(Grego) Boa tarde. Peço desculpas por falar em inglês, eu fui alfabetizado em inglês, mas espero que todos consigam acompanhar. Obrigado, Manoli, pela gentil introdução. É muito bom estar com vocês. Hoje vamos falar sobre apenas uma palavra, e essa palavra é "mutantes". Vamos ser honestos uns com os outros. Não temos imagens positivas em mente quando pensamos sobre mutantes. Não olhamos uns aos outros e dizemos: "Ele parece tão mutante" ou "Você é um mutante e tanto" como um termo carinhoso. Antes de prosseguir, preciso me certificar que vocês possam dizer a todo mundo que não se pega uma mutação, e não, não se pega mutações por mordidas de aranhas. Só queria deixar isso claro. Mas culturalmente, por muito tempo, consideramos um mutante com uma conotação negativa, e a imagem que vocês vão ver atrás de mim são essas criaturas monstruosas em uma caverna. Na verdade, enquanto eu procurava por imagens apropriadas, encontrei um zumbi mutante. Como se ser um zumbi não fosse ruim o suficiente, era um zumbi mutante. (Risos) Entretanto, eis a questão. Não é tudo verdadeiro. A palavra mutante simplesmente significa uma mudança no DNA, e não classifica como positivo ou negativo aquilo a que se refere. Só quer dizer que há uma posição no seu DNA que é diferente da posição de referência, e sabemos disso há 100 anos, desde que começamos a manipular DNA de moscas e outras criaturas. E de vários modos, somos todos mutantes, e vou falar disso daqui a pouco. Então temos este termo inadequado, mutante. Há um segundo termo inadequado sobre o qual eu gostaria de falar. E o termo é "cuidados de saúde". Este é o lugar onde trabalho, onde tenho o privilégio de trabalhar; é um lugar maravilhoso. Mas eu gostaria de perguntar se alguém aqui foi ao médico, recentemente, e disse: "Doutor, eu estou me sentindo muito bem hoje. Estou me sentindo muito saudável. Por favor me ajude". (Risos) Então, em essência, cuidados de saúde são um embelezamento porque na realidade deveria ser "cuidados de doenças". Nós cuidamos dos doentes, não dos saudáveis. Sim, eu entendo que nós desejamos ser saudáveis, mas na verdade nós cuidamos dos doentes. Vamos pensar sobre o problema de cuidados de saúde e cuidados de doenças em uma perspectiva ligeiramente diferente. É verdade e apropriado que gastamos quantias significativas de esforços e de recursos pelo mundo para cuidar dos doentes. Certamente alguns dirão que não gastamos o suficiente e eu concordo com isso. Entretanto, digo a vocês que é tão esclarecedor não somente entender porque as pessoas ficam doentes, mas também entender porque pessoas que deveriam estar doentes não estão. Pensem nisso por um momento. Aqui vai talvez uma declaração um tanto perturbadora. Um subconjunto de nós não deveria existir ou deveria ser muito doente, como as crianças, os recém-nascidos. E a razão disso é que algumas informações que carregamos em nossos genomas está prevendo uma desordem catastrófica da qual nós talvez não tenhamos sido capazes de nos recuperar. Mesmo assim aqui estamos, capazes de apreciar a companhia uns dos outros. Eu acho isso maravilhoso, mas também acho interessante, porque, se pudermos entender o que nos protege das doenças, talvez esse seja um caminho alternativo para novas terapias, para ajudar pessoas que estão prestes a desenvolver tais doenças. E eu diria que essa é uma área onde temos recursos insuficientes e que temos subestimado. Certo. Todo mundo vai se perguntar: "Meu deus, o que será o próximo slide". Estamos na Grécia, meu país natal, e às vezes, quando eu penso no arquétipo do grego, sobre o que eu penso? Aqui está um dos nossos adorados filhos, Dimitri Mitropoulos, mas ele parece estar fazendo muito disto, e é verdade que muitos de nós tem o hábito de fumar bastante. Nós também comemos tarde, e algumas coisas que comemos não são saudáveis. Como o "gyro" e o "kokoretsi". Acabamos de passar a Páscoa, certo? Alguns de vocês devem saber que a União Europeia emitiu um conselho contra comer kokoretsi porque é considerado profundamente prejudicial para a saúde. Mas fazemos todas essas coisas, e temos feito isso há muito tempo. E ainda assim, parece que temos uma das maiores taxas de longevidade na Europa. Temos taxas muito menores de doenças cardiovasculares do que se esperaria para nosso estilo