que a progeria me impede de fazer, como integrar uma banda marcial arbitrar, encontramos sempre uma forma de o fazer. Isso só mostra que a progeria não controla a minha vida. (Aplausos) Francis Collins: Então o que gostarias de dizer aos investigadores aqui presentes no auditório e outros que ouçam esta conversa? O que gostarias de lhes dizer acerca da investigação sobre a progeria e talvez também sobre outras doenças? SB: A investigação sobre a progeria evoluiu muito nos últimos 15 anos. Isso mostra a determinação que os investigadores podem ter para chegar tão longe, e significa muito para mim e para outros miúdos com progeria. E demonstra que, quando essa determinação existe, qualquer um pode curar qualquer doença. Tenho esperança que a progeria possa ser curável num futuro próximo, e possamos também eliminar aquelas 4000 doenças de que o Francis estava a falar há pouco. FC: Excelente. OSam fez hoje gazeta à escola para estar aqui, e aqui está. (Aplausos) Está aqui, já agora, como um aluno de excelência do 9.º ano numa escola em Boston. Por favor, juntem-se a mim no agradecimento e na congratulação ao Sam. SB: Muito obrigado. FC: Muito bem. Muito bem, amigo. (Aplausos) Quero apenas dizer mais umas coisinhas sobre aquela história particular, e depois tentar generalizar sobre como podemos ter histórias de sucesso, por todo o lado, para estas doenças, como disse o Sam, estas 4000 que estão à espera de respostas. Vocês podem ter notado que o medicamento que está agora em estudo clinic para a progeria não é uma droga desenvolvida para esse efeito. É uma doença tão rara, que seria muito difícil para uma empresa justificar o gasto de centenas de milhões de dólares para criar o medicamento. Este é um medicamento que foi desenvolvido para o cancro. Mas afinal, não resultou muito bem no tratamento do cancro, mas tem as propriedades exatas, a forma certa, para funcionar para a progeria, e foi isso que aconteceu. Não seria espetacular se pudéssemos fazer isto mais sistematicamente? Poderíamos encorajar todas as empresas por aí que têm drogas nos seus frigoríficos que se sabe serem seguras para o ser humano mas nunca foram verdadeiramente eficazes no tratamento para o qual foram concebidas e testadas. Estamos a aprender todos estes novos caminhos moleculares, alguns dos quais podem ser reposicionados e redesenhados ou qualquer outra palavra que queiram usar, para novas aplicações, basicamente ensinando novos truques a velhos medicamentos. Esta poderia ser uma atividade valorosa e fenomenal. Temos muitas discussões, que se apresentam promissoras, entre o Ministério da Saúde e as empresas sobre como pôr isto em prática. Podemos pôr bastantes esperanças nisto. Há um grande número de histórias de sucesso, que podem ser apontadas, sobre como isto levou a avanços significativos. O primeiro medicamento para o VIH/SIDA não foi desenvolvido para o VIH/SIDA. Foi desenvolvido para o cancro. Foi o AZT. Não funcionava muito bem com o cancro, mas tornou-se o primeiro antiretroviral com sucesso. Podem ver pelo quadro que ainda há outros. Então como podemos generalizar mais este esforço? Temos de criar parcerias entre Universidades, Governo, o setor privado, e as organizações de doentes para torná-lo realidade. No Ministério da Saúde, criámos o Centro Nacional para o Avanço nas Ciências Interpretativas. Começou em Dezembro passado, e este é um dos seus objetivos. Vou dizer-vos outra coisa que poderíamos fazer. Não seria agradável poder testar-se um medicamento para verificar a sua eficácia e segurança sem colocar pacientes em risco, porque da primeira vez nunca se tem bem a certeza? Como saberemos, por exemplo, se os medicamentos são seguros antes de os dar a pessoas? Testamo-los em animais. Isso não é lá muito fiável, é custoso e consome muito tempo. Suponham que podíamos fazê-lo em células humanas. Provavelmente sabem, se têm prestado atenção a alguma da literatura científica, que pode agora usar-se uma célula da pele e levá-la a tornar-se uma célula do fígado ou uma célula cardíaca ou uma célula renal ou uma célula cerebral em qualquer um de nós. E se usássemos essas células como alvo dos testes para saber se o medicamento vai resultar e se vai ser seguro? Aqui veem uma imagem de um pulmão num chip. Isto foi criado pelo Instituto Wiss em Boston. Se pudermos passar um curto vídeo, vemos que eles pegaram nas células de um indivíduo, tornáaram-nas nos tipos de célula que estão presentes no pulmão, e determinaram o que aconteceria se as sugeitássemos a variados compostos medicamentosos para verificar se são tóxicos ou seguros. Podem ver que este chip até respira. Tem um canal aéreo. Tem um vaso sanguíneo. E tem células entre eles que permitem observar o que acontece quando se adiciona um composto. Estão aquelas células bem ou não? Pode usar-se este mesmo tipo de tecnologia de chip para rins, coração, músculos, todos os locais onde se pretenda verificar se a ação de um medicamento vai constituir um problema para o fígado. Por fim, porque se pode fazer isto individualmente, podemos antever que isto caminhará para o ponto em q ue a capacidade de desenvolvimento e teste de medicamentos será consigo num chip. Estamos a tentar promover a individualização do processo de desenvolvimento dos medicamentos e do seu teste de segurança. Vou então resumir. Estamos num momento fantástico. Para mim, no Ministério da Saúde há quase 20 anos, nunca houve um momento em que houvesse mais entusiasmo sobre o potencial que se estende à nossa frente. Foram feitas todas estas descobertas vindas de laboratórios de todo o mundo. O que poderemos fazer para capitalizar tudo isto? Primeiro, precisamos de recursos. Isto é investigação de alto risco, por vezes com grandes custos. O lucro é enorme, tanto em termos de saúde como em termos de crescimento económico. Precisamos de apoiar tudo isso. Segundo, precisamos de novos tipos de parcerias entre as Universidades, os Governos e o setor privado e organizações de doentes, como a que estive aqui a descrever, de modo a que possamos promover o redesenho de novos compostos. Terceiro, e talvez o mais importante, precisamos de talento. Precisamos dos melhores e mais brilhantes das mais variadas disciplinas, que venham colaborar neste esforço, de todas as idades, de diferentes grupos, porque este é o momento, amigos. Esta é a Biologia do século XXI que tanto aguardavam. Temos a oportunidade de agarrar nisso e torná-lo em algo que irá, de facto, acabar com a doença. Esse é o meu objetivo. Espero que seja o vosso objetivo. Penso que será o objetivo dos poetas e dos ignorantes. dos surfistas e dos banqueiros e de todas as outras pessoas que se juntem neste palco. Pensem no que estamos a tentar fazer aqui e porque é que isso é importante. É importante para agora. É importante assim que possível. Se não acreditam em mim, perguntem ao Sam. Muito obrigado. (Aplausos)