(gongo) Como é que nos podemos libertar da raiva? Querido Thay, a revista da Oprah pergunta: "Como é que nos podemos libertar da raiva quer ela seja direcionada aos membros da nossa família ou a alguém que nos enganou no passado? É fácil deixar que a raiva nos consuma. Por isso como é que a conseguimos superar e prosseguimos com a nossa vida? Não é bem a mesma coisa que perdoar e esquecer, mas simplesmente largar a raiva a que nos estamos a agarrar." A revista da Oprah fala da raiva face aos membros da família ou a alguém que nos enganou no passado. Querem saber se existe alguma coisa que possamos fazer de forma a transformar a raiva, para libertar essa raiva. E perdoar não parece ser suficiente. Esta é uma questão muito importante Acho que a primeira coisa que fazemos quando a raiva está prestes a surgir é voltar à nossa respiração e inspirar de forma consciente. Porque a raiva é como uma tempestade Ela tem... Há sintomas. Se sentires que a raiva está a surgir, que está a subir de algures do fundo da nossa consciência. Por isso quando a tempestade está prestes a rebentar, nós sabemos. Nós sentimos os sintomas da tempestade. Por isso temos que nos preparar para sermos capazes de resistir, de lidar com a tempestade. Por isso quando a raiva está a surgir... pode demorar dois ou três segundos a subir. E durante esse tempo podemos voltar à nossa respiração e inspirar. E em vez de focarmos a nós mesmos, a nossa mente na raiva, focamos a nossa mente na nossa respiração. Não temos medo da raiva, porque sabemos como lidar com a nossa raiva. E, para lidar com a raiva em primeiro lugar temos que inspirar e focar a nossa atenção na nossa inspiração. quando focamos a nossa atenção na nossa inspiração trazemos a nossa mente para o nosso corpo, estamos realmente ali. Somos fortes o suficiente para tomar conta de nós mesmos. Depois podemos olhar para a pessoa que achávamos que era a causa da nossa raiva. Seja aquela pessoa um membro da nossa família? Ou seja aquela pessoa... alguém que foi muito injusto connosco? E com este tipo de respiração consciente dentro de nós podemos olhar para a outra pessoa e ver. O que vemos é que há sofrimento nele ou nela. Aquela pessoa não é feliz. Aquela pessoa tem violência nele ou nela. Aquela pessoa tem percepções erradas nele ou nela. Inspirando de forma consciente e olhando para ele ou ela conseguimos ver isso. Conseguimos ver a percepção errada nele ou nela. Conseguimos ver o sofrimento nele ou nela. Conseguimos ver a violência nele ou nela. E conseguimos ver que aquela pessoa não é bonita quando ela age de forma violenta e quando diz coisas que não são agradáveis, Olhando desta forma, ao mesmo tempo vemos que não queremos ser assim. Não queremos ser vítimas da raiva e da violência. Queremos apenas ser uma flor. Então olhando para ele, para ela, vemos o sofrimento vemos a ausência de beleza. E olhando para nós, sabemos que não queremos ser assim. Não queremos ser possuídos pela raiva ou pelas percepções erradas. Queremos ser uma flor, fresca. Por isso uma inspiração consciente, já nos pode ajudar a ver as coisas de forma mais clara. E quando vires as coisas claramente... a raiva já não te pode controlar e és motivado pelo desejo de dizer algo agradável ou fazer algo simpático para ajudar aquela pessoa a sofrer menos. Isso significa que foste capaz de criar compaixão em ti. A compaixão é uma espécie de energia que pode fazer com que paremos de sofrer imediatamente. A compaixão é o néctar da paz e da felicidade. A compaixão nasce quando vês o sofrimento nele, nela. e quando queres ajudá-lo ou a ela. Todos nós somos capazes de o fazer. Imagina... achamos que a outra pessoa não gosta de nós, que a outra pessoa está a tentar fazer-nos mal. Isso pode ser uma percepção errada. A outra pessoa pode não ter a intenção de nos magoar, de nos destruir, mas tu achas que a tem. Mas se tiveres essa percepção errada, tu vais ficar zangado. Vais querer castiga-lo. Queres magoa-lo antes que ele te magoe a ti. Por isso é que uma percepção errada pode tornar uma pessoa violenta, zangada. Uma percepção errada é algo que pode trazer raiva e medo. É o caso de muitos terroristas. Eles têm muitas percepções erradas. Eles acreditam que as outras pessoas estão a tentar destruí-los como religião, como modo de vida, como cultura, como nação. Mas a verdade é que eles não têm essa intenção de todo. Por isso se acreditares que alguém está a tentar matar-te, destruir-te como religião, como cultura, como civilização, ficas muito zangado com ele. E queres destruí-los antes que te destruam a ti. Este é o caso de muitos terroristas. Se olhares para o terrorista desta forma, sentes que ele é vítima de uma percepção errada, ele é vítima de violência e de raiva. Já não o queres castigar ou mata-lo. Queres fazer algo que ajude a remover a percepção errada nele. E há formas de o fazer, como escuta compassiva ou discurso amoroso. Estes podem ajudar uma pessoa a remover percepções erradas. E esta é a melhor forma de lidar com o terrorismo. Não consegues remover o terrorismo como bombas e armas. Tens que o remover com discurso amoroso e escuta profunda, para os ajudar a remover as percepções erradas. Por isso é que deves inspirar e olhar profundamente, para ver que o outro é vítima de percepção errada, de violência, de sofrimento. Isso faz com que a tua compaixão surja. E quando a compaixão surge, a raiva é transformada, a raiva é apagada. E já não sofres. Em vez disso queres ajudá-lo a ele, a ela, seja ele um membro da família ou alguém que te fez sofrer, devido à sua percepção errada e sofrimento. E dentro de alguns dias podemos praticar isto. Sentando ou caminhando sozinhos, podemos pensar na pessoa que nos fez sofrer. E olhando profundamente podemos ver o seu sofrimento, a percepção errada que tem. E depois de ver isso, ficas motivado pelo desejo de ir atrás dele e de o/a ajudar de remover esse tipo de percepções erradas, violência e raiva, fazer com que ele ou ela sofra menos. E se tiveres essa intenção, significa que a compaixão já nasceu no teu coração. Quando a compaixão está aí, a raiva já não está lá. Esta é a minha questão para a revista da Oprah e para os leitores da revista da Oprah. Achas que está suficientemente bom? (risos na plateia) Obrigada por ter colocado a questão. (gongo)