de vida, e somos geralmente considerados bastante resistentes. Por que isso? Bem, tem uma série de motivos. É claro que antes do McDonald's invadir nosso país, nós apreciávamos a dieta mediterrânea com óleos, frutas, castanhas, peixes. Não posso falar mais sobre isso para vocês porque sou geneticista. Eu posso lhes falar um pouco sobre isto: não é só a nossa dieta que nos protege dos males do fumo, do kokoretsi e de todo o resto, agora compreendemos que temos mudanças, mutações em nosso DNA, que nos protegem de alguns distúrbios catastróficos. Essa não é uma informação nova e é um pouco intrigante que talvez não estejamos gastando tanto tempo quanto deveríamos. Considerem isto: glóbulos vermelhos. Eles carregam oxigênio pelo nosso corpo. Vocês precisam deles, acreditem em mim. Então compreendemos que, quando temos mutações específicas que causam mudanças na forma dos glóbulos vermelhos, contraímos coisas como anemia falciforme, e a oxigenação do nosso tecido é reduzido. Isso é algo muito ruim; não é confortável. A não ser que aconteça de você viver em um lugar em que a malária é endêmica e ocorre com alta frequência. Porque, se for esse o caso, essas glóbulos deformados na verdade te protegem da malária. Vamos dar um passo para trás por um momento. Temos uma mutação ruim que causa anemia falciforme, que se torna uma mutação boa se você viver em um local em que a malária prevalece. O ponto onde estou tentando chegar é que não há certezas, não há certezas ruins nem boas com as mutações. Uma mutação é uma mutação, e depende do contexto em que se avalia o tipo da informação e de ajuda que você pode obter. É possível para nós usarmos nosso genoma não só para encontrar essas mutações ruins, mas também para encontrar boas mutações para nos ajudar? Sim, é possível. Tenho metas ambiciosas em relação a isso, mas isso não é ficção científica, isso está acontecendo em laboratórios pelo mundo exatamente agora, aliás, se meu laboratório estiver assistindo, espero que voltem ao trabalho. (Risos) Aqui estão as capas de duas famosas edições das renomadas revistas "Nature" e "Science", que em 2001 publicaram o primeiro rascunho do modelo da vida, o genoma humano. Era um rascunho, mas funcionou muito bem. Levamos cerca de dez anos para decodificar um genoma, e depois o que aconteceu? Fizemos o que somos muito bons em fazer. Nós calculamos, miniaturizamos, fizemos as coisas ficarem mais baratas. Não é diferente dos velhos computadores Cray para a coisa que vocês têm nos bolsos agora, seu smartphone. Custava milhões e milhões de dólares, agora custa alguns milhares de dólares e os custos continuam a reduzir. Agora mesmo, há dezenas de milhares de genomas que já foram sequenciados, e é minha previsão, e eu lhes garanto que não é uma previsão visionária, que nos próximos anos, teremos centenas de milhares e milhões e por fim bilhões de genomas. Bom, quando isso acontecer teremos uma oportunidade. Além de encontrar todas as mudanças nos genomas que nos deixam doentes, também podemos encontrar algumas mudanças que nos façam sentir melhor. Alguns de vocês podem ter ouvido sobre algo chamado de zonas azuis. As zonas azuis são áreas do planeta em que as pessoas vivem mais tempo, e não apenas vivem mais, vivem mais e mais saudáveis. A ilha de Ikaria, alguns de vocês devem ter visto no mapa, é uma delas, um indivíduo médio, um habitante da ilha, vai viver em média dez anos mais do que em qualquer lugar da Europa. Sim, devíamos sequenciar esses indivíduos, mas não devemos olhar apenas para essas zonas azuis. Eis a questão. Enquanto olho ao redor, estou seguro ao dizer que há pelo menos dois ou três de vocês cujo genoma contém algo que é profundamente protetor contra uma doença catastrófica. Na verdade eu diria que há mais do que isso, mas não tenho uma noção ainda. Estou pensando não só naqueles que estão nas zonas azuis, mas em todo o país, em todo o continente, em todo o mundo. Ao começarmos a acumular genomas, iremos encontrar esses mutantes bons, pessoas que deveriam ter ficado muito doentes, mas não estão, e não estão porque têm mutações em outros genes que as protegem. Certo, isso é bom, isso é ótimo. Você vai dizer que são 8 bilhões de nós, e eu direi: "Sim, isso é bom, mas sou um pouco impaciente; não é o bastante, me dê mais". O que