Hogan's alley sempre foi considerado
um lugar de vício, uma praga urbana,
então a câmara municipal sempre esteve
de olho para demolir.
[Sinal de cruzamento ferroviário
ressoando]
[assovio]
[Jazz tocando no rádio]
Tinha uma reputação de ser um
bairro negro,
embora fosse um bairro misto de negros,
italianos e chineses,
mas ganhou essa reputação pelas pessoas
negras que costumavam aparecer aqui.
Eu sou um artista, e história é uma coisa
que eu uso para fazer o que faço.
Aquele prédio branco é chamado
Barraca de Frango da Vie,
onde vários músicos de jazz costumavam
ir depois de tocar no centro de Vancouver.
Eles não eram autorizados a beber
nos bares onde tocavam,
então eles vinham aqui para comer frango
e festar.
[Jazz tocando]
[Homem] Oi, Roy.
[Roy] Como vai, amigão?
[Homem] Hê Hê Hê. Você está de volta
na cidade.
[Roy] Voltei ontem à noite.
[Stan Douglas] Isto é um meio interativo
de contar histórias que você pode
baixar no seu celular
e realmente jogar como um jogo.
Nós tentamos fazer uma representação
histórica baseado em registros públicos.
Aqui está o contrabandista italiano.
[Homem cantarolando]
[Sino toca]
Aqui era um bordel chinês.
[Mulher] Quanto você paga
suas meninas?
[Outra mulher] Humm. Eu não estou
contratando.
[Stan Douglas] Eu faço meu trabalho
para poder vê-lo.
Uma função principal da arte é permitir
ver o que conhecemos de outra maneira.
[música eletrônica]
Meu primeiro trabalho depois do ensino
médio era de arrumador.
Meu segundo trabalho foi como DJ.
Eu fui o primeiro a tocar hip-hop
em Vancouver.
Eu passei pra arte mais tarde. Eu era
mais interessado em teatro.
Eu percebi cedo que em Vancouver
programas de TV estavam sendo feitos,
filmes estavam sendo feitos,
então eu poderia usar os aparelhos de
cinema e TV para fazer meu trabalho.
[música ambiente]
[Conversa indistinta]
Nos últimos 10 anos, eu refiz alguns
trabalhos de forma bem elaborada e livre.
Eu estava pesquisando o período pós guerra
em Vancouver e percebi pelas imagens
que Vancouver faz parte desse mundo de
filme noir.
[música jazz]
Em "Helen Lawrence", nós vemos duas coisas
simultâneas o tempo todo,
os atores no palco e a imagem cinemática
dos atores na tela.
No começo, é muito confuso...
- Qual é seu nome?
mas eventualmente, você aprende
a assistir a duas coisas simultaneamente.
-Se eu pedisse para você fazer uma
pequena coisa para mim,
você acha que conseguiria, sem fazer
perguntas, no sigilo?
[Stan Douglas] Nós fizemos cenários
virtuais.
Nós construímos o bairro inteiro de
Hogan's Alley.
Construímos dois andares inteiros
do Hotel Vancouver.
-Não. Vá dar uma volta!
-Vamos. Saia daqui.
[Stan Douglas] Temos os atores em um palco
de tela azul.
Eles estavam sendo filmados por câmeras, e
por que estamos em um fundo azul,
que pode ser tirado digitalmente como
com o meteorologista na TV,
e outro fundo pode ser inserido
atrás deles.
O que está acontecendo é que estamos
fazendo isso ao vivo.
O elenco está fazendo um filme
em tempo real toda noite.
-Por favor não estrague minha diversão.
Eu não venho tendo muita ultimamente.
-Eu acho que vou acompanhar você.
-Você provavelmente precisará de um duplo.
[Stan Douglas] "Helen Lawrence" veio de
uma epifania que tive sobre um filme noir.
O comportamento das pessoas nos filmes
noir é baseado no trauma da guerra.
Os caras durões e as femme fatales,
eles estão na verdade desesperados.
Eles fizeram coisas de que não têm orgulho
-Tem um cigarro, querido?
[Stan Douglas] Mataram pessoas, viram
pessoas morrendo.
-Para nos ajudar, você...
[Stan Douglas] Esses temas de trauma,
essas são coisas em que eu fico voltando.
Eu não sei o porquê.
-Sabe, eu acho que você teria sido feliz
se eu não tivesse voltado.
[Stan Douglas] O fato que nós não
conseguimos nos entender,
que estamos trancados dentro dos
nossos cérebros.
Isso é algo que eu considero
um ponto de partida.
Atrás de mim está a interseção da
Abbott e Cordova.
Esse é o cenário para minha fotografia,
"Abbott e Cordova,"
mas provavelmente acima daquele "P"
onde as janelas
abrem é mais ou menos o ponto
de vista da minha imagem.
[música ambiente]
Nos anos 1960 e começo dos anos setenta,
havia muitos hippies em Vancouver,
então eles decidiram fazer um festival,
e os policiais não gostaram.
