Por volta de 1920,
o matemático alemão David Hilbert
imaginou um famoso experimento
de lógica matemática
para mostrar como é difícil
compreender o conceito de infinito.
Imagine um hotel com
um número infinito de quartos
e um gerente noturno muito trabalhador.
Certa noite, o Hotel Infinito
está completamente lotado,
com um número infinito de hóspedes.
Um homem entra no hotel
e solicita uma vaga.
Em vez de recusar o hóspede,
o gerente da noite decide acomodá-lo.
Como?
É fácil. Ele pede ao hóspede
do quarto número 1
que se mude para o quarto número 2,
o hóspede do apartamento 2
vai para o quarto 3
e assim por diante.
Cada hóspede muda-se do quarto número "n"
para o quarto "n+1".
Já que há um número infinito
de apartamentos,
haverá uma nova vaga
para cada hóspede existente.
Isto deixa o quarto 1 livre
para um novo cliente.
O processo pode ser repetido
para qualquer número finito
de novos hóspedes.
Se, digamos, um ônibus de turismo trouxer
40 novas pessoas procurando acomodação,
então, cada hóspede existente
terá apenas que se mudar
do quanto número "n"
para o quarto número "n+40",
liberando assim os primeiros 40 quartos.
Mas agora um número infinito de ônibus
trazendo um número infinito
contável de passageiros
chega à procura de vagas.
O infinito contável é a chave da questão.
Agora, o ônibus infinito
com infinitos passageiros
deixa o gerente da noite
inicialmente perplexo,
mas ele se dá conta de que há uma solução
para acomodar cada nova pessoa.
Ele pede ao hóspede do quarto 1
para se mudar para o quarto 2.
A seguir, pede ao hóspede do quarto 2
que passe para o quarto 4,
o hóspede do quarto 3
para deslocar-se para o quarto 6,
e assim por diante.
Cada hóspede atual
muda-se do quarto número "n"
para o quarto "2n",
ocupando apenas os quartos
dos infinitos números pares.
Assim procedendo, ele desocupou
todos os infinitos quartos
dos números ímpares.
que serão ocupados pelas pessoas
que chegaram no ônibus infinito.
Todo mundo fica feliz
e os negócios do hotel
prosperam mais do que nunca.
Para falar a verdade, prosperam
exatamente no mesmo montante de sempre,
faturando um número infinito
de dólares a cada noite.
As notícias sobre este incrível hotel
se espalham.
Chegam pessoas de lugares distantes,
de toda a parte.
Uma noite acontece o inpensável.
O gerente noturno olha para fora
e vê uma fila infinita
de ônibus infinitamente grandes,
cada qual com um número contável
de infinitos passageiros.
O que ele pode fazer?
Se ele não puder hospedá-los,
o hotel perderá
uma quantidade infinita de dinheiro
e ele certamente perderá seu emprego.
Por sorte, ele lembra
que, por volta do ano 300 A.C.,
Euclides provou que existe
uma quantidade infinita
de números primos.
Então, para realizar a tarefa
aparentemente impossível
de encontrar infinitos leitos
para infinitos ônibus
com infinitos passageiros cansados,
o gerente noturno reserva
a cada hóspede atual
o primeiro número primo, 2,
elevado à potência do número
do seu quarto atual.
Assim, o atual ocupante do quarto número 7
vai para o quarto número 2^7,
que é o quarto 128.
O gerente noturno a seguir leva as pessoas
do primeiro dos ônibus infinitos
e as acomoda no quarto cujo número
é o número primo seguinte, o 3,
elevado à potência do número
do seu assento no ônibus.
Então, a pessoa no assento de número 7
no primeiro ônibus
vai para o quarto número 3^7,
ou o quarto número 2.187.
Isto continua para todos
os do primeiro ônibus.
Aos passageiros do segundo ônibus
são associadas potências
do número primo seguinte, o 5.
O próximo ônibus, potências de 7.
Segue para cada ônibus:
potências de 11,
potências de 13,
potências de 17, etc.
Tendo em vista que cada um destes números
tem apenas 1 valor único para as potências
dos números naturais
de seus números primos tomados como base,
não há superposição do número de quartos.
Todos os passageiros dos ônibus
distribuem-se pelos quartos
usando esquemas de reservas únicos,
baseados em números primos únicos.
Desta forma, o gerente da noite
pode acomodar
cada passageiro de cada ônibus,
embora muitos quartos permanecerão vazios,
como o quarto 6,
já que 6 não é uma potência
de nenhum número primo.
Felizmente, seus patrões não eram
muito bons de matemática,
de modo que seu emprego está a salvo.
As estratégias do gerente noturno
são possíveis apenas
porque, embora o Hotel Infinito
seja com certeza um pesadelo logístico,
ele lida apenas com o nível
mais baixo do infinito,
principalmente, o infinito contável
dos números naturais,
1, 2, 3, 4 e assim por diante.
Georg Cantor chamou este nível
de infinito aleph-zero.
Usamos números naturais
para os números dos quartos
bem como para os números
dos assentos dos ônibus.
Se trabalharmos com
ordens superiores de infinito,
como aquela dos números reais,
estas estratégias estruturadas
não serão mais possíveis
por não termos meios
de incluir sistematicamente cada número.
O Hotel Infinito do Número Real tem
quartos com números negativos no subsolo,
quartos com número fracionários,
de modo que o cara
do quarto 1/2 sempre desconfia
que ele tem menos espaço
do que aquele do quarto 1.
Quartos numerados com raiz quadrada,
como o quarto radical 2
e o quarto pi,
onde os hóspedes esperam
ter sobremesa grátis.
Qual gerente que se preza
desejaria trabalhar ali,
mesmo com um salário infinito?
Mas no Hotel Infinito de Hilbert,
onde nunca nunca existe vaga
e há sempre quarto para mais gente,
os cenários enfrentados pelo gerente
sempre esforçado
e talvez excessivamente hospitaleiro
servem para nos lembrar
do quanto é difícil
para as nossas mentes
relativamente finitas
entender um conceito
tão amplo como o infinito.
Talvez você possa ajudar
a resolver estes problemas
depois de uma boa noite de sono.
Mas, honestamente, talvez seja preciso
que você troque de quarto
às 2 horas da madrugada.