Você está contando uma história
incrível para um amigo
e, quando chega à melhor parte,
de repente, ele a interrompe:
"Entre mim e o alienígena",
não "Entre eu e o alienígena".
A maioria certamente ficaria chateada,
mas, fora a indelicadeza da interrupção,
será que seu amigo tem razão?
Será que sua sentença estava
mesmo gramaticalmente incorreta?
Mas, se mesmo assim ele conseguiu
entendê-la, qual o problema?
Do ponto de vista da linguística,
a gramática é um conjunto de regras
sobre como as palavras se combinam
para formar frases ou orações,
seja na língua falada ou na escrita.
Diferentes línguas têm diferentes padrões.
Em inglês e português, o sujeito
normalmente vem em primeiro lugar,
seguido pelo verbo,
e depois pelo objeto,
enquanto no japonês,
e em muitas outras línguas,
a ordem é: sujeito, objeto e verbo.
Alguns estudiosos tentaram identificar
padrões comuns a todas as línguas,
mas, exceto por algumas
características bem básicas,
como terem substantivos ou verbos,
poucos dos chamados "universais
linguísticos" foram encontrados.
E, uma vez que todas as línguas precisam
de padrões consistentes para funcionar,
o estudo desses padrões abre
um debate contínuo entre duas posições
conhecidas como prescritivismo
e descritivismo.
Numa simplificação grosseira,
os prescritivistas acham que a língua
deve seguir regras consistentes,
enquanto os descritivistas
consideram variação e adaptação
como parte natural e necessária da língua.
Em grande parte da história, a vasta
maioria das línguas era apenas falada.
Mas, à medida que as pessoas
ficavam mais interconectadas,
e a escrita ganhava importância,
a língua escrita foi padronizada
para permitir uma comunicação mais ampla
e assegurar que pessoas de diferentes
partes de um reino pudessem se entender.
Em muitas línguas, essa forma padrão veio
a ser considerada a única adequada,
apesar de ser derivada de apenas
uma das muitas variedades faladas,
normalmente aquela das pessoas no poder.
Os puristas da língua trabalharam
para estabelecer e propagar tal padrão
ao detalhar um grupo de regras
que refletia a gramática
estabelecida de seu tempo.
E as regras para a gramática escrita foram
aplicadas à língua falada também.
Desvios dos padrões de fala das regras
escritas eram considerados corrupções,
ou sinal de baixo status social.
e muitas pessoas que cresciam
falando desse jeito
eram forçadas a adotar
a forma padronizada.
Mais recentemente, no entanto,
linguistas entenderam que a fala
é um fenômeno distinto da escrita,
com suas próprias regularidades e padrões.
A maioria de nós aprende a falar tão cedo
que nem se lembra de como aprendeu.
Formamos nosso repertório falado
através de hábitos inconscientes,
e não por meio de regras memorizadas.
E como a fala também faz uso do tom
e da entonação para criar significado,
sua estrutura é sempre mais flexível,
adaptada às necessidades
dos falantes e ouvintes.
Isso poderia significar
evitar orações complexas,
difíceis de analisar em tempo real,
fazer mudanças para evitar
uma pronúncia difícil
ou remover sons, de modo
a tornar a fala mais rápida.
A abordagem linguística que tenta
entender e mapear tais diferenças,
sem ditar quais seriam as corretas,
é conhecida como descritivismo.
Em vez de decidir como
a língua deveria ser usada,
ela descreve como as pessoas
a usam de verdade
e rastreia as inovações
surgidas nesse processo.
Mas, apesar de o debate entre
prescritivismo e descritivismo continuar,
um não exclui o outro.
No seu melhor uso, o precritivismo
é útil para informar as pessoas
sobre os padrões mais comuns
estabelecidos numa determinada época.
Isso é importante, não apenas
em contextos formais,
mas também para facilitar a comunicação
entre dois falantes não nativos
de diferentes origens.
Descritivismo, por outro lado,
nos dá uma ideia de como a mente funciona
e das formas instintivas
como estruturamos nossa visão de mundo.
Em última instância, a gramática é vista
como um grupo de hábitos linguísticos
constantemente negociados e reinventados
por todo o grupo dos usuários da língua.
Como a própria língua,
ela é uma teia complexa e maravilhosa,
tecida com as contribuições
de falantes e ouvintes,
escritores e leitores,
prescritivistas e descritivistas,
tanto próximos quanto distantes.