Frequentemente, com esses trabalhos onde
estou organizando as fotos,
há obviamente documentação
daquele momento.
Esses documentos contam uma história, mas
eles são meio parciais.
O que eu quero é conseguir
condensar essas ideias.
Nós tivemos que construir um cenário.
Precisamos de muita luz para fazer
aquela peça.
Quase sempre meus trabalhos são alegorias
do presente, também.
Aquele evento fez desse bairro o que
ele é hoje.
Depois que ocorreu, o interesse da cidade
pelo bairro diminuiu.
Havia uma política de conter o uso de
drogas, vício e pobreza no bairro.
Minha abordagem em olhar para esses
eventos históricos é que eles sempre têm
a possibilidade de ter sido
algo diferente.
E a tensão entre diferentes forças em jogo
não deveria ser esquecida.
Retrato histórias menores, mas eu retrato
um sintoma local duma condição global.
[música eletrônica suave]
[Peter Courtemanche]Estamos trabalhando na
trilha sonora de uma nova videoinstalação,
e essa peça tem 6 telas de vídeo.
[Brodie Smith] E cada tela terá um par de
caixas de som, então 8 caixas,
que é o que montamos aqui.
[Peter Courtemanche] Eles estão tentando
ter uma noção de como os sons vão soar.
[Brodie Smith] Esse é chamado
"O Agente Secreto".
[Porta abre]
É completamente diferente de tudo que eu
já fiz antes.
Será emocionante, mas também
é complicado em termos
da logística de como vamos montar isso.
-Exploda a instalação Marconi em Sesimbra.
[Peter Courtemanche]Teremos uma mini
versão funcionando no estúdio do Stan.
-O que você é afinal,
anarquista, comunista desesperado?
-Anarquista.
[Brodie Smith]É como um programa de
computador, tocamos por muito tempo
para saber se está estável para uma
exibição.
[Stan Douglas] "O Agente Secreto" foi
baseado na ideia de terrorismo,
com o que somos muito preocupados hoje em
dia, mas acontece por muito tempo.
"O Agente Secreto" foi o primeiro retrato
literário de terrorismo,
mas retratava anarquistas que eram ativos
no fim do século 19.
-Um homem foi explodido em Sesimbra
esta manhã.
[Stan Douglas] Os terroristas que eu
estava vendo são baseados nos anos 70,
então essa ideia de pegar uma narrativa
existente
e reencenar de uma maneira que revela
um conteúdo escondido
ou te leva a um contexto diferente é
algo que
foi uma grande fonte de inspiração
para mim.
[música eletrônica suave]
- Dois desses estão para trás.
- Um tem que ser para trás, certo?
Vamos dar uma olhada. Pode estar um pouco
para fora.
-Sim, claro. Ok.
-Eu não tenho nada de especial para te
falar. Você me chamou.
-Esse deveria ir um pouco para a direita,
eu acho.
-Segure.
[conversa indistinta]
-Exploda a instalação Marconi em Sesimbra.
[Stan Douglas] em "O Agente Secreto", há
seis telas tocando.
Pelo menos duas estão sempre tocando
simultaneamente.
Há mais coisas acontecendo do que você
consegue prestar atenção.
Essa confusão é parte do dia a dia onde
não temos certeza do que vai acontecer.
-O que você é afinal, anarquista,
comunista desesperado?
[Stan Douglas] Nesses trabalhos, um tipo
de paralaxe acontece.
Vemos a visão estéreo através da paralaxe.
Nosso olho esquerdo e olho direito nos
permitem ver o mesmo
tópico de dois pontos de vista um
pouco diferentes.
Isso nos permite assimilar as duas
ideias simultaneamente.
Então a narrativa de "O Agente Secreto",
se você pensar no que significou no
século 19,
pensar no que significou nos anos 1970,
é uma paralaxe através da qual podemos ver
a mesma história em modos diferentes.
-E quando eu ando em uma multidão,
eu nunca solto disso.
Um aperto aciona o detonador.
[Stan Douglas] E essas coisas relacionam-
se com o que temos agora.
Você vê uma percepção muito real da
consequência do terrorismo,
de alguém dizendo para outra pessoa,
"eu sou melhor que você."
"Eu sei o jeito que você deveria viver
tanto que sua vida vale menos que meu ato"
Poucas semanas depois que estreou,
esse bombardeio terrorista aconteceu em
Paris de pessoas baseadas em Bruxelas.
A mostra foi encerrada por vários dias
por causa do medo de terroristas.
A história não se repete.
As coisas voltam, sintomas recorrem,
mas eles recorrem porque o que os causou
nunca foi embora.
Em meu trabalho, eu quero voltar para
olhar para essas possibilidades
de, e se não tivesse acontecido da
forma que aconteceu?
Então olhando para frente, olhando
para trás,
eu sempre quero considerar que o que temos
não é necessária.
Não é a única maneira que as coisas
podem ser.
[música eletrônica suave]