mais podemos fazer? Bem, nós temos estudado distúrbios genéticos humanos nos últimos 100 ou 120 anos. E uma das coisas que fazemos é modelar esses distúrbios genéticos em uma variedade de animais: camundongos, ratos, peixes, minhocas, moscas. E o que normalmente gostamos de fazer é dizer: "Aha, existe um gene que quando está faltando em uma criança, causa uma doença metabólica muito grave e eu preciso entender por quê". Bom, eu vou prosseguir, e vou excluir exatamente o mesmo gene em um camundongo ou em uma mosca ou em uma minhoca ou em um peixe. E vou recriar esta doença neste modelo de tal forma que eu possa estudá-la. E devo dizer a vocês que ficamos mais animados quando alcançamos esse objetivo porque então temos uma ferramenta maleável para estudar uma doença. Eu diria que deveríamos ficar ainda mais animados, quando excluímos esses genes nestes organismos modelo, e não conseguimos gerar esta doença. Por quê? Porque a questão então se torna: por que, quando um bebê não tem um gene específico, ele acaba tendo um futuro muito tênue, e considero isso inaceitável, enquanto excluímos exatamente o mesmo gene em um rato, e o rato não se importa? A minha sensação é que entender por que esses organismos modelos, esses animais, têm a capacidade de não possuir esses genes e ainda serem saudáveis certamente nos ajudará, nos guiará, para melhores terapias. Se pensarmos um pouco mais amplo - o planeta - há um número enorme de espécies em todo o planeta, e estamos a caminho de sequenciar todas elas. Teremos os genomas de milhares de espécies, muito em breve. Não é uma predição ousada dizer que entre as espécies vamos encontrar mutações que causam catástrofes no ser humano, mas que nessas espécies são totalmente toleradas. Vamos trabalhar juntos para entender as diferenças; para entender por que em uma minhoca em um peixe, em uma formiga ou uma girafa, não me importa a espécie, um gene que causa uma doença catastrófica em um ser humano é completamente tolerado. E, no entanto, vocês dirão: "Que ganancioso, todas as espécies, temos agora 8 bilhões de humanos e todas as espécies do planeta". Eu odeio dizer isso, mas ainda não estou satisfeito. Cientistas, por definição, são impacientes e não pedimos desculpas por isso. Então eis a questão. Há algo mais que podemos fazer. E a outra coisa que podemos fazer é entrar diretamente nas células. A imagem que vocês veem atrás de mim é uma imagem de uma célula, é bastante aceitável para nós obtermos células doentes de todas doenças genéticas que já foram descobertas. Para raras doenças genéticas humanas, e essa é minha paixão, há cerca de 10 a 12 mil delas, e se alguém me dissesse: "Vamos estabelecer as células de 12 mil distúrbios genéticos humanos", eu diria: "Isso é difícil, mas não é impossível, com um esforço de imaginação". Não precisamos inventar tecnologia, precisamos apenas investir tempo. E tempo é algo que nós temos um pouco. E depois, o que vamos fazer? Bom, nós vivemos em um mundo novo. Tenho certeza que meu antecessor e os que vieram antes disseram o mesmo, e é uma coisa maravilhosa sobre a humanidade, mas é verdade, vivemos em um mundo onde, pela primeira vez, temos a capacidade de editar o genoma. Alguns de vocês podem ter ouvido falar sobre uma enzima, CRISPR-Cas9. A questão é que podemos ir adiante e, à nossa vontade, podemos excluir genes, podemos mudar as letras dos genes, podemos mudar a ordem dos genes, podemos praticamente fazer o que quisermos. É como o Microsoft Word sem os erros, a pirataria e as ameaças de vírus. Mas, podemos fazer isso. O que podemos fazer é pegar cada uma das 12 mil doenças que temos, e em cada célula, sistematicamente, apagar um gene por vez. E podemos descobrir quais genes, quando estão faltando, irão realmente proteger, curar, restaurar a disfunção original. E quando realmente combinarmos isso com a farmacopeia que temos, podemos ter uma hiperaceleração na descoberta de novos remédios. Isto não vai funcionar para todo transtorno genético humano, mas estou convencido de que vai funcionar para uma grande parcela deles. E já que agora, em relação aos distúrbios genéticos, nossas opções terapêuticas são preciosas, poucas e limitadas, eu dou boas-vindas a essa ideia ousada, porque, afinal, às vezes é bom ser um mutante! Obrigado. (Aplausos)